Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Todos os que se passam, passam-se na TSF

Agora que o programa Bancada Central acabou, como é que vai ser? Onde é que os maluquinhos da bola poderão lançar as suas teorias conspirativas, os seus desabafos hilariantes, os seus insultos gratuitos e as suas exuberantes demonstrações de insanidade clubístico-maniqueísta? Temo pelo bem-estar de muitas mulheres portuguesas, cujos maridos encontravam naquelas conversas nocturnas com o “sr. Fernando Correia” uma válvula de escape para as suas frustrações e formas de agressividade latente. Temo pelo futebol português, que perde de uma só vez centenas de atentos teóricos e exegetas. Temo pelo auto-estima do ouvinte Costa Pereira, do Porto, opinion maker que precisava deste cantinho do éter nacional como os restantes mortais precisam de pão para a boca.
Enfim, eis um problema a exigir reflexão profunda, petições na Assembleia, manifs nas ruas e, porque não, um Fórum TSF. Pense nisso, senhor Manel Acácio, até porque desconfio que vai herdar muita da massa crítica que ficou subitamente órfã de protagonismo radiofónico.

horóscopos e projectos

Após descobrir que as teclas CTRL+F5 servem para actualizar horóscopos que parecem desactualizados, passei divertidos minutos a ler o projecto de Lei do Bloco de Esquerda que pretende introduzir o ensino multilingue nos estabelecimentos públicos de educação e de ensino. Lamentavelmente, e neste último caso, as teclas CTRL+F5 não se aplicam, uma vez que “parecer desactualizado” não é exactamente o caso do tal projecto.

Talvez a tecla Delete

Dão-se alvíssaras…

… a quem me faculte mnemónica que me auxilie a distinguir estes dois.

mnemónica.JPG

Já tentei de tudo, mas a verdade é que não distingo o Dores do Góis (ou será o Góis do Dores?). Os tipos, para além da insana insistência em mudar de roupa de aparição para aparição, nada têm que os distinga. O sinal do da esquerda costuma saltar para o da direita; o da esquerda nem sempre tem aqueles três deditos no ombro direito (o que seria muito útil); raramente aparecem os dois sozinhos no mesmo sketch e quando tal acontece voltamos ao problema da roupa. Tudo como se inconscientes do problema que os atenta.

Em suma, este é um dos problemas que eu gostaria de resolver ainda em 2007. Daí as alvíssaras!

Uma teoria

Cá vai: James Blunt é o André Sardet inglês e André Sardet é o James Blunt português.

Se repararem bem, são quase iguais: bonitinhos, melosos, pirosos e medíocres (embora Blunt tenha estado na Bósnia ao serviço do exército britânico, o que constitui uma atenuante de peso para o apocalipse musical que nos inflige; enquanto Sardet não tem desculpa para massacrar guitarras e tímpanos como massacra).
Agora, fico à espera que em 2007 Sardet faça uma cover de You’re Beatiful (És Tão Linda) e Blunt uma versão inglesa de Foi Feitiço (It Was a Spell).

Amnésia

Perguntou a revista NS’ (suplemento de sábado do DN) a António Mega Ferreira, director do Centro Cultural de Belém: «Qual foi o acontecimento do ano em Portugal?»
Respondeu António Mega Ferreira, director do CCB: «Não se passou nada de muito excitante, de facto. Não me lembro de nada marcante.»
Curiosa amnésia. Mesmo desvalorizando tudo o que aconteceu cá no burgo (da febre reformista de Sócrates à Presidência soft de Cavaco, da OPA da Sonae sobre a PT à morte de Cesariny), Mega sempre podia lembrar-se de algumas coisas que aconteceram à instituição que dirige: cortes substanciais do orçamento, perda do módulo de exposições para o Museu Berardo (em condições desfavoráveis para o CCB, que passa a ser uma espécie de montra dourada do espólio interessante, mas tematicamente limitado, que o comendador pretende valorizar a todo o custo), programação de espectáculos reduzida ao mínimo exigível e fim abrupto da Festa da Música, o acontecimento que mais espectadores trouxe a Belém nos últimos anos.
«Não me lembro de nada marcante», diz Mega Ferreira. Pois, pois.

Socorro!

Em má hora me atrevi a desafiar a ira do Norte e agora estou a ser gramaticalmente sovado pelo meu primo JPC, sem apelo e com agravo. E é de corpinho macerado que me vejo obrigado a conceder que só deve obedecer à gramática quem já não consegue aguentar o que sente.

Tenho um sotaque horrível por isso não me venham cá com merdas ou O nível dos meus posts em 2007 promete ou Olha-me este gajo armado em intelectual a publicar fotografias antigas ou ainda, se quiserem, Este título longo não augura nada de bom

afinfa.jpg

Continuar a lerTenho um sotaque horrível por isso não me venham cá com merdas ou O nível dos meus posts em 2007 promete ou Olha-me este gajo armado em intelectual a publicar fotografias antigas ou ainda, se quiserem, Este título longo não augura nada de bom

L’HISTOIRE A BESOIN DE SOINS MÉDICAUX

Permitam-me abusar da hospitalidade desta casa, metendo aqui a minha resposta a um comentário do Valupi ao meu post sobre o Cloreto de Magnésio e o Professor Pierre Delbet. Matei as lêndeas gramaticais que mais feriam os olhos aos puristas amadores que passeiam nesta freguesia e deixei o resto na mesma. Estou convencido que os que estranham a ausência das ricas penas da maioria dos nossos colaboradores compreenderão esta espécie de impertinência que é ao mesmo uma forma simples e airosa de manter o jornal em movimento.

Desculpa a retirada à pressa, mas não podia deixar arrefecer a limonada. O que acontece em casos destes (quando por exemplo eu e outros nos pomos a dizer que andamos a ser mal servidos por uma classe que tem a obrigação de zelar pela nossa saúde ou, se não tem, que o diga com toda a franqueza para ficarmos descansados) é que quase sempre se esbarra contras as paredes do costume. Isto é, se citamos um médico honesto – ou uma dúzia deles, tanto faz – que nos pareceu “revolucionário” ou diferente e a destoar dos poderes estabelecidos nessa área, o argumento predilecto e muito comum é o de que essas ideias diferentes não foram confirmadas pelos maiorais da época nem sujeitas ao escrutínio de estudos científicos. E quanto mais velhas vão ficando essas opiniões discordantes, tanto melhor para aqueles que nunca as aceitarem por razões que só eles sabem. Repara, por exemplo, que só foi há meia dúzia de anos que se tornou pública a oposição muito válida dum dos contemporâneos de Pasteur às ideias sacrossantas deste. Até ai, ninguem ousava arrebitar a cauda ou pôr em questão as suas teorias microbianas.No caso de Pierre Delbet, e de muitos outros médicos franceses que confirmaram na prática que ele estava correcto naquilo que defendia e bastante avançado em relação à escola tradicional, foi utilizada uma outra arma do costume: deixar andar, não fazer muitas ondas, que no fim o pagode vai esquecer e até nem os médicos novos ficarão com porra de ideia de quem foi esse fulano muito respeitado no seu tempo.

Quanto ao aspecto da revitalização, vê se esta passagem dum outro livro sobre a matéria encoraja os curiosos da medicina, porventura distraídos: “Comme le professeur Delbet l’a établi par nombres d’experiences et d’observations faites avec des doses plus faibles, le Chlorure de Magnésie “exalte la VITALITÉ des cellules et leur permettre de triompher, par elles-mêmes, des microbes”. C”est ce qu”il a appelé Cytophylaxie”. O problema agora é entre o que Delbet deixou escrito, que não é sacrossanto, bem entendido, e esses médicos-cientistas de que me falas.

Agora perde um pouco de tempo, se quizeres, e vê se me encontras algum dos vários livros escritos por Delbet ou pelos seus seguidores à venda na Internet ou nalgum alfarrabista ai no teu bairro ou no resto dos bairros. Se encontrares, diz-me, que terei muito gosto em comprá-los e oferecer-te um charuto. Nos últimos anos tenho aprendido que a maior parte do papel impresso ainda a cheirar a tinta fresca raramente nos conta a verdade. Quem quizer saber dessa rapariga terá que procurá-la em sótãos e atrás de móveis. O único inconveniente é o de nos enfarruscarmos a sacudir-lhe o pó. Muito obrigado pelo interesse e um abraço. TT

As silenciosas salas da memória

Fosse pelo que fosse, a verdade é que nesta passagem do ano lembrei-me muito do jornal O Século. Quando se é novo, um ano representa muito pouco na percentagem do vivido. Um miúdo com dez anos, se pensa num ano, esse ano representa um décimo da sua idade. Mas o mesmo miúdo quando chega aos cinquenta já percebe que um ano é apenas um cinquenta avos da sua existência e tudo é mais veloz e fraccionado.

É um facto que a minha casa é muito perto da Rua de O Século, mas se não fosse essa aproximação eu lembrava-me na mesma. Porque quando eu era jovem pensava que o majestoso parque gráfico do jornal O Século nunca iria parar nem, muito menos, morrer. É que, além do jornal propriamente dito, havia as revistas O Século Ilustrado, Vida Mundial e Modas e Bordados – esta, uma revista para senhoras que muitos homens não dispensavam, pois nela escreviam escritoras importantes como Maria Lamas, Maria Ondina Braga ou Maria Judite de Carvalho. E como era assim, eu pensava que tudo aquilo nunca ia acabar. O Século era um mundo que fazia parte da minha vida, mas um dia, de um dia para o outro, deixou de fazer.

Esta fragilidade das coisas fortes, esta inesperada morte de um império de palavras, tudo isto me veio à memória no momento em que um ano mais se despede e um ano novo se apresenta na nossa vida. Agora só existe uma maneira de recuperar essas palavras perdidas. É nas prateleiras da Hemeroteca de Lisboa que as palavras do jornal O Século não morrem e vivem de novo sempre que alguém as recupera do sono do esquecimento. E projectam um pouco de vida e de alegria num lugar onde só a morte e a tristeza dominam as enormes e silenciosas salas da memória.

José do Carmo Francisco

NO IRAQUE TUDO PODE ACONTECER

Para aqueles para quem o “enforcamento” de Saddam Hussein possa servir de tópico em conversações à volta das caras de bacalhau com couve esta noite, segue este conselho: não acreditem, por enquanto, no que os vossos olhos viram, nessa fotografia dum corpo inerte pronto para mortalha e enterro.Eu pelo menos tenho as minhas dúvidas de que o homem fosse o mesmo que colaborou activamente com a Central durante umas dezenas de anos. Porquê? Pelo seguinte.

Primeiro, porque a ridícula saga dum Bin Laden, que só aparece em videos mas nunca a mostrar-nos como é que se amanha com relimpezas ao sangue, necessárias devido a insuficiência renal, é uma montagem que pode ser duplicada com pequenas alterações e com a ajuda do departmento de props da Central; segundo, porque não me lembro de ter lido em quatro anos uma única verdade sobre a guerra do Iraque saída das bocas dos governos americano ou inglês ou dos xiitas do governo responsáveis por grande parte do terrorismo que dizem andar a combater; terceiro, porque tanto a amante como a mulher de Sadam Hussein desmentiram que o homem que temos visto nas noticias é o mesmo que costumava dormir com elas; quarto, porque não vi a tradicional queda no alçapão, como costumamos ver nos filmes de cowboys do Clint Eastwood; quinto porque um dos chorosos acompanhantes no funeral the Saddam declarou: “He did not die. I can hear him speaking to me” (querem melhor prova do que esta?); e sexto, porque adoro teorias da conspiração e esta apresenta-se tão verosímil como outra qualquer.

Portanto, abaixo a intriga imperialista muito espertalhona e vão enfiar o garruço a outro.

TT

AU REVOIR, MONSIEUR PASTEUR

Acabei há dias de ler um livrito que importei de França, escrito por uma psicóloga e naturopata daquele país muito interessada nos problemas da alimentação e com um respeito muito grande pela Liberdade de ser o cidadão a decidir que tipo de tratamento lhe convém quando a doença lhe invade o organismo. No livrito intitulado Chlorure de Magnésie – un remède-miracle inconnu – Marie-France Muller introduz-nos nos conhecimentos duma substância de poderes curativos quase milagrosos, ou mitigantes, indirectamente conhecido por quase todos nós, não fosse a sua fonte mais importante a água do mar, onde o encontramos como composto natural – Cloreto de Magnésio.

A descoberta deste sal-pão-alimento, que é curativo por ser precisamente isso e muito natural, não é dessa senhora. A honra coube a um brilhante médico francês, Pierre Delbet, membro da Academia Francesa, que se ajudou da colaboração de muitos seguidores da mesma profissão que provaram e re-provaram e tornaram a provar as virtudes da substância vital num período que se estendeu do fim da Primeira Guerra Mundial aos anos cinquenta, quando a Big Pharma começou a mostrar os dentes da maravilha anti-biótica (cujas consequências agora carregamos como um fardo mórbido) e a estender tentáculos, revelando harmonia e consonância com os planos de certos grupos politicos apostados em conservarem o resto das tertúlias parlamentares em completa e vergonhosa ignorância dos avanços genuinos da ciência médica. Pierre Delbet foi dos primeiros, se não o primeiro, a apontar a relação inversa de magnésio dos solos e o cancro. Quanto mais magnésio menos cancro e vice versa.

A lista de doenças sobre as quais o Cloreto de Magnésio exerce uma influência antagonista ou de travão, e por isso salutar, frequentemente curativa e quase sempre redutora dos piores aspectos dos sintomas das doenças, ainda não foi completada porque é enorme. E tal seria de esperar porque o sal halogênico não é dirigido a nenhum órgão específico. A célula, que revitaliza, é o objectivo e quando se diz isso é do completo organismo que se está a falar.

Agora digam-me em que farmácias em Portugal é que se vende esse pó branco que parece açucar pilé, mas de gosto amaríssimo, para que todos possamos experimentar quando tivermos falta de tesão ou cabelos brancos, que também é, alegadamente, bom para isso, não se esqueçam os entradotes com problemas nessas áreas. Nota (triste): não há praticamente nada na blogosfera portuguesa sobre esta matéria, mas os nossos irmãos do Brasil estão, felizmente, muito mais bem informados que nós. O Chlorure de Magnésium é ainda obtenível em farmácias em França (seria uma vergonha que o não fosse) em “sachets” de vinte gramas que se adicionam a um litro de água que se bebe às pinguinhas conforme a gravidade das maleitas e a urgência dos casos.. Pesquise-se em francês para se ter uma ideia da sua re-descoberta e popularidade entre gente atacada por gripes, acnes, alergias, crises do feno, etc., etc., etc. Em Inglaterra, tadinhos que nunca ouviram falar disso em farmácias. I wonder why. Correction: I do not wonder at all.

E não se esqueçam de se aconselharem com o sô doutô, antes de tomarem qualquer decisão “precipitada” em relação ao naturalíssimo e muito terapêutico Cloreto de Magnésio cujas virtudes têm andado encapotadas há tantos anos. Felizmente ainda há memória, mas pelo andar da carruagem não é por muito tempo, que os livros já se andam a queimar mesmo sem labaredas.

TT

Capítulo vinte, versículo treze

150.gif

Fui ver 20,13. Ver um filme português em estreia, e tanto nas bocas do mundo, é luxo a não desprezar levianamente. Para mais, a presença dum desertor da Guerra Colonial sempre enfeita uma sala, sobretudo quando está às moscas, como estava aquela no passado dia 21.

Deixo umas perguntitas para quem viu. Fazem as vezes de outras tantas perplexidades.

1. Em que momento (assim por alto) se deu conta de quem é o protagonista?

2. Em que momento (com mais exactidão) percebeu quem é, ou era, «o» amante?

3. Numa escala até dez, que classificação deu a Marco d´Almeida, o alferes?

4. Agradou-lhe a subtileza bíblica, ou exactamente ela irritou-o (a)?

5. Considera que este filme aponta caminhos recomendáveis para o cinema português?

Pense. Diga. Debata. Esqueça essa chatice, sempre igual, da passagem de ano.

Este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório