Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Bem haja, Pedro!

“Podem confirmar com a segurança!”

Santana Lopes, ontem, em entrevista à RTP (a propósito do livro que escreveu para o bisneto e para que este se possa defender dos coleguinhas que possam vir a ofender a memória do bisavô – foi mais ou menos isto, se bem percebi a mecânica da coisa), após afiançar que não tinha estado mais de 15 minutos num desfile de moda e que apenas lá tinha ido para cumprimentar a organização, porque tinha sido Presidente da Câmara de Lisboa, como, aliás, João Soares já tinha sido, e que, portanto, não muda de personalidade quando muda de funções e que patati-patatá.

Ontem, meus caros, tive muita saudades do nosso Guerreiro Menino. O homem, caramba, continua a chorar, a desejar colo e palavras amenas, carinho e ternura. E eu, caramba, que estou bem longe de ser a própria candura, tive vontade de saltar para dentro do ecrã e de lhe dar um abraço bem apertado (não gozem, que estou muito comovido) por todos os bons momentos que ele me proporcionou e, se Deus Nosso Senhor Quiser (o verbo a seguir ao Senhor também tem que ser em maiúsculas, atento a proximidade), continuará a proporcionar.

Uma vírgula e dois milhões de dólares

Um erro gramatical pode parecer coisa inofensiva. Mas quando se trata de um contrato, a introdução ou omissão de uma vírgula pode ter consequências bem sérias. Quando, ainda por cima, o que está em causa são as condições temporais de denúncia antecipada do mesmo, a coisa pode ficar preta, designadamente para o advogado que terá metido a pata na poça. No Canadá, a Bell Aliant autorizou a Rogers Communications a usar as conexões telefónicas daquela. Posteriormente, aquela quis retirar-se do negócio, denunciando o contrato antes dos cinco anos. A cláusula invocada para a denúncia antecipada rezava assim:

“This agreement shall be effective from the date it is made and shall continue in force for a period of five (5) years from the date it is made, and thereafter for successive five (5) year terms, unless and until terminated by one year prior notice in writing by either party.”

O busílis está na segunda vírgula. A Rogers invocou que o contrato teria de vigorar pelo menos cinco anos. A Aliant contrapôs que aquela segunda vírgula não conferia à frase esse entendimento: antes permitia concluir que o contrato poderia ser denunciado antes dos cinco anos de duração, desde que assegurado o pré-aviso de um ano.

O regulador Canadiano reconheceu que a razão estava do lado desta última e a meu ver decidiu bem. Entretanto, à conta de uma vírgula, e com pelo menos dois milhões de dólares em jogo, e a Rogers inconformada, o caso segue para os tribunais Canadianos.

Al Jazeera para consumo entre infiéis

Aviso do blogger egípcio the big pharaoh:

So Al Jazeera launched its English channel today. I’m telling you that it’s going to be very different from our Al Jazeera. You’re simply not going to get what we have here. Ours is propaganda mixed with sensationalism and I’m sure the Western editors of the English channel are wise enough not to give that to a Western audience who’re accustomed to professional media outlets. So don’t worry you’re not going to get Jihad TV.

Mais um momento Braz & Braz

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A Má Criação tem o prazer de vos apresentar “Dias Eléctricos”, uma obra de Banda Desenhada construída de acordo com um dispositivo algo original. Um só tema, um só argumentista, e sete desenhadores, entre veteranos como João Fazenda ou Jorge Mateus, jovens promessas e estreantes absolutos.
A electricidade é o ponto de partida para as oito histórias que preenchem estes dias; os traços e as formas de contar, radicalmente diversos entre si, representam algumas das rotas que a BD nacional hoje percorre. São 120 electrificantes páginas com capa dura e um preço quase ridículo: apenas 10 euricos!

Podem aqui aceder a uma página de cada desenhador, em PDF:
Armando Lopes
Daniel Lima
Susana Carvalhinhos
Jorge Mateus
Frederico Rogeiro
Tiago Albuquerque
João Fazenda

Contando com apoio da REN, “Dias Eléctricos” promete vir a ser o início de uma colecção de recolhas similares. Assim queira sua majestade, o Mercado (um pouco de graxa aos nossos abonados amigos liberais).

Miguel Sousa Tavares sem rede

Talvez escaldado pela confusão em redor do “colorido narrativo” que foi pescar a obra alheia, Sousa Tavares lançou-se, na sua crónica do “Expresso”, num arriscado voo a solo, sem consultar fontes. E, ao que parece, estatelou-se contra os factos.
Foi o Joaquim Vieira, no indispensável Observatório de Imprensa, que deu pela coisa:
«”A primeira vez que fui aos Estados Unidos foi em 1976, o ano do Bicentennial, estava o país inteiro eufórico com os seus duzentos anos de independência”, escreve hoje Miguel Sousa Tavares no “Expresso”, para acrescentar mais à frente: “E cheguei a tempo de assistir na televisão aos impiedosos interrogatórios da comissão parlamentar de inquérito ao Watergate – autêntica lição prática do que é o sistema de balança de poderes e que culminaria, meses mais tarde, com a renúncia do pantomineiro Richard Nixon”. Ora, o presidente Nixon resignou devido ao Watergate, é certo, mas em 1974, pelo que alguém do “Expresso” devia ter alertado o seu articulista em relação a uma memória algo confusa.»
Mais coisas que talvez uma consulta atempada ao Google tivesse esclarecido: «que não é “Ali Burton” mas sim “Halliburton”, que Rumsfeld não é (nem nunca foi) secretário de Estado mas sim da Defesa, que a Convenção de Genebra não é centenária mas sim cinquentenária e que os EUA não foram “o único país que votou nas Nações Unidas contra o comércio livre de armas de guerra”, mas sim o único que votou contra o controlo desse comércio (ou seja, a favor do tal comércio livre de armas de guerra).»
Como não li a coluna referida, não sei se chegava a acertar em alguma coisa.

PS: já li a coisa e posso confirmar que há alguns acertos. Julgo, por exemplo, que o nome do colunista saiu sem erros.

Ena, ena!

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O Luis, e com ele o Aspirina, ascendeu ao «Diz-se», no Espaço público do «Público». Assim:

“Seria simpático que Santana, como qualquer cadáver político que se preze, se dedicasse mais à decomposição e menos à composição destas rábulas grotescas.”
Luís Rainha

aspirinab.weblog.com.pt, 14-11-06

Nem mais.
Nem menos.

À êga!

Depois de horas às voltas com comentários em triplicado, entradas que não entram, ficheiros que não se actualizam e outras anomalias, declaro-me oficialmente farto. Alguém que me avise quando o weblog, com ou sem Balsemão, voltar a funcionar de forma decente. Até lá, estou em greve.

À atenção de quem imaginou que Cavaco poderia ser um presidente apresentável

Durante a presidencial visita ao Uruguai, ninguém se lembrou de abordar temas económicos, área em que Cavaco teria imenso a dar ao mundo, de acordo com os seus apoiantes. Pior ainda foi que se lembraram de falar de História, descrevendo, por exemplo, a fundação de Colónia do Sacramento por portugueses, ainda hoje reflectida no aparecimento de velhas moedas lusas nas revoltas correntes do La Plata. Resposta profunda de Cavaco Silva, após as delongadas explicações: “ai, este rio é tão castanho!”. O que vale é que a primeira-dama correu de imediato em seu auxílio: “e tão violento!” Isto entre outras aventuras, que meteram, por exemplo, não reconhecer a indumentária de um paisano fardado de soldado português do século XVIII e alguns discursos proferidos em fluente portunhol.
Mas, ao fim de contas, quem é que precisa de cultura geral quando sabe de Economia?

Só para maiores (de 90 anos, ou coisa que o valha)

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Descubro que um novo e trepidante êxito editorial acaba de emigrar da blogosfera para o mundo real. Mais concretamente, uma coisa chamada “O meu ponto G”, oriunda do blogue homónimo.
Encurtando a crítica, que não ha tempo nem pachorra para muito, aquilo mete medo. Uma escrita que gostava de ser erótica mas que se fica pela brejeirice, prosas clonadas dos “contos” da revista “Maria”, lugares-comuns pegajosos repetidos até à exaustão. Rabos “empinados” há 5, só na página de entrada. “Paus” são 10, invariavelmente “duros”. “Ratas” e “ratinhas” formam uma matilha com uma dúzia de alegres convivas.
Aqui vos deixo exemplos um pouco mais extensos, para poderem medir a originalidade e a finura da prosa: “Ao sair de dentro de mim, Felino, os nossos fluidos escorreram pelas minhas pernas, obrigando-me a correr para a casa de banho.” “E chuparei cada pedaço dessa carne só minha, apertá-la-ei nos meus lábios e senti-la-ei a palpitar dentro da minha boca, enquanto engulo o teu leitinho divinal”; “abraçaste-me carinhosamente e assim ficamos, de pé, olhando-nos ao espelho e vendo o lindo casal que formamos…”
“Lindo” é como quem diz. Estamos em presença de um verdadeiro tratado de porno-chanchada, repetitivo, foleiro, piroso, intragável. “O meu ponto G” tenta com vigor enjoar-nos para as delícias do sexo; julgo mesmo que deveria ser leitura obrigatória em seminários e outros locais onde a cópula seja veementemente desencorajada.
Mas quem se lembrou de gastar bom papel neste aglomerado incoerente de paus, ratas e fluidos? Jorge Reis-Sá. Precisamente: o mesmo editor que há uns tempos clamava pelo regresso do “sublime” à poesia lusa, bramando contra quem “a retém nos urinóis”. Ao que parece, a prosa não merece cuidados similares: pode bem ficar presa em boudoirs manhosos.

Mas como? Como é que um tipo destes chega sequer a presidente da junta?

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Santana Lopes continua a efabular cabalas, conspirações e outras malfeitorias. E, supremo exercício de autismo, continua convencido de que Sampaio “fez mal” ao país quando nos livrou do “menino guerreiro” e sua turba de comediantes involuntários. Seria simpático que Santana, como qualquer cadáver político que se preze, se dedicasse mais à decomposição e menos à composição destas rábulas grotescas.

24 meses depois

Há precisamente 2 anos, escrevi isto. Hoje acho-me incapaz de deixar à vista dos demais prosas assim. Não que tenha perdido qualidades enquanto pai deliquescente e sempre babado. Mas perdi por certo qualidades como blogger; a começar pela candura e pela falta de pudor.
Enfim, pode ser que o mau-génio acrescido compense.

Conforme original

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Recebeu-o das minhas mãos e acariciou-lhe, por duas vezes, o “Ne varietur” da capa, como que para o fazer seu (pois naquele nunca tinha tocado) e para se certificar (e a mim) que nada tinha mudado desde que o havia passado para as folhas do Bombarda (receio inusitado, que uma edição “Ne varietur” serve para isso mesmo – atesta que ninguém lhe foi, à sorrelfa, mudar as palavras e os sentires).

Depois de, à segunda vez, ter percebido o nome de quem o interpelava, passou-o para o papel, precedendo-o de um “Para” e preenchendo os espaços vazios, e assinou.

Sem acento no “o” de António.

E, de novo, passou por duas vezes o polegar da mão esquerda no “Ne varietur” da capa.

Descansado, entregou-mo – “o Barrigana continua lá”, disse-me (em azul e sem abrir a boca).

Apontando com os olhos para o “Para” dela, Para Maria Eugénia, a senhora da caixa, ao reparar que também eu levava um “Para”, atirou-me: “É um malandreco, aquele! Não fazia ideia!”.

Depois, sem mos pedir, disse-me que eram vinte e cinco euros.

Aceitando o eufemismo (é uma Bertrand, caramba), entreguei-lhe as duas notas que tinha.

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