Seguro, o Castelão

__

Seguro vai para o XIX Congresso Nacional, a decorrer em finais de Abril, com o homérico propósito de oferecer aos portugueses “uma nova forma de fazer política”. Ora, Seguro anda a prometer dessa fruta desde Julho de 2011, pelo menos, quando se candidatou à liderança do PS. Tal repetição tanto pode querer dizer que ainda não teve vagar ou pachorra para apresentar a coisa, como pode querer dizer que a coisa consiste nisto de ir à sorrelfa adiando a “nova forma de fazer política” para o congresso seguinte. De novo, novíssimo, em Seguro apenas temos visto uma forma de fazer política onde se desprezam camaradas com responsabilidades governativas e partidárias passadas, onde se promove uma cumplicidade calada e sorridente com a odienta perseguição da direita ao ex-secretário-geral do PS e a quem esteve ao seu lado e onde se alimenta um culto de personalidade do António José que tem tanto de canhestro como de parolo. Tal é radicalmente novo na história dos socialistas, tragicamente.

Este tempo de antena mostra o rei da transparência no seu fulgor. Cinco sextos da duração é ocupada pela sua penosa figura a tentar tocar os portugueses com o poder do seu verbo. Como se apresenta falho de conteúdos, aposta tudo na ancestral técnica do “carneiro mal morto”; a qual consiste na emissão de uns compungidos balidos para mostrar na TV o que é um grande estadista a sofrer com o seu povo, juntamente com um curioso efeito especial em que aparece a olhar para um ponto de fuga três ou quatro metros atrás do nosso ombro esquerdo.

Também brilhante foi a ideia de pegar nas cinco propostas do PS para sair da crise, aquele programa que supostamente seria o que de mais importante havia para comunicar ao País, e colocá-lo reduzido aos títulos numa barra lateral. E isto enquanto ao lado Seguro continuava a produzir magníficas frases cheias da sua magnífica pessoa. Não sei quem foi o inteligente que apresentou este truque onde o espectador dispôs de menos de 30 segundos para assimilar a salvadora solução socialista para sairmos do atoleiro onde estamos afundados, nem sei quantos espectadores conseguiram abandonar o encanto hipnótico da oratória segurista para se concentrarem nas legendas. Sei que um partido que trata assim as suas propostas e os seus eleitores não merece um segundo da nossa atenção.

Para se compreender este fenómeno do Entroncamento onde o actual PS é o aliado de sonho do casal Passos-Relvas basta regressarmos à sede da campanha de Seguro para o assalto ao PS. Lá se encontra esta maravilha – Para mudar políticas e métodos – onde fica exposto, a contrario, e sem especial subtileza, tudo o que o Tó Zé pensa e quer que se pense de quem o antecedeu na direcção do partido. Compare-se o rol de intenções piedosas aí escarrapachadas com a prática da sua liderança na relação com o grupo parlamentar. Compare-se esse lençol populista com o que foi lançado na praça pública para atacar António Costa e a anterior liderança. Enfim, os sonsos são sempre os piores, sempre e sempre.

O PS de Seguro não vê nada de errado na forma como esta direita decadente e desmiolada levou Portugal para o resgate e para eleições. Até já anunciou oficiosamente que concorda com as razões invocadas para tal. É por isso que repete que o Governo falhou, assim colocando o problema no plano da competência e não da moralidade. A sua mensagem é a de que com o santo Seguro a receita já não falharia, pelo que resta apenas esperar pela troca de lugares. A alienação chega ao ponto de reclamar que Passos reconheça que o PS tinha razão. É um diálogo de surdos, birrinha de amigos, representado-se a política como quezília infantil na hora do recreio.

Mas o grande momento desta peça saída directamente dos anos 80 está no seu final épico, onde Seguro, juntando-se em coro a Vítor Gaspar e seus marinheiros, nos exorta a encontrar no passado mítico da Nação as forças que nos levarão à terra prometida. E eis que, para ilustrar a passagem onde se diz que somos “um povo com uma enorme História” e que “já vencemos desafios maiores”, surge na pantalha a imagem do Palácio da Pena, seguida de outra do Castelo de Almourol. Pois bem, que Fernando II de Portugal tenha enchido os quartos do palácio com histórias atrás umas das outras é algo que a sua lenda romântica poderá justificar. O que fica como mais um enigma do trânsito de Seguro pela política nacional é o simbolismo de Almourol ser dado como apropriado para discorrer acerca do que pretende para o nosso futuro. Esta nova forma de fazer política que vai buscar a inspiração numa ilhota escalabitana de 310 m de comprimento por 75 m de largura ainda nos reserva muitas outras surpresas de arrebimbomalho, seguramente.

17 thoughts on “Seguro, o Castelão”

  1. e riquíssimo: tentando tocar os portugueses com o poder do seu verbo, os sonsos são sempre os piores, palácios e castelos, ainda nos reserva muitas outras surpresas de arrebimbomalho, sempre e sempre.

  2. Torna-se evidente que a estratégia do Ps é deixar o governo fazer o “trabalho” sujo” para depois ir para o poder.

  3. Val

    Vamos ver quantos vao escrever sobre este tema e quem. Depois veremos se tenho de deixar de beber, ou se tu tens de abrir mais a pestana!

    Quanto ao facto da direita ser decadente e desmiolada, tem a sua razão de ser.
    É que a direita tem bom gosto, só gosta do que é bom. E o que é bom, ou é proibido, ou é imoral, ou então faz mal à saúde! hehehehhehehe

    um bom dia para ti,

  4. é por pensarem assim que há a tendência ao deleite pela mediocridade porque o que é bom, o melhor, é – não proibido nem imoral nem faz mal – raro. mas existe. não está é ao alcance de qualquer um, francisco rodrigues. mas parece-me mesmo bem que assim seja – de outra forma a melhor fruta misturada com todas as outras virava salada com sabor a nãoseibemoquê: tutifruti.

  5. Do texto do Val que (infelizmente) tem a sua razão de ser. Com este discurso, o PS avança como e para onde?

    Uma pesquisa rápida, pela wikipedia, pode esclarecer o tipo de avanços (e recuos) que se podem ler da história do castelo de Almourol:

    ————– ————– ———— ————-
    I – Apogeu (1129-1311)

    «Almourol foi conquistado em 1129 por D. Afonso Henriques (1112-1185). O soberano entregou-o aos cavaleiros da Ordem dos Templários.»

    «Sob os cuidados da Ordem […] o castelo tornou-se um ponto nevrálgico da zona do Tejo, controlando o comércio de azeite, trigo, carne de porco, frutas e madeira entre as diferentes regiões do território e Lisboa. Acredita-se ainda que teria existido uma povoação associada ao castelo […] uma vez que, em 1170, foi concedido foral aos seus moradores.»

    II – Decadência inevitável (1311-sec XIX)

    «Com o avanço da reconquista para o sul e a extinção da Ordem dos Templários em 1311 pelo papa Clemente V, durante o reinado de D. Dinis (1279-1325), a estrutura passou para a Ordem de Cristo, vindo posteriormente a perder importância e a sofrer diversas alterações.»

    III – Revivalismo (sec. XIX – sec. XXI)

    «Vítima do terramoto de 1755, a estrutura foi danificada, vindo a sofrer mais alterações durante o romantismo do século XIX. Nessa fase, e obedecendo à filosofia então corrente de valorizar as obras do passado à luz de uma visão ideal poética, o castelo foi alvo de adulterações de índole decorativa, incluindo o coroamento uniforme das muralhas por ameias e merlões.»

    «No século XX foi classificado como Monumento Nacional de Portugal por Decreto de 16 de Junho de 1910. À época do Estado Novo português o conjunto foi adaptado para Residência Oficial da República Portuguesa, aqui tendo lugar alguns importantes eventos oficiais. Para esse fim, novas intervenções foram promovidas nas décadas de 1940 e de 1950, reforçando aspectos de uma ideologia de nacionalidade cultivada pelo regime à época.»

    «No início de Junho de 2006 foram inaugurados dois novos cais para embarcações turísticas: um na margem direita do rio Tejo e outro na zona Sul da ilha.»

  6. A avaliar pelo manifesto, o novo ciclo do Seguro é o ciclo do bocejo e da grandiloquência oca.

    Qual “Cumprir Portugal” qual punheta!

    Portugais há muitos, seu palerma.

    É com isto que ele quer entusiasmar os portugueses? O “Portugal que nós queremos” é que seria importante trocar por miúdos.

    “Um partido aberto a 360º para dentro e para fora.” Bocejo, grandiloquência e… corrente de ar!

  7. Eu passo (salvo seja, mesmo sem o esse) a votar no Pan dos animais, e sou com a minha costela socialista em muito mau estado, tenho vergonha que seja este tipo e este tipo de pessoa a liderar o partido.

  8. Val,
    pela mão desta toupeira não sei onde o PS irá parar!

    Com o aparelho recheado de “apparachiks” semeados oportun(a)(istica)mente, é o que se tem visto. Uma mão cheia de afastamentos, um desprezo continuado aos militantes e simpatizantes não conformados, uma desastrada oposição, um repúdio velado da história do partido, um acenar às hostes com simpatias liberalizantes.

    Este Seguro, é dos tais que não faz, nem sai de cima. As suas propostas, se podemos assim chamar-lhes, não passam de uma mão cheia de vulgaridades que não se sabe bem como virão a ser efetuadas, qual o seu custo, nem o seu real impacto na economia.

    Sobre o caminho a seguir, nada!

    Que tipo de sociedade devemos ser, qual o posicionamento a adotar a nível internacional, qual o papel a desempenhar dentro da UE, como redistribuir a riqueza, quais as áreas a deter pelo estado, como fazer a reforma das polícias e forças armadas, que caminhos seguir: industrializar, apostar fortemente na dinamização e criação de centros de investigação, apoiar o ensino e torná-lo uma referência continental, dinamizar os centros de saúde e apostar na exportação de serviços, turismo sénior e/ou de qualidade, exploração dos recursos marítimos, fixação de unidades de produção de alta qualidade, plataforma de negócios?

    Falar mal de quem nos antecedeu por omissão da sua defesa, assumir um registo de baixo impacto, rodear-se de nulidades ou pior, de oportunistas que percebem tanto de governo como de lagares de azeite, sejam eles porta-vozes, deputados, autarcas ou apenas polichinelos que falam de acordo com os ventos ou conveniências, nunca deram muito bons resultados a longo prazo.

    O PS que ganhe juízo, pois ao continuar a trilhar este caminho, vai estar muito tempo longe da ribalta, e mesmo que lá chegue por desistência dos que o precedem, ficará de pés e mãos atadas ao que der mais jeito na ocasião

  9. Olinda
    Tenho pena desiludir-te, amiga, mas, nos tempos que correm, já me contento com aquilo que é bom.

  10. Castelão e «Castelões», caro Valupi. E amanteigadíssimo, claro, como mais convém à descrição com que mais facilmente conseguimos barrar a atual direção do PS: uma alforreca rodeada de pavões.

  11. O pior é que vai andar em peregrinação pelo País durante um mês a recitar estes
    magnos e importantes pontos do seu programa para nos salvar !?!

  12. para o peditorio contra o seguro já não dou mais.foi uma boa açao politica o convite feito ao bloco e pcp para as autarquias .

  13. Tens razão Valupi que discurso miserável.
    Mas o mais preocupante é que não se vê no PS ninguém que se oponha a esta forma de fazer política.Onde estão os socialistas que assistem a estes discursos e nada fazem?
    Que futuro tem Portugal com gente desta.
    Que esperam os socialistas do futuro com este líder?
    Bom post Valupi

  14. João

    Onde estão os socialistas que assistem a estes discursos e nada fazem?

    Eu respondo-te: Estão resignados e caladinhos. Neste momento, já estao colados às fileiras do Seguro. Só o Val é que não viu, ou não que ver isso.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *