Turcaria

O que é que passou pela mona dos turcos quando decidiram abater o caça russo? É um episódio que se presta imediatamente a sustentar teorias de conspiração, tão desvairadas como desvairada é a real situação no terreno em guerra, mas igualmente automática é a conclusão de ser algo que se torna muito provável dada a complexidade e o caos do conflito. Tal como nos acidentes por “fogo amigo”, há erros que acontecem no palco de operações militares apesar de todos os esforços para os evitar.

Neste caso, porém, parece haver outra origem para o ataque para lá de um qualquer procedimento disfuncional. Ninguém acredita que o piloto do F-16 turco tivesse tomado a decisão autonomamente, e ninguém acredita que o poder militar tivesse agido sem aprovação política. Pelo que voltamos ao quadro de giz na mão e sem saber o que escrever ou desenhar. Porque bastaria que os F-16 turcos se aproximassem do caça russo e gravassem a ocorrência para já se ter material para um protesto que daria para alimentar o caso durante o tempo que Erdoğan quisesse – e não haveria agora um piloto russo morto pelo que parece um absurdo gratuito, e ainda um Putin ferido na sua imagem de líder de uma potência militar muito superior à Turquia.

Como ouvi há anos a uma barbeira, o mundo foi feito um bocado à pressa.

7 thoughts on “Turcaria”

  1. Somos sócios dos turcos na nato não os podemos abandonar nesta hora difícil.

    Aquilo e os russos são tudo boa gente.

    Se se pegarem em guerra, que façam fogo rateiro para poupar as crianças.

  2. Não “passou” nada de especial pela cabeça do sultão Erdogan, do seu primeiro-ministro Ahmet Davutoğlu e do resto dos saudosistas do Império Otomano. Limitaram-se, mais uma vez, a concretizar aquilo que têm sempre na cabeça: não ter qualquer escrúpulo nem olhar a meios para tentar recuperar o mais que puderem da influência do falecido império. A notícia de que a seguir faço copy paste parcial é de Março de 2014, no site do canal russo em língua inglesa Russia Today, mas na libérrima comunicação social do nosso democrático Ocidente a coisa foi bem camuflada, sendo a proibição do YouTube justificada apenas com umas notícias alegadamente difamatórias para um filho do actual sultão, com corrupção e dinheiritos à mistura (vão-se os anéis, fiquem os dedos). Diga-se que o dito filho do sultão Erdogan parece ser, agora, um dos principais beneficiários do tráfico de petróleo entre o DAESH e os turcos, mas na altura serviu para distrair as atenções e proteger as costas do pai. A Turquia é membro da NATO e não interessava fazer ou dizer nada que prejudicasse o “bom nome” dos seus mais altos dirigentes, convém não esquecer. Certo, porém, é que o verdadeiro motivo que levou à proibição do YouTube foi o que a seguir podes ver: o então ministro dos Negócios Estrangeiros e actual primeiro-ministro Ahmet Davutoğlu, a mando do então primeiro-ministro e actual presidente Recep Erdogan, foi apanhado a combinar, com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e o chefe dos serviços secretos, uma operação de ataque com mísseis à própria Turquia, a partir de território sírio controlado por terroristas que a eles obedeciam, para atribuir esse ataque ao exército sírio, fabricando um pretexto para entrar em guerra aberta com o Síria e invadir e ocupar parte do seu território. Não é preciso grande esforço mental para imaginar que essa parte incluiria o Curdistão sírio, fonte de apoio aos curdos da Turquia, e zonas ricas em petróleo e gás.
    ——————————————–

    «Access to YouTube has been cut off in Turkey after an explosive leak of audiotapes that appeared to show ministers talking about provoking military intervention in Syria. Other social media have already been blocked ahead of tumultuous local elections.

    The latest leaked audio recording, which reportedly led to the ban, appears to show top government officials discussing a potential attack on the tomb of Suleyman Shah, the grandfather of the founder of the Ottoman Empire.

    The tomb is in Syrian territory, but protected by Turkish soldiers.

    On the tape, Turkish Foreign Minister Ahmet Davutoğlu is heard saying that Prime Minister Recep Tayyip Erdoğan sees any attack as an “opportunity” to increase Turkish presence in Syria, where it has staunchly supported the anti-Assad rebels. Security chief Hakan Fidan then goes one step further, and suggests staging a fake attack to give Turkey a casus belli to intervene in the conflict.

    “I’ll send 4 men from Syria, if that’s what it takes. I’ll make up a cause of war by ordering a missile attack on Turkey; we can also prepare an attack on Suleiman Shah Tomb if necessary,” the security chief said.

    Turkish officials have recently vowed to protect the tomb as its “national soil.”

    The Foreign Ministry in Ankara reacted to the tape by issuing a statement, calling the leak a “wretched attack” on national security. It also claims the tape was “partially manipulated.”

    “These treacherous gangs are the enemies of our state and people. The perpetrators of this attack targeting the security of our state and people will be uncovered in the shortest time and will be handed over to justice to be given the heaviest penalty,” the ministry said.

    “This is a clear declaration of war against the Turkish state and our nation,” came a statement from Davutoğlu himself.

    Although whom to blame in this is not clear, Erdogan, who is facing crucial local polls this Sunday, claims the supposedly doctored recordings are the work of a US-based Islamic cleric who is out to topple him and destabilize Turkey.

    A source inside the office of President Abdullah Gül, who has taken a softer line than Erdoğan over the series of government leaks, told Reuters that access to YouTube may be restored if the sensitive content is removed, even though the original video has been deleted.

    Invoking national security and privacy concerns has been the government’s tactic in fighting off a stream of leaks showing top officials engaging in unsavory or downright illegal practices.

    Erdoğan has also repeatedly claimed that most of the audio recordings are fakes. He labeled the latest audio revelation “villainous” during a stump speech in Diyabakir.

    Twitter, another popular source for leaks, has already been shut down in Turkey since March 20, after a court order.»
    ——————————————–

    Notícia original aqui:
    https://www.rt.com/news/turkey-block-youtube-twitter-649/

  3. também não sei e já é sangue a mais para o meu cérebro meiguinho. mas fiquei tão curiosa com a barbeira e a teoria da pressa. conta mais. :-)

  4. O problema não está com a Turquia. O problema está com os restantes países da Nato que andam com a parte da Turquia que dá suporte ao fundamentalismo islâmico ao colo.

  5. A (des)propósito: «In 2005, Turkey entered Greek airspace 1,017 times, or as often as 40 times a day, according to a WikiLeaks document.»
    Que eu saiba, os gregos não abateram qualquer avião turco. Tirado daqui:
    https://www.rt.com/news/323369-turkey-downed-russian-jet/

    De acordo com um acordo entre EUA e Rússia assinado em 26 de Outubro, para evitar incidentes entre aviões dos dois países a operar na Síria, os americanos foram previamente informados pelos russos da presença de dois aviões seus (o que foi abatido e outro) em missão de bombardeamento, naquele local e àquela hora, pelo que a afirmação turca de que nem sequer sabiam a nacionalidade do avião abatido é uma aldrabice descarada. Não esquecer que grande parte dos aviões americanos que bombardeiam o DAESH na Síria está estacionada na base aérea de Diyarbakır, na Turquia, a mesma de onde partiram os F-16 turcos, pelo que a coordenação e troca de informações entre as forças aéreas americana e turca tem de ser estreita. Como também se pode ler abaixo, a informação fornecida pelos russos aos americanos incluía zonas de operação e altitudes a que os aviões operariam.

    «To attack the Russian bomber with a close-range air-to-air missile, the Turkish fighter jet had to enter Syrian airspace, where it remained for about 40 seconds. Having launched its missile from a distance of 5-7 kilometers, the F-16 immediately turned towards the Turkish border, simultaneously dropping its altitude sharply, thus disappearing from the range of Russian radars at the Khmeimim airbase.

    The Turkish fighter moved two kilometers into Syrian airspace while the Russian bomber at no stage violated Turkish airspace, Bondarev stressed. (…)

    Commander Bondarev noted that a pair of Turkish F-16Cs had been in the area close to the attack zone for more than an hour prior to the attack, which explains their presence in the area. The time needed to get the aircraft ready at the Diyarbakır airfield and travel to the attack zone is an estimated 46 minutes.

    One of Turkish F-16Cs stopped its maneuvers and began to approach the Su-24M bomber about 100 seconds before the Russian aircraft came closest to the Turkish border, which also confirms the attack was pre-planned, Commander Bondarev stressed.

    The chief of Russia’s Air Force also called attention to the readiness of the Turkish media, which released a professionally-made video of the incident recorded from an area controlled by extremists a mere 1.5 hours after the Su-24 was downed.

    Commander Bondarev also mentioned the memorandum of understanding regarding the campaign in Syria, signed by Moscow and Washington on October 26. In accordance with this agreement, the Russian side informed its American counterparts about the mission of the two bombers in the north of Syria on November 24, including the zones and heights of operation.

    Taking this into account, the Turkish authorities’ statement on not knowing which aircraft were operating in the area raises eyebrows, Bondarev said.»

    Destaques tirados daqui (RT – Russia Today):
    https://www.rt.com/news/323651-turkey-su24-downing-syria/

    É claro que, para as múmias formatadas na escola do botas de Santa Comba e no velho e serôdio mantra de que “Rádio Moscovo não fala verdade”, isto não vale nada, mas para esses fica aqui a posição de um major-general americano na reserva (Paul Vallely), de acordo com o qual a Turquia devia ser expulsa da NATO:
    https://www.youtube.com/watch?v=ZNmDn6OGidM&feature=em-subs_digest-g

    E há também a declaração de uma fonte não me lembro se do Pentágono ou da NATO, há dias num jornal português, de que o avião russo foi atingido na Síria, ainda que, no velho espírito de uma no cravo e outra na ferradura, a mesma fonte diga que antes de ser abatido tinha tocado em território turco. As velhas raposas otomanas não se atrevem, aliás, a levar a aldrabice muito longe, afirmando elas próprias que o avião violou o seu espaço aéreo durante 17-DEZASSETE-17 segundos! Uma eternidade!

  6. O sultão Recep Erdogan mudou de discurso e encetou uma fuga para a frente. Ouvi-o há bocadinho em heróica escalada verbal contra a Rússia a propósito do avião que eles, turcos, atiraram abaixo. Quem chegasse agora de Marte até pensaria que a coisa tinha sido ao contrário, que a Rússia é que tinha derrubado um avião turco. A motivação que o sultão Erdogan há pouco verbalizou, implicitamente, para o derrube do avião mudou o foco da pretensa violação do espaço aéreo turco para a necessidade de proteger os rebeldes sírios que os russos estavam a bombardear na área (na Síria e não na Turquia, claro), vítimas, segundo ele, do assassino Assad e seu aliado Putin. Ou seja, o presidente da Turquia praticamente confessou que o avião russo tinha sido derrubado para proteger os terroristas que estava a bombardear na Síria. E avisou a Rússia de que, se persistir nessa via, está a fazer um jogo muito perigoso. Ou seja, o senhorito Erdogan acredita sinceramente que pode abater aviões russos e engrossar a voz com ameaças de mais actos heróicos similares, pondo os russos a tremer de medo. Se os do DAESH percebem que o gajo acredita no Pai Natal, cortam-lhe o pescocinho enquanto o Diabo esfrega um olho, idólatra dum cabrão!

    Vai ser duro, o despertar do son(h)o! É claro que, depois de fazer merda, o sultanito foi logo a correr para debaixo das saias da mãezinha NATO, acreditando que ela o protegerá do merecido castigo. Só que a NATO já começou a demarcar-se. Percebeu que o menino meteu a pata na poça, que o castigo é praticamente inevitável, e, quando chegar a hora dos açoites, fará uns protestos de circunstância e não arriscará uma guerra com a Rússia, que será inevitavelmente nuclear, por causa das travessuras de um puto estúpido.

    Acreditem, caros amigos e amigas: punha o meu tomate esquerdo no lume em como dentro de dois, três dias, uma ou duas semanas, dependendo da oportunidade e de eventuais deslizes otomanos, dois ou três aviões turcos serão abatidos de uma assentada pela força aérea ou pela defesa antiaérea russa. O avião abatido era um Su-24, bombardeiro relativamente lento, para ataque ao solo, com velocidade e capacidade de manobra muito inferiores às dos F-16 que o atingiram, e, por ingenuidade russa, não levava escolta de aviões interceptores, para combate aéreo, equipados com mísseis ar-ar. Não só essa ingenuidade acabou e os bombardeiros passarão a ser escoltados como, ainda por cima, o Putin mandou instalar imediatamente na região o sistema de mísseis antiaéros S-400, nada bons de assoar. Olha aqui os supositórios que o sultão Erdogan vai comer pelo cu acima:
    https://www.youtube.com/watch?v=yxUnnbZDqAc

    Quanto aos belos “rebeldes moderados” sírios que a Turquia quis proteger quando abateu o avião russo, tendo o chefe dos heróis aparecido em tudo o que é canal de televisão a gabar-se de ele e o seu bando de assassinos terem matado os dois pilotos quando desciam de pára-quedas (parece que só conseguiram matar um), afinal este grande guerrilheiro “moderado” nem sequer é sírio: é turco, filho de um ex-presidente do município de Keban, província turca de Elazig, e pertence ao grupo de extrema-direita turco Lobos Cinzentos, conhecido por, no seu país natal, ter o patriótico hábito de assassinar jornalistas incómodos, homossexuais e políticos de esquerda, entre outros mafarricos. O turco Ali Agca, que em 13 de Maio de 1981 tentou assassinar o Papa João Paulo II em Portugal, pertencia aos Lobos Cinzentos.

    Também não ouvi qualquer clamor de indignação humanitária, nas doces consciências ocidentais que me rodeiam, contra o crime de guerra que é abater pára-quedistas no ar, em violação grosseira das Convenções de Genebra, mas se calhar foi desatenção minha. Ou então passou-me despercebida uma qualquer adenda às ditas convenções a autorizar o tiro ao pára-quedista quando se trata de russos.

  7. Para quem não gosta de abrir links, segue copy paste:

    «Syrian Turkmen commander who ‘killed’ Russian pilot turns out to be Turkish ultranationalist

    Published time: 27 Nov, 2015 15:16
    Edited time: 27 Nov, 2015 17:46

    © RT / DHA
    A Syrian rebel commander who boasted of killing a Russian pilot after Turkey downed Russian jet on Tuesday appeared to be Turkish ultranationalist and a son of former mayor in one of Turkish provinces.
    Alparslan Celik, deputy commander of a Syrian Turkmen brigade turned out to be the son of a mayor of a Keban municipality in Turkey’s Elazig province.
    He also turned out to be the member of The Grey Wolves ultranationalist group, members of which have carried out scores of political murders since 1970s.
    Celik came under spotlight after he announced that as the two Russian pilots descended by parachute after the Su-24 jet was downed by Turkish military, both were shot dead by Turkmen forces on Tuesday.
    A graphic video posted earlier on social media purported to show a Russian pilot lying on the ground surrounded by a group of armed militants.
    For more watch RT’s William Whiteman’s report.»

    Para quem não tem medo de links, aqui vai o original:
    https://www.rt.com/news/323658-turkmen-commander-turkish-ultra/

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *