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O Nuno Melo foi chamado para a “cacetada” e a “peixeirada” e o Gonçalo da Câmara Pereira – fadista e agricultor – para a defesa dos “valores tradicionais”?

Está para se saber o que ganhará o PSD com o convite feito ao líder do CDS, um partido à beira da extinção – e ao do PPM, um partido que se considerava, além de anacrónico, já extinto, para integrarem uma nova Aliança Democrática com vista às eleições legislativas de Março. Esta Aliança Democrática – perdão, a pretensa memória de uma Aliança Democrática passada – é suposto dar um ar mais sério e a gravidade que não tem ao sorriso “cartoon” do Montenegro, que, a par do timbre vocal, afasta milhares de eleitores. Ora bem, esta, e não a outra Aliança, um ar mais sério não virá dar com certeza, mas o discurso de peixeira do Melo, uma forma de barulho, assaz incomodativo, diga-se, poderá contribuir para atenuar o efeito Mona Lisa do tal sorriso. Embora, enquanto alternativa e disfarce, para mim, em nada melhor. Em vez de valor, acrescenta odor. A esgoto. Ou melhor, a peixe podre.

Mas o homem fez bem ou fez mal? É evidente que, num primeiro momento, o recrutamento destes dois partidos moribundos e ausentes do Parlamento dá azo a que se goze com a necessidade do PSD de desenterrar esqueletos para obter mais meia dúzia de votos. No fundo, o convite só corrobora a sua fraqueza. Por outro lado, para o CDS e o PPM é uma oportunidade única e inesperada de voltarem à ribalta.

Quer isto dizer que a decisão foi boa para o CDS e o PPM e má para o PSD?

Para os dois primeiros foi mais do que boa: saiu-lhes a sorte grande. Não tinham representação parlamentar e passam a ter, sem nada terem feito, nos anos de ausência, para o merecer. Para o PSD, depende do que o staff de Montenegro pretende. Para tirar votos ao Ventura, o Nuno Melo tem um estilo de vendedor de cobertores muito parecido e a vacuidade é semelhante. Para combater a esquerda “woke”, o Câmara Pereira quase não precisará de falar. Basta cantar o fado e ir às touradas. Para espalhar mentiras, o PSD tem prática e especialistas que cheguem. Portanto, eu diria que, se o objectivo é tirar votos ao Chega através de uma assunção do seu estilo e dos seus alegados valores, pode ser que consigam. Mas reparem que estamos sempre a falar de uma estratégia de roubo ou não de votos dentro da direita. E de abaixamento do nível da campanha.

Para quem jamais votaria numa direita de Montenegro, Melo, Ventura e Rocha – um bando de demagogos e de mediocridades políticas – esta decisão é irrelevante ou, pior para os seus mentores, pode acabar por qualificar ainda mais o PS e o Pedro Nuno Santos por simples comparação.

Ao Ministério Público: há limites para a não admissão de um erro grave. A Procuradora-Geral continua alheada

Para além da ignorância que demonstra sobre o exercício da actividade política, a qual inclui a atracção de investimento para o país, nomeadamente investimento estrategicamente importante que requeira eventualmente a eliminação de obstáculos burocráticos, ignorância essa que está na base deste escândalo judiciário (pior ainda se for pura má-fé/perseguição política), e sem prova alguma da existência de corrupção no caso Influencer, o Ministério Público repete, no seu recurso da decisão arrasadora do juiz, a tese do grave “conluio” entre membros do Governo e a empresa Start Campus, agora porém mudando a agulha de Diogo Lacerda Machado e Vítor Escária como principais alvos, para João Galamba, classificando-o de autor e mentor de todo o esquema, nas suas palavras “de todos os factos em apreço”. Mas, pelo caminho, pratica o absurdo ao deixar cair o pedido de prisão preventiva, nem sequer o pedindo para o grande criminoso Galamba, ao mesmo tempo que entende que os arguidos Lacerda e Escária podem continuar a actividade criminosa e por isso não devem poder comunicar entre si (mas que actividade criminosa? Intermediar um negócio com o Governo?). O João Galamba, que nem ouvido foi, é, pois, agora o grande satã e isto porque não pagou do seu bolso dois jantares. Claramente os senhores procuradores perderam de vez a noção do que lhes compete e o sentido do ridículo.

Diz o Público que: “No recurso às medidas de coacção, o MP diz que Galamba foi autor e mentor dos factos.
Neste recurso, o MP acaba por deixar cair os pedidos de prisão preventiva, apesar de considerarem que os “elementos probatórios existentes” o podiam permitir. Porém, os procuradores reconhecem que “exoneração de funções de Vítor Escária”, o “pedido de demissão do primeiro-ministro” e a “dissolução da Assembleia da República e a marcação de eleições a 10 de Março de 2024” são “circunstâncias com manifesto relevo para a tomada de decisão”.

https://www.publico.pt/2024/01/04/sociedade/noticia/recurso-medidas-coaccao-mp-galamba-autor-mentor-factos-2075683

Demasiado cristalino. Os procuradores golpistas, que não têm pejo em dizê-lo, entendem que, agora que Costa já caiu, os seus colaboradores mais próximos, Lacerda Machado e Escária, já não têm tanta importância, por isso aceitam que não fiquem detidos, mas atenção que a actividade criminosa poderá continuar…; e o Galamba, alegadamente próximo de Pedro Nuno Santos, sobe ao patamar de “autor e mentor” de factos gravíssimos, mas também sem pedido de prisão preventiva, suponho que por já se ter demitido, um objectivo pelos vistos traçado e alcançado pelo MP. Então para que servirá esta centragem no João Galamba? Continuando a descarada intervenção da Justiça na Política, só pode ser para ver se o Pedro Nuno também cai ou pelo menos chega coxo ao lugar onde pretende subir. Não têm vergonha nenhuma.

E a empresa? A empresa só pode ser para liquidar ou decapitar. Se não, vejamos:

A Afonso Salema e Rui Oliveira Neves o MP pede como medidas de coacção a proibição de contactos com outros arguidos, bem como com membros do Governo — actuais ou futuros — e ainda dirigentes das demais entidades referidas no despacho de apresentação, concretamente a Câmara Municipal de Sines, a AICEP, a AICEP Global parques, a ApA, o ICNF, a DGEG e a REN.

Francamente. Só espero que este recurso seja rapidamente indeferido.

E o autarca de Sines? Ah, para esse continuam a pedir “a suspensão do exercício de qualquer cargo político, nomeadamente do cargo de Presidente da Câmara Municipal, a obrigação de não contactar com todos os demais arguidos, bem como os funcionários da autarquia referidos no despacho de apresentação. Além disso, o MP pretende que o autarca fique proibido de frequentar diversos edifícios da Câmara Municipal”.

Isto porque, recordemos, pediu dinheiro para duas associações locais como contrapartida da aceleração do processo.

Estamos a ver o Ministério Público a preferir enterrar-se a admitir os seus erros. Mas há vítimas no meio disto tudo e a estabilidade de um país em risco. O MP quer saber disso? Nada. Tudo, mesmo dar circo, é preferível à autocrítica.

É Natal, paz e amor e tal, mas Marcelo não merece elogio nenhum e o jornalismo é acéfalo

Pensará o Presidente que fala por natureza e, quando fala, só estúpidos o ouvem. Parece ponto assente na sua cabeça. Ele saberá, de facto, quem abraça e beija por esse Portugal fora. Mas não é assim, e invocar as sondagens para dar a entender que continua a ser muito amado, podendo retomar o à-vontade nas passeatas pelas ruas, é uma estratégia de redenção e fuga para a frente completamente infantil e que enganará muito poucos.

No caso das gémeas, diz que foi pelo facto de o filho não conseguir nada através da Presidência que (o filho) foi falar com o Secretário de Estado (e sem sem o seu conhecimento, pasme-se). Foi mesmo assim, Marcelo? Então o Presidente não mandou contactar o hospital de Santa Maria para “esclarecer o que se passava” com o processo das gémeas, sabendo perfeitamente que essa já seria uma forma de dar seguimento à cunha e também uma forma de pressão?

E depois disso, sabendo que a opinião dos médicos era negativa e emitida sob embaraço, não enviou o dossiê para o Governo, para que a pressão continuasse por outra via, em vez de cortar ali o assunto?

E cabe na cabeça de alguém que, depois do interesse inicial do Presidente, este se tivesse desligado totalmente do processo ao ponto de nem perguntar ao filho qual o desfecho do mesmo ou pelo menos se já tinha alguma resposta positiva de alguém?

Agora vem beber uma ginjinha no dia de Natal e mostrar-se muito melindrado, muito desiludido,  porque o filho andou a fazer das suas sem o seu conhecimento, já lá vão quatro anos. Quatro anos em que Marcelo não soube de nada de nadinha do que era feito do caso das gémeas! Que farsa, meu deus.

E os jornalistas que o seguem não têm uma simples pergunta para lhe fazer, como , por exemplo, se passou a consoada com o filho, ou  se não acha que, ao enviar o processo para o Governo, não estava a pôr fim à cunha inadmissível do filho, querendo antes que a mesma seguisse por outra via?

Ou ainda se não acha que a naturalização forçada e interesseira das gémeas é um exemplo que ele e a sua família não podem dar de aproveitamento do SNS para turismo de saúde, à conta dos impostos dos portugueses que cá vivem e trabalham?

Ou os jornalistas são acéfalos?

 

 

É tudo uma questão de amor

João Miguel Tavares não consegue enganar ninguém, por mais que tente: estava fascinado por José Sócrates. Quem ler o seu artigo de hoje no Público, e ainda tivesse dúvidas de não ser amor mas ódio o que verdadeiramente sente, talvez perceba finalmente este processo mental, a bem dizer, não muito complicado.

Assim, Pedro Nuno Santos é perigoso porque é como Sócrates – um fazedor e reformista que deixou a direita fascinada, incrédula e roída de inveja. Com a vantagem, para Pedro Nuno, de não ter uma mãe falsamente rica, mas um pai legalmente rico. Irá ultrapassar Costa, tal como Sócrates suplantou Guterres. Diz Tavares. E não diz mal. Adiante digo porquê.

Tavares dixit:

“Aquilo que Pedro Nuno Santos aprendeu com Sócrates

Deixem-me esclarecer que a mãe muito rica de José Sócrates nunca existiu, mas o pai muito rico de Pedro Nuno Santos existe mesmo. Ou seja, não é ao Sócrates ensombrado pelo espectro da corrupção que me interessa comparar Pedro Nuno, mas sim ao outro Sócrates, o voluntarista e empreendedor – o Sócrates obcecado com a acção, que durante os seus dois primeiros anos de governo (de 2005 ao início de 2007) procurou reformar o país e manteve boa parte da direita presa pelo beicinho, impressionada com a sua coragem e energia. Dizia-se então que Sócrates estava muito mais próximo de Cavaco do que de Guterres.” […]

E a análise prossegue com conselhos a Montenegro.

Ó Tavares, espero que sim! Que o PNS queira fazer coisas. A bem de todos. Tem condições que Costa não teve: o pós-Troika foi orçamentalmente difícil e com dois parceiros parlamentares economicamente retrógrados do lado esquerdo, mas foi um sucesso; os mesmos parceiros e o céu que nos caiu em cima com o surgimento da pandemia, que deixou os países paralisados e as finanças ameaçadas; também vencida; e a crise energética provocada pela invasão da Ucrânia e a guerra que se seguiu, acompanhada de uma subida da inflação inesperada, que deixou todos novamente em stress e inseguros. Também, para já, superada. Enfim, foram oito anos exigentes e de intenso trabalho, para dizer o mínimo.

Perguntar, como os direitolas se atrevem a fazer, “mas afinal o que fez o Costa? Nada que se veja, não é?”

Vá lá, tem as contas controladas e a dívida muito reduzida. Venceu a inflação e aumentou os rendimentos. “Mas e a saúde? E a educação?”

 

Ah, sim , o SIM e mais a FNAM, nos médicos, e também o STOP, nos professores: tudo na rua, não é? Porque a maioria absoluta é a situação ideal para derrubar um governo democrático. Com a ajuda prestimosa de Sua Excelência o Comentador de Belém. Ah, e do Ministério Público. Conseguiram.

Pedro Nuno tem coisas para fazer, sim. Sem pós-Troika (pós-trauma?), sem pandemia e sem inflação será sem dúvida mais fácil “desconsiderar” António Costa e a sua governação. Oxalá o “desconsidere” por essas razões. Oxalá lá chegue e lá faça. Seria bom sinal do andamento do mundo.

Sem piada nenhuma

Na fronteira da Europa

Honest question: Russians or migrants? Or both?

Na América:

Da morte dos passarinhos:

Querem ver que as gémeas eram filhas de amigos de Lacerda Sales?

Por favor alguém pergunte ao Presidente da República por que razão enviou o pedido do filho para o Governo, apesar de já ter obtido pessoalmente dos médicos de Santa Maria um parecer negativo, se não foi para o pressionar no sentido da satisfação desse pedido?

E não. A resposta de que fez com aquele pedido o que faz com todos não colhe. Aquele já tinha uma resposta.

Elogio de Nuno Santos

Apesar de eu ter a certeza de que ninguém, nos partidos da oposição, terá uma palavra elogiosa para o jornalista Nuno Santos, que ontem entrevistou António Costa na TVI (com continuação na CNN), pelo facto de, dirão esses desvairados, ter deixado o entrevistado “brilhar”, o elogio é mais do que merecido.  Por uma vez, António Costa pôde falar. E, se falou bem, foi também, mas não só, porque lhe foram dadas condições. As perguntas foram pertinentes e bem ritmadas, o tom de sincero interesse nas respostas, a postura educada e profissional, a liberdade de explanação dada ao entrevistado total. Precisamente este último ponto é o que costuma tornar insuportáveis as entrevistas habituais a políticos do PS no poder. Os idiotas acharão que as interrupções constantes, a chico-espertice de querer apanhar as pessoas numa curva qualquer mais apertada, as supostas rasteiras ou os sound-bytes que farão títulos no dia seguinte é que constituem entrevistas “à maneira”. Mas são pouco sérias e estou convencida de que muitas pessoas mudam de canal por perderem a paciência com o jornalista de serviço. Nuno Santos esteve à altura do momento, um momento delicado em que o país perde o seu melhor político por motivos incompreensíveis e que deixam quase todos consternados.

Farsa ao mais alto nível e depois… não basta ver quem assina?

Quem diz o que se segue é aquele presidente da República que, interessando-se tanto pelo caso das gémeas brasileiras que o seu único filho lhe apresentou em forma de cunha, telefonou sem hesitar para Santa Maria antes de qualquer outra diligência, para tentar desbloquear o processo.

Agora quer fazer crer à populaça que, tendo obtido nega dos médicos e, mesmo assim, insistido na pressão ao enviar o dossiê para o gabinete do Primeiro-Ministro, nunca mais soube de nada. De nada, de nadinha. Perdeu todo o interesse e nunca mais quis saber das pobres miúdas nem falou com o filho. Nem sabia, às tantas, que o filho estava em Portugal!

Os comentadores que o defendem, por favor defendam esta farsa e tenham vergonha.

 

Segundo o chefe de Estado, o que “fica claro é que o Presidente da República Portuguesa, perante uma pretensão de um cidadão como qualquer outro, dá o despacho mais neutral e igual a que deu em ‘n’ casos”, sem que tenha havido “uma intervenção do Presidente da República pelo facto de ser filho ou não ser filho”.

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, a Casa Civil da Presidência da República contactou o Hospital de Santa Maria, reportou a Nuno Rebelo de Sousa que a capacidade de resposta era limitada, dependente de decisões médicas e com prioridade para residentes em Portugal, e remeteu o dossiê para os gabinetes do primeiro-ministro e do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.

“Perguntarão: e depois de ter ido à presidência do Conselho de Ministros? Isso não sei. Não sei, francamente, como é que foi o que se passou a seguir, não tenho a mínima das ideias“, acrescentou.

“O que se passou a seguir não sei, para isso é que há a investigação da PGR. E espero, como disse há dias, que seja cabal, para se perceber o que se passou desde o momento em que saiu de Belém”, reforçou.

Sobre a intervenção do seu filho neste caso, considerou que “quis ser solidário, quis apresentar, mandou o caso”, disse não saber se contactou alguém do Ministério da Saúde e que parte do princípio de que não invocou o seu nome nem a relação entre os dois, o que seria “totalmente inaceitável”.

Marcelo ter contactado o hospital já foi mau

Já todo o Portugal percebeu que Marcelo aceitou dar seguimento à “cunha” metida pelo filho para acelerar o tratamento das gémeas. Interessou-se pelo caso de uns pais desesperados em particular, o que lhe fica bem, mas os quatro milhões que esse interesse implicavam e o atropelo dos direitos de outras crianças já não lhe interessaram tanto, e aí reside o problema. Começando por contactar (mandar contactar, claro) o hospital da Santa Maria para saber do estado do processo que para lá transitara vindo do hospital Dona Estefânea, o que, todos sabemos, é por demais censurável e uma forma de pressão, atendendo a quem ele é, deixando os médicos em alerta, e obtendo como resposta que o caso das meninas não era prioritário face a outros pedidos nem teria seguimento em breve, Marcelo não se deu por satisfeito. Se se desse por satisfeito e se a sua intenção fosse não conceder privilégios a ninguém, a “cunha” do filho teria parado ali. Na verdade, foi o que Marcelo tentou fazer crer na sua declaração de ontem, segunda-feira: que a acção dele morreu ali.

 

Então, se morreu ali, por que razão enviou depois o pedido, acompanhado de um relatório médico do Brasil, para o gabinete do Primeiro-Ministro, sabendo que dali passaria para o Ministério da Saúde e daí para o hospital? Se ele próprio já tinha feito a triagem do pedido e obtido como resposta um “não”, porquê “passar a bola” ao Governo, sabendo perfeitamente que um “não” também do Governo dificilmente poderia ocorrer sem consequências óbvias, nomeadamente um agravamento das relações entre ambos?

 

Com tudo o que já se conhece, será inadmissível que o Ministério Público não “nomeie nomes” como alvos da sua investigação, em vez de continuar a apontá-la a “desconhecidos”. Um comunicado da Procuradoria com um parágrafo não “subtil” mas bem claro também se impõe neste momento. Todos já percebemos.

Um segundo mandato soez e de cariz absolutista

Esta notícia, onde se acusa com todas as letras Marcelo de interferir onde não é chamado, merece ser lida.

CEO da Global Media acusa Marcelo

Depois do escândalo da circunstância da demissão do Governo e do caso das gémeas, que não existiria se não fosse o Presidente Marcelo o motor da acção, parece agora haver muito à-vontade para o desrespeitarem na sua função e até de o acusarem de algumas coisas directamente. Um dia tinha que ser.

A Senhora Procuradora-Geral não se sente responsável por coisa nenhuma

E também não percebe que é esse o problema do Ministério Público que dirige. E o seu. Que incompetência. E que falta de respeito.

Depois desta afirmação, não devia ser demitida? O que esclareceu Lucília Gago, agora que finalmente abriu a boca? Absolutamente nada. Apenas veio confirmar com enorme desplante que naquela instituição ninguém é responsável, ninguém presta contas. É um descanso. É um regalo. É um gozo. Manda-se abaixo um governo, destrói-se a reputação de um primeiro-ministro; descobre-se de seguida que a investigação tinha erros grosseiros, que os fundamentos estavam errados, mas a responsabilidade não é de ninguém. Nem sequer da autora do parágrafo assassino, que pelos vistos não conferiu, e devia absolutamente ter conferido, o que os procuradores apresentavam como indícios. Para paródia, não tem graça.

Onde anda a Procuradora-Geral?

Não é que se veja muito. Antes de ter ido falar com o Marcelo, no dia 7, eu até pensava que a senhora era loira, há tanto tempo a não via! Mas, perante as convulsões políticas e o alarme que as acções dos magistrados do Ministério Público causaram – escusadamente, velhacamente, propositadamente? – e depois de o próprio gabinete de imprensa da Procuradoria ter demitido um primeiro-ministro através de um comunicado venenoso e/ou irresponsável, o que tem Lucília Gago a dizer? Nada? E a fazer? Também nada? Pensará que é como o Presidente Marcelo?

Eu penso que se devia demitir e explicar bem porquê.

O desmentido do Presidente da República. Já chega de desvario

Depois do caso da cunha para tratamento de duas gémeas brasileiras em Portugal, que em 14 dias passaram a ser portuguesas, segundo as notícias, e de tudo o resto que entretanto aconteceu relacionado com a demissão de António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa vem agora desmentir, em nota publicada hoje, que tenha convidado Mário Centeno para liderar o executivo depois da demissão de António Costa (apesar de nunca ninguém ter dito tal coisa), e também que tenha tido conhecimento e dado o seu aval a essa sugestão do primeiro-ministro.

Sabemos como Marcelo R S vê tudo, ouve tudo e reage a tudo o que se diz e acontece (e muito na hora), mesmo que não lhe diga respeito. Pois bem. Então porque esperou dois dias para publicar este desmentido? Porque não logo no sábado?

Depois de a comissão de ética do Banco de Portugal ter decidido avaliar a conduta do seu governador e reunir-se esta segunda-feira para averiguar da incompatibilidade da assunção do cargo temporário de primeiro-ministro pelo governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, com a sua função actual é que Marcelo Rebelo de Sousa se lembra de vir desmentir o que António Costa disse, claramente articulado, dois dias antes? Que contactou Mário Centeno para o substituir com o conhecimento do Presidente da República? É estranho e nunca visto da parte do Presidente.

 

Se é certo que Marcelo acabou por decidir dissolver a Assembleia e convocar eleições, não me parece que haja contradição com o facto de ter ouvido a proposta de Costa e de não ter manifestado oposição, permitindo que avançasse com o contacto (tanto mais que o Conselho de Estado se dividiu claramente sobre esta matéria). Terá ficado assustado com a hipótese de o seu nome ficar associado a um acto “pouco ético” ou mesmo “ilegal”, segundo alguns dos seus amigos? Pode ser, mas, com tudo o que sabemos, isso faz-me rir.

 

Por outro lado, cabe na cabeça de alguém que António Costa tenha afirmado alto e bom som que deu conhecimento ao Presidente da República da sua iniciativa e que isso seja mentira?

Perante outros, este caso não é de grande gravidade, mas o que interessa a Marcelo é que não pode ser provado. Este final de presidência é simplesmente deplorável.

Há quem se consuma com a dicotomia “direita ou esquerda” e encha um jornal de tolices

Há uma cronista do Público, uma pessoa que eu diria “pipi”, mas que milita, inconsciente do humor que suscita, pela causa comunista em 2023, que estagnou de tal modo na visão direita-esquerda do mundo que é capaz de aplicar esses conceitos rígidos e cada vez mais desajustados ao conflito israelo-árabe e, mais ridículo ainda, ao conflito Rússia-Ucrânia, a bem dizer a tudo o que acontece. Assim, ser de esquerda é estar contra os Estados Unidos sempre e em qualquer circunstância, mesmo que haja milhões de americanos susceptíveis de se enquadrarem na dita esquerda, alguns deles no Governo. Aliás, corrijo, nos Estados Unidos, é impossível, por força do capitalismo, haver alguém de esquerda. Os americanos, ao contrário dos russos e chineses (ah, espera), têm demasiados interesses em demasiadas partes do mundo… A sua catalogação é do mais fácil que há. Kennedy, Ford, Obama, Clinton, Biden? Não prestam.

O Hamas, se calhar, é de esquerda, já que luta contra Israel, um aliado e amigo dos Estados Unidos. Mas, oh diabo, a Catarina Martins diz que é de extrema-direita. E não saem disto, mesmo que decidissem concordar em qual extremo o colocariam.

Já a Rússia, a pátria da experimentação máxima da ditadura do proletariado, será para todo o sempre de esquerda, ainda que governada por um fascista e facínora, plutocrata entre plutocratas, imperialista puro, como outros no Ocidente e mais além já foram, embora já há algum tempo, que não admite adversários políticos e os manda sistematicamente eliminar. A Rússia é, pois, de esquerda (ainda que, para os jornais, se diga que não) e, como ditadura, muito aceitável, vá lá, muito “ignorável”. Porquê? Porque é contra os Estados Unidos. A Ucrânia, por sua vez, não passa de um antro de nazis, pois é o que diz o Putin, o ex-KGB inconformado, e, apesar de ter sido cruelmente invadida depois de convenientemente “desnuclearizada”, não devia receber ajuda militar para se defender, porque, lá está, a ajuda vem dos Estados Unidos e da Europa capitalista – tudo gente de direita, que são por definição contra os trabalhadores e só pensam em ser imperialistas e exploradores (não no sentido da Royal Geographic Society, claro está, mas, nem nos falem desses, que colonialistas insuportáveis). E não querem a paz, esses ucranianos, no fundo mais americanos que eu sei lá, porque não sei quê as fábricas de armamento. Não havendo armas haveria paz e assim os nossos “assets” putinistas poderiam descansar vitoriosos, silenciados os tais nazis por falta de combustível para resistir e retaliar.

 

No âmbito desta visão, a Carmo Afonso, porque é dela que se trata, dá-se agora ao trabalho de acusar o Rui Tavares de dizer, a propósito dos últimos acontecimentos em Israel, “coisas que agradam à direita”, como, por exemplo, que o Hamas é uma organização terrorista. Não pode, não é? Devia ter dito que os seus militantes são a resistência armada dos palestinos, quiçá um bocadinho violentos, mas quem não degolaria pessoas a eito para “libertar” o povo que oprime? Quem não massacraria jovens foliões pacíficos para impor um regime islâmico, teocrático e opressor, não é? Quem? O Rui Tavares é um traidor, pulou a cerca e não devia, pôs em causa o consenso do esquerdismo, e ela perde o pé e as estribeiras se alguém se atreve a deixar a ortodoxia assim desta maneira. Não se faz e a amizade dos dois está ameaçada. Oh, céus.

Não tenho mais palavras para tanta mediocridade. A esquerda da Carmo Afonso já teve melhores dias. Agora é a indigência e a desorientação totais.

Uma república islâmica para Israel


Pergunto-me se o mundo, se os Estados Unidos, se envolveriam numa guerra no Médio Oriente para a manutenção do Estado de Israel.

Imaginemos que o Irão, a Jordânia e a Síria, com a Rússia por trás, animados pelo aparente sucesso do Hamas em desestabilizar o Estado vizinho, decidiam apoiá-lo às claras e atacar em força com vista a eliminar os judeus daquela zona do globo, onde, dizem muitos, nunca se deveriam ter estabelecido, e provocar deste modo os Estados Unidos, principais apoiantes do Estado de Israel, mas já bastante “ocupados” com o problema da Ucrânia. Quem acorreria para evitar que tal desfecho se concretizasse? Pois tenho dúvidas.

Imaginemos, então, que o Estado de Israel se desmoronava, sendo os seus habitantes obrigados a fugir para outras paragens e instalando-se nesse território um estado palestino governado pelo Hamas. Continuariam os nossos bloquistas e comunistas, e os seus congéneres europeus, a dar vivas ao que se seguiria? Se sim, isso seria o equivalente a darem vivas aos talibãs. Como não se atrevem a ir tão longe no seu ódio ao Ocidente, suponho que frisariam a opressão em que viviam os pobres dos palestinianos nas mãos dos judeus e em como, agora, seriam donos do seu destino… Uns caridosos, estes farsantes. Pena que não vissem o absurdo, a abjecção, dessa caridade.

 

Não nutro qualquer simpatia nem pelos judeus ortodoxos, uns fanáticos que pensam ser donos de toda aquela terra por direito divino e que, em matérias sociais e políticas, pouco se distinguem dos tiranos islamistas iranianos, afegãos, etc., nem pelos radicais islâmicos que gritam morte às outras civilizações como se ainda vivessem no século VIII EC e que pouco ou nada contribuem para o progresso da humanidade. Estão bem uns para os outros e, se se eliminassem mutuamente, não viria mal nenhum ao mundo, pelo contrário. Já chega de querelas religiosas em nome de divindades, quando, no fundo, é uma questão de poder e dinheiro.

No entanto, Israel era uma democracia do tipo ocidental até há pouco tempo. Havia liberdade,  tolerância, ciência e modernidade. Têm os judeus fantasias quanto à sua singularidade neste mundo? Têm, mas não me incomoda, desde que continuem a produzir bons cientistas e convivam bem com a secularidade. Naquela parte do mundo, a minha preferência só pode ir para eles. Já a ocupação progressiva que fazem do território dos seus vizinhos não é de todo aceitável e deviam recuar.

O actual agudizar deste longo conflito não me surpreende, portanto. Os terroristas do Hamas são umas bestas. Mas os israelitas já o sabiam. Os regimes autocráticos do mundo islâmico são violentos e desumanos. Cada vez mais o confirmamos. O Hamas não poderia ser uma excepção.

Assim sendo, para já, distância. Mas, neste caso, como no da Ucrânia, uma negociação de paz para evitar o pior terá que passar pelo abandono dos colonatos na Cisjordânia, onde Israel é o ocupante, como contrapartida pelo reconhecimento do Estado de Israel pelos dirigentes palestinos.

E chovam as críticas, por favor.

Decido ir para a rua paralisar o trânsito, em Portugal. O que espero

Aplausos dos condutores, claro, solidariedade, confraternização, uma conversa amigável e um dispersar pacífico sobretudo graças à monotonia. Todos de acordo. Missão cumprida.

 

Missão cumprida? Tudo menos isso. A missão cumprida é mesmo o que aconteceu. Suscitar a fúria e depois chamar violentos aos condutores que os forçaram a desobstruir a estrada, porque tinham mais que fazer. Este é, muito provavelmente, para estes jovens o conceito de missão cumprida. Melhor, penso eu, só se houvesse sangue. Missão em parte por cumprir, portanto.

 

Conclusão para as polémicas que aí andam: se os jovens tiveram o que queriam, e o que queriam não era seguramente o que descrevi no primeiro parágrafo, se alguns até fizeram ginástica num viaduto, que mais há para discutir? Nada. Siga a banda.

Nem os defendo por serem jovens e irreverentes, porque, ouvindo os que falaram, vejo que são é ignorantes, nem os ataco porque me parecem antes indigentes e imitadores e a precisarem de cuidados. Como divertimento, a sua acção também não me parece grande coisa. Não faz rir. Mais importante ainda, não populariza a defesa do ambiente, porque quem conduz automóveis é porque precisa e ficaria até grato se o automóvel não poluísse. E quer pôr pressão justamente no país e no governo que mais tem feito pela implantação das energias renováveis. Talvez irem manifestar-se para a China? Aí, sim, seria um verdadeiro desafio internacional.

À semelhança de Marcelo, António Lobo Xavier também sabe fazer figuras ridículas

Ouvi-o no Domingo, no programa da noite da CNN, “O Princípio da Incerteza”, sobre o “caso” do Conselho de Estado. Argumentação mais disparatada em defesa do seu estatuto e contra António Costa era impossível. Por um lado, declarou que, uma vez que Marcelo tinha mudado a natureza daquele órgão consultivo ao abri-lo a personalidades estrangeiras, por exemplo, não havia problema algum em que fosse agora um órgão mais aberto e informal, ou seja sobre o qual se pode vir falar cá para fora (deduzi eu como ouvinte); por outro lado, assumiu o papel de pessoa muito indignada e ofendida por o Primeiro-Ministro declarar que alguém estava exorbitar as suas funções e dar a entender que algum dos conselheiros presentes divulgou o que não podia ter divulgado, e ao que consta, de forma truncada ou mentirosa mesmo.

Ora, ele próprio, uma das tais pessoas respeitáveis, dignas e totalmente respeitadoras das regras que têm assento no dito Conselho, decidiu confirmar que o que outros disseram era verdade. E estar calado, não teria sido melhor opção? É que assim torna-se demasiado óbvio que só fala por ser ele um dos escolhidos por Marcelo e, evidentemente, em defesa deste. Como se António Costa não estivesse cheio de razão ao decidir não ter nada a dizer numa reunião cujas conclusões já estavam tiradas e escritas à partida. Pior prestação só mesmo a de Marcelo a tentar passar-se por extremamente amigo de António Costa depois do desplante daquele putativo “comício”.

 

Mais uma vez de acordo com Vital Moreira, de quem muitas vezes discordo, deixo aqui a sua opinião sobre este assunto:

Assim, não (6): O mal e a caramunha

Ainda Marcelo, o católico

Diz-se, e é verdade, que Marcelo morde como o escorpião. Ultimamente são inúmeras as vezes em que desafia, provoca, ameaça ou ressabia com o primeiro-ministro: ou porque embirra com João Galamba e quer que se demita só porque um esgrouviado de um assessor, na sua ausência, surripia o computador de serviço (objectivo: causar ruído, dar matéria à oposição), ou porque entende que o pacote de medidas para a habitação é um bom pretexto para fazer ver quem manda e fazer ele a oposição que o Montenegro não faz, ou, eventualmente, porque embirra com a ministra dessa mesma pasta, ou ainda porque decide “espicaçar” os sindicatos dos professores para os manter assanhados, criando problemas sérios ao Governo, que já dava o assunto da contagem do tempo de serviço por esgotado (e está), e sobretudo causando prejuízos aos alunos das escolas públicas (objectivo: instabilidade política), ou porque decide fazer dos conselheiros de Estado ouvintes das suas próprias conclusões prévias, enfim, este exemplar, no seu segundo mandato, não se contém nas ferroadas, nas tentativas de golpe e na exorbitação dos seus poderes.

 

O que acontece depois? Depois, vem a tomada de consciência do abuso, a contrição (mas só para si) e o recuo público quando “a sacanice”, para não lhe chamar outra coisa, ou o desrespeito da Constituição se tornam demasiado óbvios e se viram contra ele ameaçando-lhe a tão almejada popularidade (nem os seus colegas comentadores o poupam). Que não, que é muito amigo do Costa, desde há já muitos anos, do tempo da faculdade!, que as amizades são para manter (tese do amuo como que confirmada, apesar de falsa, mais uma sacanice), que entende apenas ser sua função repor os equilíbrios institucionais, leia-se “ataca quando acha que o seu partido não está a ser contundente o suficiente”, o que é pior emenda que o soneto porque não é esse, de todo, o seu papel, ou, quando confrontado com as suas jogadas totalmente infantis mas malévolas, entabula um discurso enigmático, que ninguém decifra, mas pode soar para alguns a grande sabedoria, discurso a que já assistimos noutras etapas comprometedoras da sua vida (como aquando da despenalização do aborto). Um farsante. Um farsante que se faz passar por querido, beija muito, anda ao sabor do vento e está convencido de que pode passar raspanetes. Azar: ao Costa não pode. O Presidente não governa nem vai responder pela governação em futuras eleições. Portanto, voltar ao seu galho é mesmo o melhor que tem a fazer.

 

Em suma, Marcelo está a ser má pessoa, sabe que está, mas, como é vulgar nestes casos, entende-se lá com o seu deus quanto às desculpas, para garantir que será perdoado. A cada conversa mística privada, fica lavado. Já beijou a mão do papa. Mas isso é até à próxima. Aposto que tanta lavagem lhe garantirá o céu, mesmo que cá na Terra se divirta a infernizar os outros só porque pode.