José Saramago quando director-adjunto do DN em 1975
Se há raça de gente que me põe descrente da humanidade, é a dos indignadores profissionais. São os descontentes porque sim, para lá de toda, mesmo a mínima, tranquilidade de espírito.
Isto vem trazido por um comentário, assinado «Rendinhas e Veneno» (vá lá, tem nisto graça), ao post anterior a este, e que diz, entre mais: «Pois é, só é pena que o DN não se lembre o que o José Saramago fez quando foi seu director… já lá vão uns 30 anos é natural que tenha caído no esquecimento…»
É uma insinuação recorrente. Ora, exactamente o «Diário de Notícias» (caramba, o Google até já existe) publicou este artigo que há-de esclarecer o «Rendinhas» bem mais, talvez, do que sonharia. A foto acima é daí tirada.
Do maior interesse são, também, as declarações de Luís de Barros, então director do DN, sobre a sua oposição à entrada de Saramago para a direcção.
Não tem excessivo interesse, mas lembro que pouca gente tem minado (bom, tentado minar) tanto a mitificação de Saramago como aqui o Degas. Simplesmente, nunca permiti que a indignação me guiasse. Por isso me é um prazer constatar que há outros mais dois-dedos-de-testa, como os que depõem neste post da «Estrada do Alicerce», de Ruy Ventura.
Para sublinhar – e apreciar – isso, não preciso sequer de concordar com tudo o aí dito. Assim discordo frontalmente da observação de Paulo Tunhas (aí citado), onde se considera Saramago «palavroso» ou «sem sombra de ironia». Se é verdade que alguns romances, sobretudo os dos últimos dez anos, valem por escassas dezenas das suas páginas (e um ou outro nem isso), creio poder ter-se o estilista Saramago na conta de invulgar economista da linguagem. E de um mestre em ironia. Demasiado subtil, por vezes? Bom, isso já pode ter a ver com quem o lê.
É isso, a indignação-porque-sim só enfraquece as causas. Normalmente, nem causas tem.
Como seria o mundo de Saramago? Será Saramago um homem justo? E o marketing de Saramago será coerente com a sua insigne moral? E as suas descrições intermináveis e palavrosas serão fetiche ou literatura de “um parágrafo por semana”? E o poder de ter sido director de um grande diário, influenciou? E a politização e guerras facciosas serão dignas da alma de um grande escritor? Será Saramago o puritano que apregoa? E o milhão que recebeu do Nobel distribuiu pelos pobres e oprimidos? E rancoroso, será Saramago rancoroso?
Acredito eu naquilo que leio de Saramago? Não.
Se deixassem o homem em paz, (em si não interessa mais que qualquer mortal com pingo no nariz) e lessem (outra vez!) o Levantado do Chão, o Memorial, o Ricardo Reis e a Cegueira, traziam ao mundo algo de novo. Assim…
O problema é que a verdadeira literatura, e os verdadeiros artistas, é coisa que muito poucos compreendem, descobrem, ou valorizam… a começar por certos críticos do sistema.
Ficções sociais, já dizia Pessoa, que apenas editou um livro em vida.
Por falar em Pessoa… esse sim, um mar de Génio.
Lamento ter sido considerada como “indignadora profissional” seja lá o que isso verdadeiramente fôr…..só pretendi lembrar o homem que não o escritor…afinal eu fui uma das pessoas que sentiu na pele a prepotência dele já que o meu pai era um dos jornalistas despedidos…e já agora…pequena correcção ao texto de Luís de Barros…eles eram 24 e não 22
Esta repetição excessiva não tem a ver com o meu papel de indignadora profissional…apenas um pequeno problema de introdução….prometo para a próxima ser mais suave!
“Informação revolucionária não se faz com jornalistas contra-revolucionários”
acho que nesta frase ficou tudo dito desde essa época.
Hoje é o contrário que é verdadeiro.
Já viram que até o Luis Delgado vcs hoje lêem, ouvem e vêem?, (sem questionar) eheheheh
O pior é quando ele se dedica a apagar dedicatórias como em «Levantado do chão» mesmo depois de nas primeiras edições ter dito que sem essas pessoas não tinha escrito o livro.