A extrema dificuldade em se lutar contra os raciocínios motivados, os próprios, resulta de não termos essa motivação. É que todo o raciocínio é motivado, e tem de sê-lo para se poder constituir como uma acção pensante. Quão mais próximo estiver do instinto de sobrevivência, mais o raciocínio é apenas a racionalização da resposta instintiva, da motivação biológica. E a biologia nunca nos larga, só no último momento.
Para chegarmos à capacidade de trocar as nossas motivações egoístas por motivações altruístas, algo superior à biologia tem de estar presente, ser parte de nós. Que será?
tenho sorte , as motivações altruístas coincidem cm as egoístas ….foço qualquer coisa para me deixarem sossegada , se para isso é preciso afagar egos , ficar pra trás , na boa , orgulho não tenho nenhum -:) -:)
quando dizes, sai-te da boca.
quando escreves tens tempo para pensar e corrigir as asneiras.
portantes, vai-ta-foder.
ALTRUÍSMO…
— A interrogação de VALUPI continua a ser legítima e pertinente. Apenas chamo a atenção para a necessidade de recuar no tempo, pois encontramos o ‘altruísmo’ em espécies animais anteriores ao aparecimento do ser-humano. Assim sendo, «O que será?» é a pergunta que se terá de fazer nesse momento da filogenia da Vida.
MOTIVAÇÕES…
— “Todas as coisas estão sujeitas a interpretação. Qualquer interpretação que prevaleça num dado momento é função do poder e não da verdade” (Friedrich Nietzsche)
— “O historicismo confundiu erradamente «interpretações» com «teorias». É possível, por exemplo, interpretar a História como a «história da luta de classes», ou como a «história da luta pela supremacia», ou como a «história da luta pelo progresso científico e industrial». Todos estes pontos-de-vista são mais ou menos interessantes, e perfeitamente plausíveis. Mas os historicistas não os apresentam como tal; não aceitam que existem necessariamente uma pluralidade de interpretações equivalentes. Em vez disso, apresentam-nas como doutrinas ou teorias, afirmando que toda a História, por exemplo, é a «história da luta de classes», ou da «luta pela supremacia”, ou do «progresso científico e industrial», etc.. Os historiadores clássicos que se opõem, com razão, a este processo, acabam por cair noutro erro. Pois, nesse desejo de serem «objetivos e imparciais», e de evitarem qualquer ponto-de-vista seletivo, como isso é impossível, acabam por adoptar também pontos-de-vista sem se aperceberem de que o estão a fazer.” (Karl Popper, 1956, “A miséria do Historicismo”, in Paul Veyne “Como se escreve a História”, col. Points, Seuil, Paris, pp.148-150).
que será que faz com que algumas pessoas se rejeitem em sua completude? que será?
“Para chegarmos à capacidade de trocar as nossas motivações egoístas por motivações altruístas, algo superior à biologia tem de estar presente, ser parte de nós.”
Não necessariamente, ou pelo menos não inteiramente. Se o (aparente) altruísmo beneficiar o grupo pode ser outro mecanismo de sobrevivência: o que é bom para o grupo é bom para mim.
Como motivar as pessoas a ser altruístas, a cooperar em vez de competir, a privilegiar o bem comum em vez de encher capitalistas e mamões? Fazendo-as ver que é melhor para todos e, por isso mesmo, melhor para elas. Orientando-as e (re)educando-as. Mas só funciona se tudo for coerente.
É preciso formar cidadãos em vez de carneiros, democratizar a economia e a sociedade, limitar a riqueza e o lucro, colectivizar recursos e serviços essenciais, desincentivar e punir abusadores. De contrário, o egoísmo e as tentações continuarão a vencer o altruísmo e a racionalidade.
Altruísmo e Egoísmo são a mesma coisa perspectivada por interesses opostos.
Cooperar e Competir não se excluem, nem são sempre necessariamente adaptativos e garantes da sobrevivência do grupo e do indivíduo.
O que é bom para o grupo não é automaticamente bom para o indivíduo.
Capitalismo é uma evolução em relação ao nomadismo caçador-recolector. Acumular recursos e energia para gastar naquilo que se escolhe como sendo relevante para a sobrevivência, em vez de repetir todos os dias o mesmo, sem conseguir um aumento de energia e recursos, é mais evoluído do que a inexistência de Capitalismo. O problema não está no Capitalismo. O problema está na distribuição da riqueza acumulada.
A racionalidade é o interesse de uma época, de uma mentalidade, de um tipo de poder, de uma religião, e de uma ideologia.
Tudo o que é conseguido pela competição pode ser superado pela cooperação. Aliás, até a competição depende da cooperação: cada país, empresa ou equipa requer o trabalho conjunto de muitos. Basta alargar o âmbito dessa colaboração até beneficiar o máximo possível de pessoas.
Só no desporto faz sentido manter a competição: um passatempo, uma curiosidade, um escape dos nossos instintos primitivos. (Mas jamais deve ser remunerado como agora; os salários no topo do desporto e entretenimento em geral são obscenos, absurdos e contraproducentes.)
Tudo o resto deve ser cooperação. Definir prioridades e alcançar objectivos conjuntos. Isso é que é racional. O capitalismo pode ter sido uma evolução, mas passou do prazo há séculos. Mantê-lo hoje é tão insano quanto a monarquia 2.0 a que chamamos “democracia”. As decisões devem ser tomadas por todos e devem beneficiar todos. Tudo o resto não é evolução. Nem democracia.
e isso mesmo , se toda a gente estiver contente as hipóteses de eu o estar e estar em paz são muito mais muito maiores .
de aí um estado que impeça que alguém se aproprie indecentemente do que é de todos seja o único necessário. foi pela mão dos “democratas” que as corporações se tornaram as donas do mundo.
FILIPE MORTÁGUA BASTOS
1 – COMPETIÇÃO?
«Competição e Cooperação» são partes indissociáveis do comportamento humano (até, anterior à espécie ‘homo sapiens’). Tal como «Egoísmo e Altruísmo», tal como «Indivíduo e Sociedade», tal como «Esquerda e Direita», tal como «Mal e Bem», «Certo e Errado», «Verdade e Mentira», «Sim e Não», e assim sucessivamente todos os dualismos isomorficamente inversos e opositivos.
— A razão é óbvia: a natureza e o mundo não são duas partes opositivas, inversas, em permanente conflito. Essa ideologia (interpretação) é o resultado do limite cognitivo, sensorial e perceptivo da actual espécie humana, que toma ‘numena’ como se fosse ‘fenomena’.
— O teorema que demonstra esse limite e essa incapacidade humana, em palavras comuns (para não utilizar aqui os signos matemáticos) diz o seguinte:
— Se todas as coisas (e o seu inverso) são estados excitados do ‘Mesmo’ (na Física diz-se, “estados excitados de um campo”). Se esses ‘estados excitados’ é aquilo a que chamamos ‘Diferenças’ (partes, coisas, objectos, formas, heterónimos, mundo, comportamentos, etc.). Então, todas as coisas e o seu inverso são o ‘Mesmo’, sendo as ‘Diferenças’ apenas expressões de escalas diferentes.
— Assim sendo, todas as respostas (e perguntas) possíveis são proporcionais (tanto no percurso da expansão, +, como no da contração, -). Logo, a resposta que quebra o limite dualista, inverso e opositivo na descrição do mundo e das coisas é a PROPORÇÃO. Assim, a resposta não é nunca um lado ou o outro, é a proporção dessas duas coisas.
— Um dos corolários deste teorema é, de que a simetria, as oposições, o isomorfismo (inclusive aquilo a que chamamos ‘racionalidade’) são casos particulares da proporcionalidade.
2 – DESPORTO?
A ignorância da Mortágua quanto à realidade histórica e antropológica é idêntica à de quem afirma que “o desporto é um passatempo, uma curiosidade, um escape dos nossos instintos primitivos”.
O Desporto é a instituição humana, exactamente inventada (há mais de 3000 anos) para ensinar a encontrar uma proporcionalidade entre «Competição e Cooperação» no viver humano em sociedade. Afirmar que o Desporto é aquilo que Filipe Bastos afirma é simplesmente um acto de ignorância.
Não há aqui espaço para nos alongarmos na demonstração dessa evidência. Por isso, escolho apenas um autor, Pedro Manuel-Cardoso. Que talvez seja em Portugal o que mais aprofundou o estudo do Desporto nessa sua relação entre competição e cooperação.
— O texto seminal, onde pela primeira vez apresentou publicamente esse resultado da sua investigação histórica e antropológica, ocorreu em 2003, na palestra que proferiu na XVI.ª Sessão da Academia Olímpica de Portugal, no Centro Cultural Raiano de Idanha-a-Nova, sob o título, “Os Jogos Olímpicos da Antiguidade na génese do conceito moderno de Desporto“. Escreveu, Pedro Manuel-Cardoso: “O Desporto é um modo de agir que usa o corpo e o jogo para realizar uma ética”.
— “O Desporto, enquanto instituição social criada pela «espécie humana» serve para se definirem os limites socialmente permitidos para os comportamentos humanos, no contexto de uma relação de competição (isto é, o sucessivo «ganhar e perder» de que é feita a vida real e quotidiana). É fácil constactar que, ao invés do que ocorre no «Desporto», o que ocorre na vida real e quotidiana são as imensas guerras, mortandades, e conflitos que o ser-humano pratica”.
— «O que define e distingue o Desporto» é o facto de fornecer um comentário meta-social. E, depois, induzir toda a vida colectiva a aceitar essa prescrição. A sua função é cognitiva, pedagógica e reguladora. Muito mais do que de “rendimento”, de “exercício físico”, de “saúde”, de “divertimento”, de “jogo”, ou de “alcançar marcas e resultados”, como vulgarmente é afirmado. O «Desporto» é uma história que os humanos contam a si próprios sobre si próprios. Uma maneira de representarem para si próprios (simbólica e publicamente) a agressão e a rivalidade que subjazem ao viver coletivo. Portanto, não se trata da “busca de excitação” (como disse N.Elias), ou de uma “motricidade” (como dizem muitos outros), ou de um “tipo de atividade física ou modalidade corpórea” (como dizem outros). Trata-se de resolver o sucessivo processo do «ganhar e perder» (interior e exterior), e da regulação das suas consequências em relação à vida real. Trata-se de uma forma de incutir uma ética e uma moral, capaz de determinarem os limites socialmente permitidos para os comportamentos individuais e colectivos de competição.
— “Como ensinar a espécie humana a regular e controlar os efeitos destrutivos dessa relação agressiva inerente à competição? Incluindo, a nível individual, internamente, o mesmo dualismo antagónico entre «aquilo que o ser-humano é» e «aquilo que deseja ser», expresso na evolução dos resultados ou marcas que se propõe vir a alcançar? É aqui que radica o valor do Desporto. O de ser uma instituição social que mimetiza e simula o confronto e a competição (que ocorrem no dualismo antagónico intrínseco à condição humana, a nível individual e social), para desse uso (mimetismo, simulação) ser capaz de o regular e controlar (que alguns designam por “educar”).
— “O Desporto é uma instituição humana encarregue de melhorar a regulação dos comportamentos humanos de competição e agressividade. Que foram herdados filogeneticamente, e que provocam graves danos à possibilidade de uma vida em sociedade. Este USO que o Desporto faz na utilização dos corpos (dos objectos, comportamentos, jogos, equipamentos, etc., que utiliza) é aquilo que o define. E esse USO foi um acontecimento novo, nas sociedades humanas, ocorrido explicitamente em 776 a.C., no Peloponeso. Ao longo do percurso histórico das sociedades humanas esse USO manteve-se, apesar de se terem mudado os objetos, os equipamentos, os espaços, os modos, e as modalidades de o praticar. Logo, tanto faz de o que são feitas as coisas de que se serve. Não são essas coisas-objectos-modalidades de que se serve, que definem o objetivo regulatório (“educativo”) que persegue. Essas coisas podem ser substituídas, consoante as épocas e as mentalidades, sem afectarem «aquilo que o Desporto é».
— “No Desporto, ao contrário da vida real (por exemplo, na guerra, na economia, ou individualmente num qualquer desafio inter-relacional quotidiano), não se mata ou destrói o adversário (competidor). Pois, no Desporto, no reinício de todas as sucessivas competições, independentemente dos resultados obtidos anteriormente, sejam quais forem (ou tenham sido) os adversários (interiores ou exteriores), é obrigatório voltar a competir em igualdade (novamente a partir do ‘0-0’, do mesmo lugar de partida, com a mesma motivação apesar da vitória ou da derrota, de a marca ter sido alcançada ou não). Acresce, que, no DESPORTO, além dessa obrigatoriedade de «IGUALITARIZAÇÃO», é ainda obrigatória uma «INSTITUCIONALIZAÇÃO». Concretamente, a institucionalização dos limites permitidos socialmente no confronto e na competição (com os outros, e consigo próprio). Através de regulamentos consensualizados e decididos socialmente, onde se estabelecem as regras e a sua arbitragem.
— “Este processo de evolução, para o qual o Desporto contribui, é essencial para construir um viver humano em sociedade cada vez mais livre do «condicionamento genético e filogenético» que a competição e a agressividade provocam. E cada vez mais livre das consequências nefastas da competição e da rivalidade. Fazer este USO (a que chamamos ‘desporto’) com determinados corpos e objetos, ou com outros mais electrónicos, é exatamente o mesmo para a finalidade do Desporto, e para aquilo que ele é”.
“O Desporto é a instituição humana, exactamente inventada (há mais de 3000 anos) para ensinar a encontrar uma proporcionalidade entre «Competição e Cooperação» no viver humano em sociedade.”
[60 linhas depois…]
“Este processo de evolução, para o qual o Desporto contribui, é essencial para construir um viver humano em sociedade cada vez mais livre do «condicionamento genético e filogenético» que a competição e a agressividade provocam.”
Ou seja: um escape dos nossos instintos primitivos. Como constatei acima. E não só para quem o pratica: que seria dos símios das claques se não tivessem clubes e estádios? Andavam por aí a partir cabeças aos cidadãos comuns, o que seria mau para a ‘paz pública’ e para o sagrado PIB.
O IMPRONUNCIÁVEL deve ser daquelas pessoas que quando fala com alguém prefacia todas as respostas com “Não!”, dizendo em seguida +- o mesmo que o seu interlocutor, apenas por mais palavras. Um misto de espírito do contra, ‘last-word freak’ e pedantismo ‘eu é que sei’.
Competição e cooperação podem realmente coexistir, tem razão, desde que a competição seja produtiva e saudável. Não há mal em várias equipas competirem para chegar primeiro a uma solução, uma tecnologia, uma vacina ou outra coisa útil. O problema é quando se torna uma obsessão, uma feira de vaidades e uma fonte de desigualdade. Estamos viciados em competição doentia e inútil.
O ‘comportamento humano’, como a célebre ‘natureza humana’ cujas costas largas servem de desculpa a tanta coisa, é o que nós quisermos que seja. Algumas mudanças levam mais tempo, outras menos, mas nada é imutável. Após pouco ou muito tempo, tornar-se-ão a nossa nova ‘natureza’.
Filipe, pensa um pouco.
Se fosse ‘escape’ nunca seria um processo regulatório e pedagógico.
Aliás, é essa diferença que torna o ‘Desporto’ uma instituição.
bamos lá ver , estão a discutir o desporto como se estivessem no inicio do século xx …hoje em dia , o desporto , é uma indústria , nomeadamente a bola , promovida pelos merdia à força toda . o desporto das massas é um produto da pub para mantê-la entretida e ganhar uns valentes tostões.
Não é ser por ser uma ‘indústria’, ou um ‘circo romano’, ou ‘uma ludicidade expressa em jogos tradicionais’, ou ‘um espectáculo de inculcação do ideal cavalheiresco e do desígnio absolutista das monarquias na Idade Média’, ou um ‘instrumento político do rendimento e da produção na revolução industrial no séc. XIX’, ou um ‘instrumento da ideologia salugénica e da tonteria da atividade física no início do séc. XXI’, ou ‘ter passado a usar objectos quânticos no contexto electrónico dos eSports’, etc. … que é Desporto.
Isso são tudo objectos, modalidades e meios através dos quais, em cada época histórica, o Desporto se expressa e se adapta ao contexto e à conjuntura do viver humano.
Tanto no «regime do Estado Novo» como no «regime do Abrilista» (como constatamos) está presente com a mesma função.
O Desporto é uma instituição social de regulação dos limites para a porção de agressividade permitida socialmente para as relações de confronto e competição.
Não é uma descarga de nada, nem um divertimento, nem um meio de adquirir saúde, etc., no objectivo que institui e persegue. Isso são máscaras que usa para cumprir o seu desígnio em cada época. E, como Instituição, ao conseguir introduzir uma relação de igualitarização entre as partes em contenda (i.e., nas sucessivas competições, os competidores são obrigados a partir do ‘zero’, independente dos resultados obtidos anteriormente), torna-se num processo imprescindível à regulação social da violência no contexto das relações de competição. E a disputa entre facções de ideologias diferentes, visões-do-mundo dispares, ideias e opiniões opostas, etc., são fenómenos também de competição, abrangidos pela educação pedagógica e reguladora do Desporto.
Ah sim, IMP, o surf, o padke , a asa delta , o golfe,, o ciclismo etc são isso mesmo -:) -:)
confunde desporto com competição desportiva. umas coisa é o desporto , que cada um pratica com o seu pessoal objectivo , desde a forma física a amar estar dentro de um elemento como o mar até por puro divertimento ; outra são as competições desportivas , cujo objectivo hoje , no desporto profissional , é money.
Sim , Yo, todas as modalidades de praticar o Desporto estão presas ao processo de Institucionalização (definição de regras para os limites da agressividade e violência usadas na competição) e à Igualitarização (impedimento de um resultado influenciar os actos competitivos seguintes).
As práticas físicas (motricidade biomecânica) e os objectos e espaços-tempos usados pelo Desporto não são aquilo que o definem e especificam enquanto criação humana, inexistente nas outras espécies de vida.
(Cont.)
Sim, Yo, todas as modalidades de praticar o Desporto estão presas ao processo de Institucionalização (definição de regras para os limites da agressividade e violência usadas na competição) e à Igualitarização (impedimento de um resultado influenciar os actos competitivos seguintes). As práticas físicas (motricidade biomecânica) e os objectos e espaços-tempos usados pelo Desporto não são aquilo que o definem e especificam enquanto criação humana, inexistente nas outras espécies de vida.
— “Vários (a/o/x) Colegas pediram para que, novamente, nos reuníssemos num debate sobre a “definição de Desporto” que propusemos. Comparando-a com as que são adoptadas nos atuais programas curriculares de Desporto das universidades e institutos universitários de Algarve, Coimbra, Lisboa e Porto.
No dia 28 de agosto de 2023, no Museu do Ser-Humano, às 20h30, reunimo-nos mais uma vez, para voltar a aprofundar e actualizar essa questão.
Adiante, partilho o texto da ‘definição de Desporto’ que utilizei nessa discussão e debate:
— “As cerimónias e eventos desportivos (que, a partir de uma certa época recente na história humana, apesar de se manterem a mesma ‘coisa nomeada’, passaram a ser denominados pela palavra ‘Desporto’) são uma resposta cognitiva e comportamental – individual e coletiva – aos desafios de um contexto social mais complexo. Sobretudo, o ocorrido após o Neolítico (sedentarização, acumulação de excedentes, urbanização, aumento da conflitualidade derivada da compressão multiétnica e multicultural) [nota1]. Ou, quiçá, talvez até tivessem surgido antes, acompanhando o próprio processo de especiação que originou a atual espécie humana. Já que, qualquer sistema social de seres pluricelulares necessita de um sub-sistema de regulação coletiva dos comportamentos individuais. O ‘nome’ nunca é equivalente à ‘coisa nomeada’, a qual continua a sua função e necessidade adaptativa independentemente da variação dos ‘nomes’ que durante as várias épocas histórias lhe são atribuídos. Era o mesmo de dizer que o aparecimento da palavra “Vida” equivalia ao momento que ela apareceu na natureza.
— “As cerimónias e eventos desportivos (‘Desporto’) ocorreram independentemente, e em simultâneo, em lugares geograficamente descontínuos (China, India, Mesopotâmia, Grécia, Culturas Ameríndias, etc.). Portanto, numa época em que não há possibilidade de serem explicados pelo contacto e troca cultural. E que, por isso, obrigam a serem considerados como o resultado de um certo nível de complexificação social ocorrida em simultâneo em diferentes sociedades humanas, em estreita conexão com o processo da evolução filogenética [nota2] comum ao ‘sistema-Vida’ [nota3]. Isto é, não pode ser explicado pelo processo difusionista de troca e miscigenação cultural, que tenta definir um sítio de origem do qual todas as outras manifestações do comportamento são originárias. Esse tipo de explicação difusionista obriga, inevitavelmente, a um diferencial de tempo entre a primeira ocorrência e a sucessiva expansão dos fenómenos, facto que, neste caso dos eventos e cerimónias desportivas, é negado pela evidência etnográfica da sua simultaneidade na mesma época em sítios e lugares demasiado distantes. Era o mesmo de dizer que a floração de toda uma floresta tinha origem numa planta que contagiava uma por uma todas as outras. Esse tipo de explicação difusionista não é o adequado para explicar o aparecimento do ‘Desporto’ “;
— “O estudo comparado da etnografia mostra que o ‘Desporto’ se constituiu num instrumento decisivo para a regulação social dos comportamentos humanos de rivalidade e competição, no contexto de uma gradual desprogramação dos processos de regulação naturais (no sentido referido por E. Mayr, et alli). Assim sendo, o Desporto é um caso particular de um processo de regulação do sistema-Vida ocorrido na fase humana da evolução filogenética.”;
— “Aliás, uma função que a etnografia há muito (desde as primeiras sociedades humanas, e obviamente também fora do território europeu) já indicara. Por exemplo, na obra de Clifford Geertz, ao mostrar que “os ritos, as cerimónias e os espectáculos organizados pela Sociedade… são a própria Sociedade” (Clifford Geertz, 1980, “Negara: The theatre State in Nineteenth-Century Bali”, 1980, Princeton University Press). A descrição etnográfica dos espectáculos institucionalizados da «luta de galos» no Bali (Clifford Geertz, 1972, “Deep Play: Notes on the Balinese Cockfight”, novamente publicado em “The Interpretation of Cultures: Selected Essays”, 1973, Basic Books, New York), de facto, mostra que se tornam uma forma social de educação, no sentido de que ensinam as emoções e as reações que todos (espectadores, organizadores, e actores das práticas) devem manifestar na sociedade e na vida real quotidiana. Isto é, em termos gerais da imputação de uma ética e de uma moral, que uma determinada sociedade postula para os comportamentos individuais e colectivos. Neste sentido, o Desporto seria «um texto para ser lido pela sociedade»;
— “Ou seja, neste sentido de Geertz, o que coloca o Desporto à parte da vida normal-real é o facto de fornecer um comentário meta-social. E, depois, induzir toda a vida colectiva a aceitar essa prescrição. A sua função é cognitiva, pedagógica e reguladora; muito mais do que de “rendimento” ou de “resultados”. O Desporto seria uma história que os humanos contam a si próprios sobre si próprios. Uma maneira de representarem para si próprios (simbólica e publicamente) a agressão e a rivalidade que subjaz ao viver colectivo. Portanto, não se trata da “busca de excitação” (como disse N.Elias), ou de uma “motricidade” (como disseram outros), ou de um “tipo de actividade física ou modalidade corpórea” (como dizem muitos). Trata-se de resolver o sucessivo processo do «ganhar e perder» e das suas consequências, presente na vida real. Trata-se de uma forma de incutir uma ética e uma moral capaz de determinar os limites socialmente permitidos para os comportamentos individuais e colectivos.”;
— “Porém, de modo diferente do que propõe Geertz e o Interpretativismo (e o Relativismo Cultural em ciências sociais e humanas), falta explicar esse comportamento do ser-humano. Esse comportamento, de o ser-humano «ler a realidade como se fosse um texto», e essa sua capacidade de representar a realidade e de a codificar a um meta-nível, tal que toma a representação como se fosse a realidade (e, de usar desse modo o Desporto), não se explica a si própria. Essa capacidade simbólica e linguística (semiótica), que lhe dá uma habilidade de plurissignificação e polissemia (e que, em termos evolutivos, aumenta a Variação, e permite mais possibilidades à Adaptação e Seleção) é uma habilidade somente explicável por um funcionamento no seio das leis naturais que antecedem o ser-humano. Explica-se e compreende-se, por exemplo, desde que seja contextualizada no seio do “Modelo do Comportamento Humano” formulado em 2007 por Pedro Manuel-Cardoso. E que, aliás, está subjacente ao «Projecto de Museu Nacional de Desporto» apresentado publicamente em 23 dezembro 2008, e sujeito até a concurso internacional de implementação (ver Diário da República, II.ª série, Parte L, Anúncio de Concurso n.º 273/2009, de 20 de maio; e vídeo da cerimónia pública de apresentação no Parque Eduardo VII em Lisboa, junto ao Pavilhão Carlos Lopes). Esse uso do Desporto para a regulação social nas sociedades humanas não se explica a si mesmo, necessita de ser explicado por um fenómeno de regulação social que antecede a lógica humana, conectado à história da filogenia. É esta inovação e este avanço que marca o contributo desta definição de Desporto em relação às que a antecederam.”;
— “Em 884 a.C. e 776 a.C., no Peloponeso, mais visível na regulação dos comportamentos agonísticos de competição e rivalidade [notas 4 5]. Mas nada impede que não possa abranger também outros, pois o comportamento humano inclui uma simultaneidade de motivações (que R. Cailois em 1958, em “Os jogos e os homens”, afirmou serem de seis tipos: “agon, ludus, paidea, mimicry, alea, ilinix”) que vivem em proporções diferentes no seio de cada acto-acção, e que não são apenas propriedade dos comportamentos de jogo ou de desporto. E que jamais podem ser separadas e tomadas isoladamente pela causa-efeito dos comportamentos humanos, como várias teorias explicativas propõem (sobretudo as que se baseiam num pretenso momento originário iniciado com o «jogo»; ou na ‘procura de excitação’; ou, as que pretendem traçar um percurso evolucionista desde as «ginásticas e dos exercícios físicos»», ou das «formas das modalidades da prática corporal», ou das «festividades» … até ao ‘desporto’). Deste modo, qualquer relação de causa-efeito usada para explicar o comportamento desportivo não poderá utilizar apenas uma dessas seis motivações. Será forçoso, a nível científico, ter de usar um ‘perfil de proporção’ e uma ‘matriz’ com a simultaneidade dessas seis motivações. Deste modo, mais do que a tradicional perspectiva de R. Cailois, será obrigatório contextualizar os fenómenos de play, jogo e desporto no seio da “Carta da Performance Humana” publicada na obra de Richard Schechner (“Performance Theory”, 1988, Routledge, New York and London), e na “Classificação dos Jogos” publicada na obra de Victor Turner (1987, “The Anthropology of Performance”, PAJ Publications, New York).”;
— “A observação empírica desses eventos e cerimónias desportivas mostra que herdaram as técnicas de conservação e regulação baseadas na ‘simetria’, e na projeção e representação de estruturas «inversas, opositivas, isomorficamente simétricas». Que também se podem observar nos fenómenos rituais (anteriores à espécie humana) e nas festividades cíclicas das sociedades humanas tradicionais [nota6]. Esse processo de regulação, porém, é muito mais antigo na história filogenética da Vida; e até mesmo, a nível da organização da matéria na Física. Para um estudo aprofundado deste fenómeno da ‘simetria’ (presente também no modo de organizar os eventos e cerimónias desportivas) é necessário consultar, a nível lógico, o teorema de E. Noether e a teoria de S. Lie [nota7].”;
— “Aquilo que especifica e distingue o ‘Desporto’ é baseado na simultaneidade de dois comportamentos principais, cuja evidência pode ser constatada a nível empírico. Por um lado, os comportamentos individuais e coletivos são submetidos a uma arbitragem, a regras, e a regulamentos consensualizados e decididos coletivamente. Por outro lado, ao contrário do que sucede na maioria dos casos na vida real, constata-se que são sujeitos à obrigação de uma paridade e de uma igualdade no reinício dos sucessivos actos de repetição dos comportamentos escolhidos, independentemente dos resultados alcançados nas repetições anteriores. Esta dupla operação, de institucionalização e de igualitarização, constitui o processo usado pelo Desporto para regular socialmente os comportamentos. A institucionalização permite (a cada sociedade e em cada diferente época histórica) definir os limites permitidos socialmente aos comportamentos (independentemente da variação e diferença nos objetos, equipamentos, modalidades, e espaços utilizados na prática desportiva). E a igualitarização, para além de obrigar a uma igualdade nos sucessivos reinícios e repetições, opera também uma equivalência entre a ‘representação’ e os ‘comportamentos reais’ (‘como se’ = ‘é’). De tal modo que o resultado final dos eventos desportivos, no que se refere à regulação social individual e coletiva, é conseguir determinar para cada sociedade os limites (isto é, definir o intervalo entre ‘o mais’ e ‘o menos’ permitidos para os comportamentos). Ou seja, definir uma determinada ética no relacionamento humano de competição, antagonismo e rivalidade, no contexto de uma operação de simulação e simulacro em que a representação é tida ‘como se’ fosse equivalente aos eventos que ocorrem no contexto real. Razão pela qual o Desporto permite que a regulação possa incidir não apenas sobre os resultados tidos por «ganhar», mas também sobre os de «perder» ou «empatar». Isto é, não apenas determinar os conceitos de ‘vitória’ e ‘derrota’, como, sobretudo, criar uma forma de os compatibilizar, impedindo que rompam a estabilidade social.”;
— “Esta criação de uma espécie de duplo da realidade (no sentido referido por H. Plessner, et alli), que o Desporto consegue forjar para os comportamentos humanos de competição e rivalidade, a partir do qual a sociedade humana se consegue ver-ler de fora, é uma exterioridade através da qual ela consegue gerir aquilo que é e faz a um nível lógico e de complexidade superior. Esse ‘duplo’ (essa projeção e representação do real) não tem nada de misterioso ou místico, pois, é uma expressão de um fenómeno que ocorre a nível bioquímico, concretamente, o processo de autocatálise (moléculas com a propriedade de fazerem cópias de si mesmas) presente nos sistemas vivos 3. É esta característica e este processo que o Desporto inaugura na evolução dos processos de regulação. Essa dupla operação constitutiva do Desporto foi por nós formulada e descrita em 15 de abril de 2003 na XVI.ª Sessão Anual Academia Olímpica de Portugal, ocorrida no Centro Cultural Raiano na Idanha-a-Nova, na conferência intitulada “Os Jogos Olímpicos da Antiguidade, na génese do conceito moderno de Desporto.”;
— “O Desporto implica, assim, sempre o Social; pois, a arbitragem e os regulamentos são uma intervenção que age sobre o comportamento individual, independentemente do seu arbítrio, rendimento, resultado, marca, manipulação ou reação. O Desporto ao se constituir como uma regulação – intencional, consciente, e exterior aos determinismos herdados –, simultaneamente dos níveis individual e social, passa a interferir e a ocupar um nível de complexidade acima desses dois níveis no sistema filogenético e epigenético da Vida (i.e., de aquilo que atualmente a ciência designa e define por “Vida”). O Desporto, assim, está num nível lógico e de complexidade acima da corporeidade, da motricidade biomecânica, do funcionamento fisiológico, das aptidões e habilidades motoras, das formas e modalidades das práticas, dos exercícios e atividades físicas exteriorizadas, dos jogos, etc.. Neste sentido, é um erro considerar que o Desporto é «uma motricidade humana», ou «uma espécie de motricidade conjunta do espírito e do corpo baseada na biomecânica motriz, cuja ética é a superação individual através do rendimento atlético, ou então, da finalidade “altius, citius, fortius”. Um erro conceptual e histórico que provoca a ilusão empírica de se confundir ‘corpo’, ‘atividade física’ e ‘aptidão física’ com ‘Desporto’. Pois, não pode ser definido por aquilo que não é, nem pelo lugar onde não está.”;
— “A usual afirmação de que ‘o Desporto é um fenómeno complexo’ (a propalada ‘complexidade do Desporto’), só é possível começar a ser discernida e dominada pelo conhecimento científico quando for formulado um ‘modelo’ que ajude a relacionar as variáveis que provocam essa ‘complexidade’. E, do ponto de vista epistemológico, esse trabalho só é possível com a mudança no paradigma epistemológico vigente, baseado na fragmentação e isolamento dessas variáveis e dessas disciplinas científicas. Ou seja, acabar com o isolamento e a desconexão científica entre os níveis físico-químico-biológico-social-cultural. Substituindo esse paradigma epistemológico por outro, por exemplo, semelhante ao que Albert Ogien propôs (“relier de façon plausible les descriptions des mécanismes biochimiques et les procédures d’attribuition de signification.”, 2011). Essa ‘complexidade do Desporto’, só nesse contexto será possível ser compreendida e discernida; e poderá deixar de ser uma tautologia (uma coisa vaga e misturada, cuja explicação é afirmar essa vacuidade e mistura). Essa mudança não é uma questão meramente teórica, é uma obrigação que decorre do método científico, por os avanços atuais mostrarem que a natureza e os fenómenos não funcionam empiricamente desse modo fragmentado. O melhor exemplo desta mudança, entre outros, talvez seja a mudança do anterior conceito de “genética” para o atual conceito de “epigenética.”;
— “O que subjaz a toda e qualquer ‘definição de Desporto’, e serve de modelo de referência à sua descrição e compreensão científica, é inevitavelmente a explicitação do modo como se entende aquilo que é o comportamento humano. É por essa razão que sujeitámos a definição de Desporto a essa explicitação. É com este objetivo que o ‘modelo do comportamento humano’ que propusemos em 2007, e actualizado em 2020 e 2022, tenta substituir o atual status quo académico (no sentido referido por I.Lakatos). E substituir a enorme inércia que ainda subsiste nos “programas” de ensino e formação em Desporto nas principais universidades portuguesas (basta clicar através da internet, e constatar as narrativas, os autores e a organização dos ‘planos de estudos’). Essa proposta, publicada no livro editado em 2020 [notas 8 9], inaugura esse novo modo de discernir cientificamente essa ‘complexidade do Desporto’. Assim, por exemplo, qualquer projeto de musealização ou patrimonização do Desporto (por ex., um ‘museu nacional de desporto’) não poderá deixar de considerar, no modelo que usa para apresentar, expor e comunicar ‘aquilo que é o Desporto’, as seguintes cinco variáveis independentes: «Corpo (e objetos usados para fazer desporto) – Cognição – Comportamento (atividade física / jogo) – Desporto (regulação social/ ética/ institucionalização, e regulamentação) – Escolha da Relevância (memória / património)»”. Do que resulta, que nenhuma ‘definição de Desporto’, credível a nível científico, possa excluir e não descrever esse processo de conexão químico-biológico-social-cultural entre essas cinco variáveis.”.
(Pedro Manuel-Cardoso, in “Definição de Desporto”, 28 agosto 2023)
Não consigo ler isso, muita palha. Só leio resumos com umas doze linhas. Se fosse meu aluno estava chumbado, só as respostas curtas são certas, se é preciso explicar muito não passam de exercícios académicos e competições internacionais pares de quem não tem físico para desportos mais duros.
Competições inter pares, não internacionais. O corretor é doido.
Yo, faz mal. Respostas curtas são ideologias. São comprimidos para alienar (‘ensinar’) o rebanho numa certeza a priori. Essa, aliás, é a função dos ‘professores’ (padres, pregadores, ideólogos, censores, guardiães da verdade, etc.).
A Yo confunde três coisas: «Objecto», «Uso» e «Finalidade/valor/significado».
O Desporto é um determinado «uso» que se dá a um «objecto» com uma determinada «finalidade».
Por exemplo, podemos «jogar à bola» (ou fazer surf, ou utilizar uma faca, etc.) com os amigos a brincar, podemos jogar à bola com os amigos num jogo competitivo ao fim-de-semana ou na praia, podemos usar a bola numa sala de aula num ginásio para exercitar o corpo. Todos esses «usos» utilizam a bola, mas são completamente diferentes do «uso» e da «finalidade» às quais damos o nome de «Desporto».
Numa frase curta, há quatro recipientes para colocarmos o «uso»:
Corpo (e cognição/decisão) — Actividade Física — Jogo — Desporto.
Não é por ser surf, futebol, ou outra modalidade diferente, que é ou deixa de ser «Desporto».
Tal como, com uma faca, a posso usar para tirar minhocas do canteiro das flores, comer um bife, ou esfaquear uma pessoa.
EM SUMA, este debate remete-nos para a definição de «o que é um Comportamento».
E a resposta talvez seja a seguinte: … “Gestus est motus et figuratio membrorum corporis, ad omnem agendi et habendi modum” [“O Comportamento (gestus) é um movimento (motus) com uma determinada forma (figuratio) que procura um efeito-resultado (agendi, acção) e um valor (habendi, atitude)]”. [Hugues de Saint-Victor, 1141, “De institutione novitiorum. De virtute orandi. De laude caritatis. De arrha animae”]
bom , podemos pegar no sexo , que também usa corpo
1 para reprodução
2 por puro prazer
3 para venda e às vezes , suponho, que com desgosto.
ora , o que digo é que hoje desporto profissional é para venda , mais finalidade nenhuma cabe nele , ainda que possam gozar a jogar , isso é secundário.
Yo, ser ‘profissional’ ou ser ‘amador’ não altera aquilo que é o Desporto.
O que distingue o Desporto é o «uso» e a «finalidade» que a cognição humana escolhe.
O corpo (e as coisas, instrumentos, objectos, equipamentos que o corpo utiliza) não se alteram por terem «usos» diferentes e serem postas ao serviço de diferentes «finalidades».
O Desporto, assim sendo, é diferente da «motricidade biomecânica», diferente da «actividade física», diferente das «ginásticas e exercícios físicos», diferente dos «jogos».
É essa diferença que a Yo não considerou, na sua compreensão de aquilo que o Desporto é.
eu sei o que é o desporto…é um jogo que exige preparação.
e nessa definição entra qualquer tipo de desporto , desde a pesca desportiva à sueca -:) mais abrangente não há -:)
Yo, não há “tipos de Desporto”. O Desporto não se subdivide em ‘tipos’.
A pesca é um diferente «uso» e uma diferente «finalidade» consoante é feita no contexto de «um exercício de motricidade biomecânica», de «um passatempo lúdico», ou de «uma competição sujeita a regras escritas estipuladas em regulamentos consensualizados socialmente por federações desportivas, e a uma arbitragem independente».
A pesca é a mesma, só que só num caso é «Desporto», nos outros casos não é.
tal e qual como a corrida , o arco , o tiro aos pratos , o andar ao murro , a caça , o karaté , andar a cavalo , nadar , etc etc e tal.
e não , não há um só tipo de desporto. individual , colectivo e bla bla bla
https://www.efdeportes.com/efd71/esportes.htm
Exacto.
E quando comparamos esses diferentes «usos» e «finalidades», no caso do «Desporto» surge o aspecto regulatório e institucional. Percebemos com clareza que o «Desporto» impõe limites (socialmente determinados em regulamentos e regras) ao total livre-arbítrio e à total liberdade individual. Por exemplo, se fosse «actividade física» poderíamos correr (lançarmo-nos, atirarmos, esforçarmo-nos, etc.) até morrermos. Se fosse no contexto de uma guerra podíamos matar. Se fosse no contexto de jogo lúdico podíamos ficar todo o dia e noite a jogar. Porém, no contexto do «Desporto» há limites impostos a toda essa liberdade e livre-arbítrio. Limites, também, para a porção de agressividade e violência que podemos utilizar nas competições.
o que exigem todos é preparação , treino.
Sim.
Mas o aspecto que mais me interroga é, pensar que «isso que é o Desporto» (numa perspectiva história e antropológica) pode ter um contributo na construção do ser-humano como um ser-social.
o ser biopsicosocial que é o humano é que desenvolveu o desporto , tal como desenvolveu a gastronomia ou a literatura. ou as regras de etiqueta : cultura.
não só de pão vive o homem , alguma coisa tinha de fazer para se divertir.
O Desporto não tem nada a ver com o divertimento.
O divertimento já existia muito antes do aparecimento do Desporto. Para haver divertimento não era preciso Desporto.
bom , está bem e para resolver a sua questão é estudar o sistema educativo espartano…
O treino espartano não é Desporto. Tal como o treino militar das actuais forças armadas também não é Desporto.
A corrida dos Hoplitas não é uma corrida desportiva.
Exercício físico, actividade física, ginásticas, jogo, etc., não são Desporto.
em esparta praticavam desporto , inclusive as mulheres
um estudo em que tudo é simples e intuitivo…
file:///C:/Users/Utilizador/Downloads/8825-Artigo-14618-1-10-20200607.pdf
“A actividade mais ou menos desportiva será, provavelmente, tão velha como
o Mundo. Figuras de baixos relevos provam que os egípcios já praticavam competições de luta, remo e de justas aquáticas, de três a quatro mil anos antes da Era
Cristã. Também existem elementos provando que na China, na Índia e na Pérsia
as actividades lúdico-desportivas remontam a milhares de anos. Porém, e segundo
Fabrizio Valserra na sua «Historia del Deporte», foi na Grécia Antiga onde, pela
primeira vez na História da Humanidade, os exercícios físicos e os jogos atléticos
se converteram em instituição, em algo que, integrando-se nos costumes e na vida
nacional, adquiriu um carácter educativo, religioso e estético.
Passou-se, assim, das práticas desportivas – provavelmente, pois não se encon…”
Esse estudo está errado. Faz parte de um conjunto de obras que actualmente são consideradas erradas do ponto de vista científico.
É por causa disso que, na Classificação do Conhecimento e na actual Epistemologia, a ‘História’ não é considerada uma ‘Ciência’, e é colocada no domínio das ‘Humanidades’.
Esse estudo, como a maior parte dos do mesmo tipo, confunde actividade física, exercício físico, práticas corpórea das capacidades anatómicas e biomecânicas, jogo, como sendo «Desporto».
Estudos desses há às dezenas, sem qualquer credibilidade científica sobre aquilo que é o «Desporto».
Tal como há milhares de livros, em dezenas de bibliotecas, a afirmarem que as ginásticas de Ling eram ‘curativas’ e ‘salugénicas’. Facto que foi desmentido cientificamente com a descoberta do ADN, e de que a saúde e cura não ocorre desse modo em termos químicos e fisiológicos.
Obviamente que o Desporto apareceu nas sociedades humanas, muito antes do séc. XVIII e XIX e não exclusivamente na Europa (como centenas de livros escritos por dezenas historiadores e sociólogos ainda hoje o afirmam, alguns dos quais até são populares e trabalham em universidades conhecidas).
Logo, após ter aparecido, é óbvio que as pessoas começaram a praticá-lo (sejam ‘homens’, ‘mulheres’, adolescentes’, LGBT+, etc.). O ter aparecido, e ser praticado, não explica «o que é» nem «a razão de ter aparecido». Isso uma tautologia, dizer que «existe porque existe», «é praticado», etc.
A partir do momento que o «Desporto» existe, passa a estar disponível para ser praticado. As outras modalidades de uso do corpo (actividade física, exercício físico, jogo, competições não-desportivas, ginásticas, etc.) não deixam de existir por ter aparecido mais uma. Todas passam a coexistir na Sociedade.
Logo, não é a existência do «Desporto» que anula a existência dessas outras práticas e usos do corpo. Obviamente que numa mesma Sociedade essas diferentes modalidades do comportamento corpóreo humano são praticadas. Logo, não é a existência dessas diferenças por si só que as explica e as distingue do ponto de vista científico e epistemológico.
A questão que muitos confundem, e que é a razão deste debate, é não perceberem qual é a diferença entre «Funcionamento biomecânico e fisiológico do corpo», «Actividade Física», «Jogo» e «Desporto». E, em consequência, não conseguirem estabelecer a anterioridade desses três primeiros «usos« em relação ao «Desporto».
ai , Imp , o desenvolvimento do desporto segue a mesma linha de montes de actividades humanas. não começaram logo com a literatura , pois não ? primeiro veio a letra ; não começaram logo com o cozido *a portuguesa , pois não? primeiro assaram carne na fogueira e por ai além. apesar de ter pernas , não começou logo a andar , pois não? primeiro gatinhou. …Bolas.
e dependendo do lugar do mundo cada uma dessas actividades acabou em produtos culturais finais distintos , a literatura sul americana , a gastronomia , a dança , etc , apesar de todos sermos humanos é completamente distinta da europeia. eu gosto das explicações geográficas de montesquieu , cada lugar produz natureza distinta e formas de a aproveitar distintas.
e antes de haver chefs michelin em competição , a malta já cozinhava …percebe ? a cozinha dos chefs exige um estudo e um conhecimento de química que o cozinheiro de todos os dias não têm de ter , ainda que possa.
digamos que a finalidade é que é distinta : eu posso praticar patinagem como divertimento com amigos e depois posso patinar , exactamente da mesma maneira , para competir em campeonatos de patinagem artística. ou posso dançar o tango em privado , e depois dança-lo em competições. a única coisa que muda são as regras às quais estou sujeita , no primeiro caso unicamente às regras de boa educação e segurança , no segundo aos regulamentos do concurso. e o incentivo também é diferente , o convívio versus dinheiro ou fama.
e no caso da bola ? porque são fãs da bola ? a ilusão de que marcar golos anula toda a miséria que vivem.
o mesmo que a droga , só que em plano nacional. o frenesi à volta da bola dá.me mesmo pena , quanto mais miserável é um país , mais ligam à bola. sentimento explorado para vender. a bola é um produto de marketing , e era para esse aspecto que deveria focar as suas pesquisas.
e deixo-lhe aqui por onde começar . como sempre , os brasileiros muito à frente …uma inveja , sério ,
https://www.migalhas.com.br/coluna/abc-do-cdc/281771/o-futebol-como-produto-de-consumo
O «Desporto» no Peloponeso nasce de um Tratado Político (em 884 a.C). O «Desporto» nasce da Política. É esse Tratado Político que estabeleceu as regras pelas quais a «actividade física, o exercício físico, o treino, o jogo, as práticas físicas» se transformaram em «Desporto».
Não é por estarmos a praticar uma determinada modalidade física que estamos a praticar Desporto. O Desporto está num nível de perpetração acima da prática da actividade física (seja em que tipo de prática e modalidade for), acima da biomecânica corporal. E é esse nível que a YO não compreende.
Portanto, essa “miséria do Povo” que refere não é como diz. “Miséria do Povo” é gastar a energia em divertimento, em descarga das frustrações, em substituição da vida pelo «comer, beber, ir para a praia de papo para o ar, ir masturbar-se em concertos e espectáculos, gastar a energia em espasmos, gritos e excitações, etc.». Aí sim, nessa descarga onde vai tudo para a sarjeta e para a sanita do hedonismo, aí sim, é a “miséria do Povo”. Não traz mais nada no dia seguinte do que o gasto e a descarga. Esse desperdício de energia hedonista não constrói nenhuma ética ou moral para o viver humano em sociedade.
No «Desporto» é diferente, desse gasto hedonista dos prazeres dos ais e uis. Trata-se de regular e educar colectivamente os limites do uso da agressividade e violência permitidos socialmente. Logo, no «Desporto», a cerimónia e as modalidades de prática do corpo (quaiquer que sejam) são postas ao serviço de um contributo social que visa estabelecer uma ética e uma moral no viver humano em sociedade. São a cerimónia, as regras, a arbitragem perante um público, as sanções perante os limites infringidos, que educam o Povo. O «Desporto», para ser «Desporto», tem obrigatoriamente esse escrutínio público da colectividade. Por exemplo, não luta, não patina, não salta, não lança, não corre, não surf’a (etc.) quem quer, com quem quer. Os de 90 kg são proibidos de lutar com os de 50 kg, os de 12 anos não competem com os de 25 anos, etc., etc. As modalidades de prática (andar, correr, saltar, lançar, dançar, etc.) são as mesmas, mas não são praticadas como as Pessoas querem, mas outrossim, como a Sociedade estipula em regras e regulamentos rígidos e codificados. Logo, «ganhar e perder» fora do «Desporto» é um acto e uma validação completamente diferente.
É este «uso» e esta «finalidade» que a YO não compreende. Confunde funcionamento biomecânico e fisiológico, com actividade física, com o exercício físico, com a aptidão física, com as formas das modalidades, com o exercício, com a ludicidade do jogo, etc. Não consegue perceber «o que é o Desporto» (e a sua história). Razão pela qual o acusa da “alienação e da miséria” dos males do mundo. Quando é exactamente o contrário, é um uso político consciente e perpetrado, minuciosamente construído pelos poderes políticos e instituições de cada sociedade em cada época histórica.