Só para o caso de algum leitor tomar a mudez geral dos sócios do Aspirina como uma espécie de aquiescência passiva, tenho de proclamar o seguinte: não vejo grandes vislumbre de razão ou de sentido neste post ou neste, ambos lavrados pelo meu acetilsalicílico parceiro Valupi. Nada de dramático; apenas formas divergentes de espreitar a realidade, o que nem sequer obriga à invenção de novas alternativas ao quinto postulado de Euclides.
Vejamos: primeiro, Valupi descobre-se no meio de uma sociedade embrutecida e bovina, fascinada por “ricalhaços” e “futebol”, que, de todo, “não speaka marxês”. De caminho, ainda estranha que os partidos de esquerda não estejam sempre no poder, como seria natural se as suas propostas fosse assim tão bondosas para os “trabalhadores”. O facto de o PS até ser governo é sacudido com um fácil e mui conveniente envio deste partido para o “centro”, como o provaria à saciedade o facto de ter alcançado a maioria absoluta. Ora isto representa uma confusão homérica entre centro sociológico e centro político, levando-nos de escantilhão para um lindo corolário: o PSD e o PS são, uma vez que já ambos foram maioritários, rigorosamente iguais. Passa-se que não são. Podem ser parecidos, pode o PS não ser “de esquerda” para o PCP, mas é inegável que está à esquerda do PSD, se aceitarmos que estas definições ainda retêm algum resquício de significado.
Ora o facto de a nossa sociedade não “speakar marxês” não tem de ser visto como um problema de “passar a mensagem” nem sequer como mais uma demonstração da falta que faz uma vanguarda esclarecida. Basta relembrar Marcuse para vermos como o marxismo não congelou no Jurássico e até já demonstrou, há décadas, compreender bem esta “sociedade unidimensional”(1) que agora Valupi descobriu. Pois — e atenção que esta pode ser revelação espantosa para muitos — a Esquerda não se limita a berrar os seus vómitos “anti-América” e “anti-autoridade” (semelhante uso deste chavão chega a ser cómico, em dias em que alguma direita pugna pela quase anulação do papel regulador do Estado…); também consegue pensar o mundo em que vive. Ignorá-lo é de um simplismo a toda a prova.
No post seguinte, o alvo é outro mas a caçadeira continua munida de chumbo grosso e orientada por desfocadíssima pontaria. Partir do princípio que um acervo de episódios e tendências negativas chega para definir por atacado toda uma “civilização” ou uma religião seria risível se não fosse algo sinistro.
Ora deixem-me dar uma ligeira volta ao valupiano texto, mantendo no entanto intactos todos os delicados maquinismos da sua lógica:
“O caso do presidente convertido ao fundamentalismo mais alucinado, e já antes notório por não comutar penas de morte, é uma nítida radiografia da sociologia do Ocidente. Estes evangelistas enlouquecidos são aliciadores de fanáticos, numa lógica puramente religiosa. Nos países cristãos onde não há outras fontes de informação e de formação, ou onde elas são totalmente subservientes, o sentido constrói-se coercivamente a partir das patologias instituídas como cultura religiosa. O resultado é o contínuo fluxo de carne para canhão.”
Ou, em alternativa, também podia pegar no recente episódio do influente rabi que recomendou aos pais judeus que amputassem partes das bonecas das suas filhas para que estas não caíssem na categoria de “ídolos”. A partir daqui, seria fácil inferir que o Judaísmo é coisa de psicopatas delirantes.
Seria grotesco e simplório, não é? Pois. I rest my case(2).



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