Tinha 18 anos quando um colega gay vítima de bullying homofóbico desistiu da vida. Não era da minha turma. Era de outra. Três salas ao lado da minha.
Nesse dia percebi que não era suficiente discutir com emoção indignada (a tal emoção que alguns estranham) nas mesas de café. Percebi que tinha de exigir ao Estado que eliminasse todas, mas todas as desigualdades na lei com base na orientação sexual.
O Estado não pode emitir juízos de desvalor legitimando a homofobia.
Pelo contrário, tem a obrigação constitucional de ser o motor simbólico e real de uma sociedade que rejeita a homofobia, nos mesmos termos em que rejeita o racismo, a perseguição religiosa ou o sexismo.
Hoje vão ser votados os projetos de lei do BE, do PS e dos Verdes que permitem a adoção por casais do mesmo sexo.
Não devia sequer ser uma questão política.
Não devia ser uma questão de consciência.
É uma questão de ética e de vinculação aos direitos humanos.
Sim, está em causa o direito a ser pai e mãe. Sim, está em causa o interesse superior das crianças.
Os nossos opositores não conseguiram – porque é impossível – rebater a hipocrisia denunciada de uma ordem jurídica que permite a existência de famílias homoparentais cujas crianças têm uma só menção no registo, a adoção singular por gays e lésbicas que podem criar os adotados com os seus parceiros, mas que não admite a duas pessoas do mesmo sexo candidatem-se a adotar uma criança institucionalizada, numa lógica positiva de vínculo duradoiro de amor.
Os nossos opositores não conseguiram explicar o que leva 19 países (contando agora coma Áustria) e 38 Estados a perceberem o absurdo de se negar um modelo único de família, de resto já inexistente.
Os nossos opositores preferem ignorar a realidade de centenas de famílias homoparentais que calam todas as vozes das trevas e optam por andar à roda, falando no regime geral da adoção e tendo esta questão de direitos fundamentais como uma alteração pontual, ofendendo assim, sem hesitação, homens e mulheres que já são pais de filhos sem segurança jurídica ou que querem ser pais.
A mensagem aterradora dos nossos opositores para os gays e lésbicas que os incomodam é esta: – vocês não têm direito a constituir família.
Há, certamente, quem na direita não pense assim. Esperemos que se levantem em nome das pessoas, em nome da dignidade, esquecendo Partidos e partidos.
Uma coisa é certa. Aconteça o que acontecer hoje à tarde, nunca, mas nunca desistiremos da igualdade. Porque há muita gente que dorme mal tendo direitos que outros não têm.