Ser assim e querer que a direita seja respeitada (nomeadamente pelos eleitores)

Uma tal Maria João Marques, feminista de direita que escreve no Público, mas que revela ignorar muita coisa, acusa hoje António Costa de insultar o centro-direita (a direita moderada, segundo ela) ao chamar-lhe “diabo”.

O diabo é a direita”, mas o único sucesso de Costa veio de governar à direita


[…]O centro moderado distingue-se. Reconhece dignidade humana a toda a gente, sem as desclassificar pelas ideias políticas, ou por serem sindicalistas, ou empresários, ou intelectuais, ou trabalhadores braçais. Ou não. Porque assisti – estupefacta – ao discurso de António Costa no congresso do PS e este disse, literalmente: “O diabo é a direita.” O primeiro-ministro diz de mais de metade das pessoas que votam em Portugal, segundo as sondagens, e que ele governa, que são “o diabo
”.[…]

OMG. Mais uma que gostaria que os leitores fossem parvos. Mas, se não forem, passa vergonhas. Como, estou certa, será o caso hoje. Ela sabe, todos sabemos, de onde vem a expressão “vir lá o diabo”. Passos Coelho utilizou-a no Parlamento ao criticar as medidas do Governo de António Costa, como o aumento do salário mínimo, ou a reposição dos salários e das pensões, entre outras, que supostamente levariam o país ao caos. Esta expressão está agora categoricamente esvaziada do seu sentido profético catastrofista, o que permite virá-la contra a própria direita e com alguma graça. Daí “o diabo estar na direita”, já que pela mão da esquerda não veio. Pelo contrário, o diabo existiu, porque os tempos foram propositadamente duros, mas eclipsou-se. Não é insulto nenhum e, se fosse, o primeiro a recorrer ao diabo teria começado o insulto.

Acresce que a idealização que a colunista faz da actual direita, como muito educada e respeitadora dos moderados da esquerda não tem qualquer correspondência com a realidade. “Andar aos gambozinos”, “bebedeira”, “bandalheira”, ou ainda “culpados pela crise nos Açores” são expressões recentemente utilizadas pelo PSD para insultar, aí sim, o PS. O PS e os portugueses um pouco mais exigentes. Isto por não saberem o que de substancial poderiam dizer. Maria João está, portanto, a ser ou burra ou desonesta ao descontextualizar uma expressão e ao ignorar o que os seus andam, eles sim, a fazer.

[…]Diabolizar opositores políticos ou reputá-los de perigos para a democracia não são argumentos que se aceitem no debate público dirigidos a partidos como o PSD, o CDS ou a IL. Degradam o debate político. Trazem o esgoto da polarização das redes sociais para os palcos mais institucionais. É próprio de políticos como Trump, Lula, Bolsonaro, Morales ou Milei.”

 

Pois muito bem. Não fazem esses partidos outra coisa. Não só insultam, como demonstrado, como também pretendem esconder que não hesitarão em convidar o Ventura para formar governo se necessário for, embora todos saibamos que tal irá ou iria acontecer. Passos Coelho (mais uma vez), que parece ser o grande ídolo da Maria João e o protótipo do político bem educado (!! as graves e descaradas mentiras da sua campanha eleitoral de 2011 inserir-se-ão no conceito de “boa educação”?) afirmou não há muito tempo que o Chega era um partido normal e democrático. Afinal quem reabilita e traz o “esgoto” e o “trumpismo” para a campanha parece ser o PSD, não é?

Mas continua esta falsa indignada:

Um primeiro-ministro que há meses queria indignação geral por se ver retratado numa caricatura de uma manifestação de professores, agora chama “diabo” ao outro lado. Uma caricatura que o desumaniza não é permitida, mas um primeiro-ministro a desumanizar opositores, com ar sério, já está tudo bem. Aplausos ouviram-se. Costa quer limitar a liberdade de expressão alheia, mas manter para si direito ao discurso de ódio.[…]”

Desumanizar opositores”? “Discurso de ódio”? Por causa de uma expressão utilizada pelos Passos? Esta mulher passou-se? Quanto à caricatura, não seria mais do que justa uma indignação geral por se verem professores – educadores -, que deviam ter comportamentos exemplares, a descerem tão baixo ao ponto de desenharem aqueles ofensivos, violentos, exagerados, quase-racistas, e deslocados cartazes?

A desonestidade da articulista estende-se depois a outro tema:

[…]“(Não menciono o alegado sucesso da “devolução de rendimentos”. Afinal, diminuir os impostos diretos para mais que compensar com o aumento dos impostos indiretos e terminar com a maior carga fiscal de sempre são papas e bolos para enganar os tolos.)

 

Além de não ser esse “engano por papas e bolos” que os indicadores nos dizem (basta ver os gráficos comparativos com a Europa), a Maria João está fartinha de saber que a carga fiscal não é composta apenas por impostos e que a portuguesa não é das mais altas, pelo contrário. Os chavões que aqui debita sobre a carga fiscal são mentiras.  E, se não sabe que são mentiras, é desqualificada para escrever em público.

Definição de carga fiscal (segundo o glossário do CFP):

“Em termos de finanças públicas, a carga fiscal ou pressão fiscal de um país corresponde à relação percentual entre o total dos impostos e contribuições efetivas para a Segurança Social e o Produto Interno Bruto (PIB). Nos países membros da União Europeia, pode ainda considerar-se no cálculo deste indicador os impostos cobrados por Instituições da União Europeia.”

Está claro?

 “Note que as taxas dos impostos não aumentaram, desceram, mas o total de impostos cobrados aumentou porque a economia cresceu! Portanto, a MJM deturpou deliberadamente o significado das palavras, o que é uma forma ardilosa de mentir!” – esta resposta foi-lhe dada por um leitor nos comentários ao artigo. Espero que leia e medite sobre a possibilidade de a direita ser respeitada quando escreve  tolices como estas e quando recorre a uma linguagem brejeira e a mentiras.

2 thoughts on “Ser assim e querer que a direita seja respeitada (nomeadamente pelos eleitores)”

  1. no dia seguinte ao fafe ter afirmado na assembleia que o marcelo interferiu, intrigou e tentou condicionar editorialmente os jornais e rádio da global média, levou com uma rusga dos presidentes dos tribunais superiores, da procuradora-peral da república e da provedora de justiça em belém para apresentação de salamaleques.
    https://www.presidencia.pt/atualidade/toda-a-atualidade/2024/01/apresentacao-de-cumprimentos-de-ano-novo-dos-presidentes-dos-tribunais-superiores-da-procuradora-geral-da-republica-e-da-provedora-de-justica-ao-presidente-da-republica/

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *