Nada contra as ideias e preferências políticas do Paulo Baldaia. Deuses me livrem. Nada contra o facto de largar no DN regulares exercícios de banalidade que não devem ser nada fáceis de manter assim tão banais. Há gostos para tudo. E nada contra o facto de ser o actual director da TSF. Sem dúvida, a melhor rádio de informação em Portugal desde que surgiu e até hoje. Mas por que caralho o homem aparece a debitar sentenças em programas de opinião na estação que dirige? Oiçamos o que partilhou connosco a respeito do reformado de Belém:
Fórum TSF
Resumo baldaiano:
– A prestação do Presidente da República é positiva porque… porque… parece que ele algures no passado, num ou dois casos, fez aquilo que se espera seja feito por um Presidente da República.
– Isto de Cavaco estar em silêncio durante semanas ou meses, nada dizendo acerca do agravamento da crise económica e social, é o que deve acontecer porque o Presidente da República não é um comentador que tem sempre de andar a falar sobre tudo e mais alguma coisa. E prontos.
– O discurso da tomada de posse, em 2011, foi especial porque ele esteve a apresentar as suas ideias para os próximos 5 anos (sic e sick), pelo que não se deve comparar com o que fez e disse daí em diante.
– A História mostrará que o Presidente da República tem estado activo, e, para além disso, não sei se já o tinha dito, o senhor não tem de estar sempre a falar, não vá desgastar a sua palavra ou apanhar uma faringite.
– Deixem de tentar que o Presidente da República seja o comentador-mor da República, especialmente quando estão cá os senhores da Troika. Caraças, então andam por aí os senhores da Troika a ter de reunir com os indígenas, a dormir em camas estranhas, a tomar decisões que afectam 10 milhões de mamíferos, e ainda querem que o Presidente da República fale aos portugueses, e logo desses assuntos sobre os quais devemos estar todos caladinhos e obedientes?
Baldaia sustenta todo o seu argumentário numa falsa dicotomia: ter aparecido Cavaco a falar sobre a situação nacional desde o discurso do Ano Novo, uma só vez que fosse, implicaria que ele se havia tornado num vulgar comentador, que ele andava a falar sobre tudo e mais alguma coisa, que o poder da sua palavra tinha desaparecido numa torrente verborrágica. Esta falácia é tão inane que – quero crer! – só o receio de um conflito interno terá impedido o Manuel Acácio de expor e confrontar a desonestidade intelectual do seu director.
Mas a questão de fundo remete para o panorama da comunicação social no que à criação de opinião diz respeito. Que efeito tem este domínio do laranjal sobre o espaço público, indo, por exemplo, desde a civilizada deturpação do Baldaia, passando pelo espectáculo de feira do Marcelo, as patologias do Crespo, as máquinas caluniosas ambulantes como o Pacheco Pereira e a Helena Matos, e chegando ao esgoto a céu aberto que é o Correio da Manhã? É que esta constante produção de influência tem alvos e objectivos bem definidos, consistindo numa força que está ao serviço da conquista e manutenção do poder por via da baixa política, dos assassinatos de carácter e das conspirações.
Dois participantes do Fórum TSF ilustram na perfeição o que se pretende obter, invocando o Paulo Baldaia como autoridade de referência. No primeiro caso, defende-se um regime onde o Presidente da República deixa de responder aos cidadãos, passando a comportar-se como um monarca absolutista que resolve os assuntos à maneira dele no secretismo do seu palácio. No segundo caso, manifesta-se doentiamente o ódio irracional que derrubou um Governo e afundou o País.
“O Presidente que os outros não conseguiram ser”
“Ruptura completa provocada por um senhor que agora vive à grande e à francesa em França”