Está para se saber o que ganhará o PSD com o convite feito ao líder do CDS, um partido à beira da extinção – e ao do PPM, um partido que se considerava, além de anacrónico, já extinto, para integrarem uma nova Aliança Democrática com vista às eleições legislativas de Março. Esta Aliança Democrática – perdão, a pretensa memória de uma Aliança Democrática passada – é suposto dar um ar mais sério e a gravidade que não tem ao sorriso “cartoon” do Montenegro, que, a par do timbre vocal, afasta milhares de eleitores. Ora bem, esta, e não a outra Aliança, um ar mais sério não virá dar com certeza, mas o discurso de peixeira do Melo, uma forma de barulho, assaz incomodativo, diga-se, poderá contribuir para atenuar o efeito Mona Lisa do tal sorriso. Embora, enquanto alternativa e disfarce, para mim, em nada melhor. Em vez de valor, acrescenta odor. A esgoto. Ou melhor, a peixe podre.
Mas o homem fez bem ou fez mal? É evidente que, num primeiro momento, o recrutamento destes dois partidos moribundos e ausentes do Parlamento dá azo a que se goze com a necessidade do PSD de desenterrar esqueletos para obter mais meia dúzia de votos. No fundo, o convite só corrobora a sua fraqueza. Por outro lado, para o CDS e o PPM é uma oportunidade única e inesperada de voltarem à ribalta.
Quer isto dizer que a decisão foi boa para o CDS e o PPM e má para o PSD?
Para os dois primeiros foi mais do que boa: saiu-lhes a sorte grande. Não tinham representação parlamentar e passam a ter, sem nada terem feito, nos anos de ausência, para o merecer. Para o PSD, depende do que o staff de Montenegro pretende. Para tirar votos ao Ventura, o Nuno Melo tem um estilo de vendedor de cobertores muito parecido e a vacuidade é semelhante. Para combater a esquerda “woke”, o Câmara Pereira quase não precisará de falar. Basta cantar o fado e ir às touradas. Para espalhar mentiras, o PSD tem prática e especialistas que cheguem. Portanto, eu diria que, se o objectivo é tirar votos ao Chega através de uma assunção do seu estilo e dos seus alegados valores, pode ser que consigam. Mas reparem que estamos sempre a falar de uma estratégia de roubo ou não de votos dentro da direita. E de abaixamento do nível da campanha.
Para quem jamais votaria numa direita de Montenegro, Melo, Ventura e Rocha – um bando de demagogos e de mediocridades políticas – esta decisão é irrelevante ou, pior para os seus mentores, pode acabar por qualificar ainda mais o PS e o Pedro Nuno Santos por simples comparação.