No Eixo do Mal, de ontem, o Daniel Oliveira afirmou, muito condoído com o que se está a passar na Justiça, que os comentadores deviam fazer uma “reflexão colectiva” sobre a forma como os casos judiciais têm sido tratados na comunicação social. Se não fosse trágico daria para rir. Ele e os colegas passaram o programa a repetir o que Sócrates anda a denunciar, há anos, relativamente à actuação do Ministério Público e do juiz Carlos Alexandre, em conluio com a comunicação social. Sucede que para estes isentos comentadores, na Operação Marquês, o Ministério Público e o famoso juiz fizeram tudo bem. Lá vão dizendo que não havia necessidade da detenção no aeroporto e de o terem prendido para investigar, mas nenhum deles tem dúvidas de que é culpado, não precisam do julgamento para nadinha e a presunção de inocência não se aplica a esta pessoa. E nem dão pela triste figura que fazem.
No caso das suspeitas de corrupção na Madeira, não hesitam, o Ministério Público esteve mal e o juiz de instrução esteve bem. Mas se o arguido se chamar Sócrates e o juiz for Ivo Rosa a coisa muda de figura e de que maneira. Que raio estará a impedir o Daniel Oliveira de reflectir sobre esta flagrante contradição?
ORA VEJAM (passo a citar): … “Este facto, Senhora Procuradora-Geral, este simples facto, devia levar a Procuradoria a olhar a suspeita de motivação política com outros olhos.
Veja bem. PRIMEIRO FACTO: o alegado favorecimento à EDP por parte de um governo socialista é investigado há doze anos por um antigo assessor do governo do PSD-CDS. Absolutamente extraordinário.
SEGUNDO FACTO: esse mesmo Procurador, que ocupou funções num gabinete de um governo PSD-CDS, decidiu não investigar o financiamento da campanha eleitoral do PSD de 2015.
FINALMENTE, esse é também o Procurador que abriu um inquérito crime contra o atual primeiro-ministro socialista, criando uma crise política, fazendo cair o Governo e provocando eleições antecipadas. Julgo que nada mais é preciso dizer.
Aguardo notícias suas Senhora Procuradora-Geral.
Cumprimentos.”
Post Scriptum:
Pedro Passos Coelho almoçou este sábado, 20 janeiro 2024, véspera da Convenção da Aliança Democrática, com Rui Rio e com o juiz Carlos Alexandre. Ao CM, o ex-primeiro-ministro confirmou a presença no almoço que classificou de “muito eclético”. Numa fotografia a que o CM teve acesso, é possível ver também o vice-presidente do PSD, Paulo Rangel, e Paulo Mota Pinto.
Uma pessoa que não sabe o que é um juiz de instrução vem para aqui escrever disparates . Enfim. Olhe vá aprender a estrelar ovos …
21 DE NOVEMBRO 2014: José Sócrates é detido no aeroporto de Lisboa, quando chega de um voo proveniente de Paris.
26 DE NOVEMBRO 2014: O ex-Presidente da República Mário Soares é o primeiro político a visitar Sócrates na prisão em Évora. Mário Soares considera que o ex-primeiro-ministro está a ser vítima de “um caso político” e de “uma campanha, que é uma infâmia” (Mário Soares).
18 DE JANEIRO DE 2015: “Vim ver um amigo, por quem tenho muita consideração. Tenho uma afetuosa simpatia por ele e estou triste por vê-lo nestas circunstâncias injustas e inacreditáveis. Eu tenho a certeza de que ele está inocente. Uma pessoa desta honestidade, desta qualidade, não pode deixar de estar inocente” (Maria Barroso, 89 anos).
A presunção da inocência legal é diferente da presunção da inocência individual.
DEIXEMOS DE MENTIR UNS AOS OUTROS.
O que falta é um Projecto em que as Partes acreditem.
Nunca será uma questão de mais ou menos governo, de mais centralidade ou descentralidade, deste ou daquele regime ou ideologia, de mais absolutismo ou mais autonomia, de mais moral ou menos moral, de mais bondade ou maldade, de mais eficácia ou menos eficácia, de mais certo ou mais errado, de menos corrupção ou mais corrupção, de melhor ou pior, etc.
Para o ser-humano os ‘factos’ nunca são a ‘verdade’. E a ‘realidade’ é apenas uma sua interpretação efémera, conjuntural e falível. O ser-humano sabe isso, conhece e vive essa sua condição imperfeita. Não precisa que lho ensinem, e venham com pastorais de moral e ética.
O ser-humano não vive para a materialidade, vive para a utopia da promessa de ‘o que há-de vir’ (o ainda impronunciável), para a fé numa ‘coisa melhor do que é’ em cada época ou momento.
Logo, ninguém consegue liderar um ser que «se recusa a ser o que é» sem a utopia da promessa de um Projecto.
Quando aparecer esse ‘Governante’, capaz de oferecer esse Projecto, então, GOVERNARÁ.
” Eu tenho a certeza de que ele está inocente “. Maria Barroso. Cf. acima IMPRONUNCIÁVEL.
Cá está um caso de certeza de inocência. O princípio é Presunção de Inocência.
Estas ” certezas ” fazem-me lembrar a história do sr. Gaudencio que era uma excelente pessoa, logo, um excelente pianista. O homem nem sabia tocar piano…
Agora os meus comentários aguardam moderação. Está bonito …
“Eu tenho a certeza …” exprime o sentimento de alguém que tem experiência de vida, e conhece bem quem são os seres-humanos. De facto, até ao momento, aquelas provas que diziam evidentes e irrefutáveis, ao fim de 10 anos, ainda não apareceram em lado nenhum.
Mas uma coisa é certa. Foi Sócrates que tirou os 3 meses de férias pagas que os juízes tinham, e foi em 2007 que houve um Acordo entre PS e PSD para reformar a Justiça. Talvez seja coincidência, mas sempre que há hipóteses de reforma a Justiça cai o Primeiro-Ministro. Naquela altura, em 2007, era possível por haver uma maioria. Agora em 2022, também havia.
Coincidências.
É, é, sr. IMPRONUNCIÁVEL, a Barroso tinha uma experiência de vida do c …, nem queira saber o que ela passou para se introduzir nas modistas da alta roda lisboeta, que fugiu toda, exilados para o Brasil após o 25 de Abril . Até teve que fazer queixa à Maria Armanda, vulgo, Vera Lagoa, porque as modistas lhe batiam com a porta na cara e não a deixavam entrar .
Enfim, vêm com o clã Barroso, ainda pior que Soares …
Quanto ao resto, dúvidas, certezas, são sujeitas ao relativismo, dependem de cada um.
Apenas os factos são certos, apurados, reais. A partir daí cada qual tira a sua conclusão.
Da-se continuo em moderação!
Disse Mário Soares quando foi o caso de Sócrates: Estas coisas nunca se conseguem provar.
Neste caso da Madeira também não se prova nada.
Então Farinha Agrela, empreiteiro, corruptor e os outros corrompidos, vão-se desentender em tribunal, ao fim de tantos anos de amizade?
Mais uma chinesice…
https://outrosdireitos.blogspot.com/2024/02/a-volta-da-operacao-sem-nome.html
Esse cavalheiro dos outros direitos ou direitos outros, escreve no perfil, que é jurista e de Vila Nova de Gaia. Será o mesmo que meteu um habeas corpus para pedir a libertação de Sócrates, por ter sido detido ilegalmente ?
Não saberá que num tribunal português, um habeas corpus, para ser deferido, terá que ter por base uma detençao por pessoa não autorizada para o efeito. Por exemplo, um farmacêutico, nao tem poder para deter ninguém. Se o fizer e o detido não se conformar, o advogado mete um pedido de habeas corpus, e o detido é imediatamente posto em liberdade.
A questão dos direitos outros, que não se sabe quais são, também me deixa irritado será que este jurista aposentado é defensor de direitos do género ” ninguém deveria ser perseguido e punida pela lei, em especial se for culpado ” ?
Até o Magalhoes, quando questionado se iria meter um habeas corpus para Vieira, respondeu que já não tinha idade nem inexperiência para fazer um disparate desses .
Carx M,
FACTOS?
De facto, ao invés do que afirma, um ‘facto’ não é a verdade. Não é através dele que chegamos a ela.
Se o ‘Aspirina B’ nos desse permissão, poderíamos estar por longo tempo a contar essa bela e fascinante história, da relação do ser-humano consigo próprio e com aquilo que o rodeia.
Portanto, para abreviar, exporei apenas algumas partes dessa grande saga humana. Usando partes da conferência que proferi em 2012 a convite do ICOM no Museu Nacional de Soares dos Reis, na mui nobre e invicta cidade do Porto.
i – Começarei por K. Popper e por Junqua & Lacouture:
“O erro do empirismo é crer que os factos constatados contêm já a explicação do fenómeno. É exactamente ao contrário: é necessário encontrá-la.” (Junqua & Lacouture, 2001).
“A raiz desse problema está na aparente contradição entre a «tese fundamental do empirismo» ¾ tese segundo a qual só a experiência pode decidir acerca da verdade ou falsidade de um enunciado científico ¾ e o facto de D. Hume se ter dado conta da inadmissibilidade de argumentos indutivos.” (K. Popper, 1985).
ii – Ou, como referiu Jean-Pierre Mohen em “Les Sciences du Patrimoine”, após toda uma vida consagrada à Conservação e Restauro no Museu do Louvre: “(….) o objeto não possui realidade senão através do ser humano que o exprime e interpreta em função de uma Cultura, ou de modo mais preciso, através de um indivíduo concreto sem o qual a mensagem jamais existirá.” (Mohen, 1999).”
iii – Fernando Gil acrescentaria: “Experiência e Juízo partem do mesmo ponto. A experiência é «evidência dos factos-objectos individuais», e a evidência dos factos-objectos individuais constitui «o conceito de experiência no sentido mais lato». Evidência do objecto-facto e Experiência definem-se uma pela outra. A concreção do individual exprime-se por um poder de fascinação, por onde passa a função de ‘apresentação-exposição’: Eis o segredo da operação da evidência.” (Fernando Gil, 1986).
Carx M, (Ugrešić, 2011, p.9)
Repare, a propósito dessa sua fé nos ‘FACTOS’, as belas histórias que os Museus nos contam através desses ‘factos’ e ‘objectos’.
iv – Repare nos objectos que, alinhados numa vitrina de vidro, faziam parte da exposição ocorrida num museu em Berlim: “(…) um isqueiro cor-de-rosa, uma pregadeira de metal em forma de poodle, um abre-garrafas, uma pulseira de senhora (de prata, provavelmente), um gancho de cabelo, um lápis de madeira, uma pistola de água de plástico, uma faca, óculos de sol, uma pequena corrente de aço com cerca de 46 cm de comprimento, quatro pregos (grandes), um carro de plástico verde, um pente de metal, um distintivo de plástico, uma pequena boneca, uma lata de cerveja (Pilsener, de 2,84 decilitros), uma caixa de fósforos, um sapato de bebé, uma bússola, uma pequena chave de carro, quatro moedas, uma faca de cabo de madeira, uma chucha, um molho de cinco chaves, um cadeado, um saco de plástico com agulhas e linha.”.
v – A esta exposição, ocorrida no Museu-Jardim Zoológico de Berlim em 2011, os organizadores chamaram: “A morsa Roland”. Mas, Dubravka Ugrešić chama à mesma exposição: “A morsa que morreu uma semana após a construção do Muro de Berlim”, e também lhe chama “O caprichoso apetite de uma morsa” (Ugrešić, 2011, p.10). E nós talvez lhe pudéssemos chamar apenas: ‘Uma morsa’.
vi – Afinal, o que o Museu-Jardim Zoológico de Berlim expôs, foram os objectos encontrados no estômago da morsa Roland, falecida em 21 de Agosto de 1961, no mesmo mês e ano em que se iniciou a construção do “Muro de Berlim”. E fê-lo para comemorar essa data.
vii – Foi com estes FACTOS e estes objectos reais e concretos que Ugrešić inicia o seu “Museu da Rendição Incondicional” (2011). Um museu que tem por factos-objectos «os fragmentos narrativos da narratária de Ugrešić», uma quinquagenária croata exilada em Berlim. À exposição desses objectos a editora Cavalo de Ferro chama: “Retrato da cultura e da identidade europeias”. Mas Larry Wolf chama-lhe: “O espírito conturbado e de crise da Europa no final do século XX”. E o jornal The Independent chama-lhe: “Reflexões sobre a cultura, a memória, e a loucura”.
viii – Regressando ao “Museu da Rendição Incondicional” e ao “Museu-Jardim Zoológico de Berlim”, verificamos que é a própria Dubravka Ugrešić que põe os visitantes a hesitarem no significado de o que hão-de atribuir ao que vêm (passo a citar as suas palavras): “o visitante fica de pé, diante da exposição invulgar, mais encantado do que horrorizado, como se estivesse perante achados arqueológicos.” (Ugrešić, 2011, p.10).
Mas o que releva para a polissemia do dos factos é a autora afirmar peremptoriamente, que os visitantes não conseguem resistir (passo a citar): “(…) ao pensamento poético de que com o tempo os objectos adquirem ligações secretas, e mais subtis.” (Ugrešić, 2011, p.10). A autora presume que há uma «vontade misteriosa» que liga os objectos e factos, e que funciona independentemente do arbítrio humano.
Carx M,
EM SUMA,
– Perante o mesmo ‘facto-objeto’, onde alguém vê a prova de uma vitória militar, outra pessoa vê um acto criminoso de colonialismo; onde alguém vê no ‘facto-objecto’ o lado positivo, outra pessoa vê o lado negativo. O ‘facto-objecto’ é simultaneamente o verso e o anverso, a afirmação e a negação, a lembrança de algo e o esquecimento de outra parte, e assim sucessivamente.
– Por outras palavras, perante um mesmo facto-objecto nunca será possível encontrar uma resposta plena para as perguntas: «Estou a ver o quê? Como, dentro de mim, e por que parte de mim, estou a vê-lo? O que é que sempre vi do que estou a ver, e o que poderei ainda não ter visto? O que é que esse ver não me deixou ver? Qual é a responsabilidade na comunicação que se faz dele à comunidade?».
Mais uma chinesice II …
https://expresso.pt/sociedade/justica/2024-02-19-Operacao-Influencer-juiz-considera-vagas-e-ate-contraditorias-suspeitas-do-Ministerio-Publico-contra-Antonio-Costa-a937cfbb
Meu caro. Factos são factos, verificáveis. Aonde o sr. quer chegar é aos factos juricamente relevantes, que são todos aqueles previstos na lei. Refiro-me ao caso Sócrates. Não é um facto, e não é a verdade, que recebeu dinheiro vivo em sacos de plástico? Acha isso prudente num político ? Dir-me-á, mas é algum crime ? Não crime não é, mas podem ser contrapatidas por tráfico de influências e alguns mais crimes fiscais, como branqueamento de capitais e fraude fiscal ( na moldura prevista no RJIT ) .
Essa questão do homem novo que há-de vir e que o amanhã será melhor, para mim, que tenho assistido a tudo mudar sempre para pior, pura e simplesmente não tem aderência à realidade.
Não está escrito “o meu reino não é deste mundo”, acrescento eu, mundo material ? Portanto, se queremos falar de espitualidade, não será o local indicado, sob pena de maçarmos os demais, acoólitos ferverosos de Valupi, que pura e simplesmente acreditam que Sócrates é inocente, nem se trata sequer de presumivelmente inocente, é inocente, acabou, ponto final, vítima de perseguição do procurador Rosário e duma hipotética cabala.