A Igreja Anglicana queria aproveitar a estreia do filme Star Wars em Inglaterra para publicitar a prática da oração ao «senhor». 80% das cadeias cinematográficas recusaram-se a exibir tal anúncio. A entidade que gere a maior parte da publicidade nos cinemas, a Digital Cinema Media, justificou a recusa do seguinte modo, de acordo com o Guardian:
Concordo com a primeira parte da justificação e dispensaria a justificação suplementar. Começando por esta última, tem e não tem razão Richard Dawkins, o mais conhecido cientista ateu e ateu científico, citado pelo mesmo jornal, quando diz que quem se sente ofendido por este apelo tão inócuo merece ser ofendido (“I still strongly object to suppressing the ads on the grounds that they might ‘offend’ people. If anybody is ‘offended’ by something so trivial as a prayer, they deserve to be offended.” ). Se for essa, a ofensa, a base da recusa, estamos de acordo em que é de repudiar a reação das cadeias de cinema. Já devemos ter ganho carapaça contra essa conversa. No entanto, há ofensas e ofensas, dependendo de quem publicita o quê em matéria religiosa. E isto leva-me à primeira parte, sobre a qual há mais que se lhe diga. Parece-me evidente que a política e a religião dividem as pessoas e não é do interesse de uma sociedade comercial que visa captar o máximo de audiências e, vá lá, de consensos quanto à qualidade dos produtos exibidos, o seu core business, começar por colocar os espectadores uns contra os outros ou suscitar a antipatia de parte do seu público. Depois, a religião é um assunto privado, de facto. Mas dir-me-ão que não há problema algum em publicitar um apelo de uma dada igreja à oração: quem adere, adere, quem não adere, esquece e passa adiante. Pois, a questão é que, por essa lógica, nada impediria os muçulmanos, todas as variantes incluídas, mesmo as mais aberrantes à luz dos nossos valores, eventualmente todas presentes em Inglaterra, de fazerem (ou exigirem) passar publicidade semelhante nas salas de cinema, em nome da liberdade de expressão e de culto e da não discriminação. No limite, todas as correntes religiosas do mundo poderiam querer passar mensagens antes do «Guerra das Estrelas» e outros filmes semelhantes de grande audiência, sobretudo jovem, e aquilo que até poderia ser uma disputa cómica correria o sério risco de trazer a religião e seus conflitos rapidamente à ribalta no mundo ocidental, onde felizmente jazem em paz há um par de séculos. E como foi difícil lá chegar.
Ó Church of England, não se metam nisso. Não nos faltava mais nada. Organizem uma sessão de Star Wars nas paróquias, seguidas de debate à luz da vossa teologia. Não era essa a ideia? Eu sei que não. Não era a mesma coisa? Pois não. Mas pensem dois minutos.