E delação premiada dentro do Ministério Público, não calhava bem?

A coisa não vai lá com discursos, críticas nos jornais ou grupos dos 50. Quatro anos de escutas a um governante sem indícios graves que as justificassem e sem que nada de criminoso se apurasse, nem em três, nem em seis, nem em doze meses, nem em 48!, é ilegalidade suficiente para qualquer pessoa exigir que alguém na hierarquia do Ministério Público ou da magistratura judicial seja exemplarmente punido. As escutas estariam para durar indefinidamente, enquanto João Galamba tivesse cargos políticos. Inacreditável. Uma vida profissional destruída por pura perseguição política, usando a Justiça.

Acusações graves e ordens de prisão preventiva a um autarca e a empresários pelo facto de negociarem a instalação de infraestruturas para uma actividade importante de milhões.

A inserção de um parágrafo assassino num comunicado (mais uma vez lançando suspeitas sem fundamento sobre um primeiro-ministro sem qualquer historial de desonestidade nos inúmeros cargos públicos que já desempenhou), que levou à queda de um governo legítimo e com maioria absoluta.

Também a recente divulgação de escutas sem qualquer outro interesse senão prejudicar o mesmo António Costa na sua ambição europeia, pela mera percepção e o mero alarde público e jornalístico, é um acto político que nada tem que ver com a administração da Justiça.

Os procuradores e os juízes não são pagos para fazerem guerrilha política e, se o fazem, devem ser obrigados a abandonar a profissão após cumprimento de pena.

Verifico que todos os partidos políticos, com excepção da seita do Chega, estão de acordo em considerar o comportamento do Ministério Público e do ou dos juízes inaceitável num Estado de direito democrático. Alguma coisa tem que ser feita, portanto, dado o escândalo em que se transformou a relação da Justiça com os políticos (sobretudo do PS) e a impunidade total com que os magistrados violam as leis.

Assim, eu pergunto: por que carga de água não se identificam os procuradores que pediram autorização vezes sem conta para escutar João Galamba e o ou os juízes que, igual número de vezes, autorizaram tais escutas e não são questionados em sede judicial? Por que razão ninguém pergunta à senhora Procuradora-Geral se teve conhecimento ou encorajou/consentiu estes abusos? Estará o Ministério Público de tal maneira minado que, de alto a baixo, não se aproveita ninguém, estando todos em conluio?

E pergunto ainda mais: se querem tanto a delação premiada para a corrupção político-económica, porque não começar a aplicá-la já dentro de casa? Reparem como estou a ser optimista ao achar que há lá dentro quem discorde dos abusos ou se queira arrepender.

O assunto é sério. Os salazaristas do Observador acham que é inadmissível comparar tudo isto com as práticas da PIDE (Helena Matos, ainda hoje ouvida no rádio do carro). E, claro, estão confortáveis com a divulgação de todas as escutas e elementos processuais que prejudiquem os seus adversários políticos (José Manuel Fernandes). Mas o facto é que estamos perante perseguições políticas. É certo que não se prendem pessoas por contestação a um regime estabelecido, mas arruína-se-lhes a reputação e a vida por terem orientações e perspectivas dos actos políticos diferentes das deles e dos seus amigos. Excepção feita à tortura física (e vontade não falta a alguns), vai dar ao mesmo. Se calhar ainda é pior, porque a PIDE teria e teve um fim, enquanto este estado de coisas, com que a democracia compactua por medo, não parece ter solução. Ainda menos quando o Presidente da República não só foi o instigador da perseguição, como também tem telhados de vidro devido ao caso das gémeas.

19 thoughts on “E delação premiada dentro do Ministério Público, não calhava bem?”

  1. Este escrito, certeiro, fez-me lembrar a carta de Émile Zola – J’ACCUSE…!

    (Os outros partidos meteram o rabo entre as pernas numa cumplicidade vergonhosa com o que se estava a passar no Min. Público, nos mídia, etc., etc.)

    É uma alegria, vomita o bácoro.

  2. Parabéns!!
    Uma postada lúcida, desassombrada, que toca em todas as teclas e chama os criminosos por aquilo que são, criminosos.
    Já por mais de uma vez disse aqui que hoje por hoje, se excluirmos a violência física, não há diferença entre o ministério público e a PIDE.
    O ministério público está transformado num antro de criminosos, e é quase inacreditável pensar que o que ali se passa possa ocorrer num regime democrático.
    O ministério publico é uma instituição corrupta e exemplos disso não param de surgir.
    Numa organização saudável e que se desse ao respeito, evidentemente que já estariam a ser investigados os procuradores responsáveis por 4 (!!!!) anos de escutas a Galamba. Mas pergunto… será só a Galamba? Que outras escutas estarão por aí escondidas à espera da altura oportuna para serem divulgadas?
    Quem mais terá sido escutado e por quanto tempo? Começa a emergir a possibilidade das escutas a Galamba se terem transformado numa operação de vigilância ao Governo. Não seria a 1ª vez.
    A corrupção no ministério publico é generalizada. Há poucos dias surgiu a notícia que um clube de futebol combinou com o mp e o juíz a data e hora para a realização de umas buscas. Trata-se de um procedimento criminoso. Reação do mp? Nenhuma! Os corruptos xungas até agora nada disseram.
    Nada respeitam nem se dão ao respeito.

  3. Raio de conversa de chacha.

    Toda esta canalha devia estar sob escuta permanente. Tudo, tudo o que fazem, tudo o que decidem em nosso nome, tudo o que legislam e adjudicam e nomeiam, cada obra e contrato e calote que contraem, tudo investigado e passado a pente fino. Especialmente a canalha do PS.

    O mesmo quanto ao que tinham antes, o que obtêm durante e o que obtêm após a política. Cada conta, cada casa, cada carro, cada bicicleta, cada triciclo, tudo explicado e publicado até ao último cêntimo. Deles e, de preferência, de todos os familiares deles até ao 3º grau.

    Não gostam? Não aceitam? Fácil: saiam da política. Deixem de chular o Estado e o contribuinte. Vão trabalhar. Se há coisa que nunca faltou foi políticos e candidatos a políticos. Passaremos muito bem sem todos os que desistirem. Mas serão investigados na mesma.

    Cinquenta anos de saque, corrupção, impunidade, bandalheira e bancarrota ainda não chegam? Que mais tem esta escumalha de fazer para ser tratada como merece?

  4. ” pode tar em direto mas eu sou líder do Chega e estou a falar .”

    o líder do partido dos interruptores a esbracejar pelos direitos dos interrompidos. parecia-me bem se não viesse dum paradoxo ortorrômbico.

  5. filipe bastos concordo em absoluto e talvez, genericamente.

    Devia ser tudo filmado e transmitido ao vivo e a cores. Mas atenção, estou a falar em todos os cargos públicos!!!

  6. Esse senhor que tem “vida profissional destruída” (cito), “começou [há uma semana] a colaborar como executive adviser (consultor) com uma startup portuguesa que fornece serviços de software a empresas do setor da energia. A [….] Enline Energy Solutions” (cito) e tem um programa semanal de comentário político na CNN. Coitado! por este andar vai acabar a pedir à porta do Pingo Doce, como sucedeu ao Miguel Relvas, à Maria de Lurdes Rodrigues, ao Rui Rio, ao Paulo Pedroso e a outras vítimas da PIDE – ou como aquele senhor de idade que há dias pedia “que a investigação à violação de segredo de justiça seja rápida e com consequências fortes”, esquecido que há 20 anos dizia que se estava “a cagar para o segredo de justiça” (cito).

  7. “Devia ser tudo filmado e transmitido ao vivo e a cores.”

    como naquele filme onde a tua mulher foi ao atelier do taveira pedir-he para subir as notas e descer as saias.

  8. felação premiada ao ministério público na caixa de comentários já há em alguns, não fazem a mínima ideia do que dizem e do que lhes pode calhar na rifa. estão felizes e papagueiam os desesperos do ventrulhismo que entrou em recessão em contraciclo com a ascensão mundial da extrema-direita, agora patrocinada pela ex-extrema esquerda. ficaram fodidos com o costa na presidência do conselho europeu e ainda não desistiram de o levar a tribunal para tentarem anular-lhe o mandato.

    * “Incapaz de o fixar nos olhos, Roberto notou que a mão de Arafat ia descendo lentamente sobre o seu peito, tocando-lhe sensívemente nos mamilos.” pág. 81

  9. “Parece que vou ter que pôr entre aspas “Ironia”…”

    costumo fazer isso quando cito outros

  10. Foda-se tá difícil.

    A ironia foi neste comentário: “filipe bastos concordo em absoluto e talvez, genericamente.

    Devia ser tudo filmado e transmitido ao vivo e a cores. Mas atenção, estou a falar em todos os cargos públicos!!!”

    Mas isso agora não interessa nada.

  11. que eu saiba, os deputados podem apresentar moções de censura, apreciar decretos leis e requerer ao Tribunal Constitucional a fiscalização da constitucionalidade e da legalidade de normas. por mim, por fazerem a ponta dum corno nestas questões, até parece que é nadinha com eles, ia tudo corrido a justa causa.

  12. Não posso admitir, imaginar sequer, que haja no meu país quem possa fazer o que quiser, quando quiser, como quiser, sem ter que dar satisfações a NINGUÉM.
    Absolutamente inimputáveis.
    Absolutamente intocáveis.

  13. “Não posso admitir, imaginar sequer, que haja no meu país quem possa fazer o que quiser, quando quiser, como quiser, sem ter que dar satisfações a NINGUÉM.
    Absolutamente inimputáveis.
    Absolutamente intocáveis.”

    Acredite, Fernando: chama-se classe política. Ou pulhítica. Se bem que não são completamente intocáveis: o Trafulha 44, o Vara, o Isaltino e uns poucos mais ainda foram bater à choça uns dias.

    Intocáveis, intocáveis são os DDT – os Salgados, Motas, Amorins e afins. E os mamões logo abaixo deles, os Mexias, Bavas, Arnauts, Xavieres, Proenças de Carvalho, etc. Quando o circo pega fogo andam uns tempos nas notícias, mas rapidamente são esquecidos pelos merdia e pela carneirada.

    São eles, por essa ordem, que mandam nisto: DDT, mamões, pulhíticos. E todos gozam com isto.

  14. “O congresso do SMMP teve o patrocínio do BES, BPI, Montepio, CGD, Império Bonança entre outras entidades.

    Entretanto, o presidente do SMMP, João Palma, considerou «desprezível» a reação «de algumas pessoas do PS» sobre os patrocinadores do congresso, realizado no passado fim de semana, indicando que os patrocínios de entidades bancárias em congressos na área da justiça não é nada de novo.”

    https://tvi.iol.pt/noticias/sociedade/videos/deve-um-banco-patrocinar-um-congressso-judicial

  15. Alguns pontos:
    – primeiro, o MP pode não executar violência física – mas utiliza todos os instrumentos ao seu alcance para usar violência psicológica
    – segundo, aos que defendem que deveriam haver mais escutas (e até vídeos) – se são realmente defensores disso, então que seja para TODOS, incluindo o próprio MP e todas as pessoas em geral. Se é isso realmente que as pessoas querem – que se crie a sociedade de Orwell em ABSOLUTAMENTE TODOS são constantemente vigiados.

    Como dúvido muito que realmente os Portugueses queiram que o MP saiba, onde vão ao talho, quais são as suas mazelas ou tenham registos detalhados da sua vida amorosa ou seus desgostos – então que se reveja todo este processo, porque o estado atual é que não: onde o MP escolhe eliminar quem quer nos media porque lhe apetece, usando meios ilegais e protegendo-se através de processos burocráticos kafkianos

  16. “Aos que defendem que deveriam haver mais escutas (e até vídeos) – se são realmente defensores disso, então que seja para TODOS, incluindo o próprio MP e todas as pessoas em geral.”

    Mais conversa de chacha.

    Quem deve ser escutado é quem tem PODER, também assim em maiúsculas, tá a ver? O poder, caso ainda não tenha ouvido, corrompe – e esta classe política, com poucas excepções, é toda corrupta. Mesmo as excepções são no mínimo coniventes com a corrupção e a bandalheira.

    Os magistrados, outra classe de chulecos sobrepagos, também têm poder; mas não da mesma forma que um PM, um ministro, um sec. Estado, um deputedo ou um autarca. Podem e devem ser escutados, investigados, o que fizer falta, mas só quando há alguma suspeita ou indício.

    Nos pulhíticos há sempre suspeita. Temos cinquenta anos, para não ir mais longe, de saque impune. Qualquer candidato tem de estar ciente que será investigado até às cuecas, e que tudo, tudo, tudo o que fizer será escutado, publicado e esmiuçado. E que responde com o lombo e a carteira.

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