O ministro da Cultura tem feito prodígios para combater as chamadas gorduras do Estado. Por exemplo, na Biblioteca Nacional de Portugal, que não é propriamente uma agremiação cultural de bairro, nunca se viu uma coisa assim: a primeira biblioteca portuguesa, que cobra oito euros a cada leitor para validar o seu cartão, deixou de atender pedidos entre as 13 e as 14 horas. Os pedidos acumulam-se nesse intervalo e depois de almoço começam a ser novamente satisfeitos, lentamente, porque não há pessoal suficiente. A direcção da casa não tem dinheiro para assegurar um serviço que SEMPRE prestou à hora do almoço.
Hoje a Biblioteca Nacional tem menos de metade do pessoal que tinha há vinte anos. O enclave de deficientes da mesma biblioteca, criado nos anos 80 com o meritório objectivo de criação de postos de trabalho útil para pessoas com capacidades diminuídas, está a ser actualmente utilizado como reserva de mão-de-obra para substituir funcionários não-deficientes que se reformam e cujo lugar não é preenchido. Os deficientes fazem o seu melhor e alguns até são tão competentes como os outros, mas tal situação parece uma completa deturpação da lei que criou os enclaves de deficientes.
A suspensão dos pedidos à hora do almoço é só um problema. Vários serviços prestados pela BN são afectados pela falta de funcionários. Lutando com cada vez maiores dificuldades para assegurar as suas funções mais elementares, a BN parece-me estar na situação daquele cavalo cujo dono decidiu dar-lhe todos os dias menos ração. A coisa a princípio ia muito bem, mas quando o cavalo estava já quase a habituar-se a não comer, morreu…
No tempo de Sócrates, a BN sofreu cruciais obras de ampliação e renovação que implicaram o (inevitável) fecho da sala de leitura por uns meses. Pois fizeram-se petições contra o fecho e a comunicação social foi invadida por gente histérica, intelectuais e aparentados, sobretudo aparentados, muitos dos quais não punham os pés na biblioteca, mas que acharam oportuno vociferar contra o governo. Quem fala agora em defesa da Biblioteca Nacional?
a não ser que sejam deficientes mentais e intelectualmente desempenhem funções desadequadas às suas limitações, não vejo porque referes a competência. estará em causa, talvez, a exploração. mas, enfim, governo que não ame a cultura obesa é falhado.
Para já não falar do que se passa dentro, nos serviços, e que é mais difícil ser percebido pelos leitores (não trabalho lá, mas chegam-me notícias). Excelente chamada de atenção, Júlio! A BN não merece estes tratos de polé, próprios de um país do 3º ou 4º mundo
De facto, é pena o deslize sobre os deficientes e a competência. Merecia ser corrigido. Tanto quanto sei, as regras sobre emprego de trabalhadores deficientes não visam dar esmola a desgraçados, mas antes dar oportunidades aos deficientes de trabalharem como os outros, mediante compensação (a custo da colectividade) das incapacidades que decorrem das suas deficiências. Isso torna o posto de trabalho dos deficientes mais “caro” do ponto de vista do empregador, mas não significa de maneira nenhuma que se sacrificam postos de trabalho a tarefas improdutivas, como a frase do post da a entender…
De resto OK.
Falta talvez acrescentar que a leitura de livros, sobretudo dos livros guardados na BN (maioritariamente escritos em Português), é provavelmente considerada por este governo como uma causa de distração que impede jovens e menos jovens de se concentrar no empreendedorismo em paises estrangeiros. Portanto, a medida até tem a sua logica…
Boas
òbimba & biegás, aconselho a leitura do 2º § em voz alta, várias vezes, até perceberem o que foi escrito e depois peçam desculpas ao júlio pelas insinuações merdosas.
Sim, de facto, os enclaves são (pelos vistos) um regime especial :
“Os Enclaves regem-se pela mesma lei do Emprego Protegido, entendendo-se por Enclave um grupo de pessoas deficientes que exercem a sua actividade em conjunto, sob condições especiais, num meio normal de trabalho. O Enclave da BN foi criado em 1980 ao abrigo de um protocolo de acordo de cooperação entre esta Instituição e o IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional).” (daqui : http://www.bnportugal.pt/agenda/evento-enclave.html).
Tanto quanto percebo, a logica não é, pois, de colocar os deficientes numa situação de emprego normal (embora a termo possa evoluir nesse sentido).
As minhas desculpas ao Julio.
Boas
O enclave da Biblioteca Nacional já terminou á muito tempo, a maioria das pessoas com deficiencia foram integrados nos quadros desta instituição, de uma forma ou de outra desempenham as funções que lhes estão destinadas. Mais grave é quando as pessoas ditas deficientes são abusadas por serem bons funcionários, responsáveis e cumpridores são transferidos para serviços que não têm nenhuma preparação ou conhecimento, e no fim do dia têm de andar sorridentes por são ameaçados pelas chefias que os colocam na rua!!!! A falta de pessoal (passaram de 300 para 180 numeros aprox.) provoca nas chefias irritação cerebral …. o descontentamento é grande, lamentavelmente vejo uma grande Instituição a degradar-se, perder qualidades, a nível humano, a nivel do proprio edificio foi feito uma nova torre para ser inaugurada em Set. de 2013 e continua à espera que lhe seja dada a devida e merecida atenção como instituição emblemática que é do País na sua área.