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Os comunas comem professores ao pequeno-almoço

Mais do que a revolta de 1956 na Hungria, e do que a invasão da Checoslováquia em 1968, foi a eleição de Carlos Carvalhas para Secretário-Geral do PCP, em 1992, que revelou o erro histórico do marxismo-leninismo. Se era para acabar com sopinhas de massa a comandar a Revolução, alguém se tinha enganado gravemente no caminho. Pois este amigo continua a botar discurso, sempre com o declarado objectivo de vencer a burguesia pelo aborrecimento. As suas crónicas na TSF são desafios ao estado de vigília, o qual já se encontra, de seu natural, basto debilitado para todos os que tenham o bom gosto de não estar na rua às 8.40 da matina. Mas hoje foi especial.

Hoje, Carvalhas apareceu feliz, rejuvenescido, com o grau de tonteira do costume e confiante que chegasse para nos dizer o seguinte:

Optar pela suspensão, para a Ministra, não seria uma postura de bom-senso e de humildade democrática, mas uma vergonha. E o Governo, em ano de eleições, não pode passar por vergonhas. O ensino e o País que fique em segundo lugar.

Este brilhante raciocínio de Carvalhas desmonta por completo a estratégia do PS: como o ano é de eleições, o Governo pode perder o ensino e o País, remetidos a um segundo lugar, não pode é passar por vergonhas. Faz todo o sentido, é exactamente isso. Fosga-se, Carvalhas, tu topas tudo.


E como não consegue impor o seu modelo pelo convencimento e pela razão [a Ministra], ameaça os professores. Não pode chamar os gorilas, como antigamente.

Inquestionável. Se a Ministra pudesse chamar os gorilas, há muito que esta macacada teria acabado. Mas não pode, azarinho, não estamos no antigamente, esclarece Carvalhas. Ai, eu fico com afrontamentos só de pensar na pobre da Ministra, coitadinha, que não pode chamar os gorilas. E um sagui, pode ser?

Simultaneamente, Primeiro-Ministro e Ministra repetem em uníssono que a lei é para cumprir. É a estratégia da confrontação, em vez de se sentarem à mesa com os sindicatos.

É das piores exibições de arrogância que se pode ter na política, essa de repetir, para mais em coro, ser a Lei para cumprir. Está-se mesmo ver que, com essa atitude de merda, os fachos querem é a confrontação. Afinal, conquistámos a democracia para andar a cumprir leis?! É só malucos. O que a malta quer é faltar aos acordos, recusar-se a negociar e fazer chantagem com greves e boicote às avaliações dos professores e alunos, não estamos com cabeça para essas confusões da lei e não sei quê. Pois se nós nem conseguimos interpretar o que lemos… Ah, e podem sentar-se à mesa com os sindicatos, claro, mas fiquem caladinhos e passem as batatas.

Cavaco Silva disse que a manifestação dos professores é um direito constitucional. Mas podia ter ido mais longe: a resistência a qualquer ordem iníqua e injusta é igualmente um direito. E, pela nossa parte, acrescentamos: um direito e um dever.

Cavaco Silva podia ter ido mais longe, podia até ter chegado à Madeira, bastando para isso ter dito que temos o direito de nos recusarmos a obedecer a qualquer regra ou preceito que nos desagrade, nos irrite ou provoque comichão. Só que Cavaco não é Carvalhas, e há alturas em que isso se nota. Esta é uma delas, em que ficamos a saber que o PCP entrou em modo de resistência. Todo o militante e simpatizante tem agora o dever de se apresentar na sua célula para receber instruções. É obrigatório levar pelo menos duas dúzias de ovos e um professor. O Partido fornece o talher.

25 de Novembro sempre!


Conhecido dirigente, de um partido nacional e socialista, saúda o desfile dos que vão combater na Guerra da Avaliação, prevista durar o ano todo.

Uma das características que melhor identificam o Governo Sócrates é a capacidade de negociação. Não temos memória de tal, e o Governo de Guterres foge à comparação dado que não negociava, cedia. A primeira grande exibição desta virtude – porque é de força que se trata – aconteceu com o processo de localização do novo aeroporto de Lisboa. A 11 de Abril de 2007, em entrevista na RTP, Sócrates dizia que a Ota era, indubitavelmente, a melhor localização: 30 anos de estudos, validação por diferentes Governos anteriores, recente consulta aos melhores consultores internacionais, urgência na construção do novo aeroporto, ausência de estudos quanto a outros locais, necessidade de dois ou três anos para ponderar uma alternativa. Deste rol de pressupostos, concluía o Primeiro-Ministro ser um erro parar o projecto Ota. 8 exactos meses depois, o Campo de Tiro de Alcochete era confirmado como o local para o novo aeroporto de Lisboa pelo mesmo governante. Que aconteceu? Política. Às claras e nos bastidores, a sociedade moveu-se, fez pressão e o Governo geriu a situação da melhor forma. Isso não quer dizer, porém, que a Ota fosse um erro. Quer é dizer que o Governo, mesmo de maioria absoluta, sabe negociar.

Quando se deixou cair Correia de Campos, estávamos no auge de um novo cenário em Portugal: a assustadora realidade das reformas. Não por acaso, não se fizerem reformas em 30 anos de democracia, antes se acumularam e aumentaram vícios e disfunções. É que reformar é a tarefa mais difícil para os políticos no poder, os quais devem sempre favores às forças da situação, os mesmos que temem perder na próxima eleição. Momentos de grave crise são propícios à reforma, como a História ilustra, onde guerras, desastres financeiros e catástrofes naturais podem diluir os factores de constrangimento, oposição e inércia. Em Portugal, a grave crise tinha sido protagonizada pela fuga de Barroso e pelo desastre de Santana. O regime tinha batido tão no fundo que se deu ao PS a sua primeira maioria absoluta, cenário que alguns só julgavam possível acontecer com Cavaco. Era fatal: se as reformas agora viessem, com elas teria de vir uma inusitada e imprevisível convulsão social.

Tentar mudar a mentalidade de uma qualquer organização é sempre a tarefa mais difícil para os seus dirigentes. No caso, o desafio não podia ser maior, e os comentadores de referência não acreditavam que o País fosse reformável, tivesse salvação. Pois este Governo revela uma e outra vez ter força e cultura política para aguentar o barco no meio da tormenta das reformas que já efectuou, pouco interessando contabilizar se foram muitas ou poucas. No caso do Ministro da Saúde, a sua presença esteve assegurada até às últimas, e foi preciso ver o PS também em pânico para que Campos fosse sacrificado. Assim que saiu, publicaram-se elogios que tinham ficado na gaveta enquanto os reaccionários e os néscios atacavam furiosamente. É a hipocrisia a reconhecer a bravura do Governo. Mas o que importa realçar é a lógica de Sócrates: dada a irracionalidade que os opositores da reforma na Saúde tinham promovido, intoxicando com mentiras e cenários alarmistas as populações ignorantes, parar foi a forma de negociar com uma sociedade cujo inconsciente ainda pertence a Salazar. Esse mesmo inconsciente que arrasta os professores contra a avaliação.

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O Sporting explicado ao seu treinador de futebol

Paulo, o Sporting tem orgulho da sua capacidade de sofrimento. Lidamos bem com travessias do deserto, árbitros empanturrados de fruta em trânsito para o Brasil, épocas natalícias, arquitectos com queda para o azulejo, goleadores em final de carreira, médios medianos, defesas em crise de identidade, guarda-redes frangueiros, treinadores copofónicos, treinadores rurais, treinadores artolas, treinadores cientistas, treinadores engenheiros do penta, presidentes com bigodes farfalhudos, presidentes cervejeiros, presidentes que não batem bem da bola, presidentes muito betos. Até aceitamos calados, mas tristes, a extinção do ecletismo que teve décadas de serviço público e foi glória do espírito amador. Todavia, contudo, porém, não admitimos que nos mandem calar. Ora, não só nos mandaste calar como deixaste que outros dois lampiões como tu, Moutinho e Veloso, repetissem o gravame. Por isso, e por não seres capaz de lidar com o verdadeiro leão Vukcevic, tens o estádio às moscas. Um estádio que sempre recebeu a mais leal, amorosa, entusiástica, apaixonada massa de adeptos. Um estádio que se une a uma só voz e canta. Perder com o Porto por causa do árbitro (o que, aliás, é mentira) não te devia dar o direito de revelar ao público que o Sporting paga ordenados a imbecis. Mereces um castigo valente, diga-se em abono da higiene no futebol. E perder com o Leixões não seria problema algum, se não fosse evidente teres perdido a equipa, teres perdido o bom-senso e teres perdido os adeptos. Espera aí, não te vás já embora – tens o telefone do Carlos Carvalhal?

Bute lá ajudar o PSD

A Manela foi a Fátima e regressou de joelhos. As suas declarações não equivalem à revelação de um segredo, pela simples razão de não haver segredo algum para ser revelado: a sua liderança é um falhanço. Sim, foi um alívio ver Menezes sair pela esquerda baixa, mas a senhora não tem quem a ajude. Perante a evidência de lhe ser mais vantajoso estar calada, assim prolongando aquilo que agora se tem a certeza de ser apenas uma ilusão, deveriam ter sido os lugares-tenentes a blindar o castelo. A Comissão Política poderia ter protegido a chefe avançado para o combate, para evitar o esboroamento do mito ao mesmo tempo que se simularia uma nova dinâmica. Isso teria assustado o PS, pois, e pela primeira vez, se estaria a fazer oposição inteligente a Sócrates. Incrivelmente, não só ninguém se chega à frente, como não há qualquer ideia que seja bandeira deste consulado. E da parte dos publicistas engajados a miséria é igual, com Pacheco Pereira, o mais assanhado e o que estaria em melhores condições de ser catalisador, a exibir uma confrangedora e pateta inépcia.

Não se pode ambicionar convencer o eleitorado do centro quando se nega a realidade ou não se consegue lidar com dificuldades. O silêncio do PSD sobre o que se passa na Madeira é desonroso. O modo como tentam sacudir a água do capote no caso BPN, uma pérola do cavaquismo e do centrão, é escabroso. O apoio à estratégia reaccionária dos sindicatos da educação é escandaloso. E por aí fora, que há muitos outros adjectivos acabados em “oso” para aplicar e eu tenho de ir almoçar. Por exemplo, estas declarações em Fátima são um monumento do argumentário chungoso:

Uma acção em que nós estivemos, em que interviemos, foi passada como 14ª notícia durante quatro segundos na televisão, quando já ninguém vê a notícia e ainda foi passada no exacto momento em que começou o jogo do Sporting-Benfica. Isto foi feito ao maior partido da oposição, com media assim é muito difícil fazer passar a mensagem.

Há-de vir o momento em que com seriedade, profundidade e conhecimento apresentamos as propostas ao País [não o tendo feito ainda] porque até às eleições eram todas adoptadas por este Governo socialista.

Temos de concordar com ela: passar mensagens quando começa o Sporting-Benfica é muito difícil. E é a própria a confirmar que o Governo aplica todas as boas ideias a que puder deitar mão. A solução passará, eis o meu contributo, por reduzir a frequência com que esses dois clubes se encontram, antes de mais, e depois nas eleições entregar a cada eleitor, juntamente com o boletim de voto, o programa do PSD. Finalmente, no recato e segurança da cabine de voto, ler as promessas da Manela e votar em conformidade.

Que dizeis e quereis?

Atribuir notas e avaliar são duas actividades diferentes, não necessariamente relacionadas. Eu saí do ensino nos finais de 90, entre outras razões, porque os alunos não eram avaliados. As reuniões de avaliação eram, isso sim, veículos para o preenchimento das pautas. Estive em cinco escolas, onde leccionei Filosofia, Psicologia e Psicossociologia a alunos do 10º, 11º e 12º: Escola Secundária da Moita, Escola Secundária de Linda-a-Velha, Escola Secundária Ferreira Borges, Escola Secundária Alves Redol e Escola Secundária Professor Herculano de Carvalho (nesta sequência). Licenciatura com Via de Ensino, estágio feito, dezenas de turmas e centenas de reuniões depois, posso não ter autoridade para falar em nome da classe dos professores, mas tenho autoridade para falar da falta de classe de alguns professores com quem partilhei os intervalos, participei em actividades, acompanhei em excursões, fui almoçar e jantar, criei amizade e me reuni vezes sem conta para realizar essa apaixonante e nobilíssima missão: ensinar na escola pública.

Se há pessoas maravilhosas a dar aulas? Ignotos santos, heróis e sábios? Sim, muitos. Milhares. Olha, há milhares e milhares de professores portugueses, em escolas públicas portuguesas, que são anónimos, humildes e sacrificados santos, heróis e sábios. Sim, há. Aos milhares e milhares. Mas agora puxa uma cadeira e vamos falar um bocadinho dos outros.

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Mais um escândalo a comprometer o Governo revelado pelo Zé Manel

Há muito que o Público suspeitava da existência de razões secretas por detrás da mudança do novo aeroporto da Ota para Alcochete. Sócrates tentou escondê-las por todos os meios, alguns deles legais (tal o desespero), mas foi incapaz de impedir que a verdade fosse descoberta por uma equipa de jornalistas com treino anti-máfia. Comprova-se a total incompetência do Governo, e só nos resta aguentar a desgraça de não estarmos neste momento a ser conduzidos à prosperidade pelo PSD, ou pelo PCP, ou pelo BE, ou pelo CDS, ou por todos eles juntos, numa grande coligação salvadora do Portugal que tão bem representam.

Eis os factos:

– A Ota, afinal, fica no Japão. Isto tornaria a ligação a Lisboa um pouco mais demorada do que foi prometido pelo Governo.
– A Ota, como se vê pela imagem e a legenda reforça, é um dos locais mais solarengos do país. Maneiras que, para conseguir convencer esses aristocratas todos a sair dos seus casarões, nem em 2300 teríamos aeroporto.

Declarações que metem nojo


A arbitragem portuguesa, os problemas da arbitragem, tudo isso mete nojo. Penso que o Sporting tem sido demasiado simpático.

O Sporting é demasiado simpático para as arbitragens. Alvalade tem de criar um ambiente mais difícil às outras equipas do que, por vezes, cria à nossa. E aos três que vêm arbitrar, se tivermos de lhes criar maus ambientes, não tem problema, porque é o que merecem.

Acabámos por perder com muita Paixão.

Guerra o ano todo

Os professores não querem ser avaliados. Porque os professores odeiam a escola. A escola está cheia de um tipo de seres em quem eles não têm a mínima confiança: professores. Como aceitar que esses fulanos, e logo aqueles da própria escola onde se trabalha, tenham o poder de avaliar o que os professores fazem na intimidade e reclusão das suas turmas? Temor e tremor. Andarilhar Marquês de Pombal-Terreiro do Paço em cuecas, ida e volta, seria mais confortável do que ser avaliado pelos colegas. Pelos colegas seniores! Aquelas gajas e gajos horrorosos, de quem se diz mal pelas costas, que são uns velhos rabujentos ou depressivos, uns vaidosos do pior, que estão meio chechés, que são comunas, que são fachos, que têm a mania, que estão ultrapassados, que não sabem dar aulas, que não percebem nada de pedagogia, com quem ter de falar nos intervalos é um suplício, quanto mais ficar à sua obscena mercê. Não, deixem-se disso. Estão mas é malucos.

Os professores não querem avaliar. Porque avaliar implica pensar; e pensar só dá problemas, como todos sabem. Pensar em critérios de avaliação já é suficientemente difícil quando se trata de alunos, que comem e calam, quão mais não será tratando-se de professores, entidades capazes de questionarem os relatórios e seus pressupostos? Por favor, não lhes façam essa maldade. Como é que o professor português, nado e criado numa sociedade de hipócritas, perfeitamente adaptado à suave decadência de nunca ter de prestar contas do que fez e, em especial, do que deixou por fazer, vai agora ser exigente com o colega? Isso é uma enorme indelicadeza, cria mau ambiente, estraga relações de longa data e dá azo a situações imprevisíveis. Avaliar, vejamos, avaliar é, vamos lá ver, é assim a modos de… de… espera… de olhar para o que acontece, aferir os resultados, verificar as práticas, corrigir eventuais erros, valorizar eventuais talentos, reconhecer e premiar eventuais dedicações, enfim, conhecer a realidade. Donde, a pergunta: mas passa pela cabeça de alguém querer conhecer a realidade do ensino em Portugal?… Tenham a santa paciência.

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Coisas que acontecem só para chatear o Daniel Oliveira

A bófia ao serviço do Governo ditatorial que temos voltou a exibir o mais completo desprezo pelos direitos das populações desfavorecidas ao ter capturado assaltantes de carrinhas de valores, entre outros crimes, logo no seu local de residência: Quinta do Mocho. Isto é mais uma prova da completa irresponsabilidade policial. Porquê? Porque o Daniel Oliveira assim o decidiu. A 2 de Setembro, esclareceu-nos que uma acção policial tida neste mesmo bairro nada tinha a ver com os crimes noticiados. Não, nada a ver, disse ele:

Na melhor das hipóteses essa reacção tenta apenas agir na aparência das coisas, sem grandes consequências a longo prazo. É o caso da acção policial na Quinta do Mocho, Quinta da Fonte e Bairro da Arroja. Apesar de nada terem a ver com os crimes que estão a ser noticiados, os poderes públicos, reagindo às notícias, reservaram para os moradores daqueles bairros um papel: são os outros, são o perigo, são os suspeitos do costume. Não espanta, por isso, que no meio da histeria ninguém se indigne com o facto de bairros inteiros serem transformados em palco de uma exibição de força que tem como única função, como a própria porta-voz da PSP confessa, aparecer na televisão.

Para o Daniel Oliveira, Sócrates coordena as polícias e profere frases como Rápido, cerquem um bairro qualquer e chamem as televisões. Invariavelmente, a escolha recai nos bairros dos pobrezinhos por vantagens de casting: eles, de seu natural, já têm pinta de bandidos.

Que dizer? Nada de especial, são os raciocínios do costume.

Os cabrões dos pretos

Os pretos que aparecem nos filmes e canais TV americanos são sempre uns porreiraços. São afáveis, educados, humanistas, exibem paradigmático bom-senso e universalista sabedoria, revelam especial vocação para cargos de chefia policial e carreiras militares excepcionais, jogam futebol americano, basquetebol e golfe com igual sucesso, ninguém os vence no boxe vai para 80 anos, enxovalham nações arianas apenas com os músculos das pernas, dominam a indústria musical, moldam a cultura (sub)urbana, ficam impecáveis à porta das discotecas da moda com aqueles penduricalhos auriculares, dançam como mais ninguém, parecem ter algum jeitinho para o Jazz, espalham o mito da afro-verga impunemente, são líderes de audiências entre as donas-de-casa branquelas e contam as melhores anedotas de pretos.

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O Qi faz-te mal ao QI

Experiência nunca até agora realizada, e sem previsão do vir a ser, revelou que o Quociente de Inteligência é diminuído pelo Quociente de ideologia. As perdas chegam aos 30 pontos, em média. O estudo utilizou as eleições presidenciais norte-americanas como modelo de aferição. Constatou-se haver um grupo largo de indivíduos escandalizados, ou perplexos, com a eleição de Bush em 2000 e 2004. Esse grupo forçava o seu sentido de realidade a encaixar o pressuposto ideológico que lhe garantia haver erro nessas vitórias. Assim, em conformidade com o sofrimento causado pela eleição democrática de um taralhouco daquele calibre, o povo americano teria de ser falho de várias qualidades positivas ou farto de várias qualidades negativas. O mais das vezes, as expressões Os burros dos americanos e Americanos imperialistas sintetizavam essa polaridade.

Ora, acontece que a vitória de Bush em 2000, e esquecendo o episódio Florida, é lógica: Clinton tinha sido protagonista de um escândalo moral como não havia memória, o qual puxou os independentes para um castigo legítimo aos Democratas; a economia estava ultra-saudável, imaginando-se que assim ficasse viesse quem viesse; não havia 11 de Setembro, nem possibilidade de o imaginar. E, em 2004, mais lógica foi a vitória de Bush: a nação estava traumatizada, ainda incapaz de racionalizar o desastre Bush; a nação estava em guerra, ainda incapaz de racionalizar o desastrado desastre Bush; Kerry não apaixonou, a sua campanha veio 4 anos antes do tempo.

Um Qi elevado impede o entendimento destas relações que chegam lógicas a um QI médio. Nos casos mais graves, nem sequer se consegue a mera percepção dos objectos no espaço bidimensional. Por exemplo, muitas vítimas de um Qi especialmente bem desenvolvido não são capazes de encontrar no mapa dos EUA as zonas onde os habitantes vivam da agricultura, pecuária, indústria, serviços e em que façam questão de ir à igreja ao domingo, gostem mais de música country do que do Zizek e favoreçam com especial carinho o ideal da propriedade privada e da livre iniciativa. Eles acham que tais zonas estão cheias de zombies controlados por militares e agentes da CIA disfarçados de tele-evangelistas; e, podendo, mandavam prender essa gentalha toda que lhes estraga o retrato de uma América desenraizada, ateia, urbana, cosmopolita, europeia, esquerdista e desejosa de ser governada pelo ticket Jerónimo-Louçã. Uma América cujo QI tivesse 30 pontos a menos, pelo menos.