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Quem terá sido o autor do “mito”?

Passos Coelho afirmou hoje que “não devemos esfolar um coelho antes de o caçar”. E estava a falar de si próprio. Mas a verdade é que este coelho caça-se e esfola-se sozinho. Vejamos, também hoje, afirmou que não passa de um “mito” a ideia de que seria possível fazer o ajustamento sem cortar nos salários e nas pensões. Lá está, para o caçar basta um clique e num ápice temos o coelho já esfolado à nossa frente:

“Nós calculámos e estimámos e eu posso garantir-vos: Não será necessário em Portugal cortar mais salários nem despedir gente para poder cumprir um programa de saneamento financeiro”, afirmou Pedro Passos Coelho, no encerramento do fórum de discussão “Mais Sociedade”, no Centro de Congressos de Lisboa.

Ele chama-lhe mito e eu garanto que há quem lhe chame mentir descaradamente com quantos dentes tem na boca.

O soldado Pires deve ter comido alguma coisa que lhe caiu mal

Pires de Lima, o soldado disciplinado, mandou a disciplina às urtigas e de uma penada desmentiu a ministra das Finanças e o ministro da Saúde. A taxa sobre as guloseimas, que ambos tinham admitido poder vir a existir, é pura ficção. Pires de Lima não ouviu falar dela em nenhum Conselho de Ministros e, sendo assim, não passa de especulação que só prejudica a economia.

Se calhar, termos um Governo cujos ministros passam a vida a desmentirem-se uns aos outros, publicamente, com aquela espécie de primeiro-ministro a assistir, também não faz bem nenhum à economia. Mas isto sou eu a especular, não foi nada disso que se passou.

Não tarda nada aparece um outro membro do Governo, ou o próprio Pires de Lima, a esclarecer que tudo não passou de um mal-entendido, que os jornalistas perceberam mal e que a tal taxa está apenas a ser estudada por um grupo de especialistas, que ainda por cima não fazem a mínima ideia de quando terão o relatório concluído. E não se fala mais nisso.

Uma relação impecável

Cavaco, que há umas semanas falava nas décadas de austeridade que ainda temos pela frente, lembrou-se ontem que afinal é preciso abrir janelas de esperança. Parece um nadinha contraditório, mas não é. É verdade que os comentadores já não se atropelam para ver quem faz a melhor tradução do que Cavaco quer dizer nas entrelinhas, mas desta vez não é necessário o contributo desses especialistas, esta é muito fácil de traduzir. Quando o Governo falava em mais cortes, Cavaco falava da necessidade de austeridade por muitos e muitos anos, agora que o Governo está a ser acusado de anunciar medidas eleitoralistas, Cavaco diz que é preciso abrir janelas de esperança. Bate tudo certo. Portanto, se o primeiro-ministro fala do aumento do salário mínimo e o ministro da Economia diz que esse aumento só ocorrerá lá mais para o fim do ano ou princípio do próximo, ou seja daqui a um ano, não é eleitoralismo, nem é estar a gozar com a cara dos milhares que recebem essa miséria de salário, é abrir uma janela de esperança. Se Portas anuncia que o IRS deve começar a “inverter a trajectória de agravamento”, nesta legislatura, só mentes muito perversas podem ver aqui eleitoralismo, é óbvio que Portas está apenas a abrir uma mais uma janela. E, seguindo sempre este princípio, podem anunciar o que quiserem. Até podem anunciar que um dia, nas próximas décadas, hão-de ter uma ideia acerca do rumo que o País deve seguir.

Não se brinca com a honorabilidade de Seguro

Seguro, visivelmente transtornado, lamentou, no final do debate quinzenal de hoje, que Passos tenha optado por “uma estratégia lamentável”, ao tê-lo acusado de, no passado, ter defendido um segundo resgate, coisa que, garante, nunca defendeu. Realmente, não se faz. Mas, pergunto eu, Seguro só se apercebeu da tal estratégia lamentável, por parte do Governo e das bancadas da maioria, no debate de hoje? Pelo que me tenho apercebido, Passos usou a estratégia do costume, exactamente a mesma que tem utilizado em todos os debates no Parlamento. A única diferença é que, neste debate, o “baixou nível” não serviu só para atacar os governos socialistas, também serviu para atacar Seguro, que prontamente lembrou que “em política não vale tudo”. Pois não, mas quase.

Se for para atacar o passado do Partido Socialista, sobretudo os governos de Sócrates, vale tudo e mais alguma coisa. Passos e os deputados da maioria podem recorrer ao mais baixo nível e às estratégias lamentáveis que quiserem, que de Seguro, ao contrário do que aconteceu hoje, não ouvirão um lamento. Terão como resposta o que sempre tiveram: silêncio.

Já faltou mais para proporem o fim dos partidos

Não há dúvida de que estamos em maré de ideias inovadoras. Desta vez foi Durão Barroso que nos brindou com uma ideia “surpreendente”. Diz ele, em entrevista ao Expresso, que, a bem do consenso, para além de “os principais partidos estarem condenados a governar em conjunto”, o próximo Presidente devia ter o apoio de PS, PSD e CDS. Mas, se calhar, está um bocadinho baralhado. Parece-me que é exactamente o contrário, ou seja, o próximo Presidente, independentemente do seu partido, após a eleição, devia apoiar, igualmente, o PS, o PSD, o CDS e, já agora, os restantes partidos.

Se está tão preocupado com o futuro do País, o ainda Presidente da Comissão Europeia, devia ter dito, claramente, que o próximo Presidente da República deve evitar a todo o custo comportar-se como o Cavaco. Um Presidente que tudo fez para derrubar o anterior Governo e que, não satisfeito, ainda se colou descaradamente ao actual, só porque é da sua cor política. Talvez assim nos tivesse surpreendido, não pela ideia em si, mas pelo teor da entrevista.

Qual é, afinal, o papel do vice-primeiro-ministro?

Esta semana está a correr lindamente à maioria. Primeiro foi a trapalhada do líder da bancada parlamentar do PSD a dizer uma coisa e a ministra das Finanças a vir de imediato desmenti-lo. Não foi bonito, mas hoje a trapalhada atingiu outro patamar. Resumindo, o primeiro-ministro aproveitou a visita a Moçambique para avisar que quem manda é ele e não o Ministério das Finanças e que tudo o resto é especulação. Para quem está sempre tão preocupado com a imagem do País que passa para o exterior, não estiveram nada mal. E revela bem o consenso que existe entre os membros do Governo. O Cavaco até devia dar estes episódios como exemplo do consenso que não se cansa de pedir à oposição.

Curiosamente, quem veio pôr água na fervura foi o ministro Marques Guedes, e digo ‘curiosamente’ porque existe no Governo um vice-primeiro-ministro, que sendo vice talvez devesse substituir o primeiro-ministro, quando este está ausente, e usar a sua magnífica inteligência e experiência política para evitar estes tristes espectáculos. E mais ainda porque o que motivou tudo isto foi um assunto que lhe é tão caro, as pensões, ou melhor, os cortes nas ditas. É estranho, ou talvez não, que quem tudo fez e faz e fará para proteger os pensionistas assista a tudo isto tão caladinho.

Seja como for, arrisca-se a que um destes dias o primeiro-ministro, para voltar a mostrar quem manda (as pessoas esquecem-se com frequência), o despromova de Vice para Ministro dos Vistos Gold. Assentava-lhe bem e seria muito mais condizente com a actuação que tem tido nos últimos tempos.

Um ministro tão competente não merecia uma coisa destas

Devemos ser o pior povo do mundo. O Governo esforçou-se, cortou os subsídios de férias e Natal, cortou nos salários, nas pensões, nas prestações sociais, atirou milhares para o desemprego e outros tantos para fora do país, esforçou-se tanto que até o primeiro-ministro, coitado, já se mostra preocupado com o nível de pobreza a que chegámos, mas a verdade é que merecemos empobrecer ainda mais. Depois de tanto esforço para empobrecer o País, o que fazem os portugueses com o pouco que lhes sobra? Poupam, ajudam os mais pobres? Não. Fazem fila à porta das farmácias e estoiram o que têm e o que não têm em medicamentos. E não é por estarem doentes, é tudo a fingir, não há povo mais saudável. É só para boicotarem o trabalho do Governo armando-se em ricos e, claro, para chatearem o pobre ministro da Saúde, um ministro tão competente. Eu, no lugar dele, demitia-me e aconselhava os restantes ministros a fazerem o mesmo. Afinal, um povo que se comporta desta forma, que brinca com a saúde, não merece os governantes que tem.

Reina a tranquilidade no Largo do Rato

Seguro é um líder tão confiante, mas tão confiante, que alguém da sua direcção decidiu enviar uma mensagem de correio electrónico aos militantes do partido informando-os de que o líder não está assustado com nada, e muito menos com o resultado das Europeias, que já estão no papo. Os militantes não têm, portanto, motivo para preocupações. Ora, isto, para além de patético, é revelador. Ficamos assim a saber que o que interessa a Seguro e à sua direcção é vencer eleições e que tudo o resto, que é muito, não interessa nada. As críticas, mais do que justas, à forma como o partido faz, ou melhor, não faz oposição, o facto de o PS não ser visto como uma alternativa credível, são pormenores sem importância, desde que se ganhe as Europeias. E é isto o actual PS. Faz lembrar o que se passa com alguns clubes de futebol, o treinador é péssimo, a equipa não joga nada, mas desde que vá ganhando os jogos, mesmo contra equipas de coxos, está tudo bem. O problema é que o País não é um clube de futebol. E se Seguro tivesse competência para fazer aquilo a que se propôs, oposição ao Governo, talvez não tivesse de mandar mensagens ridículas aos militantes do seu partido.

Seja como for, fiquei curiosa, será que os militantes do PS ficaram mais tranquilos?

Marcelo, o cata-vento

Não sei o que é mais extraordinário, se é ver Passos Coelho, alguém que se está a lixar para eleições, a esta distância das presidenciais, a traçar o perfil do candidato ideal, se é ver a reacção de Marcelo Rebelo de Sousa. Passos enumerou uma série de características, ou melhor, de defeitos, que não quer ver num candidato apoiado pelo PSD e Marcelo, ao ter anunciado que se retira da corrida, enfiou a carapuça todinha. Podia ter assobiado para o lado, dizer que não se revê em nada daquilo, podia ter criticado Passos, já que a decisão de se candidatar é pessoal ou lembrar que ainda falta muito tempo, mas não, nada disso. O brilhante Professor optou por dar razão aos que o apontaram como o alvo de Passos, ou seja, assumiu que tem todos aqueles defeitos. Marcelo confirma que, ao contrário de outros possíveis candidatos, é um cata-vento de opiniões erráticas, alguém que busca a popularidade fácil e o protagonismo político, entre outros mimos.

Nada que não se soubesse já, mas confirmado pelo próprio é outra coisa.

A festa da direita

Um estudo patrocinado pela Comissão Europeia, tornado público esta semana, dá conta daquilo que já todos sabíamos, que são cada vez mais os jovens que não prosseguem os estudos por falta de dinheiro, o estudo fala em 38% dos jovens. Como se não bastasse a elevadíssima emigração dos que já se formaram, graças ao maravilhoso processo de empobrecimento, os mais novos não têm como fugir a um futuro em que não passarão de mão-de-obra desqualificada e barata. Em vez de se arrepiar caminho naquele que tem sido um dos maiores problemas do País, a baixa escolarização da população, e diminuir o fosso que nos separa dos nossos parceiros europeus, como fizeram os governos anteriores, o actual Governo e a Troika estão a agravá-lo. Mas, atenção, o ajustamento é um sucesso. O que este estudo revela são pormenores sem importância e sem qualquer impacto na economia a curto e a longo prazo. É até muito positivo, afinal o Governo acabou com a “festa socialista”. Agora, se não quisermos ser acusados de profetas da desgraça, temos é de olhar para “os sinais positivos” e festejar. Saltar de alegria sempre que as taxas de juro baixam uma décima, mesmo que possam subir a qualquer momento por razões internas, uma birra de um qualquer governante, por exemplo, ou por razões externas. O mesmo para a taxa de desemprego, devemos fazer uma festa por cada décima a menos e ignorar que desce por causa da emigração e da desistência de muitos na procura de emprego. E há mais sinais positivos, ainda ontem Pires de Lima, no meio de umas banalidades sobre competitividade e qualificação das pessoas, sem que ninguém lhe tenha chapado na cara o tal estudo, revelou que os portugueses são absolutamente extraordinários (mesmo os que não têm formação, presume-se) e que “todos temos um bocadinho de Cristiano Ronaldo dentro de nós”. Uma revelação fantástica e, lá está, mais um motivo para festejarmos.

Mais uma estopada

Para que raio foi aquilo a que alguns teimam em chamar entrevista? Tirando o atirar de culpas para o governo anterior, que de uma forma ou de outra acontece sempre que Passos abre a boca (até nisso mente, já que quando tomou posse garantiu que não o faria) e repetir o que já estamos fartos de ouvir, não tinha nadinha para dizer que justificasse a conversa de chacha, entre amigos, a que assistimos. Claro que a culpa não é só dele. Os jornalistas, pelos vistos, também não tinham nada de novo para perguntar. Por exemplo, é absolutamente ridículo voltar a questioná-lo quanto à existência de um plano B caso o Tribunal Constitucional chumbe a convergência das pensões só para voltar a ouvi-lo dizer que o Governo foi muito cuidadoso quanto a possíveis inconstitucionalidades e que por isso está muito tranquilo e não espera chumbo nenhum. E os senhores jornalistas não lhe perguntam como é que no meio de tantos cuidados o Governo não teve em conta a opinião de Cavaco, que teve dúvidas e enviou a coisa para o Tribunal. Afinal, de que falam Passos e Cavaco quando reúnem às quintas em Belém? Contam anedotas acerca do Governo de Sócrates? Parece que das pensões não têm falado muito. E se falaram, é muito provável que Cavaco tenha discordado da intenção do Governo, ou seja, Passos mente quando diz que acautelou a possibilidade de haver um chumbo por parte do TC, é que o TC não age por conta própria. Já para não dizer que falar de um plano B pressupõe a existência de um plano A. E quando é que esta espécie de Governo teve um plano? O único plano que existe é o da troika, estes imbecis limitam-se a tentar executá-lo.

Não sei o que é pior, se o total vazio de Passos, se a imbecilidade dos entrevistadores. Afinal, um dia haverá eleições, Passos será substituído, mas e esta espécie de jornalistas, quando nos livraremos deles?

O elefante à solta na Aula Magna

Queria muito concordar com Mário Soares, mas custa-me que alguém com a sua experiência política não faça o retrato completo do drama que estamos a viver. É que se é verdade que é urgente substituir este Governo também é verdade que o problema do PS não é ter um líder “pouco activo”, é ter um líder que em dois anos não provou a ninguém, nem mesmo a muitos socialistas, estar preparado para assumir a liderança do Governo. Se não é assim, pergunto: teria sido necessário o encontro na Aula Magna, e os “avisos” que de lá saíram, caso o PS tivesse um líder forte com quem os eleitores se identificassem e vissem como verdadeira alternativa? A resposta, muito provavelmente, é não, até porque este Governo já teria caído há muito tempo. Com outro líder à frente do PS, não acredito que o Governo tivesse resistido à crise de Julho, por exemplo. Por muito que Cavaco e a troika esperneassem, o Governo, se não fosse antes, dali não passaria. E pergunto mais: se Soares se limitou a avisar que temos a violência à porta, será com a eleição de Seguro que se afastará esse perigo? É perguntar ao Pacheco Pereira, o grande herói da Aula Magna, que não se cansa de exigir a queda do Governo e eleições antecipadas, quanto tempo dará a Seguro, depois de eleito primeiro-ministro, até começar a acusá-lo de ser pior do que Hollande, a acusar os socialistas em geral de não serem solução para nada e voltar a exigir eleições. Isto é válido para o Pacheco, para muitíssima gente de direita, e de esquerda, e para a comunicação social, maioritariamente de direita, que sabemos bem do que é capaz tratando-se de governos socialistas. Aliás, com outro líder no PS duvido muito que Mário Soares e restantes participantes no encontro da Aula Magna tivessem tido o prazer de terem Pacheco Pereira a acompanhá-los.

Não ter nada disto em conta, exigir eleições, a bem ou a mal, sem que antes se resolva o problema da inexistência de um verdadeiro líder da oposição, não é resolver o problema é agravá-lo.

Passos é um ingrato

Em 2011, Passos era um homem feliz e apaixonado. Para o comprovar, abriu a porta do apartamento e nem as suas quatro cadelas foram poupadas, apesar de velhotas lá tiveram de entrar na campanha para as legislativas. E é assim que o seu Governo lhes agradece. Será que depois de ter sido eleito até as cadelas lhe começaram a rosnar?

Este Governo ainda vai dar lições ao Mundo

É oficial, Portugal já não está em crise. Quem o diz é o Governo, os ministros até se atropelam para ver quem mostra melhores resultados. Portas já sabe o dia e a hora em que irá terminar o sofrimento dos portugueses, a ministra das Finanças acompanha-o e fala em sinais encorajadores e, há pouco, Pires de Lima foi ainda mais longe e anunciou que estamos perante um “milagre económico”. Quem não vê a luz, e consta que são muitos, se calhar, é porque não tem fé, lá está.

Seja como for, não restam dúvidas, perante um milagre destes, Portugal será o novo motor da economia europeia ou mesmo mundial. Nem se percebe por que razão Portas diz que prefere ser celta, os sinais da recuperação portuguesa são tantos que a Irlanda vai seguramente ficar para trás. Aliás, a próxima visita da troika não será para fazer qualquer avaliação, será, isso sim, para aprender com estes verdadeiros magos da Economia. Aprender, por exemplo, como tirar a Europa da crise. Sim, porque, por estranho que pareça, os nossos parceiros europeus que, ao contrário de Portugal, fizeram sempre tudo bem, nunca viveram acima das suas possibilidades, nunca tiveram Sócrates a governá-los e, muito importante, não têm o Tribunal Constitucional português a atrapalhá-los, ainda não descobriram como pôr as respectivas economias a crescer. Nada que não se possa resolver, é só porem os olhos no magnífico Governo português.

Pires de Lima, muita parra e nenhuma uva

A entrada de Pires de Lima no Governo, aliada à promoção de Portas, levou a que muitos acreditassem que a remodelação ocorrida no Governo iria, de facto, mudar o rumo das políticas seguidas até aí. Seriam eles os principais obreiros do novo ciclo. Portas a coordenar as negociações com a troika e Pires de Lima a impulsionar o crescimento económico. Era o triunfo do CDS dentro da coligação. Um triunfo que durou pouco. Portas não teve argumentos e não alterou uma vírgula na forma de actuar da troika, tendo sido derrotado na sua pretensão de alterar a meta do défice. E quanto a Pires de Lima, tem sido uma nulidade, a única coisa que o vimos fazer desde que tomou posse foi aparecer durante a campanha para as autárquicas a alimentar a esperança dos empresários da restauração de que o IVA desceria para aquele sector, nem que fosse só a partir do segundo semestre de 2014. Tirando isso, e umas visitas a umas empresas, não se dá por ele. Ou seja, o ministério da Economia que antes estava entregue a um ministro cujas ideias mais pareciam anedotas, está agora entregue a um ministro sem ideias absolutamente nenhumas. Se as tem, não teve argumentos para as passar para o Orçamento. Será que a sua simples presença, talvez menos apatetada do que a do seu antecessor, é suficiente para se dizer que a pasta da Economia está em boas mãos? Duvido. Mas não duvido que a conversa da descida do IVA, em plena campanha eleitoral, naquilo que parece ter sido uma útil e oportuna “fuga de informação”, contribuiu para o “penta” que tanta alegria deu a Portas e ao CDS. Para os restantes portugueses, fica a tristeza de não se aproveitar um único ministro deste Governo.

Afinal, foi o Governo que levou com um choque de expectativas

Depois de Passos Coelho se ter mostrado muito preocupado com o choque de expectativas que o Orçamento poderia provocar nos portugueses, como se os portugueses tivessem alguma expectativa positiva. E de ontem a ministra das Finanças ter dito que, afinal, não vê razões para choque de expectativas, mostrando mais uma vez a extraordinária sintonia destes governantes, eis que, a poucas horas da entrega do Orçamento no Parlamento, é o Presidente angolano que desempata a coisa deixando as expectativas do Governo português em estado de choque.

Lá se vão as expectativas do Governo em relação aos negócios com Angola e respectivo impacto na nossa economia. Provavelmente, significa que o Orçamento, mesmo antes de ter dado entrada no Parlamento, já tem um buraco nas expectativas.

A nova luta da CGTP

Ao contrário do que seria de esperar, ou talvez não, os sindicatos têm assistido tranquilamente à destruição levada a cabo por este Governo de todos os direitos pelos quais dizem que lutaram durante décadas. As poucas manifestações com impacto nos dois últimos anos não foram organizadas pelos sindicatos e, por estranho que pareça, até na direita há vozes mais críticas do que as dos sindicalistas. Mas eis que o Arménio Carlos descobriu uma forma de a próxima manifestação da CGTP ser um sucesso. Desta vez o sucesso da manifestação não dependerá do número de participantes, isso era dantes, dependerá de conseguirem manifestar-se no local brilhantemente escolhido pelo Arménio, pelo que podem ser apenas meia-dúzia de manifestantes a atravessar a ponte para que no fim se grite vitória. Mas não serão os únicos vencedores. O Governo nem precisa de esperar pelo dia da manifestação para reclamar vitória, afinal, pode continuar a anunciar medidas e cortes brutais diariamente sem ter de se preocupar com a reacção dos sindicatos, que por estes dias andam entretidos com esta nova luta: o direito a poderem atravessar uma ponte.

Que se lixe o País

Não há dúvida de que estamos perante um primeiro-ministro muito original. Normalmente, os governantes de países em dificuldades negam até ao último momento a necessidade de os seus países serem resgatados. E não é difícil perceber por que o fazem. Sabem que assim que admitirem a necessidade de ajuda externa as consequências não se fazem esperar. Pois, por cá, o primeiro-ministro faz questão de ser ele a avisar que está à vista um segundo resgate. Porque é tontinho e não sabe quais as consequências? Não. O motivo de tamanha estupidez chama-se campanha eleitoral. E não é novidade que para Passos Coelho quando se está em campanha eleitoral vale tudo. Portanto, apesar de venerar os mercados, neste momento, mais importante do que evitar a desconfiança dos ditos e a inevitável subida dos juros, ou seja, mais importante do que evitar o segundo resgate é ganhar as eleições do próximo domingo. De repente, tudo o que disse acerca da necessidade de se fazer uma reforma do Estado, antes e depois de ter chegado ao pote, é para esquecer. Afinal, o coitadinho, só está a cortar nos salários e nas pensões para evitar um segundo resgate. Caso contrário, nunca se lembraria de tal coisa.

E por falar em reforma do Estado, Passos Coelho não é o único para quem ganhar votos nestas eleições se sobrepõe ao resto. Portas, em campanha, tem anunciado, por onde passa, o fim da crise. Mas então que raio de argumentos vai ter quando tiver de anunciar as medidas constantes na tal reforma do Estado que lhe incumbiram, e que tão habilmente foi adiando para depois das eleições? Será que vai dizer que a economia está a crescer tão depressa que o melhor é travá-la com cortes no valor de milhares de milhões de euros?

Para compor o ramalhete, ainda aparece o Cavaco a falar novamente de governos de salvação nacional, não vá ter escapado a alguém que com este Governo, tal como está, o País nunca conseguirá sair do imbróglio em que está metido.

E foi esta gente que, tendo sempre em mente os superiores interesses do País, nos salvou do PEC IV. Espero é que aqueles que os aplaudiram e apoiaram, por estarem fartos de contar os PEC, não se cansem um dia de contar resgates.

Portas está a ver bem isto, está é de pernas para o ar

O homem que em tempos acusou Sócrates de viver na estratosfera garante-nos hoje que “já saímos do fundo”, que agora é sempre a subir. Só não sabe muito bem é a que velocidade a coisa andará. Mas não é difícil adivinhar. Está a acontecer tudo muito rapidamente. Basta ver a velocidade com que as taxas de juro têm subido, a velocidade galopante a que nos afastamos da possibilidade de regressar aos mercados na data prevista e nos aproximamos de um segundo resgate. E claro a rapidez com que o novo Governo, mais o seu novo ciclo, perderam toda a credibilidade. Chega mesmo a ser impressionante a velocidade com que os vários membros do Governo se contradizem uns aos outros e o desembaraço que revelam para se envolverem em trapalhadas. E isto ainda não é nada. Quando se conhecerem as medidas do Orçamento para o próximo ano, então é que vai ser. Vamos deslocar-nos a tal velocidade que ninguém nos apanhará. Se Portas estiver a ver isto bem, só espero que o Céu que nos promete não tenha tecto.

Ninguém pára o Crato

O ministro da Educação, no mesmo ano em que decidiu introduzir um exame de inglês para os alunos do 9º ano, achou por bem acabar com a obrigatoriedade das escolas oferecerem o ensino de inglês aos alunos do 1º ciclo. Não tarda muito, a única coisa que a escola pública tem para oferecer são os exames. Os alunos nem precisam de assistir às aulas, têm é de comparecer no dia dos exames.

É extraordinário que esta decisão de Crato se tenha tornado pública, hoje, através da comunicação social, quando já esta semana o Seguro dedicou, pelo menos, um dos discursos de campanha à defesa da escola pública, alertando para alguns problemas que as escolas estão a enfrentar neste início de ano lectivo, e não tenha dito uma palavra acerca do fim do inglês no 1º ciclo. Ou não sabia, o que é estranho, já que é de Julho o despacho do Crato. Ou sabia, mas, mais uma vez, recusa-se a defender uma medida introduzida por Sócrates. Não sei o que é mais grave. Seja como for, o Crato agradece.