Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Assim Não

João Vacas continua a fazer de conta que não percebe onde é que meteu água. Mas eu volto a explicar: foi ao estender a todos os partidários do “Sim” uma declaração que, a corresponder ao que li, é profundamente infeliz: “para os defensores do SIM, o facto de criar uma criança sair mais caro que abortar é razão suficiente para liberalizar o aborto.”
Já está a ver a marosca? Apenas uma pessoa, o tal “cavalheiro careca, de barba e óculos” terá dito esse disparate. Não “os defensores do SIM” em geral, como lhe daria por certo jeito. Aposto que não gostaria de ler algo como “os defensores do NÃO defendem a castidade como único método anticoncepcional aceitável, publicam folhetos com fotos a escorrer sangue, mesmo que sejam de fetos com 24 semanas, mas não se coíbem de mandar as filhinhas para Londres quando o azar reprodutivo bate à porta.” No entanto, trata-se precisamente do seu método: tomar a parte idiota pelo todo, insultando de caminho todos os adversários que não foram tidos nem achados na tirada em apreço. Chama-se a essa técnica da erística “desonestidade intelectual”.

ADAPTAÇÃO AO MAL…

Não há bem que sempre dure nem mal que se ature … Sim, mas a enormíssima porra é que gerações sucessivas não perderam as paciências e, logo, não se livraram do Mal. De concluir, portanto: ou há paciência a mais ou o Mal já nos entrou no sangue. Merda, então, para o rifão. “Há males que vêm por bem”, outro dito com aplicção em momentos raros de surpresa contente, também aos poucos se vai insinuando como o aceitável e corriqueiro prato do dia .

Um avisozito anti-Mal antes que ele resolva acampar por aqui definitivamente entre os fotógrafos bem intencionados: é preciso muito cuidado com os funcionários ideológicos ou de sangue da Biltres, Birbantes, & Cia que orbitam esta e outras paróquias materialistas do espírito, seguindo os nossos rastos e sombras, espreitando, medindo o tamanho das críticas e a gravidade dos ditos e apartes, o comprimento, a curteza ou os defeitos das nossas línguas; moldando as nossas opiniões; passando as mãos termométricas pelas testas dos mais revoltados ou excitados; gravando os sons dissonantes e inquietantes; procurando febres e suores suspeitos e contagiosos; cheirando riscos reais e potenciais para os amigos e irmãos encapotados que lhes incumbiram tarefas conspirativas e de vigilância e exigiram deles lealdades presas a juramentos com mãos sobre livros e objectos estranhos de anti-sacristias invioláveis.

Claro que nem um cèguinho na reforma, com gota e problemas duplos de circulação porque também anda tolhidito das gâmbias, acredita em perigos imaginários criados por desconfianças do mesmo tipo. Portanto, que ninguem se assuste com a advertência acima ou ceda a nervosismos precipitados e irracionais porque tudo vai bem a oeste de Belem e Jerusalem, e que ninguem, já agora, ligue demais ao que vier a pingar desta pena-martelo também é algo que gostaria ficasse expresso para atender a todos os gostos. Eu, apesar do pé que ponho atrás mais por segurança que por desejo de dançar o bolero ou o chachachá, cá vou quando posso abrindo uma excepção descuidada para acrescentar a tantas outras que deixei nos pretéritos de ter andado a falar para o boneco, desprezando o importante aspecto mini-conspirativo, delicioso de se viver mas muito a jeito do arauto imprevidente em cuja farpela sempre gostei de me ver. Que ninguem, por isso, me imite no vestir sem primeiro se aconselhar com um bom alfaiate (há alguns à escolha no elenco desmobilizado aqui ao lado) é conselho que gostaria de deixar ficar a boiar nestas águas turvas de registo. Fala a idade, que nem sempre corresponde a calo, dum animal incompreendido.

E estou como o Valupi e outros optimistas: o ano promete tanta feeria de qualidade que até já comecei a contar as favas que irei semear quando o tempo começar a esquentar. Portanto, vamos a isto, evaristo, que anda por aí muita gente a provocar-nos a legitima vontade de criticar, a investir-nos do direito de julgar, a convidar-nos a sentenciar, mas ao mesmo tempo, e isto é que é triste, descarada e òbviamente a borrifar-se para aquilo que se disser contra eless, porque são eles que controlam o cacau político e a banha económica, e porque são eles que accionam as máquinas que preparam os molhos de cultura-progresso que depois temos de pagar com suores esforçados noutros lados . Mundo cão que tão bem organizado está.

TT

Portuguese Ass Suckin’

O Nuno é que os topa bem. Desde o lançamento do Presto que não se via um glutãozinho tão aplicadinho na conversão de nódoas em brancura ilimitada. Qualquer sombra de suspeita lançada sobre o nosso brilhante, impoluto, genial, proactivo e presciente Governo é logo erradicada e apresentada ao papalvo como virtude óbvia e incontornável.
Os voos provavelmente carregados de clientes para umas sessõezitas de tortura só não são vigorosamente denunciados pelo MNE pois este, coitado, apesar de todos os seus cojones, não pode “menosprezar o impacto que isso teria nos tais acordos bilaterais” e a tonta da Ana Gomes é que anda a perturbar a corajosa, astuta e mui confidencial “manobra do governo português”.
A mensagem de Ano Novo de Cavaco é, afinal, um desbragado encómio à actividade de Sócrates, o glorioso timoneiro que já nos colocou no “caminho certo”.
A crise que assola a classe média afinal não existe. A prova? Há muita gente nos centros comerciais.
E por aí afora, num autêntico festival do mais refulgente e militante graxismo.

Este rapaz vai longe, sim senhor. Ainda não lhe arranjaram um emprego na Lusa ou coisa que o valha?

Num cinema, perto de mim

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7 de Janeiro de 2007. Domingo. Na Gulbenkian o povo quer Amadeo, aparecem bichas sinuosas. O povo também quer cinema, cinema belo.

Chávenas e copos e pratos ao longo do balcão e na bancada interior do bar. Duas empregadas aturdidas com os incessantes pedidos. Atropelos selvagens dos consumidores de alta cultura na conquista de um cafezinho, aquela fatia de bolo de maça. São seis e meia da tarde, vai começar Au Hasard Balthazar. Bresson.

Shubert interrompido por um zurro. Estamos ainda no genérico. No final, um burro deixa-nos calados. Com os olhos muito abertos. Nós. Muito.

As três e meia da tarde antecipam-se às seis e meia dessa mesma tarde, e isto dura desde o tempo em que há registos do tempo. Neste domingo, na Gulbenkian, não houve excepção à regra do jogo. Quem foi descobrir-se no The River, de Jean Renoir, teve de atravessar os cordões souza-cardosianos. Teve de entrar numa sala que ficou cheia de velhos com espírito jovem e de jovens com gosto de velhos. Teve de rir por ter nascido uma menina. No final do filme, teve de ouvir aplausos.

Quantas vezes se ouvem aplausos num cinema? Não sei. Sei que foi belo. É.

A Wikipedia no seu melhor

“There is raely no need to talk about Phish becaus they are a sucky band who has no life. All they are is fat hippies who tihnk they live in the seventies. They probably jsut want to bring ack the peaceful hippy age which sucked cuse hippies suck. While you think they are making music they are actualy eating your babies and protesting about how the government is evil. PSHISH SUCKS there is realy no need to talk about phish because they happen to be the worst band that ever xisted.”
Belíssimo excerto da entrada sobre os Phish.

Um épico demora 113 minutos a fazer-se

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TAÇA DE PORTUGAL, 4.ª ELIMINATÓRIA

I

FC PORTO-ATLÉTICO
Estádio do Dragão, Porto
Hora: 15:00
Árbitro: Paulo Pereira (Viana do Castelo)

II

59′ – GOLO DO ATLÉTICO por DAVID. Cruzamento do lado direito para a área, mas ninguém se entende na defesa portista, surgindo David a empurrar para o fundo da baliza de Vítor Baía.

III

90’+5′ – Grande oportunidade falhada pelo FC Porto. Na execução de uma grande penalidade, Ricardo Quaresma acerta no poste direito da baliza defendida por Marco.

16:53 – TERMINA A PARTIDA.

Fontes: Record, Wikipédia

Crónica triste para o pobre diabo que trata a neta por você

Quando te encontrei no Jardim da Estrela e me disseste que não tinhas tempo para falar comigo porque estavas a tomar conta da tua neta o que mais me revoltou não foi a tua negativa em continuar uma conversa que nem sequer tinha começado. Foi sim o facto de tratares a tua neta por você. Tu, um pobre diabo que veio um dia lá de uma terrinha perdida na Beira Alta onde não passa o comboio nem a camioneta da carreira nem verdadeiramente se passa nada. Tu que só chegaste a chefe de secção porque conheceste algumas pessoas na Comissão de Trabalhadores e aproveitaste esses conhecimentos para subires na tua carreira. Não sei como não és capaz de perceber que não tiveste berço para essas poses nem para essas falas. Não há na tua família nem vice-reis da Índia nem embaixadores plenipotenciários nem, muito menos, governadores mandados para o Brasil para acertar as contas das cobranças dos quintos do ouro. Tratares a tua neta por você é muito mais do que ridículo. Porque é, na verdade, absurdo e contra a tua natureza. Tu não és um aristocrata. Apenas fizeste uma carreira de burocrata no departamento comercial de um banco à custa do teu cartão partidário, saltaste da Comissão de Trabalhadores para um cargo de chefia mas não tiveste nisso nenhum mérito teu. Apenas aproveitaste a onda da rosa e da mãozinha. Depois vieram os outros e já lá estavas. Por isso ficaste. Tu não és um aristocrata mas sim um pobre diabo perdido numa cidade desconhecida e onde nem nasceste sequer. Não podes tratar a tua neta por você. Para a próxima vez que passares por mim no Jardim da Estrela não digas nada, finge que não me viste. Porque se disseres alguma coisa como a do outro dia eu atiro-te logo para dentro do lago dos patinhos.

José do Carmo Francisco

Angústia da influência

«Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que o seu pai o levou para conhecer o gelo.»
Primeira frase do romance Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez

«Devo à subtil persistência da minha mãe a conversão ao ski
Primeira frase da crónica O horror capital, de Paulo Portas, na edição de hoje da revista Tabu, inclusa no semanário Sol

Da etiqueta ou outros desmandos…

Tendo em conta que recebi um postal de Natal em meados de Novembro, quando é que é socialmente recomendável deixar de desejar “bom ano novo” ao pessoal?

Para já, constato que o “BOM ANO NOVO” de boca cheia dos dias 1, 2 e 3 descambou, no dia 4, em “baAnove” dito entre dentes, e hoje, dia 5, já se nota um perigoso constrangimento na malta, tipo “bnove” dito com uma espécie de raiva, ainda que sem baba.

Dia 8, por este caminho, vão-se os resto das vogais. E vem um murro no focinho!

Sabichões de teclado

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Desconheço se o helicóptero de socorro poderia mesmo ter chegado mais depressa aos náufragos do “Luz do Sameiro”. Mas gostava de saber se os iluminados que interrogam agora os cadáveres sobre o paradeiro dos seus coletes salva-vidas alguma vez tiveram um vestido. Sobretudo enquanto tentavam trabalhar dentro de um barco minúsculo. Pois é.

Onde mora o mal

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Na luta em redor do próximo referendo, a Igreja e seus apaniguados querem à viva força ocupar o trono da virtude imaculada, remetendo todas as demais opiniões para o Inferno. E isto não promete melhorar até dia 11 de Fevereiro, antes pelo contrário. Querem ver com que linhas é que se cose esta malta? Dêem um salto ao “Blogue do Não” e arrepiem-se com um despudorado desfile de aldrabices, calúnias, falácias e omissões. Tudo coisas que nunca imaginaríamos em criaturas tão puras e virtuosas.
Comecem por ler o que um tal Vacas escreve: “para os defensores do SIM, o facto de criar uma criança sair mais caro que abortar é razão suficiente para liberalizar o aborto. É imbatível esta lógica. E arrepiante.” Arrepiante é sim alguém querer fazer passar este asco por uma ideia. Porque se não dedica a criatura a pensar antes de escrever? Ou, pelo menos, que trate de citar quem defenderia tal absurdo. Mas claro que é mais fácil atribuir ao inimigo (generalizando, claro) ideias monstruosas do que explanar argumentos próprios.
Depois, outra luminária, a assinar “Ferreira Martins”, garante-nos, com a solenidade de um la Palice involuntariamente cómico, que “A vida começa no princípio”, esquecendo-se de nos explicar se o espermatozóide e o óvulo estão falecidos ou coisa que o valha, no momento da concepção. Que eu saiba, “vida” já existe bem antes de o João e a Maria decidirem coisar.
Há também espaço para as descobertas fulminantes, como esta de Francisco Mendes da Silva: “o Ministro Correia de Campos assegurou que em nenhum caso o SNS efectuará um aborto a uma mulher que não se queira identificar”. Fantástico: quem diria que é preciso um documento de utente para usar o SNS?
A única coisa que me consola nesta parada de monstros, de mentiras flagrantes e de má-educação é que ninguém parece inclinado a dar-lhes muita atenção. Talvez seja mesmo uma boa forma de lidar com o mal (sim, com minúscula, que isto não passa de gente chunga e pequenina).

SOCORRO! – The director’s cut

Eu não vi absolutamente nada de “movediço” na exumação valupiana de posts e comentários ( Socorro!) sobre a arte de bem-falar e pronunciar com olho crítico ou diacrítico. O JPC manteve o frio para poupar o coração e fez muito bem porque “movediço” nem sequer é sinónimo de “provocatório”. E nem merece a pena citar frases lapidares de linguistas respeitáveis que acham que “o correcto é aquilo que as comunidades linguísticas esperam”, senão ainda nos embaralhamos mais.

É que no fundo, se nos lembrarmos bem, a tempestade original até nem passara de mera aragem (quem discordará da hipotética explicação de que “carapau” há trezentos anos ou ontem à hora do almoço, no telejornal do Cadaval, se dizia “cara de pau”?) muito embora tivesse brevemente servido para se entrar na guerrilha do detalhe lingo-gramatical que esconde muitas vezes pequenas vaidades sob as capas dos argumentos farpantes. Onde o Valupi perdeu um pouco nessa discussão sobre os nevoeiros dos falares regionais foi quando insistiu escravizar-se ao regulamento, mostrando a toda a gente como é que se monta a égua branca da língua bem dita. A ele far-lhe-ia bem sentar-se numa poltrona em Londres a ouvir o correspondente da BBC em Belfast.

Sem ir muito longe, dou-vos um exemplo fresquíssimo e natural de corrupção, evolução e dinamização da língua: o Valupi, mal lhe virei as costas aqui há dias, transformou em “Delbert” o Delbet de que lhe falei com tanto entusiasmo. Nada de mal nisso, um simples descuido, se descuido foi, que nunca se sabe nesta freguesia. De temer, no entanto, é que esta tendência para acrescentar erres e erros possa levar daqui a 50 ou 100 anos, por acumulação e extrema ignorância, algum estudioso mal-informado de blogues vetustos a referir-se à pessoa de JPC chamando-o de Soão Cedro da Bosta, homem de grande ventosidade, cultura e capacidade intelectual que costumava desperdiçar muito do seu precioso tempo atrás de borboletas fanhosas ou barifónicas para arrancar sorrisos aos tolos e tolas das tolas.

TT

Este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório