
Ao visitar Cuba, fiquei com o palpite que todo o regime ruiria à concretização de um de dois eventos: o fim do bloqueio americano ou a morte de Castro. A cada aproximação deste último evento, o pessoal de Miami começa a salivar, antecipando talvez uma segunda Baía dos Porcos: desta vez, um regresso em nome do mercado, dos direitos dos espoliados pela revolução castrista, do horrendo rum Bacardi.
Certo é que o sucessor de Fidel deverá, sob pena de arruinar o que de bom entretanto se ganhou por ali, introduzir firmes reformas democráticas e tratar de libertar todos os presos políticos ainda trancafiados. A alternativa poderá ser uma repetição brutal do acontecido na URSS: com a liberdade, veio a entrega da estrutura produtiva ao crime organizado, o crescimento das desigualdades, a insegurança, a fome. Em Cuba, pressente-se uma Guatemala em potência: democrática mas miserável, infestada de esquadrões da morte e outras pragas, incapaz de dar aos mais pobres uma existência minimamente digna. Basta comparar os seus índices de saúde pública com os de Cuba para ter uma noção do que os cubanos se arriscarão a perder, com uma transição selvagem. Pior ainda seria um retorno aos dias de Fulgêncio Batista, quando a ilha não passava de um entreposto e de uma colónia de férias da máfia americana; será este o Eldorado perdido dos exilados de Miami?
PS: Vem-me agora à memória uma conversa que tive em Cienfuegos com um escritor contestatário: ele garantia-me que vivia da “Fé”. Só depois de algumas gargalhadas é que me explicou que se tratava da “Familia en el Exterior”. Na realidade, só quem já se afastou das rotas turísticas cubanas e, por exemplo, comeu bons bifes pelo equivalente a 50 cêntimos é que tem uma boa ideia da tentação sem fim que representam os dólares do vizinho americano…








