Arquivo da Categoria: Valupi

Perder os três no quarto

Está tudo bem nesta iniciativa: os 3 da opinião airada, o convidado de peso (literalmente), o título eficaz, o excelente grafismo do anúncio (sim, também conta, porque tudo conta). Não se vai descobrir a pólvora na próxima terça-feira, mas poderá ser mais um rastilho para a titânica operação de terraplanagem da imbecilidade nacional. Pelo caminho, aproveita-se para conhecer uma nova livraria (caso não se conheça já, pois tem 1 ano), o que não irá fazer mal a ninguém.

Parabéns à Tinta da China e aos protagonistas. E votos de sucesso comercial para todos, pois.

O segredo da longevidade

Sinto cansaço, apenas. De fazer a barba todos os dias, de levantar, vestir, tomar banho, pequeno-almoço, comer, mastigar, engolir. Tudo isso, essas coisinhas fáceis e corriqueiras, mas que são sempre as mesmas. É sempre a mesma coisa, a mesma ordem, ver a televisão. Tudo isso é uma chatice.


A única coisa que me consola e onde eu posso descansar, verdadeiramente descansar, é quando estou a realizar um filme. Nem quando estou a escrever fico animado. Se vem a ideia, tudo bem, mas se não vem, fico muito inquieto. Depois, quando vem a ideia, é-se feliz e escreve-se. Mas é enquanto realizo que sinto a paz e o sossego. Esqueço que tenho de me levantar cedo, esqueço-me de comer, esquece-me tudo. E estou ali.

Faço filmes, são as minhas verdadeiras férias.

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Manoel de Oliveira, em entrevista.

Eis um homem que só descansa quando está a trabalhar. E que explodiu criativamente aos 70 anos, entrando num ritmo alucinante que já regista 35 projectos desde 1979, ano do Amor de Perdição. É um exemplo de como, e de quanto, a nossa relação com o trabalho e com a idade está completamente errada. O mais comum é tropeçarmos nos que se queixam por terem de trabalhar (no que são mentirosos ou burros, pois ninguém precisa de trabalhar), não sendo tampouco capazes de descansar nos períodos de descanso (no que são burros ou mentirosos, pois só não descansa quem tem mais o que fazer), mas este homem encontrou no ganha-pão o vinho da sabedoria. E foi aperfeiçoando a fórmula. Porque não há limite para a fruição e busca de sentido.

arrisca perder o medo — confia no infinito que te foi dado antes de nasceres — salta para cima da eternidade e brinca — viver muito tempo é viver muito o tempo

E ’tá feito, não mexe mais: é este o segredo da longevidade (ou quase). Só faltas tu para ficar completo.

Afinal, havia outro

Não sei o que se passa entre o Paulo Bento e o Vukcevic. Sei é que o montenegrino é um dos jogadores mais importantes de sempre a passar pelo Sporting. Pois ele é um Sá Pinto, e pensava-se que o molde já se tinha partido. Os adeptos amam este jogador, porque este jogador ama o futebol. Daí os golos que marca: improváveis, manhosos, repentinos, espectaculares, de ranço, à maluca. E o que faz em campo por fidelidade ao suor da camisola, as idiotices que quase lhe custaram a carreira: como aquela lesão no ombro nascida de um malabarismo despropositado, inútil, gratuito, circense, vaidoso, infantil. Mas teria de ser assim, pois é assim que ele é. É assim que ele nos dá lições de vida, ensinando que só vale a pena ir para o campo na disposição de voltar a inventar o futebol a cada jogada. Para ele, ser o melhor é libertar a intuição e querer muito, mas muito, marcar golo. Fácil demais, esta filosofia vukcevicaniana? Errado, demasiado difícil; tanto que são raros os que a praticam. O comum em Portugal é o jogador convencional, medroso, sem peito nem destino. Vukcevic exibe um desprezo pelo calculismo que devia ser a verdadeira marca dos jogadores formados no Sporting. Se depois se ganha ou se perde, isso já é com os deuses. Ao guerreiro, o coração de leão.

Paulo, resolve lá isso. E rápido.

A arte de ser nojento

Eduardo Cintra Torres assina um texto — publicado neste 13 de Setembro no P2, caderno do Público — com o título Achtung! Habituem-se! Gulag! Trata-se de um repto dirigido aos jornalistas, a toda a sua classe. Podemos lê-lo a partir de um ponto de vista clínico, e reconhecer nas palavras os sinais da paranóia em grau psicótico. Ou podemos lê-lo pelo lado da responsabilização, e concluir que o autor domina a arte de ser nojento. É esta última a minha opção, posto que não tenho autoridade psiquiátrica.

Comecemos com calma, pela moda mais popular entre publicistas com dificuldades na ligação à Internet:

Habituem-se a ler uns “anónimos” profissionais em blogues dizendo as “opiniões” da central de propaganda. Habituem-se a criticar a oposição e a não criticar o governo.

Estas duas frases constituem um parágrafo. Um parágrafo, convém lembrar, corresponde a alguma unidade de raciocínio. O mesmo acontece numa frase, onde diferentes elementos conceptuais são postos em relação, sendo essa operação que dá azo à substância do pensamento. Munidos destas noções básicas, podemos constatar, com infalível certeza, que ECT pensa e afirma publicamente o seguinte:

Há profissionais contratados para veicular como “anónimos”, em blogues, “opiniões” favoráveis aos interesses do Governo.
Os jornalistas não possuem os mecanismos para detectar esses profissionais “anónimos”, nem possuem os recursos para resistir a essas “opiniões” oriundas de uma central de propaganda. Ou, caso os possuam, por alguma razão não estarão a dar uso a essas capacidades.
Os jornalistas, ao conhecerem as “opiniões” dos “anónimos” contratados para emitirem em blogues as directivas da central de propaganda, passam a criticar em exclusivo a oposição, nunca mais criticando o [sic para a caixa baixa] governo.
A leitura de blogues é, assim, causa de falhas no profissionalismo, deontologia e ética dos jornalistas.

Repito que se trata apenas de um dos parágrafos do texto, e logo o mais curto. Todavia, consegue o notável feito de reduzir a classe dos jornalistas a um corpo lobotomizado ou escravizado ou cobarde ou vendido, ou tudo isto à vez e à molhada. E faz acusações genéricas, vagas e confusas — na verdade, primárias e grotescas — sem apresentar uma única prova ou pista, sequer local do suposto crime. Tudo indica que ECT ignora que os blogues políticos com mais audiência são os da direita, onde se inclui o do seu mentor Pacheco Pereira, o qual até já veio admitir que o Abrupto vale mais do que uma secretaria de Estado. E também parece altamente provável não ter ninguém avisado ECT da existência de blogues muito frequentados à esquerda do PS, onde a crítica ao Governo é ainda mais feroz e erosiva do que nos blogues de direita. Somando os blogues com mais audiência, ou audiência relevante, à direita e à esquerda, não fica nenhum — atente-se: nenhum — onde apareçam “anónimos” com “opiniões” a cheirar a central de propaganda. Ou será que ele se refere a eventuais comentários nas caixas dos ditos, sendo aí que actuariam os agentes a soldo do Governo? Enfim, de que estará este louco a falar?

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A blogosfera vai de Arrastão

O Arrastão cresceu, sendo que a alteração mais dramática consiste no abandono do vermelho comuna por troca com o azul (ou será verde?) Aspirina B. Sinal dos tempos. Outra transformação digna de referência, embora menor na comparação, consiste na mudança de estatuto, passando a blogue colectivo com as entradas de Pedro Sales e Pedro Vieira. Também a merecer atenção é o anuncio da Santa Aliança, agregador de 17 blogues ditos de esquerda. Nisto tudo há a mão, e a boa cabeça, do Paulo Querido, infatigável no empreendedorismo e inovação com que vai moldando a paisagem da blogosfera portuguesa.

Aplauso para todos.

A boceta de Palin

As eleições presidenciais norte-americanas são demasiado importantes para serem deixadas apenas nas mãos dos eleitores norte-americanos. E estes precisam da nossa ajuda, de toda e qualquer ajuda — como se vê pelos resultados das duas eleições anteriores. Que ninguém se iluda quanto ao que está em causa: voltar a ter uma Administração responsável depois de 8 anos desgraçados. Aqueles que julguem não ter capacidade de influência por falarem ou escreverem em português para portugueses, ou em chinamarquês para chinamarqueses, que façam o favor de meter os cornos num alguidar com água e pedras de gelo. Acordem! O que o Mundo quer — ou seja, do que o Mundo carece — vai ser tido em conta por um decisivo grupo de eleitores: aqueles Republicanos que vão votar Obama por amor maior ao seu país do que ao seu partido.

Se McCain ganhar, Sarah Palin será aclamada como uma escolha genial, uma jogada de mestre ou um golpe de sorte só ao alcance dos eleitos. Mas Sarah Palin continuará a ser Sarah Palin, isso é certo. E isso é de loucos. Porque a opção por esta mulher é uma irresponsabilidade nascida do desespero e da megalomania. Não há absolutamente nada no seu currículo que a qualifique para a função, a não ser um voluntarismo néscio e narcísico. A menos que a sua vida se limite às leituras de discursos escritos por outros, quando tiver de expressar as suas ideias ninguém saberá o que vai sair, ou em que guerra ameaçará entrar. Não se vislumbra um único aspecto do seu ideário e prática politica que tenha a mais vaga relação positiva com os problemas contemporâneos e globais. É ao contrário: ela parece talhada para fazer política reaccionária e anacrónica num canto perdido dos Estados-Unidos — por exemplo, no Alasca.

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Desafio ao Pacheco Pereira

É interessante ver a sanha com que Manuela Ferreira Leite é atacada pelos donos e empregados das agências de comunicação que pululam nos blogues, muitas vezes sem se identificarem como tal. Compreende-se bem: para eles seria insuportável que um político obtivesse resultados sem a ajuda dos “profissionais” de comunicação.

Quero saber quem são esses donos e empregados das agências de comunicação que não se identificam como tal. Quero saber o que justifica o uso do verbo pulular. Quero saber de que blogues falas. Quero saber se os requisitos para ser suspeito de ter emprego em agências de comunicação se resumem à publicação de opinião contrária aos interesses de Manuela Ferreira Leite ou de quem a apoia. Quero saber se vais denunciar os casos, presentes ou futuros, em que as agências de comunicação trabalham para políticos e empresários do PSD. Quero saber se és responsável pelas tuas palavras. Quero saber se estás a dizer a verdade ou a mentir.

O Insurgente tem boa pinga

Estava longe de imaginar a dimensão da bebedeira no Insurgente. Começou com esta coisa que não se percebe ao que vem, mas que se entende vir da iliteracia, passou pelo encadeamento das borboletas, e recebeu uma extraordinária confissão:

Quem citou fui eu, por achar piada às implicações das frases; e não falei em esquerda, muito menos extrema. Não conheço o citado nem as suas inclinações geométricas. O que não impediu o próprio de me etiquetar de iletrado e ultramontano...

Quem o afirma é Miguel Botelho Moniz, com inigualável candura. Temos, assim, que esta figura reconhece publicamente estar à vontade para fazer duas citações de alguém que não conhece; a que acrescenta — shame on you, Migas — igual desconhecimento das suas inclinações geométricas. Mas, lá está, como achou piada às implicações (??) das frases, tendo até ido buscar umas delas a um comentário feito fora do Aspirina — o que revela aturada investigação e interesse — toca de carimbar de preconceituosas e (ultra)relativistas as mesmas. Tem isto algum mal? Nenhum.

Nesse espírito, não se devia ter permitido o lance narcísico em que de um título simétrico deduz uma adjectivação fulanizada. Falar em “iliteracia” e “(ultra)montanismo” não implica atribuir a um sujeito essa condição, pode ser apenas uma referência contextualizadora da acção ou endosso circunscrito a um objecto (no caso, textual — fica a ajuda à interpretação). Seja como for, e deixando esta importantíssima questão de lado, constata-se que a embriaguez aumentou e deu nisto. E o que é isso? É a minha vez de fazer uma confissão: não sei, nem faço ideia. Mas deve ser fixe, pois o 1º comentário estipula estarmos perante um Grande post. :), com smiley e tudo de modo a não haver confusão. Vou acreditar neles, e fazer coro: Grande post, enorme. ;)

Mas, ó Miguel Botelho Moniz, já que aqui estás, deixa-me lembrar-te que afirmar-se de algo, ou de alguém, que é (ultra)montano não equivale a dizer-se de alguém, ou de algo, que é ultramontano. Estou certo de que irás acabar por aceitar este decisivo raciocínio, mesmo que não seja à primeira.

Iliteracia e (ultra)montanismo

Um iluminado a encadear borboletas.

 

ACTUALIZAÇÃO

“Se eu estiver enganado, pelo menos terei o gozo de ter estado certo até lá.” 

Uma frase que resume todo o programa da extrema-esquerda pós-moderna…

Comentário por André Azevedo Alves — Setembro 10, 2008 @ 8:36 pm


 

Os leitores de André Azevedo Alves, aos milhares, correram para cá com as suas máquinas fotográficas à procura de recuerdos. Não resistiram ao apelo de ver de perto exemplares da extrema-esquerda pós-moderna, a mais perigosa das espécies políticas. Não espanta, nadinha, que tenham ficado muito desorientados com o que encontraram. Estão agora reunidos debaixo deste poste, esperando uma qualquer explicação. Pois bem, estimados leitores de André Azevedo Alves, a situação é a seguinte: ser adulto implica aceitar certos fenómenos que resistem à análise, sendo demasiado escorregadios para se deixarem apanhar nas malhas da racionalidade, são realidades que apenas se podem sofrer até deixarem de doer, mas eu, ainda assim, sempre generoso com as visitas, gostaria que levassem daqui uma funda preocupação quanto ao que têm andado a ler deste senhor, o qual conseguiu identificar todo o programa da extrema-esquerda pós-moderna numa frase que até no 9ª de escolaridade não levantará heróicas dificuldades de interpretação. Temam, o caso é sério.

Top Ten das mulheres com quem gostava de beber duas garrafas de Deu-la-Deu e não ter de conduzir a seguir


Toca na imagem para conheceres uma mulher à antiga portuguesa

Filipa Brazona – Apresentadora TV
Marta Pereira da Costa – Guitarrista
Paula Teixeira da Cruz – Advogada/Mulher política
Fernanda Freitas – Jornalista
Marina Costa Lobo – Politóloga
Maria Filomena Mónica – Socióloga/Escritora
Ana Moura – Fadista
Paula Moura Pinheiro – Jornalista
Helena Ramos – Apresentadora TV
10º Odete Santos – Actriz cómica

Notas:

– A ordem é alfabética. Avisam-se as interessadas de que a cada mês haverá mudança de posição, passando a última para primeira, e assim sucessivamente. Desta forma será promovida a paciência, mãe de todas as virtudes, e instaurado um princípio democrático e pacificador.

– Algum eventual marido, namorado, amante, filho, neto, pai ou avô de alguma destas ilustres senhoras poderá sentir-se incomodado com esta listagem. Quero, pois, afastar esses possíveis receios e obstáculos, garantindo aos próprios estar absolutamente decidido a não conduzir no Apré-Deu-la-Deu.

– Aguardo da Adega de Monção o devido reconhecimento por esta magnífica acção publicitária, a qual fará esgotar o produto antes de Setembro se finar. Umas 5 caixas de Deu-la-Deu parece-me o mínimo, mas também aceitarei o acréscimo de duas caixas de Muralhas. Aliás, o melhor é marcarmos uma reunião e discutirmos um plano completo para 2009.

Onde está a direita?

Dos vários fenómenos sociais extraordinários que resultaram das reformas levadas a cabo pelo actual Governo, e também do modo simbólica e politicamente viril como o Primeiro-Ministro assumiu a chefia, não há nada que se compare ao que aconteceu à direita: desapareceu. No PSD os loucos tomaram conta do hospício, a custo lá foram metidos nas celas, porém não se calam e ameaçam voltar para acabar de vez com o partido. Entretanto, os enfermeiros de serviço não encontram sequer as ligaduras, quanto mais os comprimidos. No CDS, há muito que todos se demitiram, mas só agora começaram a contar uns aos outros. Para além destes partidos, temos a direita dos negócios, onde o dinheiro não tem ideologia. Segue-se a direita das ideias, que convive tranquila e galharda com um monaquismo de veludo, ganhando o pão na universidade e variegados institutos públicos e privados. Digna de nota é também a direita publicista, mas os magnos exemplos de Rebelo de Sousa, Pulido Valente e Pacheco Pereira apenas confirmam o evangélico preceito que avisa contra o serviço a dois senhores. Entre escolher a solitária reflexão ou o apoteótico espectáculo, estes pantomimeiros correm para o palco, onde fingem não envelhecer. Resta a direita da cultura popular, as famílias abastadas ou remediadas, mais as geográfica ou historicamente porque sim, onde a política é um assunto sujo e difícil, e, por isso, o que dava jeito era ter um senhor com ar sério a tomar conta disto e a manter a corja na ordem.

Falta uma direita inteligente e corajosa, capaz de pensar a politica como prova de carácter. Uma direita que não se limite a ser de direita.