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Decente versus Pulha

Pontuar debates políticos impõe uma lógica de competição onde se procura estabelecer quem “ganhou”, para assim também carimbar quem “perdeu”. Essa decisão é entregue a jurados oficiosos que não precisam de seguir qualquer metodologia de avaliação objectiva. Daí comportarem-se, sem excepções, como editores de uma agenda política subjectiva. Perseguem e castigam as suas animosidades, protegem e louvam as suas afinidades. E gerem o grau de obscenidade nos seus vieses de acordo com a sua marca pessoal.

Embora este contexto possa, ainda assim, gerar comentários qualitativamente úteis para o esclarecimento da audiência e para as escolhas do eleitorado, nos casos onde o comentador não é sectário e tem módica honestidade intelectual, o resultado colectivo reduz a campanha eleitoral à política-espectáculo. Isto é, a racionalidade do acto eleitoral — a escolha de um Parlamento que dará legitimidade a um Governo — é substituída pela encenação de uma luta onde está em causa conseguir agredir o adversário, dar-lhe socos. No final, contam-se os socos respectivos e, com sorte, há KO para festejar nos estúdios televisivos. Segue-se a amplificação mediática da glória do vencedor e da humilhação do derrotado.

Os directores, editores e jornalistas da nossa imprensa querem este modelo (pois não passam de irresponsáveis à procura de audiências), os políticos igualmente (aceitam a degradação do seu papel na sociedade). Mas é fácil imaginar outro, qualquer outro. Por exemplo, o velhinho modelo SWOT evitaria a retórica e o jargão da porrada. Geraria comentários mais inteligentes, porque mais compreensivos e prospectivos. A qualidade da opinião no espaço público melhoraria ao se reduzir drasticamente o efeito tóxico de contágio com o caudal de violência emocional ininterruptamente a ocupar a pantalha.

Ou então, tão-só, substituir os números pelo léxico. Usando o debate entre Rui Tavares e André Ventura como exemplo, e em vez de começar a dizer coisas a partir de algarismos, os comentadores ficariam obrigados a escolher duas palavras de síntese. No meu caso seria: Decente versus Pulha.

Lágrimas de crocodilo

No Eixo do Mal, de ontem, o Daniel Oliveira afirmou, muito condoído com o que se está a passar na Justiça, que os comentadores deviam fazer uma “reflexão colectiva” sobre a forma como os casos judiciais têm sido tratados na comunicação social. Se não fosse trágico daria para rir. Ele e os colegas passaram o programa a repetir o que Sócrates anda a denunciar, há anos, relativamente à actuação do Ministério Público e do juiz Carlos Alexandre, em conluio com a comunicação social. Sucede que para estes isentos comentadores, na Operação Marquês, o Ministério Público e o famoso juiz fizeram tudo bem. Lá vão dizendo que não havia necessidade da detenção no aeroporto e de o terem prendido para investigar, mas nenhum deles tem dúvidas de que é culpado, não precisam do julgamento para nadinha e a presunção de inocência não se aplica a esta pessoa. E nem dão pela triste figura que fazem.

No caso das suspeitas de corrupção na Madeira, não hesitam, o Ministério Público esteve mal e o juiz de instrução esteve bem. Mas se o arguido se chamar Sócrates e o juiz for Ivo Rosa a coisa muda de figura e de que maneira. Que raio estará a impedir o Daniel Oliveira de reflectir sobre esta flagrante contradição?

Só se desilude quem se ilude

O debate entre Pedro Nuno Santos e André Ventura foi uma desilusão. Só se desilude quem se ilude, pelo que a minha ilusão prévia era a de ir ver, finalmente, alguém colocar o traste no seu lugar. E ninguém com maior responsabilidade para tal do que um líder do PS — fosse quem fosse esse líder.

Ventura é um actor político banal, rasca e altamente previsível. Tem uma cassete, repete-a à exaustão. Apela a uma fatia do eleitorado que está condicionada pela iliteracia política, pela insegurança financeira, pela ansiedade social e pela deficiência cognitiva. Este número indeterminado de cidadãos é extremamente influenciável por apelos ao medo, os quais se reforçam e cristalizam com os apelos ao ódio. Assim, PNS sabia ao que ia. Teve tempo para se aconselhar, para pensar e preparar o acontecimento.

Para minha surpresa, e desgosto, vi o candidato a primeiro-ministro nivelar-se por baixo com o candidato a primeiro-chunga. As frequentes interrupções de PNS a Ventura, o palavrório simultâneo e exaltado que geravam, os remoques convencionais quando era Ventura a interromper, as farpas aqui e ali para marcar pontos, a pose sobranceira, tudo isto e o resto são erros crassos numa ocasião em que dispunha de uma vasta audiência. Porque não a aproveitou para expor a lógica da retórica chegana.

O caso Sócrates, inevitável na cassete do proto-facho, poderia transformar-se no patíbulo do caluniador. Para tal, PNS deveria ter tido como estratégia arrastar Ventura para o âmago do que está em causa. Poderia perguntar-lhe quais eram os recursos de Sócrates agitados como excessivos que considerava ilegítimos. Daqui não viria nenhuma resposta coerente ou relevante, pelo que poderia continuar a enredar Ventura em si próprio perguntando-lhe se tinha provas da corrupção de Sócrates. Poderia ainda perguntar-lhe se concedia a Sócrates o direito a ter advogado e a defender-se em todas as fases do processo. Fossem quais fossem os disparates bolçados em resposta, PNS concluiria a faena iluminando o verdadeiro significado deste ataque a Sócrates, comum em Ventura e em toda a direita, idem na imprensa: atacar o próprio Estado de direito para fins de linchamento político, assassinato de carácter, judicialização da política e politização da Justiça.

Porque não foi PNS por aí e se limitou a denegrir Ventura pelo lado em que ele dorme melhor, apenas apontando para a sujidade do porco? Não faço ideia, claro. Ou faço, a cicuta ainda não foi bebida até ao fim.

Agruras da ingenuidade e do romantismo, estava na ilusão de que nestas eleições havia um partido, pelo menos um, que tivesse como baluarte a defesa da liberdade.

É incompetência, são ataques de justicialismo, é demasiado tempo livre ou a Justiça está definitivamente politizada?

As discrepâncias enormes que existem entre o que o Ministério Público e o juiz que autoriza as buscas vêem em determinados processos e o que os juizes de instrução vêem são capazes de deixar uns milhões de nós perplexos. A mim deixam. E também indignada com a falta de esclarecimentos.

Podemos ter explicações claras sobre o que está, ou o que pelos vistos não está, em causa na Madeira ou é muita maçada? A malta da Madeira, os seus dirigentes, andam em esquemas para enriquecerem ou não?

E, já agora, se não é muita maçada também, já lá vão quatro meses desde que nos disseram, através de um comunicado, que o nome de António Costa era referido em telefonemas. Ainda não sabem se era mesmo ele e, se sim, que crime é que o envolvia? Quatro meses!

Não é o Trump, estúpido

Trump disse que “encorajaria” a Rússia a atacar países pertencentes à NATO que não estivessem a gastar o acordado na sua defesa militar. Por “encorajar”, detalhou que tal significa apelar a Putin para lançar o tipo de “inferno” que mais lhe apetecesse sobre esses países com orçamentos de defesa abaixo dos seus compromissos com a NATO.

Por um lado, isto é apenas mais um exercício da retórica típica de Trump, a qual lhe tem dado um sucesso sem paralelo na política norte-americana. Por outro lado, isto é também o ogre a expressar que se vê como um chefe criminoso para quem outros chefes criminosos são naturais aliados. E nesse seu êxtase, não se importa de ficar para a história como um ex-presidente que apela à destruição e à morte qual cavaleiro do apocalipse.

O enigma maior nesta desgraça civilizacional não é Trump. Ele limita-se a ir esticando a corda, porque tem resultado a seu favor mesmo que morram e fiquem feridos polícias a defender a democracia americana. O enigma maior diz respeito ao povo adulto que habita nos EUA.

Os sonhos do Ventura e da sua tropa

Presidirem a um regime militarizado é um deles. Para quê? Para terem poder e se perpetuarem nele. À boa maneira dos ditadores da América Latina, mas também do Trump, do Putin e de dezenas de regimes em África. Vão ter sorte? Acho que não, nenhuma. Montenegro decidiu dar um bom contributo para que tal não aconteça. Fez bem, embora, vinda de quem vem, essa estratégia ainda tenha que provar a sua solidez e resistência.

As propostas musculadas do Ventura, como a de confiscar os bens aos “corruptos” (e suas famílias, atenção) ainda antes de serem julgados e condenados, como ontem deu a entender ao mencionar o Salgado e o Manuel Pinho (mas estranhamente não o Miguel Albuquerque nem o Pedro Calado, da Madeira), e apesar de tal já estar previsto na lei para os condenados (não os bens de familiares), inserem-se no quadro populista punitivo, vingativo, autoritário e de desprezo pelo Estado de direito que é também o sonho de muitos polícias insatisfeitos com a Justiça ou que nunca acolheram bem as críticas (por vezes injustas, há que dizê-lo) que lhes são feitas sobre o uso exagerado da força e as práticas racistas. O mesmo vale para as propostas de castração química, de expulsão de imigrantes em massa, de caça às comunidades étnicas ou religiosas, de perseguição ou abate de opositores, etc. Como tudo está supostamente mal e Portugal é um país de bandidos à solta, botas cardadas e armas e tudo se resolve, até as urgências. Acontece que o Ventura quer é poder e tachos e viu nas forças policiais uma preciosa muleta. Espero que nem todos os efectivos das polícias sejam tão primários.

Ventura é um charlatão, mas da má espécie. Não é a primeira vez que o ouço dizer, como ontem, que o Governo caiu por corrupção, quando nenhum dos arguidos ou dos investigados na operação Influencer está sequer indiciado por benefícios ou vantagens pessoais em negócios e quando ele sabe perfeitamente o quão infundamentado é todo o processo. Nem o famoso dinheiro em livros era proveniente de corrupção. Ele faz afirmações destas e não é desmentido. Não o é pelos moderadores e muito menos pelo Montenegro, evidentemente, nem por nenhum outro líder partidário, aos quais convém que digam o pior possível do Governo cessante. Corrupção para trás e corrupção para a frente, mais os 20 000 milhões de euros da corrupção que promete recuperar e nem uma palavra para todos aqueles seus apoiantes, pequenos empresários, que são capazes de se queixar do SNS e da burocracia mas são os grandes actores da economia paralela, a que foge ao fisco. Vai persegui-los também? Claro que não.

O que Ventura jamais dirá é que os polícias já recebem subsídios de risco e outras retribuições e que, não tendo o Governo continuado em funções pelos restantes anos previstos, graças à prestimosa ajuda do Presidente da República, se tornou impossível negociar qualquer reivindicação de aumento permanente. O que não quer dizer que não fosse acontecer.

Por tudo isto e muito mais, nomeadamente a boçalidade e a falta de nível, a ordinarice mesmo, dos elementos do Chega, fez bem o Montenegro em recusar o diálogo ou acordos com tal gente. É um bom começo para tornar esse partido irrelevante, ou pelo menos para lhe moderar o entusiasmo. Resta saber se o povo votante não está ao nível dos répteis e extasiado com as prestações televisivas do charlatão, se o vento de Março não fará Montenegro mudar de posição ou se uma rajada mais forte não o chutará para fora da liderança do PSD. Eis outro sonho do Ventura.

Começa a semana com isto

The findings from a large survey study, co-authored by Kyle Hull, Kevin Smith and Clarisse Warren, demonstrate the willingness of people to bend their morals - even behave unethically - when engaging in the political realm.

Results also suggest that hostility toward outgroups (i.e., opposing party) is the driving factor for the moral ambiguity exercised when respondents switch from the personal to the political arena.

And there is not just one guilty party.

"People, regardless of age or ideology, were more willing to engage in immoral behaviors and judgments if the behaviors were in the political realm," said Hull, a visiting assistant professor in political science. "And a lot of it was just driven by genuine internal dislike of the 'other' side."

"I think there's some reason for concern," Hull said. "As long as there is some internalized dislike of the outgroup, there's certainly a risk of behaviors that may be involved when people are willing to act less morally. Politics makes us do things that we just normally wouldn't do and tolerate things we wouldn't normally tolerate. It brings out, sometimes, the worst in us.

"The way some politicians and media speak about the other party fuels that fire in a way. The more we engage in pitting one party or the other as the bad guys, and the more you feel that way, the more you are willing to set your morals aside."


Why politics bring out the worst in us

Revolution through evolution

Heat maps show men look straight ahead; women scan periphery
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Low voice pitch increases standing among strangers
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It’s true, happiness doesn’t cost much
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Nature is particularly beneficial for people on lower income
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Psychological care delivered over the phone is an effective way to combat loneliness and depression, according to a major new study
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University of Limerick, Ireland research confirms benefits of resistance exercise training in treatment of anxiety and depression
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Regular erections could be important for maintaining erectile function
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Continuar a lerRevolution through evolution

Dominguice

O debate ideal é aquele em que o interlocutor não pode interromper o colocutor — ou apenas o interrompe de acordo com um protocolo admitido pelo modelo em causa. Essas são as regras das competições de debates; tradição infelizmente, mas sintomaticamente, sem expressão em Portugal para lá de raros nichos. Admitir interrupções espontâneas e sistemáticas nos debates entre políticos numa qualquer disputa eleitoral favorece o argumentador mais fraco e/ou mal-intencionado.

Seria de supor que os jornalistas velassem por impor aos políticos um modelo de debates onde a racionalidade estivesse protegida. Mas os jornalistas comportam-se como políticos rascas e chicaneiros: boicotam a argumentação dos políticos e transformam em papa intragável o seu discurso.

Temos os comentadores mais isentos da galáxia!

Longe de mim duvidar do rigor e da isenção com que os comentadores analisam os debates. E só mentes perversas podem pensar que as notas que atribuem aos líderes dos partidos são dadas antes mesmo dos debates acontecerem.

Ainda assim, o meu palpite é que nos debates, de logo à noite, entre o Montenegro e o Paulo Raimundo, o Ricardo Costa, que escolho por me parecer de uma isenção à prova de bala, vai dar 8 ao Montenegro e 3 ao Raimundo. Já no debate entre Pedro Nuno Santos e Inês Sousa Real, 5 para o PNS e 8 para a Inês.

Quanto às avaliações dos restantes comentadores, não é nada fácil, mas aceitam-se apostas.

PS Açores não viabiliza governo regional e faz bem. A direita deve parar com as fitas

E com jogadas idiotas também. Até porque não enganam ninguém.

Subitamente o Chega já não interessa ao PSD dos Açores para formar o governo regional. Subitamente querem fazer crer que o partido tem peçonha. Toda uma cena, porque Montenegro, no continente, foi forçado (quase in extremis) a rejeitar entendimentos com esse partido se ganhar as eleições nacionais sem maioria, e uma opção contrária nos Açores deixaria a sua reputação na lama. E assim a direita quer o apoio do PS para esse estratégia. E se fossem lamber sabão? O Chega é ao mesmo tempo uma criação e uma excrescência do PSD. Já lá estava em evolução, mas Passos Coelho deu um empurrão ao Ventura. O PS nada tem a ver com isso e é seu dever absoluto de sempre posicionar-se como alternativa ao PSD, sob pena de reforçar o partido do biltre como grande partido da oposição. Isto devia ser claro para toda a gente. É até claro para a direita, só que esta opta por acusações idiotas como se o PS tivesse a obrigação de ajudar o PSD a afastar o Chega, com o qual já se entendeu quando se tratou de afastar o PS maioritário. O súbito repúdio não é sentido, é estratégia.

Imaginemos então que o entendimento do PS com a AD nos Açores implicaria um acordo parlamentar ou mesmo uma partilha de cargos governativos. Em que posição ficaria o Chega? É isso, acertaram: na posição de maior partido da oposição. Bingo! Depois seria só transpor a receita para o nível nacional. O Ventura ia agradecer com 100 km de joelhos até Fátima.

Nem o mundo da Barbie é tão fácil de governar como o da IL

Os comentadores estão encantados com a prestação do Rui Rocha nos debates. Tendo em conta a forma como o avaliam, estão satisfeitíssimos com as suas explicações relativamente à forma como pretende executar o seu programa eleitoral. Tira daqui, põe acolá, tudo simples e fácil.  O problema é o que fica por explicar. Dois exemplos:

Diz esta competentíssima pessoa que vai aumentar a produtividade. Seria de esperar que enumerasse algumas das causas que estão na origem deste problema. Que explicasse como as vai eliminar e quanto é que isso custará. Mas não. Esta medida executa-se por decreto.

Garante que vai reduzir o prazo dos licenciamentos. Como? Não explica. E se calhar é coisa para não sair barata. A menos que pense que os técnicos das câmaras municipais e de outras instituições envolvidas nos processos de licenciamento aceitem de bom grado trabalhar o dobro ou o triplo e que ainda lhe agradeçam no fim.

As questões para as quais não tem qualquer resposta nem sequer lhe são colocadas. Assim, de facto, vai continuar a encantar o comentariado.

Ventura, o cobarde

Não fosse alguém andar distraído, Ventura esclareceu ontem, no debate com a líder do PAN, que apoia a luta dos agricultores. Ou seja, este fanfarrãozeco de feira, que tem como bandeira principal o ódio aos imigrantes, diz que apoia quem os contrata.

Os imigrantes não vêm para cá para irritarem a chungaria. Vêm porque há empresários, dos mais variados sectores de actividade, que os contratam e que deles dependem para continuarem a actividade. Mais, estes empresários afirmam que são necessários muitos mais imigrantes.  Ora, alguém ouviu alguma vez o corajoso e carismático líder do Chega vociferar contra estes empresários?

Uma vez que apoia a luta dos agricultores, por que raio não passa por um ajuntamento de tractores e aproveita para evangelizar os seus donos? Avisar que com ele a mandar os imigrantes são para esquecer. Que pode abrir umas excepções mas apenas para imigrantes que falem português fluentemente. Que nem pensem em islamizar a agricultura!

Pagava para ver isto.

Querem mesmo um sistema de saúde como o neerlandês (irlandês, etc.?): falem com os emigrantes

Visto na rede X

Sérgio Vilar no X_ _@miguelluz O que não funciona, Pedro_ Os soundbytes não funcionam de certeza. https___t.co_iYn4IMPt2G_ _ X

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Estes casos contribuem inevitavelmente para a sobrecarga dos nossos serviços médicos. Só que isso a direita e os ultraliberais e todos os que acusam o Governo pelo suposto caos na saúde não dizem.

O que diz este médico é verdade. Conheço casos verdadeiramente assustadores de negligência, indiferença e ineficácia daqueles sistemas. Um em Dublin, outro em Roterdão. Neste último caso, a rapariga foi mandada para casa quinze horas apenas após o parto, que foi normal (criança nasceu às 21h00 e ao  meio-dia tiveram alta). Só que os problemas começaram na segunda manhã. Foi por um triz que não foi desta para melhor. Na Irlanda, tens sempre que passar por um médico generalista, mesmo que saibas que tens um problema ginecológico, por exemplo. Esses médicos tendem a andar a empatar o máximo, para ganharem o máximo dinheiro com cada caso.  E muitas vezes não resolvem nada. A rapariga, desesperada, acabou por se ir tratar a Espanha.

Livrai-nos, Senhor, dos comentadores dos debates eleitorais e, se possível, dos debates

Arrancaram os debates e arrancou também todo o folclore à volta. Nas questões aos candidatos é, desde já, notório que, em meia hora, tudo à pressa e com temas múltiplos, não se esclarece nada. Nem sequer, para começo de conversa, se existe ou não um programa eleitoral com base no qual se possa discutir algum assunto. A Clara de Sousa, mas penso que todos os outros que se lhe hão de seguir, tem um guião a cumprir e, apesar de estar com pressa, não se inibe de apartes como “de resto, já tinha esclarecido isso” ao referir-se à nota prévia do Pedro Nuno Santos sobre as insinuações venenosas da IL e de outros da direita quanto ao IMI e ao subsídio de deslocação de que tinha auferido. Já tinha esclarecido isso, mas não em directo e a cores para toda a audiência, e à frente do caluniador. O mesmo caluniador que, aliás, não foi instado a pedir desculpa ou a retirar o que disse. Enfim, havia pressa e bastou à Clara que ele dissesse que não tinha mais nada a dizer. Foi pouco e indelicado.

Havia pressa, pelos vistos, (mais quando PNS falava), mas o limite de tempo  nada importa quando se contratam comentadores para, ao longo da noite, avaliarem o que todos ouvimos. E que comentadores são esses? Do que vi, predominam os habituais de direita, sendo o expoente máximo atingido na CNN, que consegue reunir pessoas tão plurais e de opinião tão diversificada como a Helena Matos e o Miguel Pinheiro na mesma mesa. De resto, também deu para ver de relance que se sentavam para avaliar “com a máxima isenção” o Ricardo Costa, a Ângela Silva, o Bugalho e o Paulo Ferreira (este, como os outros aqui atrás, do Observador), entre outro pessoal igualmente “isento”, sempre de direita. Portanto, estas pessoas estão ali como “influencers”, não com qualquer intuito de objectividade e, sendo assim, são tempo de antena dos partidos que apoiam. A Maria João Avilez, na SIC N, incomodou-se muito com o barulho feito pelo Ventura. Mas possivelmente só com isso. Para ela, o Montenegro, quando falar, vai ser muito mais suave e educado e, logo, muito mais bem avaliado por esta senhora, que, aliás, tinha como companheira de painel a outra Maria João mais nova. Ambas de direita.

 

Por esta amostra colhida no primeiro dia de debates dá para ver o que vai acontecer após cada debate. Os candidatos que são chamados a debater serão meros pretextos para a coscuvilhice e a autêntica campanha eleitoral e os tempos de antena que se seguem.

Podem os candidatos que não são de direita exigir painéis plurais? Se não podem, deviam poder. Não se trata de querer ganhar nos painéis de comentadores o que eventualmente se perdeu no debate (e o PNS até arrancou muito bem face ao troll do Rui Rocha), mas ter painéis de uma tendência só é um bocado demais e inadmissível. A opinião é livre e as televisões são livres de convidar as pessoas que entenderem, mas a escolha dos opinadores também está sujeita a críticas e a minha é esta: não se respeita minimamente a pluralidade. Se eu falo, e sempre à pressa, e a seguir vem um bando de míopes e surdos voluntários distorcer e torcer num determinado sentido tudo o que foi dito, é legítimo pensar em não participar. Quanto mais não seja para a coscuvilhice e as indignações terem mesmo razão de ser.

O crescimento do Chega, nos Açores, também se deve à má governação?

Para a direita, a culpa do crescimento do Chega é exclusivamente do PS. São os descontentes com a governação socialista que têm feito crescer a extrema-direita.

Claro que com esta lógica estão a passar um atestado de incompetência a si próprios, mas como ninguém lhes pergunta por que razão esses descontentes decidem não votar PSD, pode ser que ninguém repare.

Ora, nos Açores, o Chega foi o partido que mais cresceu. Tudo indica que na Madeira o cenário é idêntico. Que explicação tem a direita para o crescimento do Chega nestas regiões? Má governação?

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