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Ensinem o homem a programar

Foi maravilhoso ver Passos a descrever as qualidades dos alemães e dos portugueses. Sobre os primeiros disse umas banalidades, que são persistentes, trabalhadores e possuidores de uma grande auto-estima. Tudo qualidades que, evidentemente, os portugueses não têm. Mas no seu entender os portugueses também têm duas ou três qualidades que merecem destaque. Disse qualquer coisa sobre a flexibilidade perante os problemas, que temos a capacidade de nos ajustarmos, seja lá isso o que for, e que temos a capacidade de inovar, mas que o fazemos sem programação, precisamos de aprender a programar.

Que Passos não queira elogiar a aposta na inovação do Governo anterior, vindo de quem vem, não admira, mas pelo caminho escusava de espezinhar os portugueses e as empresas portuguesas que apostaram na inovação e que se tornaram altamente competitivas em qualquer ponto do Planeta. Para o primeiro-ministro, essas empresas inovaram, mas sem programação. Tiveram sorte, obtiveram sucesso porque calhou. É assim que Passos promove o que de melhor se faz no País. Está a falar de si próprio, pensa que as empresas portuguesas são todas como aquelas por onde passou, onde a base da programação é o chico-espertismo. Isto também explica o que temos visto quanto à programação do Governo que lidera.

E está a cuspir na sopa. É que é graças à aposta na inovação e à excelente programação, quer do Governo anterior, quer dos empresários, que os resultados da economia não são hoje mais desastrosos. Mas, lá está, para o primeiro-ministro, as exportações do País aumentaram nos últimos anos por sorte, calhou.

A direita é muito esquisita

Ultimamente não temos sido muito visitados por chefes de Estado estrangeiros. O que não espanta. Durante os governos de Sócrates ficámos a saber o quão esquisita é a direita portuguesa na escolha dos seus parceiros de negócios estrangeiros. Não lhes serve qualquer um. Nesse tempo, todos os que nos visitavam estavam cobertos de defeitos dos pés à cabeça. E quase todas as visitas oficiais eram motivo de grande gozo. Uns gozavam com as escolhas do Governo enquanto outros rebolavam a rir dos acordos assinados. Por isso, quando o Governo mudou, fiquei bastante curiosa. Quem seriam, a partir dali, os privilegiados? Mas passado um ano e meio, e apesar das inúmeras viagens de Portas por esse mundo fora e das do próprio Passos, continuamos à espera. Não sabemos se os nossos governantes não retribuem as visitas que fazem com convites semelhantes, se os convidados os recusam, se têm vergonha do País que governam, se não há em Portugal empresários inteligentes em número suficiente que justifiquem a trabalheira de organizar uma visita oficial, ou se, no entender do actual Governo, já temos exportações que cheguem.

Isto para dizer que nem tudo é mau na visita que a senhora Merkel nos fará na próxima segunda-feira, pelo contrário. Para além dos muitos negócios que se farão naquelas seis horas, tantos que deverão chegar para inverter a queda acentuada das exportações portuguesas, a direita mostra-nos, finalmente, o que é um parceiro comercial perfeito, isento de defeitos.
Pelo menos, desta vez, não se vê ninguém a rir.

E ainda dizem que a direita não tem alternativas

Espanta-me a falta de curiosidade dos jornalistas em relação a algumas matérias. A Ferreira Leite apresenta uma alternativa para resolver os nossos problemas, desta vez sem ironia, e não tentam saber mais? Por exemplo, quando é que descobriu que a democracia não serve para resolver problemas complexos? Antes ou depois de ter exercido cargos governativos? Será que está a tentar justificar o desastre que foi a sua passagem pelo Ministério das Finanças? Mas a senhora não se ficou por aí, mais tarde, foi eleita líder do PSD, candidatou-se a eleições e correu sérios riscos de ser eleita primeira-ministra. Ora, nem é preciso perguntar-lhe, sabemos que, nessa altura, já via a democracia como um empecilho. Então, candidatou-se para quê? Para resolver os complexos problemas do País não foi. Será que foi para impedir que uns quantos democratas lhe estragassem a teoria? Ou foi simplesmente porque lhe soava bem o ‘primeira-ministra’ antes do nome?

E, uma vez que o assunto parece ser para levar a sério, a questão dos seis meses de suspensão também levanta algumas dúvidas. Todos sabemos que os problemas complexos são como as ervas daninhas, mal se resolvem uns aparecem logo outros. Se calhar também acaba por ser muito complexo estar a suspender a democracia por uns meses, de seguida retomá-la, e, passados quinze dias, estar a suspendê-la novamente. Por favor, peçam lá à senhora para desenvolver.

Com amigos destes, não precisamos de inimigos

Muito pior que o complexo de superioridade dos países do Norte da Europa é o complexo de inferioridade dos nossos actuais governantes, que pedem ajuda a uns técnicos desconhecidos do FMI para cortar nas funções sociais do Estado. Claro que o fazem para não assumirem a responsabilidade das medidas que, sabemos, defendem há anos, ou seja, por cobardia política. E nem se apercebem, ou não querem saber, do ridículo a que expõem o País. Pedir ajuda para cortar nas despesas do Estado?! Mas isso é a única coisa que o Governo já mostrou que é capaz. Já que querem colocar-se, e colocar-nos, nessa posição de menoridade, peçam ajuda para aquilo que realmente não fazem a mais pálida ideia de como conseguir: pôr a economia do País a crescer. Faria muito mais sentido, pois é esse o segredo dos povos do Norte para manterem os seus ricos estados sociais.

Mas não, o Governo prefere dar-lhes razão e assumir que somos um povo de incapazes, de oportunistas e de desgraçadinhos todos a viver à conta do dinheiro do Estado e, por isso, sem a mínima hipótese de, sequer sonhar, aproximar-se deles através da criação de riqueza.

Já agora, peçam aos técnicos para fazerem a conta a quanto custa ao País o desespero, a falta de confiança e de esperança que resultam deste tipo de atitudes.

Um pequeno grande linguarudo

Então no mesmo dia em que os apelos do Governo ao PS para que participe na tal refundação do memorando dominaram quase por completo a discussão do Orçamento, vem o Marques Mendes dizer que afinal o abate do Estado Social já está mais do que negociado com o FMI?

Ó Marques Mendes, se calhar isso não era para dizer. Como é que fica o Paulo Portas que garantiu solenemente no Parlamento que aquele era um apelo sincero? E que margem tem agora o Seguro para responder positivamente à cartinha do Passos Coelho?

Está bem que o senhor, enfim, tem sempre de se pôr em bicos de pés e de provar constantemente que é o comentador mais bem informado cá do burgo, mas isto não se faz à malta amiga do Governo.

Não é uma maratona, é uma corrida de malucos

A propósito da declaração de Vítor Gaspar em que comparou o processo de ajustamento a uma maratona, Marcelo Rebelo de Sousa pediu ao Governo que se decidisse quanto ao tipo de corrida, pois tinha começado por ser uma corrida de poucos metros e já ia na maratona. Penso que, nesta altura, a questão não é essa, uma vez que o ministro já se decidiu pela maratona, e nem era preciso pois já todos percebemos que a corrida é longa. A questão é que, apesar de ter sido muito preciso e de ter informado que a corrida já levava 27 quilómetros percorridos, faltando apenas correr um terço, Vítor Gaspar não sabe o que é uma maratona. É que numa maratona o percurso está bem definido, nunca se altera a meio, e todos os maratonistas sabem onde está a meta e o que ganham caso lá cheguem. Mas não é isso que se passa nesta corrida em que o Governo está constantemente a alterar o percurso, a mandar-nos correr para becos sem saída, ou para ruas que são verdadeiros obstáculos intransponíveis, como é o caso do Orçamento do Estado que está em discussão, por exemplo. Que é como se, de repente, os maratonistas fossem desviados para uma rua com 20% de inclinação, com o piso ensebado e sem fim à vista. E depois vem dizer que o sucesso não está garantido. Pudera! Mas mesmo que, por milagre, fosse possível terminar a corrida, o ministro não diz qual é o prémio. Talvez por saber que o único prémio a que teremos direito é um bilhete para voltarmos a participar numa corrida organizada por si, ou seja, mais uma corrida de malucos.

Façam-lhe um desenho

Louçã já não estará no Parlamento para a discussão e votação do Orçamento. E se Seguro, que foi tão rápido a pôr-se em bicos de pés para substituir Sócrates, não fosse tão lento a perceber que a sua permanência à frente do maior partido da oposição agrava ainda mais o descalabro em que o País se encontra, passaria a bola a outro e também já não participaria nessas sessões parlamentares. Em praticamente ano e meio, não teve uma ideia digna desse nome, e as que teve foram para esquecer, são muito mais os que o criticam do que os que o elogiam (na verdade, não são nenhuns), só viu o PS subir nas sondagens por demérito (isto sou eu a ser simpática) da concorrência, para não falar das sondagens que indicam que a maioria preferia ver outro no seu lugar, o que lhe falta para perceber que também ele está ali a mais?

O Cavaco tem sido menos visto do que o Fidel

A nossa comunicação social tem dado grande destaque a Fidel Castro. Pelos vistos, interessa bastante aos nossos jornalistas o estado de saúde do senhor. Nada contra. Estranho é não terem a mesma curiosidade em relação a Cavaco. Afinal, quando é que o fotografaram pela última vez? A verdade é que deixou de ser visto em inaugurações, já não visita empresas nem escolas nem nada. A última vez que soubemos dele foi através do Facebook, mas terá sido mesmo ele a escrever aquele recado ao Governo? Não sabemos. Será que, ao contrário de Fidel, que não se lembra da última dor de cabeça, Cavaco tem sido assolado por enxaquecas terríveis que o impedem de aparecer em público? Vá lá, senhores jornalistas, investiguem, e se possível publiquem uma foto.

O sentido de responsabilidade de Portas vem tarde e a más horas

Foram tantos os elogios que Portas foi ouvindo nos últimos anos que deve ter-se convencido de que era um infalível mestre da política. Enganaram-no bem, em vez de lhe criticarem o populismo barato, elogiavam-lhe a inteligência e a experiência política. E Portas, pelos vistos, não percebeu que na maioria das vezes elogiá-lo era só uma forma de os comentadores de direita criticarem os líderes do PSD. Estava tão seguro da sua superioridade neste Governo que subestimou a capacidade da dupla Passos/Relvas para o tramar e pensou que seria possível ter tudo controlado mesmo estando fora do País a maior parte do tempo. Para agravar ainda mais a coisa, e porque não quis convidar alguém que lhe pudesse fazer sombra dentro do CDS, escolheu dois patetas para o acompanharem no Governo. Agora deve andar às voltas a tentar perceber como é que de repente lhe caiu tudo em cima, incluindo o seu próprio partido.

Mas não abandona o populismo, até porque não sabe ser outra coisa, e tenta justificar o injustificável com o seu suposto sentido de responsabilidade, sem o qual Portugal mergulharia no caos grego. Vem tarde. Teve oportunidade de mostrar o tal sentido de responsabilidade aquando da votação do PEC4, mas nessa altura estava demasiado ocupado a garantir a boleia que o levaria ao pote.

Piores do que condutores bêbados

Estamos muito mais descansados. Primeiro foi Portas que nos veio tranquilizar através de um comunicado onde garante que o CDS votará favoravelmente o Orçamento, pois não quer provocar uma crise política. Esquece que só a simples existência do comunicado já é a prova provada de que existe uma grave crise no Governo. Se não é uma crise política, não sei o que será. De seguida, aparece Passos Coelho a garantir que ‘o Governo não está para cair’. Esquece que o facto de ter de dizê-lo é a prova provada de que o Governo está por um fio. E, pior ainda, o primeiro-ministro diz uma frase destas no estrangeiro e a caminho de um Conselho Europeu. Ou seja, mesmo aqueles dirigentes europeus mais distraídos que ainda não tivessem conhecimento da grave crise política que se instalou no Governo português, com aquela frase ficaram esclarecidos. E é desta forma, ainda mais fragilizado, que Passos se vai apresentar neste Conselho Europeu para defender os interesses do País.

Depois queixam-se de que o caminho é estreito. Os condutores bêbados também se queixam do mesmo. Até em estradas larguíssimas lhes falta margem de manobra.

O Orçamento é uma merda

Pensava eu que durante os governos de Sócrates se tinham esgotado os nomes feios para chamar aos governantes e as piores analogias e metáforas para ilustrar as suas acções. Como se tem visto nos últimos tempos, estava redondamente enganada. Por estes dias, até arrepia ler os jornais tal é a quantidade de material bélico e catástrofes naturais e outras que aparecem associados a este Governo e ao Orçamento. Pensar que, para os catastrofistas, no tempo dos PEC dos governos de Sócrates, o grande perigo que o País enfrentava era o de estar prestes a bater numa parede. Uma parede. Aposto que, perante esta avalanche de desgraças, muitos têm saudades dessa parede.

A verdade é que não é nada fácil escolher um termo que ainda não tenha sido utilizado, e ainda menos um que seja mais devastador. Por isso, decidi ir por outro caminho e escolher um termo mais simples, que toda a gente percebe e que, apesar de resumir o que todos pensam, ainda não vi escrito em nenhum jornal: o Orçamento é uma merda.

Gaspar a brincar com o fogo

Há muito que o consenso que havia à volta deste Governo se foi, mas parece que Vítor Gaspar ainda não está satisfeito. Ter o País de pantanas, o Governo estilhaçado e a coligação em guerra aberta ainda é pouco. Quando ontem confessou ‘embaraçado’ (os sonsos são os piores) que não tinha estudado as declarações do Presidente da República, Gaspar revelou uma imprudência colossal. É que não devem ter sido só as últimas declarações de Cavaco que lhe passaram ao lado, Gaspar deve ter andado muito distraído nas últimas décadas e desconhece por completo uma das principais características do actual PR: o seu espírito vingativo. Com aquela simples frase, Gaspar deve tê-lo deixado laranja de raiva. E não é que Cavaco, depois de tudo o que disse e fez contra os governos anteriores, não mereça este tratamento, mas, por muito que nos custe, continua a ser Presidente da República e não se espera de um ministro das Finanças que o trate publicamente com este desprezo. Além disso, fica bem demonstrada a disponibilidade deste Governo para ouvir os outros.

Por onde andarão agora os que berravam indignados e exigiam a Sócrates, apesar de ser de outro partido e de obviamente ter ideias diferentes, que ouvisse todos os conselhos e cumprisse à risca as ordens que vinham de Belém? Se calhar também andam muito ocupados e ainda não se aperceberam desta guerra entre Belém e S. Bento. Ocupados a assobiar para o lado.

Temos, urgentemente, de apurar esta raça

Todos sabemos, porque todos os dias disso somos lembrados, que o endividamento é um dos principais problemas do País. Também sabemos que existe uma dívida pública e uma dívida privada, contraída pela banca, empresas e famílias. Portanto, de uma maneira ou de outra, somos todos responsáveis pelo endividamento do País, é o que se conclui. Mas afinal parece que não é bem assim. No último debate quinzenal fomos surpreendidos por uma revelação verdadeiramente espantosa, a de que o primeiro-ministro pertence a uma raça de homens que, não sendo os próprios “a causa do endividamento”, gostam de pagar o que devem. Ele falou no singular, mas não me parece adequado, se o primeiro-ministro fosse um caso único, não seria uma raça, mas sim uma aberração. Adiante. Como é que, ao contrário dos restantes portugueses, esta raça de homens não é responsável pelo endividamento? Somos quase tentados a pensar que é uma raça acabada de chegar de um planeta distante, o que explicaria muita coisa, mas não, temos a certeza que estes indivíduos vivem há muitos anos entre nós. Nesse caso, como é que evoluíram e se distinguiram de todos os outros? Apesar de só agora termos conhecimento da existência desta raça, há coisas que podemos deduzir. Por exemplo, é mais do que certo que esta raça de homens nunca usufruiu de serviços prestados pelo Estado. Nunca frequentaram escolas públicas, nunca puseram um pé nos transportes públicos, nunca viram um minuto de emissão da RTP, nunca recorreram ao SNS, ou melhor, provavelmente, os indivíduos desta raça nunca adoecem. Nunca, mas nunca utilizam as auto-estradas, circulam apenas por estradas secundárias e caminhos de cabras. De certeza que nunca recorreram ao crédito, nem em nome individual nem em nome de eventuais empresas por onde tenham passado, e muito menos se candidataram a quaisquer fundos ou subsídios estatais. E é óbvio que não consomem energia, nem pensar, não contribuem para a factura mais pesada das importações. Aliás, não devem consumir nenhum tipo de produtos importados. Isto é extraordinário, e o estudo desta raça, para além de poder fazer de nós um país riquíssimo, talvez traga a solução para muitos dos problemas que afectam a Humanidade. É só perguntar-lhes qual o segredo. Tem é de ser com jeitinho e com muito cuidado com as palavras, pois, aparentemente, esta raça é muito sensível e bastante medrosa.
Enfim, a Natureza não é perfeita.

A PIDE não faria melhor

Até ontem julgo que nunca tinha visto um interrogatório tão pidesco como o que José Gomes Ferreira fez a Paulo Campos. Para aquele interrogadorzeco não há cá presunções de inocência, Paulo Campos e, já agora, todos os que se relacionaram com Sócrates, são culpados de todos os males que nos afectam agora e afectarão nos próximos milhares de anos. O interrogadorzeco tem provas de tudo, está munido de relatórios e pareceres que anulam todos os outros que os acusados possam usar para se defenderem. E se se mostrarem, enfim, ineficazes para os seus propósitos acusatórios, o interrogadorzeco, tem um plano B, que passa por perder todo o respeito por si próprio, e por quem o ouve, e desatar a bombardear o interrogado com perguntas/acusações acerca dos seus rendimentos, das suas amizades e dos seus medos. Medo, por exemplo, de que com a nova Procuradora-Geral, em quem ele, pelos vistos, deposita muita esperança, as investigações possam ter outro desfecho. Este espectáculo deplorável revela muito mais acerca do interrogadorzeco do que do interrogado que, obviamente, mesmo que fosse culpado jamais o assumiria em directo num programa de televisão. Mas tem uma justificação, o exagero do interrogatório, que o próprio reconheceu, deve-se a uma enorme preocupação. O interrogadorzeco está preocupadíssimo com o que estamos a deixar para os nossos filhos e netos. E eu também. Preocupa-me que, em vez de jornalistas, os nossos filhos e netos tenham de levar com estes ranhosos.

PSD e CDS, partidos do arco da desgovernação

Na última campanha para as legislativas, a direita chantageou os eleitores ameaçando os que pretendiam votar PS com cenários de instabilidade, ou eles ou o caos. Apregoavam estar em vantagem em relação ao PS porque à direita havia a possibilidade de coligação o que não se verificava à esquerda. Está bem à vista de todos onde nos levou essa vantagem. Mas, pior ainda, este Governo é a prova de que a direita, para além de não saber fazer oposição, e talvez por causa disso, não sabe governar. Nem mesmo com o apoio mais do que alargado que o actual Governo teve, nem com a troika a ditar-lhes o que fazer, nada os impede de se estatelarem ao comprido. Ou seja, tivemos recentemente dois governos de maioria da direita, qual deles o pior. Na oposição também nada há a elogiar, muito pelo contrário. Pelo PSD passaram uma série de líderes, qual deles o pior. Nem no poder nem na oposição se lhes conheceu uma ideia digna desse nome. Não espanta por isso o desnorte e falta de rumo de todos os líderes, que neste partido são descartáveis. E isto, sim, devia ser uma preocupação para o exército de comentadores de direita, que há um ano e meio alinharam na chantagem garantindo que só haveria competência e estabilidade com um governo PSD/CDS, e que agora sugerem remodelações mesmo sabendo que não servirão para nada, muito menos para devolver a credibilidade a esta maioria. Mas, em vez disso, preferem dizer que o PS não é alternativa, embora saibam que isso não é verdade. É que não é o PS que não é alternativa, é o Seguro. Sabem perfeitamente que qualquer pessoa consegue enumerar vários nomes de políticos socialistas que de um momento para o outro poderiam alterar completamente esse cenário onde o PS não se apresenta como alternativa. E à direita, que alternativas existem? Do CDS nem vale a pena falar, sem Portas o mais certo é desaparecer. E no PSD, quem são as alternativas aos inseparáveis Passos e Relvas? Enquanto esperamos pela resposta, podemos recordar os últimos governos minoritários do PS e concluir que, apesar dos problemas que enfrentaram, que foram muitos e variados, é muito mais estável e competente um governo minoritário do PS do que as maiorias de direita todas juntas.

Se não é Passos a dar a cara é porque são boas notícias

Hoje, finalmente, ficaremos a conhecer as medidas alternativas às alterações na TSU. Há alguma expectativa, mas a imprensa garante que haverá uma subida dos impostos. Só podem estar enganados. Uma subida de impostos é uma má notícia, mesmo mazinha, e o primeiro-ministro já nos garantiu mais do que uma vez que quem dá a cara pelas más notícias é ele. Não vamos agora pensar que, por causa das críticas de que tem sido alvo, ficou piegas e que mandou outro anunciar mais um pacote de austeridade. Por outro lado, não temos conhecimento de que Paulo Portas tenha dirigido mais uma carta aos militantes do seu partido a informá-los de que, afinal, a carga fiscal ainda não atingiu o limite e que, ao contrário do que pensava, subir os impostos até será benéfico para a economia do País. Portanto, podemos ficar descansados que nada de mau será anunciado pelo ministro das Finanças. Talvez nos diga que o Governo descobriu como cortar nas famosas gorduras do Estado. Ou quem sabe anuncie medidas que impulsionem o crescimento da economia. Tudo, menos más notícias.

Antes cigarras do que baratas tontas

Não se sabe muito bem quem são as cigarras no entender do ministro Miguel Macedo, há quem pense que se estaria a referir aos que sobrevivem graças aos apoios que recebem do Estado. Mas faz mais sentido que se estivesse a lembrar dos milhares que se têm manifestado e que têm ferido os ouvidinhos sensíveis do ministro com as suas cantorias. Também podem ser os analistas, comentadores, jornalistas que não se calam com as críticas ao Governo. Ou ainda os barões do PSD e do CDS, que estando de fora, todos os dias têm recados e sugestões para o Governo, por exemplo, que se substituam algumas das baratas tontas que se sentam ao seu lado nas reuniões do Conselho de Ministros.

Seja como for, o local que esta suposta formiguinha escolheu para chamar cigarras aos outros foi uma inauguração. Será que para este Governo tão avesso a obras, fazer inaugurações é trabalho de formiga ou cantoria de cigarra? Neste caso, nem uma coisa nem outra. O ministro anda tão desorientado com os assobios das cigarras que nem competência tem para fazer uma simples inauguração, parece que abandonou o local sem ter descerrado a placa à entrada do quartel de bombeiros que supostamente foi inaugurar, ilustrando bem aquilo que é: barata tonta.

Cada um tem a coligação que merece

Houve um tempo, que parece ter sido há décadas, em que todos eram unânimes em considerar o consenso político entre os maiores partidos indispensável para que o País ultrapassasse a difícil situação em que se encontrava. Paulo Portas teve até a brilhante ideia de sugerir um governo de coligação entre PSD, CDS e PS. A coisa aparecia como uma solução mágica que resolveria todos os problemas. É claro que nesse tempo a resolução dos problemas era facílima e dependia só dos políticos portugueses já que não existia qualquer crise internacional, isso era só mais uma invenção de Sócrates, a verdadeira crise internacional só começou em Junho de 2011, como toda a gente sabe. Deve ter sido por causa dessa e de outras invenções ainda piores que Portas declarou que havia um grande obstáculo que impedia a execução desse plano milagroso: Sócrates. Mas Portas não se atrapalhou e vai daí sugeriu ao PS que mudasse de líder, o que no seu entender deve ter sido uma sugestão normalíssima. Afinal, estava em causa a salvação do País e governar o País a dois ou a três seria canja desde que, lá está, Sócrates saísse de cena. Isto apesar de Portas conhecer o PSD de ginjeira.

Entretanto, correu-lhe tudo de feição, chegou ao poder numa coligação não a três, como havia sugerido, mas a dois e meio, já que Seguro é o líder da oposição mais meiguinho de que há memória em Portugal e arredores, mas que mesmo assim não salva o PS de ser maltratado pelo Governo dia sim, dia sim, o que prova que a conversa do consenso político praticamente morreu no dia seguinte ao das eleições. E o que se tem visto de Portas neste quase ano e meio? O costume. Um parceiro de coligação do mais esquivo que se pode imaginar, a fazer o que já tinha feito no outro governo de coligação de que tinha feito parte, nunca dando a cara pelas medidas impopulares que os seus governos adoptam, aparecendo só quando lhe parece que pode tirar proveito, para ele ou para o partido, ou seja, é de uma deslealdade à prova de tudo.

Portanto, Portas tinha toda a razão, pelo que pudemos observar nos seis anos de governação socialista e pela lealdade que sempre existiu entre Sócrates e os seus ministros, de facto, aquele líder do PS não tinha lugar num governo de coligação com Portas, onde a incompetência está sempre garantida e em que a hipocrisia e a deslealdade são imagem de marca.

Nunca se tinha visto um PM tão corajoso

Passos Coelho, no Pontal, anunciou que será ele a dar as más notícias que constarão no próximo Orçamento de Estado. Não é a primeira que o faz e o objectivo é claramente o de atacar os seus antecessores. Ou melhor, o seu antecessor, esse cobarde que mandava sempre recado por terceiros. Passos avisou ainda que o fará quando chegar o momento certo, dando a ideia de que as tais medidas ainda estavam a ser estudadas. Mas eis que nos dias seguintes as tais más notícias que nos deveriam ser dadas em primeiríssima mão pelo primeiro-ministro surgem na imprensa. Como é óbvio não é nada oficial, mas a coisa comenta-se um pouco por todo o lado, há entidades que reagem, enfim, o terreno vai-se preparando. Não correu propriamente como previsto, mas era também essa a intenção de Marcelo, no passado domingo, a de ser mais um a preparar-nos para o que aí vem. Ou seja, o que Passos disse, tecnicamente, não é mentira, oficialmente será ele a dar-nos as más notícias, mas a verdade é que quando o fizer não haverá ninguém, nem no País nem por essa Europa fora, que não saiba o que tem para dizer. E o Governo também saberá exactamente o que todos pensam do que vai ser anunciado.
Mas, atenção, quando chegar o dia, será preciso muita coragem!

Qual é, afinal, o legado de Louçã?

Louçã deixa a liderança do BE, mas sai tão puro como quando entrou. Isto da democracia é tudo muito bonito, mas o lugar dos puros é sempre o mesmo: o mais longe possível do poder e de todas as consequências que daí advêm. E, justiça lhe seja feita, tantos anos passados, Louçã nunca vacilou, nunca o vimos tentado a experimentar o outro lado da barricada. Sai, portanto, com a certeza de ninguém o poder comparar com Passos, por exemplo. Ou, muito pior, com Sócrates! Embora muitos digam que Passos e Sócrates são iguaizinhos, farinha do mesmo saco, o centrão, etc., para a esquerda pura, Sócrates foi muito pior. Se assim não fosse não se teriam dado a tanto trabalho para substituir um pelo outro. Pior porque não se admite a um governante que se diz socialista que não crie emprego e riqueza para todos permanentemente, que feche escolas e hospitais, mesmo que tal traga vantagens, que aumente impostos, e todas as outras malfeitorias que todos os governantes, sobretudo os que se dizem socialistas, acabam por fazer, independentemente de quaisquer circunstâncias que a isso obriguem. Um governo que se diga de esquerda tem de manter a economia sempre em alta, se assim não for é porque é de direita e tem de ser substituído, ponto final. Nesse sentido, é pena que Louçã saia sem nunca nos ter mostrado, na prática, o que é um verdadeiro governo de esquerda. Bom, nem na prática nem na teoria. Afinal, apesar de ter fama de ser um brilhante economista, e de nos últimos anos a economia ter passado a dominar a política, nunca se viu um programa eleitoral com pés e cabeça apresentado pelo Bloco. Nem isso deixou. Deixa, isso sim, graças à sua magnífica estratégia, um partido reduzido a metade. E deixa também umas ideias muito inovadoras acerca do que deve ser a liderança de um partido no séc. XXI, mas que por lapso e por não ter reparado que o séc. XXI já começou há uma dúzia de anos, nunca pôs em prática. Ah, e deixa saudades, muitas.