O elefante à solta na Aula Magna

Queria muito concordar com Mário Soares, mas custa-me que alguém com a sua experiência política não faça o retrato completo do drama que estamos a viver. É que se é verdade que é urgente substituir este Governo também é verdade que o problema do PS não é ter um líder “pouco activo”, é ter um líder que em dois anos não provou a ninguém, nem mesmo a muitos socialistas, estar preparado para assumir a liderança do Governo. Se não é assim, pergunto: teria sido necessário o encontro na Aula Magna, e os “avisos” que de lá saíram, caso o PS tivesse um líder forte com quem os eleitores se identificassem e vissem como verdadeira alternativa? A resposta, muito provavelmente, é não, até porque este Governo já teria caído há muito tempo. Com outro líder à frente do PS, não acredito que o Governo tivesse resistido à crise de Julho, por exemplo. Por muito que Cavaco e a troika esperneassem, o Governo, se não fosse antes, dali não passaria. E pergunto mais: se Soares se limitou a avisar que temos a violência à porta, será com a eleição de Seguro que se afastará esse perigo? É perguntar ao Pacheco Pereira, o grande herói da Aula Magna, que não se cansa de exigir a queda do Governo e eleições antecipadas, quanto tempo dará a Seguro, depois de eleito primeiro-ministro, até começar a acusá-lo de ser pior do que Hollande, a acusar os socialistas em geral de não serem solução para nada e voltar a exigir eleições. Isto é válido para o Pacheco, para muitíssima gente de direita, e de esquerda, e para a comunicação social, maioritariamente de direita, que sabemos bem do que é capaz tratando-se de governos socialistas. Aliás, com outro líder no PS duvido muito que Mário Soares e restantes participantes no encontro da Aula Magna tivessem tido o prazer de terem Pacheco Pereira a acompanhá-los.

Não ter nada disto em conta, exigir eleições, a bem ou a mal, sem que antes se resolva o problema da inexistência de um verdadeiro líder da oposição, não é resolver o problema é agravá-lo.

9 thoughts on “O elefante à solta na Aula Magna”

  1. É verdade que a actual falta de liderança do PS é um dos principais problemas de Portugal e é lamentável que um partido político com a dimensão do PS não esteja à altura das suas responsabilidades. Mas não pode esperar-se que Soares resolva o problema na Aula Magna. Em si mesma, a acção de Soares já deu aos socialistas a lição que havia a dar.
    A questão da Aula Magna é outra: combater a incapacidade de Cavaco, responsável máximo pelo estado a que chegámos. Creio que seria este o ponto principal de reflexão.

  2. O problema não está em Soares nem em Pacheco Pereira… O problema está no PS que continua a tardar em livrar-se do To Zé!
    Livrem-se do personagem antes que o PS e o país afundem mais ! A criatura é poucochinha!

  3. Este blog já está a ficar vazio.
    Já não dá pica, é pena!
    Perder tempo com as ideias velhas, gastas e mumificadas de alguem que já não diz nada ao País nem com 100 fundações?
    Façam um museu com as suas condecorações mundiais, desde os peles vermelhas do Arkansas até aos pigmeus do centro de África, tem lá de tudo.

  4. Talvez pelo nome de uma mulher como a minha, este post tem somente uma pequena grande falta: o mal do PS está em ter Seguro como líder ou no facto de qualquer Seguro se sentir capaz, e mostrou sê-lo, de ganhar esse lugar, bastando, para tanto, ter apresentado como indefectíveis uns quantos rapazes por demais conhecidos por serem exatamente isso, uns rapazes? Quanto ao resto, no meio apoiante do PS, habituados que estão a desdizer-se, você vai ter dificuldades em fazer vingar esta sábia interpretação do momento político do país. Ademais, por essas bandas, você saberá melhor do que eu, que quem se julga charneira inultrapassável, acha poder suportar tudo. Mas enfim, quem corre por gosto não se cansa. Ou cansa?
    José Luís Moreira dos Santos

  5. O vosso erro é que continuam a fazer análise política como se tudo estivesse na mesma. Não se pode basear a accção política meramente em cálculos e tácticas de circunstância. É preciso arriscar mais! É preciso acreditar mais! São necessárias rupturas políticas que evitem rupturas sociais mais graves. Não é a questão de ser este ou aquele líder. É necessário colocar os mecanismos da mudança em andamento, acordar as forças sociais. E os líderes terão de se conformar á vontade do povo quer queiram quer não. A sociedade está num torpor entediante e inquietante e eis que vem alguém agitar as àguas e tudo o que um bom socialista consegue fazer é cálculo político! Acordem pá!

  6. Muito bem, Guida.

    Mas Mário Soares não pode dizer mais, nem ser mais claro. Ele apenas pode avisar: Cavaco, Passos e Portas e, indiretamente, Tó-Zé Seguro.

    Ele sabe muito bem que este panhonha não poderá NUNCA ser mais activo! Não pode é tirá-lo de lá e pôr lá “outro”. Tem que ser o próprio PS a “activar” essa mudança. Se quiser, claro, que os Partidos não duram para sempre e o Seguro, já que não conseguiu contruir nada de nada, pelo menos há-de ficar na História por algum motivo, nem que seja o de ter “apagado a luz” ao PS…

  7. E esta agora do Rui Rio, que vem falar de “ameaças” à Democracia? Não estará ele também, na prática, a defender essas ameaças, ao mencioná-las, como acusam o Soares?

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