Não há dúvida de que estamos perante um primeiro-ministro muito original. Normalmente, os governantes de países em dificuldades negam até ao último momento a necessidade de os seus países serem resgatados. E não é difícil perceber por que o fazem. Sabem que assim que admitirem a necessidade de ajuda externa as consequências não se fazem esperar. Pois, por cá, o primeiro-ministro faz questão de ser ele a avisar que está à vista um segundo resgate. Porque é tontinho e não sabe quais as consequências? Não. O motivo de tamanha estupidez chama-se campanha eleitoral. E não é novidade que para Passos Coelho quando se está em campanha eleitoral vale tudo. Portanto, apesar de venerar os mercados, neste momento, mais importante do que evitar a desconfiança dos ditos e a inevitável subida dos juros, ou seja, mais importante do que evitar o segundo resgate é ganhar as eleições do próximo domingo. De repente, tudo o que disse acerca da necessidade de se fazer uma reforma do Estado, antes e depois de ter chegado ao pote, é para esquecer. Afinal, o coitadinho, só está a cortar nos salários e nas pensões para evitar um segundo resgate. Caso contrário, nunca se lembraria de tal coisa.
E por falar em reforma do Estado, Passos Coelho não é o único para quem ganhar votos nestas eleições se sobrepõe ao resto. Portas, em campanha, tem anunciado, por onde passa, o fim da crise. Mas então que raio de argumentos vai ter quando tiver de anunciar as medidas constantes na tal reforma do Estado que lhe incumbiram, e que tão habilmente foi adiando para depois das eleições? Será que vai dizer que a economia está a crescer tão depressa que o melhor é travá-la com cortes no valor de milhares de milhões de euros?
Para compor o ramalhete, ainda aparece o Cavaco a falar novamente de governos de salvação nacional, não vá ter escapado a alguém que com este Governo, tal como está, o País nunca conseguirá sair do imbróglio em que está metido.
E foi esta gente que, tendo sempre em mente os superiores interesses do País, nos salvou do PEC IV. Espero é que aqueles que os aplaudiram e apoiaram, por estarem fartos de contar os PEC, não se cansem um dia de contar resgates.