Vítor Gonçalves tem ar de ser excelente pessoa. Como correspondente em Washington, fazia um bom trabalho. Como entrevistador da RTP1 não tem competência. Já diversas vezes o demonstrou – entrevista a Sócrates; entrevista aos dois principais candidatos nas recentes eleições.
Vi a entrevista a Passos Coelho intermitentemente, mas julgo ter visto as partes principais, complementadas com excertos passados nos canais de cabo. As perguntas mais óbvias na sequência do que dizia o entrevistado ficaram sistematicamente por fazer.
Exemplos: “O senhor continua a viajar em económica?” “Claro,[bla, bla] Nova Iorque em económica [bla, bla…], a comitiva também [bla,bla…], acto simbólico [etc.]”.
Pergunta que se impunha: “E a TAP continua a não cobrar as viagens aos governantes?” Vítor Gonçalves ZERO.
TGV: “O TGV sempre vai avançar?” “Não! Está suspenso, o que se está a estudar é um comboio “de alta prestação” [bla,bla…].
Pergunta que se impunha: “Mas o seu ministro referiu-se hoje mesmo ao factor de competitividade que tal linha representa”; ou “E essa via só será construída em Portugal?”.
ZERO.
Madeira: Passo directamente à pergunta que se impunha. “Mas o senhor acha ou não acha que foram cometidas infracções graves à face da lei, confessadas pelo próprio? Dizer que é grave e até muito grave e nada fazer não é pactuar com práticas fraudulentas, que tiveram como consequência o agravamento da austeridade para todos os portugueses?”
Redução de cargos dirigentes e organismos da função pública: Diz Passos: “Nunca um governo foi tão longe no corte da despesa”. Ora, sabendo-se que isto é mentira, porque não contrapôs Vítor Gonçalves que o governo anterior reduziu muitos mais?
Tudo isto e muito mais transformou aquela entrevista numa espécie de verborreia sem contraditório, à laia do Professor Marcelo. Mesmo assim, Passos bate Marcelo por muitos pontos na arte da representação.