Daniel Oliveira e o mais valia

«Com centenas de milhares de crianças em casa, é impossível não recordar o projeto e-escolinha e o Magalhães. Os arquivos desse tempo são um retrato do nosso debate político. Casos, casos, casos. Fora isso, a reação geral da nossa elite foi a de ridicularizar.»

DO in Expresso Diário de 18.05.2020

Sobre o computador “Magalhães” este ‘tudo-em-um’ foi vasculhar o que se disse nesse tempo da ”e-escolinha”, contudo, ele que é homem que fala sobre tudo com opiniões fortes, não nos presenteou uma única opinião sua desse tempo sobre tal assunto.
Esconde-se atrás de palavras sem sujeito para esconder os autores da ideia e não cita uma única “autoridade” intelectual que fez tudo para destruir o facto para desse modo desconstruir e ridicularizar a ideia e maldizer dos seus autores.
E tinha à mão de imediato duas grandes figuras da altura feitas figurões especialistas em “autoridade” intelectual; os cientistas de laboratório infalíveis Pacheco Pereira e o elogiado e propagandeado grande sociólogo Barreto. Um, o PP, grande técnico informático, ridicularizou o animal dizendo que afinal tal bicho não era português porque lá dentro a maior parte do material era de fabrico Intel (será que tal sábio de computadores depois disso alguma vez abriu o seu próprio computador?) e o grande sociólogo-psicólogo informou o povo de pais e mães em título monumental (no “público” do outro sábio JMF) que o computador estragava a cabeça das criancinhas e por outras coisas como a proibição de fumar em recintos fechados (na altura este sábio tal como Miguel Tavares fidalgote ainda fumavam gostosamente) nesse mesmo artigo, antológico da parvoíce, apelidou Sócrates de fascista.
Ainda a memória desses tempos vai na praça e já se ouvem os rumores da falta do “megalómano” novo aeroporto, do faraónico TGV (sobre este o DO um dia destes, devido à crise do transporte aéreo, virá falar também em abstracto na ideia para encobrir a visão política do autor), do Simplex que Costa retomou e da Mobilidade Eléctrica (Aerogeradores, Alqueva, Centrais Hídricas, fábrica de baterias, carros eléctricos e carregadores) coisas que os parvinhos sábios apelidaram de “ventoinhas”, “carregadores de telemóveis ou isqueiros” e outros epítetos de verdadeiros reles sábios de sarjeta.
Também o DO se refere à existência de uma tal ideia feita facto, a ‘e-escolinha’, uma Fundação criada para apoiar o dito programa do ‘Magalhães’ a qual também foi o meio pelo qual o governo foi sacar a massa, milhões, devidos ao Estado pelo Belmiro e outros a quem tinha sido concedida o direito de exploração das redes telemóveis; tinham a massa há anos em dívida sob a vista grossa do PSD que Sócrates não perdoou; o mau olhado e olhados de esguelha contra o PM aumentaram de grau e intensidade logo aí.


[…]
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[…] Com centenas de milhares de crianças em casa, é impossível não recordar o projeto e-escolinha e o Magalhães. Os arquivos desse tempo são um retrato do nosso debate político. Casos, casos, casos. A reação geral da nossa elite foi a de ridicularizar. Do alto de um conservadorismo arrogante, que tendo a modernidade garantida em casa acha que aos mais pobres bastará a ardósia e os cursos profissionais para serem canalizadores competentes, aquilo parecia-lhe uma bizarria. A superficialidade da crítica, que se concentrou nos escândalos e em episódios, foi acompanhada por um discurso modernizador simplista e deslumbrado, habitual em José Sócrates. […]

Daniel Oliveira

*_*

Quem ficar curioso a respeito da passagem “discurso modernizador simplista e deslumbrado, habitual em José Sócrates“, interrogando-se sobre a sua origem e conteúdo, não vai encontrar respostas neste seu texto. Falta de tempo, falta de espaço? Desconfio que o problema é mais profundo, porque o rol habitual de insultos, difamações e algumas calúnias deste comentador profissional contra Sócrates não encontra substanciação em nenhum dos inúmeros actos de fala pública de que é autor.

Que será, para o Daniel Oliveira, um discurso modernizador não simplista e não deslumbrado? E a ser alguma coisa que conseguisse verbalizar com sentido passível de discussão, seria ele capaz de dar algum exemplo de algum político, vivo ou morto, que representasse o seu estimado ideal?

A explicação para esta atitude concomitantemente pedante e imbecil do articulista pede uma leitura marxista. Temos de ir à economia e olhar para o que lá se passa. E o que se passa é que os rendimentos do sr. Oliveira virão, na sua maior parte (presumo à toa), de um patrão que não gosta do Sócrates nem curte preferencialmente o PS (nada contra, apenas constato). Esse patrão não está disponível para ver diminuir a sua mais-valia, a qual no seu negócio se mede pela influência mediático-política que consegue alcançar. Ter um comentador regular no seu jornal ou na sua televisão a defender um Governo socrático seria completamente impensável para o capitalista em causa e demais companhia directiva. Isto não carece de experiências em laboratório para ser dado como evidência.

Ora, como é que é possível despachar uma crónica diária com um tema meritório por várias razões, o do projecto Magalhães, sem com isso deixar o patrão e capatazes com a pulga atrás da orelha? Pois há que ser superficial, banal, irrelevante e… malhar no Sócrates. Porque a não ser assim, imaginando que o propósito era a objectividade e a isenção, então falar do Magalhães implicaria falar dos outros projectos de modernização que foram lançados pelo único Governo maioritário do PS. Projectos esses, incluindo o do TGV e o do novo aeroporto, mas não só, que nasciam da mesma visão e força política que nada tinham de simplista nem eram deslumbradas, antes se propunham aproveitar uma conjuntura de estabilidade parlamentar para, de facto, modificar o País não só para melhor como para muito melhor – com a mais genuína social-democracia. E não tivesse tal ímpeto reformador e inovador sido interrompido pela crise económica internacional de 2008, talvez a maioria absoluta se tivesse repetido.

O Daniel Oliveira, ensina Marx, está alienado quando trabalha para aqueles que reduzem a política ao poder pelo poder. Mais valia, já que não quer abdicar do proveito e da fama (nada contra, apenas constato), que se calasse sobre Sócrates.

10 thoughts on “Daniel Oliveira e o mais valia”

  1. Pois é, lá está. Estes “jornalistas” têm que comer e vivem disto. Se não agradarem e não forem úteis ao patrão, não há dinheiro para a mandioca e comprar melões. Donde,.. bye bye honesty!!!
    E assim vai caminhando a imprensa em Portugal. (se calhar não só, mas antes em todo o mundo) Não por acaso, a crise está instalada. Só me chateia que, tendo eu deixado de comprar os jornalecos que por aí andam, estes agora estejam a ser subsidiado com o produto dos meus impostos.

  2. Ressabiamento 100 % aspirina B.

    Não me recordo do que o homem escreveu na altura e estou-me nas tintas. Admitindo que fosse critico, o artigo soaria como um mea culpa, 10 ou 15 anos depois. Reconhecer um erro, ainda que tardiamente, e procurar de tirar lições, eis o que em 99 % dos paises do mundo seria enaltecido como um sinal de humildade e de honestidade intelectual.

    Mas na Parvonia, esta quieto ! O homem esta apenas a querer esconder que na altura torceu pelo Benfica e não pelo Sporting. De qualquer forma, o universo so voltara a rodar quando nos devolverem a taça de 1947 que perdemos por causa do penalti que o arbitro nos roubou desavergonhadamente.

    Não ha paciência.

    E agora venham os comentarios habituais a dizer que eu sempre fui do daniel oliveira futebol clube, em regra por parte desses mesmos comentadores que, ha 2 ou 3 postes atras, diziam que eu era um reles direitolas.

    Venha mais uma bica !

    Boas

  3. e então ? dava -se um magalhães aos miúdos todos os anos à espera do covid? e imprimiam-se à mesma os manuais todos estes anos ou já vinham todos no baratinho e book para compensar o investimento em pcs ? tantos buracos nesta elegia do magalhulho , mi gud.

  4. «Ressabiamento 100 % aspirina B.»

    O douto João Viegas antes de qualquer argumentação solta logo os cães de guarda das sebentas literárias atafulhadas de preconceitos.
    Podia fazer algum sentido tomar o escrito do DO como mea culpa se tal criatura em tudo o que escreve e subscreve acerca deste e ouros assuntos correlativos àquele tempo pré, durante e pós socrático não tivesse sempre imbuído de subterfúgios de modo a fazer o elogio à coisa para ocultar o coiso, elogiar o facto em si para ocultar o fautor, enaltecer a invenção sem mencionar o inventor ou pior, como faz neste caso, falar da invenção boa e acusar de reles habitual o inventor, o fautor, o motor e divulgador do que elogia, assim deste modo; “A superficialidade da crítica, que se concentrou nos escândalos e em episódios, foi acompanhada por um discurso modernizador simplista e deslumbrado, habitual em José Sócrates.
    A este estilo do melhor do pior que há na escrita de jogos de palavras e falácias literárias de um calculismo manso de elogiar o que se tornou bom e antes se desacreditara ao mesmo tempo que passa a mão pelo pelo do patrão.
    Bom, e que dizer da conclusão do douto juízo de Viegas de que somos todos, cá na Parvónia, uns tontos que vimos e analisamos tudo sobre o prisma de disputa futebolística?
    Já assisti a um grande e maior “repórter” nacional relatar a Operação Viriato (tomada de Nambuangongo) segundo essa mesma perspectiva futebolística em Angola. Mas o Artur Agostinho era um mestre futeboleiro e por força do hábito via tudo sob esse prisma e jamais tinha o afastamento pessoal profissional para “ver” que naquele “jogo” a bola era feita de vida ou morte possível de muitos dos mais de 1500 Soldados que repartidos em três colunas, já com dezenas de baixas, convergiam para aquela localidade angolana.
    Como vê, essa visão de que em Portugal tudo é reduzido a um Benfica-Sporting é velha e é falsa, não passa de um preconceito enraizado em quem o profere.

  5. Quem acompanhou a reconquista de Nambuangongo, foi o Artur Agostinho ou o Ferreira da Costa ?
    Ajudem-me,com tanta informação desta,fico às escuras !!!

  6. O Ferreira da Costa acompanhou esta e outras operações pela rádio e até foi o propagandista radiofónico da chamada de prostitutas para levantar o moral dos Soldados em Angola; nos acampamento onde elas apareciam, levadas pelos próprios militares, ou desembarcavam em Luanda vindas nos barcos militares, dizia-se, que era pessoal do “Batalhão Ferreira da Costa”.
    O Artur Agostinho foi o grande repórter nacional seleccionado para fazer a reportagem da grande operação militar da tomada de Nambuangongo (Operação Viriato).
    Numa das 3 colunas militares ia incluída uma equipa de reportagem da RTP com câmaras de filmar formada pelo jornalista Neves da Costa e Serras Fernandes os quais comeram o pó das picadas tal qual os soldados uma coisa que o grande repórter nacional se recusou fazer.
    Tal como muitos grandes e famosos repórteres e grandes e maus militaristas de Quartel de passados ontens se mijavam na guerra também hoje estes senhores meninos e meninas deputados inquiridores superiormente protegidos pela força da Lei e lei da força da AdR se submetidos a verdadeira prova de fogo dos dois lados nos provariam a nudez de suas reais qualidades éticas e morais para julgar quem foi ao combate e perdeu levado num cataclismo geral.

  7. Neves :
    Acho que o Artur Agostinho nunca fez parte das colunas de Nambuangongo…. ele era mais campeonato e volta a Portugal!
    A recepção. ao Santa Maria foi feita pelo relator segundo do futebol muito sportinguista,ainda hoje aparece lá na TV deles…
    Quem sofreu não esquece.

  8. O Daniel Oliveira quer mandar o Centeno embora,imaginem o que os patrões dele Daniel lhe impõem !!!
    O Daniel precisa de conservar uma pequena aura de esquerda senão,pensa ele,lá vai o resto de fregueses que ainda o atura…e daí toca a gabar uma medida do Sócrates,o indefeso Magalhães,que o Pacheco Pereira abateu numa emboscada feroz,mancomunado com a rainha do pagamento por conta,a gentil Manela Ferreira Leite.
    Gaba a acção do Sócrates e malha no Centeno! Como fez o que nem para porteiro,e assim o milimétrico Mendes teve tal queda facial que ainda hoje só trabalha em três cilindros!!!
    Achtung, Daniel !

  9. Mais importante do que o evidente condicionamento e alucinação do talking head é a sua assunção de que vivemos num tempo onde a política não tem projecto. Digam uma ideia de Costa ou Marcelo, para além da bananalidade… não há nada naquelas cabecinhas, só os preocupa a gestão do ciclo político, são apenas mediocres. Já não há política, tudo é esquema e jogo. Como tal não existe tempo para além do quotidiano (pop) uma cadência incessante de novos dias iguais aos de ontem que arrastam o nível de debate político para a infantilidade, com idiotas de um lado e doutro a debaterem as interpretações dos discursos e frases, Costa e Marcello na Auto-Europa, Costa na praia , Marcello no supermercado,etc… A comunicação política é dirigida directamente às redes sociais e subservientemente retransmitidas pelos media falidos, propagandísticos na sua grande maioria.
    Não temos projecto nem nenhuma teleologia política para além dos amanhãs que cantam mas até esses estão há espera de uma senhora germânica e gorda.
    Nunca houve tamanho vazio, daí a referência ao Magalhães por um crítico de actualidades. O tempo não vive sem projecto.

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