Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Deus não curte futebol

Vai tudo malhar no Ronaldo, crucificar o Cristiano e o Martínez. É a reacção inevitável da frustração, suportada por evidências. O homem não tem 20 anos, confirma-se mais uma vez. E talvez tenha terminado a sua carreira na Selecção de uma forma inglória.

Mas é injusto, é errado, é clubite, é só estúpido pôr nele o fel. Outro qualquer a jogar na sua posição também teria como resultado mais provável ficar em branco. Porque a equipa não joga com ele nem para ele. Aliás, podia-se fazer uma longa lista de ocasiões em que colegas lhe deviam ter passado a bola, estando ele na grande área, em vez de terem feito os remates de merda que fizeram.

Do meu ponto de vista, acho que Deus não curte futebol. Impediu o que seria um delicioso PortugalxEspanha.

Rosário Teixeira está tão metido nas más práticas do MP que não tem noção e é esse o problema da instituição

Fui ouvir a entrevista que o procurador deu à SIC Notícias em defesa do Ministério Público. Confrangedora, digo-vos. Imaginam uma pessoa a justificar o injustificável? É ele. Várias passagens bradam aos céus (como a que refere o facto de António Costa não ser suspeito, ponto, ignorando tudo o resto que aconteceu justamente por causa da suspeita) e várias outras apontar-lhe-iam o inferno directamente e já, tal a indiferença com que trata a vida das pessoas. Por volta do minuto 11 reconhece que as provas com que o MP avança para a acusação podem nalguns casos ser frágeis e facilmente desfeitas pelas defesas ou pelas instâncias superiores, mas pronto, é o que é. É a Justiça a funcionar e há que voltar atrás e “repensar”, ou seja, continuar a vasculhar, devassar e escutar até a prova ser sólida (!). O facto de o mal estar feito, e por vezes irremediavelmente, e nunca chegar a haver fundamento para a acusação é coisa que não o preocupa um segundo. Mesmo que o suspense dure anos.

Este senhor entende que o Ministério Público pode e deve, por exemplo, andar a acompanhar e a vigiar as démarches de um governo para a concretização de investimentos só porque sim. Há negócio, há um governo, há marosca. Escute-se, pois. E se as pessoas são honestas, se apenas se deparam com obstáculos que exigem o estudo de soluções legais ou alterações legítimas de legislação face a interesse público maior? Não interessa. Discutem as leis, são suspeitos. Se forem dentro, vão, que é para aprenderem a não ganharem eleições (o PS, claro) ou a não quererem investir em Portugal. Nada disto foi dito na entrevista, mas pode facilmente deduzir-se. E se o governo durar quatro anos e os processos de investimento também, então escuta-se quatro anos, só interrompendo quando os protagonistas fizerem pausa ou forem de férias. Isto sim, foi dito. Neste particular, ainda tem a distinta lata de desculpar-se com o facto de as escutas não serem contínuas, porque às vezes os processos estão parados… Ufa, que alívio!

E quanto às escutas da vida privada e de tudo o que não tem a ver com os processos, mas que vem por arrasto? Ah e tal, diz ele, a lei prevê que se expurguem do processo. Só que, entretanto, já alguém andou a escutar a vida íntima e privada de outros e ficou a saber de assuntos que de todo não lhe dizem respeito e a dispor da possibilidade de usar esses dados como e quando bem entende. Isto importa ao procurador? Nada. Absolutamente nada. Rosário Teixeira diz isto com tamanho à-vontade que a nós só nos resta desejar que alguém faça alguma coisa e depressa para pôr fim a este estado de coisas.

Quanto aos megaprocessos, a justificação é que são complexos porque a realidade é complexa e os procuradores não podem focar-se numa árvore para deixarem de ver a floresta. Problema (não equacionado na entrevista, que até foi bem conduzida): e se a floresta for uma invenção deles? E se 15 anos de conjecturas arruinarem a vida de um cidadão? Não interessa. Há que aceitar (isto foi dito).

 

Em suma, Rosário Teixeira acha que está tudo bem na instituição onde trabalha. Se achasse que alguma coisa estava mal, tinha a oportunidade de o dizer. Para ele, está tudo tão bem que até o próximo procurador deve vir de dentro do Ministério Público. Não sei quem tem em mente (já que ele próprio se exclui), mas a ideia deve ser que estas boas práticas não se percam.  Possivelmente treme só de pensar que as ilegalidades e os abusos podem acabar.

“Pôr ordem na casa” parece-me uma expressão demasiado branda para definir o que é preciso fazer com o Ministério Público.

Atão não, pá

«No meu entender, o modelo atual é o ideal.»

Rosário Teixeira

No modelo actual, procuradores cometem crimes e ninguém tem poder legal para os investigar – pois os inquéritos abertos são uma farsa tão debochada que nem sequer justificam que se perca tempo a disfarçar o número de circo.

Há sempre que recordar o sorriso ofuscantemente cínico de Joana Marques Vidal a dizer aos jornalistas que os crimes de violação do segredo de justiça não podiam ser investigados com escutas porque estavam fora do catálogo que as permite. Os políticos que se atrevessem a tentar aumentar a pena para esse tipo de crime caso quisessem mesmo apanhar os seus colegas procuradores, era a ameaça soberba da soberba ex-procuradora-geral.

Aqui entre nós que ninguém nos lê, parece óbvio que quem comete crimes a partir de uma posição de autoridade judicial é infinitamente mais perigoso do que os criminosos sem esse estatuto. O facto de o crime em causa só ser punível com pena de prisão máxima até dois anos não descreve o potencial criminoso desse agente, apenas reflecte a inadequação da lei.

Podemos, e devemos, suspeitar que outros crimes são cometidos por quem, com este à-vontade e na posse de um poder supremo na República (o do uso de instrumentos policiais e da força coerciva máxima), se permite violar a lei de forma espectacularmente ostensiva e provocatória.

O caso dos gémeos

Existe o “caso das gémeas brasileiras”, de que se fala muito, a envolver directamente Marcelo Rebelo de Sousa com dupla ligação: como Presidente da República e como pai. E depois existe o “caso dos gémeos portugueses”, de que não se fala quase nada, também a envolver directamente Marcelo Rebelo de Sousa com dupla ligação: como Presidente da República e como o tipo que ocupa o cargo de Presidente da República.

Este caso dos gémeos é de mais fácil explicação do que o das gémeas, pois todos os materiais que o documentam estão no domínio público. Consiste nisto. Em 9 de Março de 2016, o país respirava de alívio por se ter visto livre de Cavaco e passar a ter uma das mais populares e simpáticas personalidades mediáticas dos últimos 15 anos a morar em Belém, a qual acumulava com ser um dos mais prestigiados juristas nacionais. Os cinco anos seguintes deram razão ao optimismo, tendo-se visto a consistente defesa do interesse nacional e do bem comum em palavras e actos do Presidente da República (apago deste retrato os episódios de Tancos e dos incêndios de 2017, onde não teve sentido de Estado). Depois, em 2021, surgiu o gémeo deste Marcelo Rebelo de Sousa. Viu-se a personagem, pela primeira vez, aquando da apressada dissolução do Parlamento por causa do chumbo do Orçamento para 2022. A partir daqui, nunca mais este gémeo abandonou a Presidência. Na tomada de posse do Governo PS de maioria absoluta, lá estava ele a dizer coisas, disparates intempestivos. Nos meses e anos seguintes, esta característica foi sempre em crescendo. Deixou a sua marca taralhouca no escândalo dos abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa, nas ameaças semanais à estabilidade da governação de Costa, na pose de salvador oficial do PSD, na tentativa de decapitar Galamba, no decote de uma filha ao lado da mãe, no abandalhamento completo do protocolo e prestígio do Conselho de Estado, e chegou ao ponto de fazer antropologia de tasca ao dizer que Costa é lento por ser oriental. Há mais dislates que poderiam entrar na lista mas ninguém me paga para os teclar. A suspeita de que este gémeo não bate bem da corneta não vem da má-língua, antes se impõe à inteligência como a explicação mais provável, e nisso a mais benigna, para justificar a inacreditável sucessão de episódios abstrusos nascidos do comportamento errático à vista de todos.

Para além das facetas clínica e folclórica do caso dos gémeos, há uma questão com importância fundamental para a comunidade que fica a exigir resposta. Esta: como dar sentido à experiência histórica de ter como Presidente da República uma das pessoas com melhor preparação jurídica em Portugal e depois assistir a dois mandatos quase completos em que não deixa sequer a sombra de uma intenção de contribuir para o saneamento dos males da Justiça nacional, e, para a desgraça ser completa, ainda acaba a contribuir para a degradação do que já estava indelevelmente degradado, pervertido e criminalmente violado?

Não haverá comissão de inquérito parlamentar a respeito. E mesmo que o primeiro gémeo ainda conseguisse regressar ao lugar donde foi corrido pelo segundo, nada de nada de nadinha de nada diria ou faria para nos defender dos criminosos disfarçados de agentes da Justiça. Nisto, são gémeos siameses.

Falhar é bom

Sim, teria sido exaltante ver Cristiano a celebrar o golo no prolongamento, muito provavelmente o da vitória. Mas, porque o remate foi defendido, vimos algo ainda melhor.

Se o futebol fosse um exercício de lógica, não haveria pachorra para esse jogo. Como é um exercício de fezadas na misturada do colectivo com o individual, o gozo vem todo do reino do imprevisível.

Revolution through evolution

We date, marry people who are attractive as we are, new analysis finds
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Adolescents today are more satisfied with being single
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Tai Chi reduces risk of inflammatory disease, treats insomnia among breast cancer survivors
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Playing youth sports linked to better mental health in adults
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Dancers are less neurotic
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Myths about intermittent fasting, debunked
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Reframing voting as ‘duty to others’ key to increasing engagement, turnout
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E eu pergunto: qual o objectivo, Mariana?

Se a Mariana Mortágua pensa que massacrar actualmente os nossos antepassados e nós próprios (suponho que ela também)  com as alusões ao tráfico transatlântico de escravos negros de há uns séculos leva a que, neste momento, se elimine o racismo em Portugal, está redondamente enganada. O resultado pode ser o contrário, tal o absurdo da culpabilização. Os portugueses não atravessaram os mares com o objectivo primeiro de ir torturar pessoas livres e de outras cores. Aliás, passaram-se séculos até se aventurarem pelo interior de África. Eram os próprios africanos que utilizavam pessoas já escravizadas como moeda de troca comercial. O erro não pode estar só nuns (a menos que se considere superior o estado de desenvolvimento dos europeus à época – e os europeus mais responsáveis, e inferior o dos africanos, o que é sempre discutível, dependendo da perspectiva, e nunca jamais admitido pelos movimentos de extrema-esquerda).

Nós também não somos os nossos antepassados. E as pessoas de cor de que se rodeia a Mariana para proferir estas acusações também não vão ganhar mais respeito com estas declarações, pois será legítimo perguntar-lhes por que razão elas ou os seus pais vieram então viver para o reino dos opressores e por que razão quem ficou em África e escapou ao tráfico não só não deixou de ser escravo à mão de negros como, não sendo escravo, não ficou melhor do que quem foi levado para o Brasil nem deixou de morrer por maus tratos, tendo ficado. Tudo isto e muito mais inconveniências que costuma retorquir quem gosta de prolongar estas discussões improdutivas. Foi um episódio negro da história europeia que felizmente terminou. Mas não em todo o mundo, facto de que a Mariana não fala. Na Arábia Saudita a escravatura ainda era legal em 1962 e consta que há países onde ainda se pratica, nomeadamente a Mauritânia, a Índia, a China, a Rússia, etc.

Se a Mariana pensa que os portugueses de há uns séculos não fizeram absolutamente nada de valoroso de que nós, os seus descendentes, nos devamos orgulhar e que tudo se resume à brutalidade do tráfico transatlântico ou à exploração da mão de obra negra nas colónias por racismo, só revela desrespeito pela memória, a ambição, os sonhos e o sacrifício de tantos, desdém pela imagem que o resto do mundo tem de nós, um profundo desconhecimento da história dos europeus, ou mais exactamente de todos os povos, todos eles com pessoas escravizadas numa altura ou noutra da sua história, e, mais grave, desejo de provocar reacções perigosas dos candidatos a autocratas que pululam um pouco por todo o mundo nos tempos que correm, esses sim racistas, reacções eventualmente percepcionadas como justificadas e compreendidas dado o exagero e o despropósito da culpabilização.

Se pensa que os portugueses foram os “fundadores” do racismo é ainda mais ignorante e, dada a vergonha que tem de ser descendente de tão maléfico povo, talvez fosse mais coerente mudar de nacionalidade de uma vez por todas e tornar-se palestiniana ou iraniana, correndo embora o risco de ser apedrejada por imoralidade.

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Nota: Se este meu post puder ser atribuído a alguém do Chega, fiquem a saber que eu penso o seguinte: muito do acolhimento que movimentos nacionalistas e xenófobos como o Chega lamentavelmente obtêm na sociedade deve-se ao completo exagero e ao radicalismo dos movimentos esquerdistas em matéria de revisão da História, de desprezo pelo passado e de culpabilização extemporânea e absurda do “homem branco”. Continuem assim que eles agradecem.

Dominguice

A extrema dificuldade em se lutar contra os raciocínios motivados, os próprios, resulta de não termos essa motivação. É que todo o raciocínio é motivado, e tem de sê-lo para se poder constituir como uma acção pensante. Quão mais próximo estiver do instinto de sobrevivência, mais o raciocínio é apenas a racionalização da resposta instintiva, da motivação biológica. E a biologia nunca nos larga, só no último momento.

Para chegarmos à capacidade de trocar as nossas motivações egoístas por motivações altruístas, algo superior à biologia tem de estar presente, ser parte de nós. Que será?

E em 2010 já chegava atrasado

Nada de novo

NOTA

O processo Face Oculta, nisto sendo radicalmente diferente do caso Casa Pia, foi o momento em que agentes da Justiça testaram a capacidade de cometerem ilícitos usando a Lei com vista a derrubarem, ou prejudicarem eleitoralmente, o poder político vigente. Fizeram-no porque existia um ambiente golpista desde 2008, ano da crise económica mundial e das crises nos bancos portugueses, o qual contava com Cavaco Silva, a direita política e quase toda a imprensa para validar a operação de espionagem a um primeiro-ministro em funções e a tentativa para o colocar como suspeito de corrupção em cima da campanha eleitoral das legislativas, e autárquicas, de 2009.

Esta operação não se consumou porque Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento defenderam a legalidade. Por essa parte ter falhado, foi ainda tentado um golpe desesperado: a Inventona de Belém. Mas o que não falhou foi a aprendizagem do que podia ser feito e dos danos que se podiam infligir nos alvos. As campanhas de judicialização da política, as difamações e calúnias, a exploração partidária e parlamentar em comissões de inquérito, isso tornou-se caudaloso, imparável, sistémico.

A Operação Marquês, portanto, foi uma continuação do esquema do Face Oculta, agora em modo celerado e a outrance porque havia um Presidente, um Governo, uma maioria parlamentar e uma procuradora-geral da República em sintonia para se exibirem troféus de caça na temporada do “fim da impunidade”. Atenção, não seria possível deixar de investigar Sócrates a partir dos indícios recolhidos, isso era necessário e bom. O que está aqui em causa é tudo o resto irregular, injusto e ilícito que se fez a coberto dessa legítima investigação. Também no Face Oculta o sucateiro poderia ter cometido crimes, e como tal justificar-se a abertura de um inquérito, mas ele foi escolhido em Aveiro por permitir chegar a alvos infinitamente mais valiosos.

Assim, o golpe que levou à queda de um Governo de maioria absoluta, e o modo ostensivo como desde aí os agentes da Justiçam mostram que podem cometer crimes em barda contra quem lhes apetecer, têm já 16 anos de prática e refinamento — contando com a cumplicidade da sociedade, a capitulação do regime e a putrefacção da comunidade.

Nas muralhas da cidade

«O mesmo, ou o que vai dar ao mesmo, ouvimos, em 2018, da boca de um membro do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, Filipe Preces, num Prós e Contras da RTP. Dizendo-se “desconfortável” com a divulgação de imagens de inquirições do Processo Marquês, "por ser crime" e por "contribuir para a vitimização dos arguidos” (ou seja, acha que podia beneficiá-los, e isso é que nem pensar), Preces justificou, ao vivo e a cores, o crime, argumentando que o processo já não estava em segredo de justiça, que se tratava de “um crime de corrupção, em relação ao qual a lei prevê um escrutínio o mais alargado possível”, e que os inquiridos "são pessoas com elevada notoriedade social, por força das funções políticas e sociais que exerceram e isso leva necessariamente a uma compressão dos seus direitos fundamentais”.

Quem diz “compressão” diz anulação: para os membros do MP como Preces, contra certas pessoas — aquelas em relação às quais se determina uma suspeita de princípio, como vimos nas declarações de Ventinhas — vale tudo; não têm direito a direitos.

Como não ter medo de gente assim, de uma corporação, de um corpo do Estado detentor da ação penal que se deixa, com tão poucos protestos internos (et pour cause) representar assim e - já agora, não esquecer — dos juízes que fazem pandã com isto?»


Como não ter medo do Ministério Público?

E delação premiada dentro do Ministério Público, não calhava bem?

A coisa não vai lá com discursos, críticas nos jornais ou grupos dos 50. Quatro anos de escutas a um governante sem indícios graves que as justificassem e sem que nada de criminoso se apurasse, nem em três, nem em seis, nem em doze meses, nem em 48!, é ilegalidade suficiente para qualquer pessoa exigir que alguém na hierarquia do Ministério Público ou da magistratura judicial seja exemplarmente punido. As escutas estariam para durar indefinidamente, enquanto João Galamba tivesse cargos políticos. Inacreditável. Uma vida profissional destruída por pura perseguição política, usando a Justiça.

Acusações graves e ordens de prisão preventiva a um autarca e a empresários pelo facto de negociarem a instalação de infraestruturas para uma actividade importante de milhões.

A inserção de um parágrafo assassino num comunicado (mais uma vez lançando suspeitas sem fundamento sobre um primeiro-ministro sem qualquer historial de desonestidade nos inúmeros cargos públicos que já desempenhou), que levou à queda de um governo legítimo e com maioria absoluta.

Também a recente divulgação de escutas sem qualquer outro interesse senão prejudicar o mesmo António Costa na sua ambição europeia, pela mera percepção e o mero alarde público e jornalístico, é um acto político que nada tem que ver com a administração da Justiça.

Os procuradores e os juízes não são pagos para fazerem guerrilha política e, se o fazem, devem ser obrigados a abandonar a profissão após cumprimento de pena.

Verifico que todos os partidos políticos, com excepção da seita do Chega, estão de acordo em considerar o comportamento do Ministério Público e do ou dos juízes inaceitável num Estado de direito democrático. Alguma coisa tem que ser feita, portanto, dado o escândalo em que se transformou a relação da Justiça com os políticos (sobretudo do PS) e a impunidade total com que os magistrados violam as leis.

Assim, eu pergunto: por que carga de água não se identificam os procuradores que pediram autorização vezes sem conta para escutar João Galamba e o ou os juízes que, igual número de vezes, autorizaram tais escutas e não são questionados em sede judicial? Por que razão ninguém pergunta à senhora Procuradora-Geral se teve conhecimento ou encorajou/consentiu estes abusos? Estará o Ministério Público de tal maneira minado que, de alto a baixo, não se aproveita ninguém, estando todos em conluio?

E pergunto ainda mais: se querem tanto a delação premiada para a corrupção político-económica, porque não começar a aplicá-la já dentro de casa? Reparem como estou a ser optimista ao achar que há lá dentro quem discorde dos abusos ou se queira arrepender.

O assunto é sério. Os salazaristas do Observador acham que é inadmissível comparar tudo isto com as práticas da PIDE (Helena Matos, ainda hoje ouvida no rádio do carro). E, claro, estão confortáveis com a divulgação de todas as escutas e elementos processuais que prejudiquem os seus adversários políticos (José Manuel Fernandes). Mas o facto é que estamos perante perseguições políticas. É certo que não se prendem pessoas por contestação a um regime estabelecido, mas arruína-se-lhes a reputação e a vida por terem orientações e perspectivas dos actos políticos diferentes das deles e dos seus amigos. Excepção feita à tortura física (e vontade não falta a alguns), vai dar ao mesmo. Se calhar ainda é pior, porque a PIDE teria e teve um fim, enquanto este estado de coisas, com que a democracia compactua por medo, não parece ter solução. Ainda menos quando o Presidente da República não só foi o instigador da perseguição, como também tem telhados de vidro devido ao caso das gémeas.

Pessimista

Após dois programas do “Otimista”, já é possível concluir que a coisa não passará daquilo. E para aquilo há uma palavra cuja etimologia se perde nas brumas de antanho: chachada. É um programa não só feito em cima do joelho, de escrita e realização básicas, como ostenta uma indiferença para com a audiência que chega a ser a única caraterística a merecer elogio. Quem pensou o projecto está-se realmente a marimbar para o gosto dos espectadores, tão intragável é a forma do produto.

Não se trata apenas, nem principalmente, de Costa exibir uma confrangedora falta de jeito para o papel de apresentador televisivo. A única lógica de vermos um primeiro-ministro tornar-se num arremedo de jornalista em menos de 3 meses tem de transcender a racionalidade funcional. Ostensivamente, estão-nos a mostrar o esqueleto de um negócio a que falta tudo o resto, cérebro e pudor. A uma das partes dava um jeitão poder agitar a bandeira António Costa para o lançamento de um canal TV. A outra parte precisa de dinheiro, como toda a gente, mas também de um veículo publicitário para a sua marca. Foi isso que Costa obteve, bom dinheiro e o que ele achou que seria uma excelente operação de relações públicas: ter uma série de vídeos onde se pode vingar daqueles que disseram não ter deixado qualquer obra em 8 anos de governação.

Ora, de certeza que a SIC e a TVI/CNN, até a RTP, lhe dariam o mesmo tipo de plataforma onde se pudesse passear a dizer banalidades em governês. Por que caralho teria de ir para a Cofina? A resposta mais provável poderá ser apenas aritmética, por haver muito dinheiro a ganhar com os donos do esgoto a céu aberto. Mas também pode ter contado a vaidade, sentindo-se mais importante por integrar a estreia do NEWS NOW com estatuto de super vedeta. É que Costa não perde o sono por estar a ajudar a Cofina a ser Cofina, metendo ao bolso parte dos lucros que vêm do sensacionalismo, das campanhas negras, dos assassinatos de carácter, das perseguições políticas, do populismo mediático e de retintos crimes — na quase totalidade dos casos, contra pessoas do seu partido, amigos e camaradas, até familiares. Já o fez antes, quando era presidente da câmara de Lisboa, e ao tempo ninguém tugiu nem mugiu no PS e arredores.

A sua decisão de apoiar criminosos, oferecendo-lhes o seu currículo e reputação para usufruto comercial, tem um inevitável impacto ético e político. Por um lado, dado ele ter sido um dos melhores primeiros-ministros na dimensão da responsabilidade para com a comunidade, trai e desonra o seu passado de estadista e de líder do mais importante partido democrático em Portugal. Por outro lado, visto não mostrar qualquer embaraço ou dúvida acerca do que está em causa, espalha um sentimento de desconfiança e descrença nos representantes políticos que julgávamos estarem no bastião da defesa do Estado de direito, da democracia, da decência e da liberdade.

Quando um cidadão qualquer é alvo de difamações e calúnias, sendo o dano ainda maior por se usarem as páginas e ecrãs do mais poderoso grupo de comunicação social português, há graves consequências para a sua vida. Pode perder dinheiro, pode perder o bom-nome, pode perder a saúde, e perde fatalmente liberdade. Ver Costa, de novo, ao serviço desses pulhas deixa um gajo profundamente triste e pessimista.

Revolution through evolution

Walking brings huge benefits for low back pain
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A high-fat diet may fuel anxiety
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Weight loss: Go nuts or go home
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Resiliency shaped by activity in the gut microbiome and brain
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Exploring the transformative potential of out-of-body experiences: A pathway to enhanced empathy
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Cognitive styles and psi: psi researchers are more similar to skeptics than to lay believers
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Football spectators giving free kick to racist bigots
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A ONU de Guterres e os talibãs

Segundo notícia do Guardian, para uma conferência das Nações Unidas sobre o Afeganistão, em Doha, os talibãs puseram como condição a não participação de mulheres afegãs e a não inclusão na agenda dos respectivos direitos. Se esta conferência se realizar nestes termos, é uma vergonha.

Notícia do Guardian

Aceitar que haja um país no qual os homens tratam as mulheres como prisioneiras para consumo privado e para assegurar descendência é uma traição às mães, consortes e filhas dos representantes do resto do mundo, que, a meu ver, deveriam recusar-se a participar. Guterres muito mal.

Ainda menos se compreende quando nos é lembrado que o próprio Guterres recusou condições semelhantes no início deste ano. (The Taliban did not participate in UN talks earlier this year, with the UN chief António Guterres saying at the time that the group presented a set of conditions for its participation that “denied us the right to talk to other representatives of the Afghan society” and were “not acceptable”.) Se nada mudou, porquê esta aceitação?

 

Friso de machões de tal maneira inseguros que impõem, pela força, uma vida de clausura e ignorância às mulheres.

Dominguice

O conceito de Estado de direito democrático não costuma ser discutido à mesa do café ou em táxis. Também é raríssimo que entre nas conversas de família no Natal, em casamentos ou nos baptizados. É fácil de perceber porquê, ele requer uma literacia histórica e política que escasseia na população. O povo quer é tratar de si e dos seus, não tem disponibilidade para pensar. Partidos à esquerda do PS não se entusiasmam com a noção e defesa do Estado de direito, e até o podem ver como mais um braço do imperialismo capitalista. Partidos à direita do PS só se agarrariam a ele furibundos caso estivessem a ser prejudicados nos seus direitos. Como são, há décadas já, os socialistas as quase exclusivas vítimas dos crimes na Justiça e na imprensa, a direita portuguesa opta por aproveitar as oportunidades e alinhar com o assalto à cidade através do berreiro, do veneno e dos silêncios.

A ironia trágica é a de ser a lei o instrumento que melhor defende os mais fracos. Sem lei democrática — portanto, sem direitos — reina sempre, sempre e sempre a outra lei. A do mais forte. A da selva.

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