Decente versus Pulha

Pontuar debates políticos impõe uma lógica de competição onde se procura estabelecer quem “ganhou”, para assim também carimbar quem “perdeu”. Essa decisão é entregue a jurados oficiosos que não precisam de seguir qualquer metodologia de avaliação objectiva. Daí comportarem-se, sem excepções, como editores de uma agenda política subjectiva. Perseguem e castigam as suas animosidades, protegem e louvam as suas afinidades. E gerem o grau de obscenidade nos seus vieses de acordo com a sua marca pessoal.

Embora este contexto possa, ainda assim, gerar comentários qualitativamente úteis para o esclarecimento da audiência e para as escolhas do eleitorado, nos casos onde o comentador não é sectário e tem módica honestidade intelectual, o resultado colectivo reduz a campanha eleitoral à política-espectáculo. Isto é, a racionalidade do acto eleitoral — a escolha de um Parlamento que dará legitimidade a um Governo — é substituída pela encenação de uma luta onde está em causa conseguir agredir o adversário, dar-lhe socos. No final, contam-se os socos respectivos e, com sorte, há KO para festejar nos estúdios televisivos. Segue-se a amplificação mediática da glória do vencedor e da humilhação do derrotado.

Os directores, editores e jornalistas da nossa imprensa querem este modelo (pois não passam de irresponsáveis à procura de audiências), os políticos igualmente (aceitam a degradação do seu papel na sociedade). Mas é fácil imaginar outro, qualquer outro. Por exemplo, o velhinho modelo SWOT evitaria a retórica e o jargão da porrada. Geraria comentários mais inteligentes, porque mais compreensivos e prospectivos. A qualidade da opinião no espaço público melhoraria ao se reduzir drasticamente o efeito tóxico de contágio com o caudal de violência emocional ininterruptamente a ocupar a pantalha.

Ou então, tão-só, substituir os números pelo léxico. Usando o debate entre Rui Tavares e André Ventura como exemplo, e em vez de começar a dizer coisas a partir de algarismos, os comentadores ficariam obrigados a escolher duas palavras de síntese. No meu caso seria: Decente versus Pulha.

2 thoughts on “Decente versus Pulha”

  1. Esse debate entre Tavares e Ventura correu muito bem ao ‘PS’.

    Pois, quanto mais for a impossibilidade de Montenegro se aliar a Ventura, menos votos o ‘PS’ precisará para igualar ou superar o ‘PSD/AD’.

    Quanto mais o ‘Livre’ diabolizar o ‘Chega’ (e a percepção do eleitorado fôr a da impossibilidade de uma aliança entre ‘PSD’ e ‘Chega’) melhor para o ‘PS’. É um serviço que lhe estão a fazer sem ser necessário PedroNunoSantos fazê-lo.

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