Ou será antes do excesso de desinformação? Causada pela escassez de notícias para tantos canais de televisão, públicos e privados meramente de notícias em Portugal. E agora até pode ser relacionado com a silly season mas a verdade é que não conhece melhoras algumas durante o resto do ano. Porque neste caso vamos só falar do que as televisões e as centenas de especialistas que se juntam sempre à festa conseguem fazer em meia-dúzia de dias a qualquer facto. E nos últimos quatro ou cinco dias foi paradigmática a forma como conseguiram tratar um ventilador hospitalar e um acidente ferroviário.
Como aliás acontece por norma com qualquer acidente mais bizarro em que as televisões também por norma passam os dias seguintes à procura da mesma bizarria por todo o globo até ficarmos todos com a sensação de que afinal não aconteceu bizarria nenhuma. Conseguindo por essa via distorcer completamente a própria realidade. O que chega a parecer o principal objectivo muitas vezes.
No pico da pandemia, mais precisamente no dia 9 de Maio, foi anunciado que o CEIA (Centro para a Excelência e Inovação para a Indústria Automóvel), um investimento público de excelência que visa sobretudo ligar mais a Investigação e a Universidade à Indústria, com sede em Matosinhos, estava pronto para entregar os primeiros 100 ventiladores hospitalares portugueses aos hospitais portugueses como é óbvio. Portanto o CEIA tinha conseguido criar e produzir em tempo record um equipamento tecnologicamente muito evoluído, no caso o ventilador Atena, que visava essencialmente salvar vidas no pico da pandemia. O que já tinha aliás acontecido em Portugal em relação a outros bens pelo qual as maiores potências ainda se digladiavam no mercado, como as máscaras e os kits para testes. Depois de vários experts também já terem afiançado que Portugal nem nunca conseguiria produzir uma simples zaragatoa, que envolvia matérias primas de várias nações e por aí em diante.
Logo na altura também foi noticiado que o licenciamento CE, independentemente da qualidade ou nacionalidade do ventilador, demoraria sempre vários meses e por essa mesma razão, o Infarmed tinha anuído em conceder uma licença extraordinária também em tempo record. Que abria portas a que doravante já ninguém morreria por falta de ventilação artificial em Portugal, com o Atena como equipamento de recurso nos hospitais. O que sabemos que infelizmente aconteceu em muitos países. E que o próprio CEIA já estava entretanto a produzir outro ventilador mais evoluído, o Atena II. Hoje, depois de não sei quantas horas de noticiários e não sei quantas centenas de especialistas depois, o ventilador Atena já só serve para negros e zucas. O que é rigorosamente falso! Devemos regozijarmo-nos sim pela controle da pandemia em Portugal, onde ao contrário dos nossos vizinhos Itália e Espanha, nunca se fez sentir a falta ventiladores nos hospitais. Como nos devemos regozijar pelo excelente trabalho do CEIA.
No último sábado também fomos todos despertados para um acidente ferroviário entre um comboio de passageiros e uma máquina de manutenção, no troço entre Soure e Leiria, que viria a causar duas vítimas mortais. Precisamente os dois profissionais da Dresina onde o Alfa viria a embater num dos troços da via-férrea mais modernos do país. Aberto o respectivo inquérito e ainda sem relatório final mas já com a certeza que a Dresina não terá respeitado um sinal vermelho, mais uma vez começamos a ser bombardeados por centenas de especialistas aí para a 10ª redundância do sistema de segurança ainda por implementar nalguns troços da ferrovia em Portugal. Não obstante toda a consternação do país e sobretudo toda a falta de investimento nas últimas décadas na ferrovia em Portugal devia haver limites para tudo. Às tantas pergunta a flausina da RTP 3, toda embalada, hoje a um expert: – Portanto mais um acidente pré-anunciado? E responde o expert: – Eu espero que não e até parece que as vítimas mortais são o potencial infractor que não respeitou um sinal vermelho. Desta vez saiu-lhe mal.
E podia continuar com as viseiras da PSP. Quando foi o próprio Magina da Silva a anunciar a sua compra, depois da respectiva consulta ao mercado, num Prós e Contras da RTP 1. Fica também sobretudo a ideia que a comunicação social hoje, com a pandemia mais controlada, já deixou de atribuir qualquer carácter excepcional à pandemia. Se é que algum dia chegou a atribuir. E como descobriu o escrutínio da corrupção há tão pouco tempo, agora primeiro dispara e depois faz as perguntas. E o último a sair que feche a porta.
Até Rui Rio, em quem ainda hoje aqui esgalhei no post do Valupi que estava coberto de razão, também aqui há algum tempo conseguiu pronunciar qualquer coisa como: – “A crise das instituições também passa pela forma como a comunicação social, muitas vezes, as trata publicamente.” No seu discurso à nação onde defendeu que a forma como a Comunicação Social exerce muitas vezes a sua função em Portugal é um dos maiores problemas do regime. O problema de Rio é que tirando umas farpas certeiras à Justiça e à Comunicação Social…
Outro facto que é de salientar é o pluralismo da informação em 6 ou 7 canais de televisão em Portugal. Mais perto de um regime ditatorial. Fica sempre a ideia que alguém lança o isco e… não deve ser nenhuma agência de comunicação pública.
Repórter P


