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Afinal, quando é que descobriram que o Relvas é um traste?

O principal argumento dos que defendem que contra Relvas vale tudo, até suspender a democracia, é que ele é um traste. Pois é, mas já era um grande traste bem antes ter chegado ao poder e de se saber em que condições obteve a licenciatura, ou de se saber do que é capaz quando um jornalista se atravessa no seu caminho, ou não? É que se é verdade que o Governo mentiu descaradamente e tem feito exactamente o contrário do que prometeu, também é verdade que há coisas que não foram surpresa nenhuma. O Relvas nunca disfarçou o que é, para quem tivesse dúvidas, a forma como fez campanha contra Sócrates foi mais do que reveladora, mas, nessa altura, as pessoas da esquerda pura e verdadeira não se indignaram com aquela forma de fazer ‘política’, pelo contrário, o Relvas era um aliado precioso na luta contra o demoníaco Sócrates. Claro que o resultado dessa luta seria exactamente dar o poder a Relvas e aos amigos. Mas, aparentemente, os apoiantes da esquerda pura e verdadeira só conseguem pensar numa coisa de cada vez e por isso não conseguem antecipar as consequências das suas acções. Agora apoiam o movimento “Que se lixe a troika”, esquecidos de que Sócrates, aquele que ajudaram a derrubar, foi o primeiro a mandar lixar a troika e a alertar para as graves consequências da sua vinda. Alguém o ouviu? Não. O Relvas e os amigos diziam coisas muito mais interessantes, o que terá justificado a última coligação negativa, a responsável por termos de levar com o traste do Relvas como ministro.

Passados dois anos, finalmente, fartaram-se de os ouvir, e como é óbvio têm todo o direito a protestar. Mas de caminho, perguntem ao Jerónimo e à dupla do BE por que razão não conseguem calar o Governo, mas por falta de argumentos. Questionem o que se passa nos debates quinzenais, por exemplo, onde o Relvas costuma estar presente e de onde pode sair sempre sorridente, pois nunca de lá sai verdadeiramente derrotado.

Ah, esqueci-me que só conseguem fazer uma coisa de cada vez e agora têm um ministro para silenciar.

GPS marado

Sem surpresa, lá vamos sendo informados, oficialmente, de que tudo o que estava previsto no OE 2013, afinal, era a brincar. Mas a brincadeira continua. Perante as previsões alarmantes relativamente ao desemprego e à recessão, Passos reafirma que o País “está na direcção certa”. Pois está, mas só se o destino for a Grécia.

Seja como for, é pena que ninguém pergunte ao primeiro-ministro o que terá de acontecer à economia e aos portugueses para que comece a ter dúvidas quanto ao caminho que estamos a percorrer. Com o desemprego em 17,5% vamos bem, para irmos mal terá de chegar onde? 20, 30, 50%? Mais ainda? E para a recessão, há algum limite? Não me parece. É como para a falta de vergonha na cara, também não há limite. Veja-se o ministro das Finanças, apesar do falhanço colossal das suas políticas, há dias falava da “credibilidade acumulada”. Imagine-se se as coisas estivessem a correr bem, a acumulação de credibilidade seria tanta que a Curiosity a poderia fotografar a partir de Marte.

Lições do Pacheco, só se for de chafurdice

É verdade que a oposição anda pelas ruas da amargura, mas ver o Pacheco Pereira, semana após semana, na Quadratura do Círculo, a dar lições acerca do que deveria ser a estratégia do PS é extraordinário. Mas não surpreende, o Pacheco faz e diz o que for preciso para se manter na ribalta. Arrasa a política e os políticos, apesar de, mesmo nos intervalos da política activa, viver da política. Arrasa a comunicação social, mas não descola dos jornais nem da televisão. Tem um ódio de estimação à blogosfera, mas tem um dos blogues mais antigos. Para este artista, sem um pingo de vergonha na cara, vale tudo e, repito, nada do que diz surpreende. O que surpreende é ver o António Costa, que ultimamente também se tem dedicado a dar umas lições de oposição, ouvir as lições do Pacheco sem se rir e sem lhe chapar na cara a estratégia adoptada pelo PSD no tempo em que era deputado da oposição e braço direito da Ferreira Leite. Por muito criticável que seja a oposição do PS, e é, a oposição do Pacheco e da Ferreira Leite resumiu-se a caluniar, a chamar mentiroso a Sócrates e a explorar a tese da asfixia democrática, para não falar do tempo em que andou a chafurdar em escutas ilegais tentando fazer política com isso. Se há alguém que não pode dar lições de oposição a ninguém é o Pacheco. O “Documento de Coimbra” pode ser uma “redação”, como lhe chamou, mas o Programa Eleitoral do PSD, nas legislativas de 2009, nem isso era. Ainda por cima, o Seguro dá-lhe um jeitão. Se as eleições fossem amanhã, claro que o Pacheco, apesar das críticas ao Governo, que, aliás, ajudou a eleger, voltaria a fazer campanha pelo Passos com a desculpa de que o Seguro seria ainda pior. Como é que o António Costa, sabendo de tudo isto, lhe responde como se o que ele diz fosse para levar a sério? Mistério.

Quem não pode, arreia

A renúncia do Papa devia dar que pensar a alguns que andam para aí a arrastar-se nos cargos que ocupam. O Cavaco é um deles. Raramente é visto e quando aparece, inevitavelmente, são sempre mais as críticas do que os elogios. Vai ficar na História como o Presidente menos popular desde que há democracia. Imagine-se se tivesse de aparecer tantas vezes em público como o Papa. Mas tal como Bento XVI, em vez de ficar irremediavelmente ligado aos escândalos de pedofilia, vai ser lembrado por ter tido coragem para renunciar, também Cavaco poderia dar a volta à História seguindo-lhe o exemplo. Seria um enorme favor que faria ao País, aposto que choveriam aplausos. Além disso, poderia continuar a fazer aquilo em que é um verdadeiro especialista: trabalhar na sombra. E as anonas também ficariam muito agradecidas. Ou talvez não.

Seremos os últimos a saber, mas isso agora não incomoda ninguém

Longe vão os tempos em que a direita, na oposição, trepava pelas paredes se não fosse informada com antecedência de todas negociações do Governo de então com as instituições europeias. Ficámos a dada altura a saber que um telefonema não era suficiente. Para não cair o Carmo e a Trindade, a oposição, o PR e o Parlamento tinham de estar a par de tudinho e com tempo. Outros tempos. Agora, no Poder, o Governo de direita decide cortar 4 mil milhões nas funções do Estado, e o que faz? Cobardemente, antes de tornar públicos os tais cortes, pede primeiro a bênção da troika. O que aparentemente não incomoda ninguém. A comunicação social mal noticiou o último Conselho de Ministros. Pelos vistos, acreditaram no primeiro-ministro que veio dizer que a reunião não tinha como objectivo discutir esse assunto, mas lá vão lembrando a data da próxima avaliação da troika. E a oposição anda entretida com outros assuntos. Sabemos que o que importa agora são as autárquicas, mas o PS, por exemplo, devia tirar um bocadinho para pedir coerência ao Governo e exigir o que a direita exigia quando era oposição, ainda mais agora que tudo mudou e que o Seguro vai passar a defender os Governos de Sócrates com unhas e dentes. A menos que o António Borges tenha razão e este corte brutal seja apenas uma questão acessória.

Despeçam-se, com ou sem amizade

O Parlamento discutiu ontem a proposta dos deputados da maioria para que regresse à RTP o velhinho TV Rural. Dizem eles que o principal objectivo é “cativar os jovens para a agricultura e para as pescas”. Parece ser, portanto, a grande aposta do Governo para a agricultura. Mas em que planeta é que estes deputados vivem? O TV Rural era apresentado pelo engenheiro Sousa Veloso, que durante décadas falou para uma população analfabeta que se dedicava sobretudo à agricultura de subsistência. Aparentemente, os deputados da direita não se aperceberam das diferenças entre o público de então e o de hoje.

Se o Governo quer cativar os jovens devia apostar na sua formação, criar condições para que, tal como o antigo apresentador, também se possam formar em agronomia, por exemplo, e não fazer deles o público ignorante que precisa de um programa de televisão semanal para se informar. Talvez os deputados do PSD e do CDS desconheçam, mas entretanto inventaram-se coisas como a Internet. Se calhar os tais jovens também ficariam agradecidos se o Governo investisse mais em ciência e tecnologia, o que, parecendo que não, facilita a inovação e a consequente competição nos mercados internacionais e torna a actividade mais atractiva. Mas isso o Governo não pode fazer porque seria voltar ao regabofe dos governos de Sócrates. E, além disso, não querem regressar a um passado recente, querem sentar os jovens em frente à televisão e fazê-los acreditar que ainda vivem a meio do século passado.

Ninguém tem tanta fé

António Costa acredita que Seguro, o principal responsável pela actual desunião do partido, a partir de agora só vai trabalhar para o voltar a unir. António Costa é um homem de muita, muita fé.

Ou isso, ou Seguro, para provar que está empenhado em cumprir o acordo, garantiu-lhe que vai submeter-se, o mais breve possível, a uma delicada, e bastante demorada, operação ao cérebro.

Seguro está furioso, pasme-se

Os deputados socialistas que propuseram a antecipação do Congresso conseguiram aquilo que Passos/Relvas/Gaspar e restante pandilha nunca conseguiram: enfurecer Seguro. Perante as políticas desastrosas do Governo não passa da abstenção violenta. Perante as críticas à sua liderança, aí sim, fica furioso. E, pelos vistos, os seus apoiantes acompanham-no na fúria, acusando os colegas de partido de deslealdade, de conspiração e outros mimos.

Ontem, ouvi o Alberto Martins defender com unhas e dentes a legitimidade política e programática de Seguro, os socialistas elegeram-no e o mandato é para cumprir. Como se as críticas dos deputados tivessem surgido do nada. Como se chovessem elogios à forma como Seguro faz oposição ao Governo. Estes deputados limitaram-se a dar voz ao descontentamento geral e aos apelos para que surja um outro líder socialista, mas os apoiantes de Seguro, talvez por andarem tão entretidos a contar espingardas, ainda não se aperceberam. Já para não dizer que se Seguro tem legitimidade política o Governo também a tem. Como é que alguém tão zeloso no cumprimento do seu mandato anda para aí a falar de programas eleitorais e de maiorias absolutas a meio do mandato dos outros?

E ainda há o argumento das Autárquicas. Parece que o PS, nos próximos tempos, não vai ter tempo para mais nada. O Governo agradece. E, já agora, qual é o problema de haver mudança de líder antes das Autárquicas? Será que só por esse motivo a esperada derrota do PSD passa a vitória?

De facto, até as lesmas têm mais pressa

Ontem foi mesmo um dia em cheio para o Governo. Não só conseguiram pôr os seus apoiantes em êxtase como ainda puderam ver o líder da oposição juntar-se aos festejos, dizendo que não tem pressa na realização do congresso do PS. Quem mais do que a direita agradece que o PS continue como está? E que Seguro não tem pressa para nada já todos sabíamos. Não tem, nem nunca terá, pressa em defender o passado do seu partido, preferindo ser constantemente enxovalhado pela direita do que proferir uma palavra em abono do seu antecessor. Para fazer verdadeira oposição ao Governo, e apresentar uma alternativa em que os eleitores acreditem, também não há pressa nenhuma, aliás, veio há dias dizer que o PS é uma “alternativa credível e tranquila”. E é. Mais tranquilo do que isto, para o Governo, é impossível.

O que vale é que as pessoas estão primeiro. Não sabemos é quem são essas pessoas. Os que votaram PS nas últimas legislativas, e que se sentem traídos por esta liderança, não são. Os que esperam, e desesperam, por um verdadeiro líder da oposição, podem esperar sentados. Os parceiros que estão preocupados com o rumo do partido, ficámos ontem a saber que estão em último. Assim de repente, parece que no topo das preocupações de Seguro aparece a sua própria pessoa, não será por acaso que todas as suas frases começam por “eu”. E logo a seguir aparecem as magníficas pessoas que nos governam, já que são as únicas que todos os dias têm motivos para lhe agradecer. Estão muito bem uns para os outros.

Não é um pedido de extensão no tempo, é no espaço

Consta que o ministro das Finanças pediu uma extensão do prazo de pagamento dos empréstimos. Mas o PSD, através do seu líder parlamentar, já veio avisar que tal não significa pedir mais tempo nem mais dinheiro. Nem poderia significar. Afinal, o Governo recusou sempre pedir mais tempo, porque pedir mais um ano, por exemplo, só nos traria chatices e não defenderia os nossos interesses. Implicaria mais um ano de ajuda externa, mais austeridade e, claro, daria cabo da credibilidade do País.

Já o pedido de extensão do prazo de pagamento, noticiado hoje, é algo totalmente diferente e muito positivo. Mostra a credibilidade do País e vai permitir aliviar o esforço dos portugueses e dinamizar a economia.

Ainda não esclareceram, mas aposto que o pedido de alargamento do prazo não foi em meses ou anos, deve ter sido em metros ou quilómetros.

E, já agora, falem baixinho

Ao contrário do que pensam as más-línguas, o Governo também consegue cumprir promessas. Prometeram que iriam ouvir a sociedade civil a propósito da famosa refundação (ou lá o que era) do Estado e é isso que estão a fazer neste preciso momento. Não nos disseram que iriam ouvir a sociedade civil em segredo, mas não se pode falar em faltar à promessa, foi só um pormenor que lhes escapou. O debate está a fazer-se e isso é que importa. Claro que é um bocado esquisito a sociedade civil ficar privada de ouvir um debate em que supostamente está a ser ouvida, mas, lá está, é só mais um pormenor. E até foi bem pensado. Num dia em que os jornais estão cheios de boas notícias, em que se destaca o aumento do rendimento mensal das famílias (coitados, ainda não tiveram tempo de fazer a conta à perda de rendimento anual, que é o que interessa), deixar os jornalistas reproduzirem o debate, correndo o risco de estragar um dia tão bonito com alguma palermice oriunda da sociedade civil, isso é que nem pensar. Mas alguma coisa tinha de falhar. Parece que há uma excepção e vão transmitir o discurso de encerramento a cargo de Passos Coelho. Não se percebe por que razão não se mantém o debate em segredo até ao fim.

Antes o Inferno do que o Paraíso que nos querem vender

Governo e troika têm-nos dito e repetido que temos de passar pelos horrores que nos impõem para podermos sonhar com um futuro mais risonho. E juram que estamos no caminho certo, embora não dêem muitos pormenores acerca do destino que nos espera. Deduz-se que será uma espécie de Paraíso sem igual. Para lá chegarmos mais depressa, Governo e FMI, lembraram-se agora de acrescentar um pacote de medidas inteligentes (imagine-se se não fossem) que passam por um corte de 4 mil milhões na despesa do Estado e de forma permanente. Mas o que quererão dizer com isto de ser de forma permanente? Será que, mesmo que, por milagre, o crescimento económico dispare, que o País enriqueça, os cortes são para manter e nunca mais se poderão aumentar os salários da função pública ou acrescentar um cêntimo às pensões miseráveis de milhares de reformados, por exemplo? Tudo leva a crer que no tal Paraíso para onde nos querem levar o fosso entre ricos e pobres é para manter, ou até para cavar mais fundo, já que passará a ser pecado o Estado desperdiçar dinheiro com qualquer tipo de protecção social. Paraíso, mas, por este andar, só para meia dúzia. Então e como é que se mantêm estes cortes de forma permanente quando este Governo for substituído por outro que pense de forma diferente? Estarão a pensar impedir que tal substituição aconteça?

O que me parece que sofreu um corte permanente e irreversível foi a inteligência dos actuais governantes, e não é de agora.

magalhães, de anedota a produto estrela

Sócrates só teve ideias estapafúrdias, como sabemos, mas há uma que, para mim, bate todas as outras aos pontos: magalhães. O pequeno computador não tinha qualquer utilidade, pelo menos, para os fins a que se destinava, já que foi muito útil para expor a estupidez que reinava na oposição da altura. Enquanto uns destilavam ódio, outros dedicavam-se a transformar o programa numa anedota. Sem espanto, mal chegaram ao poder, e com a velocidade com que se tenta exterminar uma praga, puseram fim ao projecto. Deve ter sido das pouquíssimas medidas que tomaram sem ser a mando da troika.

Mas o bicho é difícil de matar. Ontem, no Prós e Contras, cujo tema foi o crescimento económico e em que participaram vários empresários de sucesso, estava o director de um consórcio de empresas da área das tecnologias de educação que exporta quase tudo o que produz. Qual não foi o espanto quando se referiu ao magalhães como sendo o ‘produto estrela’. Uma ‘marca conhecida internacionalmente’, que ‘ajuda a abrir portas’. A pior ideia de Sócrates anda a correr mundo e a contribuir para aumentar as exportações portuguesas, que são o orgulho do actual Governo.

É mais uma prova do descalabro que nos trouxe até aqui. É só fazer as contas.

No lugar da parede está agora uma luz

Passos, cumprindo a tradição do dia de Reis, e lembrando que temos de acarinhar as nossas tradições (tirando talvez aquelas que se comemoram num dia feriado), lá teve de vir desejar um bom ano a todos os portugueses. E fez questão de frisar que os votos se estendiam a todos, mesmo àqueles que gostam pouco do Governo. Pudera, se assim não fosse, não tinha praticamente ninguém a quem dirigir a mensagem. Mas não há solidão que o impeça de ter esperança num futuro risonho. De ver a luz ao fundo no túnel e a saída do período difícil que atravessamos. Nem a solidão nem o que diz um mar de gente incluindo alguns membros do Governo. Como, por exemplo, o que veio dizer o Secretário de Estado do Orçamento a propósito do eventual chumbo das normas enviadas para o TC, alertando para a possibilidade da troika ‘fechar a torneira’. Noutros tempos, esta possibilidade, ou seja, Portugal não ter como se financiar, chamava-se bancarrota e o que se vislumbrava, não sei se com ou sem túnel, era uma parede onde o País iria embater com toda a certeza. Mas isso eram tempos sombrios, em que os governantes eram uns cinzentões que não tinham ideias nem qualquer solução para resolver os problemas do País. Felizmente, tudo isso acabou. Agora, é uma alegria, só se vêem luzes e espirais.

Eu é que sou o Presidente da Comissão

Ontem, na Quadratura do Círculo, Lobo Xavier aceitou quebrar a tradição dos participantes no programa de não falarem sobre os seus cargos, para se defender da acusação de conflito de interesses, feita pelo BE, acerca da sua nomeação para presidente da Comissão de Revisão do IRC. Explicou que não o fazia por ele, mas sim pelos restantes membros da tal comissão. E que tinha, então, para dizer em sua defesa? Que não há conflito nenhum porque os seus interesses, ou seja, os cargos que ocupa na administração de várias empresas, são conhecidos. Fiquei esclarecida. E acrescentou que não tem por missão fazer leis. Só faltou dizer que na realidade não vai fazer absolutamente nada, que a sua nomeação é só uma jogada para nos fazer crer que, afinal, Vítor Gaspar de vez em quando até faz a vontade a Portas, o que até lhe dá, a ele, Lobo Xavier, muito jeito, pois é mais um cargo com o qual se pode pavonear. E quem o ouve há anos naquele programa onde nunca, ou muito raramente, diz alguma coisa que se aproveite, não teria dificuldade em aceitar esta hipótese.

Então e quanto à sua isenção no programa? Também não há problema nenhum. Os seus colegas de debate também já ocuparam cargos (não tão importantes como o seu) e tal não os impediu de serem isentos. Mais uma vez, esclarecida. E passou o tempo todo do debate, acerca da mensagem de Cavaco, a tentar provar a sua isenção repetindo que, para ele, há uma norma do Orçamento, claramente, inconstitucional. O que também serviu para demonstrar os seus vastíssimos conhecimentos em Direito, que, aliás, parecem ser muito superiores aos dos juízes do Tribunal Constitucional. É que perante a dúvida do Pacheco Pereira em relação ao tempo que o Tribunal demora a apreciar as normas, Lobo Xavier explicou que tudo aquilo era muito complexo e demorado, só pessoas sábias e entendidas como ele é que podem entender a complexidade da coisa. Tirando a tal norma que, de caras e sem perder tempo nenhum, se vê logo que é inconstitucional.
A sua sorte é que o ridículo ainda não paga IRC.

Não é possível evitar uma crise de algo que não existe

Cavaco justificou a promulgação do Orçamento com o argumento de que não se pode juntar uma crise política à crise económica e social que o País enfrenta. Paulo Portas já nos tinha brindado com o mesmo argumento. Aparentemente, este argumento usado pelo parceiro de coligação no Governo e pelo Presidente da República, só por si, já bastaria para provar que a tal crise política já se instalou há muito. Ficámos a saber que a coligação está colada com cuspo e que, apesar de Passos dizer que tem uma relação de excelência com Cavaco, Governo e PR, pelo menos em público, estão em rota de colisão. E, se calhar, noutros tempos e com um governo de outra cor, o facto de em dois anos consecutivos existirem dúvidas quanto à legalidade dos orçamentos, também chegaria e sobraria para se falar de uma grave crise política. Mas não. Não estamos perante nenhuma crise política. Da mesma forma que para podermos falar de uma crise do petróleo é preciso que haja petróleo, também para falarmos de uma crise política seria necessário que houvesse política e ela não se vislumbra em lado nenhum. Temos um Presidente da República que nunca se assumiu como político, pelo contrário, sempre desprezou a política e os políticos, e que se limita a tentar (sem sucesso) ficar bem na fotografia. No Governo, temos um monte de gente cuja única preocupação é lambuzar-se no pote, liderado por um ministro das Finanças, que é quem manda, que é tudo menos político. A menos que se reduza a política a um emaranhado de contas, ainda por cima, mal feitas.
Portanto, poupem-nos e não nos digam que têm de evitar uma crise política.

Saco de gatos

Miguel Relvas, que no último fim-de-semana apareceu em todo o seu esplendor, anunciou o seu apoio à candidatura de Fernando Seara à Câmara de Lisboa, antecipando-se mesmo ao próprio candidato. E ainda acrescentou que está disponível para fazer campanha por ele dia e noite. Isto é que é empenho! Até é caso para perguntar se está a pensar sair do Governo, não vá algum assunto da governação atrapalhar a campanha.

Quem não gostou nada de tanta dedicação às Autárquicas, de tal forma que nem esperou pelo próximo domingo para espalhar o seu veneno, foi Marcelo Rebelo de Sousa, que comparou o apoio de Relvas a um ‘beijo da morte’. E não se ficou pelo Relvas, explicou que governantes muito desgastados não devem andar para aí a apoiar candidaturas. Se calhar tem razão. Mas então quem é que, dentro do PSD, poderá aparecer a fazer campanha? É que o tal desgaste aplica-se aos governantes, ao presidente do partido e, se calhar, à maioria dos apoiantes do Governo. Só se o professor está a sugerir que apareçam ao lado dos candidatos os críticos do Governo. Seria uma originalidade.

Para os que não vêem diferenças entre Passos e Sócrates

Durante os seis anos da governação de Sócrates, assistimos a uma verdadeira revolução na Educação. Desde o prolongamento do horário escolar no primeiro ciclo, facilitando, e muito, a vida aos pais, passando pela introdução do inglês, música, etc., até à remodelação das escolas, fez-se muito pela igualdade de oportunidades no acesso à Educação. E ainda se aliou a tudo isto uma forte aposta na Ciência e Tecnologia. Percebia-se a estratégia: arrepiar caminho, para que se reduzisse o colossal desnível que, em matéria de escolaridade, separa Portugal dos países mais desenvolvidos. Inexplicavelmente, ou talvez não, esta estratégia teve opositores para todos os gostos. A começar pelos professores e pela extrema-esquerda e a acabar na direita em peso. Tudo gente que vive muito melhor com a triste realidade da Educação em Portugal do que com a simples ideia de que é possível, com as medidas certas, melhorar o desempenho do País.

Se não gostaram da estratégia de Sócrates, talvez prefiram o plano de Passos e companhia. Talvez apreciem a frieza, e o alívio, com que o actual primeiro-ministro diz que a Constituição não é empecilho para que se alterem as regras de financiamento do ensino público. Ignorando por completo as dificuldades que as famílias já sentem para manter os filhos na escola, mesmo sem essas novas medidas. E omitindo as inevitáveis consequências negativas de tal decisão.

Agora, sim, vai fazer sentido falar em festa. A festa do abandono escolar e a grande festa que vai ser ver Portugal cada vez mais na cauda do Mundo.

Afinal, queremos ser iguaizinhos à Grécia

Vítor Gaspar anunciou ontem no Parlamento que Portugal beneficiará das novas condições que serão aplicadas à Grécia. É um anúncio espantoso. O Governo não pode ouvir a oposição, ou seja quem for, falar em renegociação do Memorando. A postura tem sido a de total subserviência em relação à troika, creio que o primeiro-ministro chegou mesmo a dizer que se sentia muito confortável com as condições que nos têm sido impostas. Por outro lado, a falta de solidariedade com os gregos tem sido inacreditável. Ninguém, e muito menos Portugal, quer ser confundido com tal país. Se não estão satisfeitos é deixá-los espernear sozinhos, que nós por cá não temos nada a ver com isso. Mas, atenção, se os gregos conseguirem melhores condições, nós queremos igualdade de tratamento. O que chamar a uma postura destas?

E, já agora, o Governo que diga o que chamar a isto. Já vi a palavra ‘renegociação’ escrita nalguns jornais, mas é óbvio que não é a palavra certa.