Saraivadas

Que saiba, não existem estudos, académicos ou outros, acerca dos efeitos sociológicos, mediáticos, antropológicos, e até psicológicos, que a presença de Sócrates na vida política portuguesa gera. Pelo que estamos reduzidos à observação avulsa, empírica e superficial. Mas, a existirem esses estudos, a figura e textos do Nuno Saraiva poderiam oferecer paradigmáticos exemplos do que acontece em grande escala.

Tome-se o seu último espasmo – Com amigos destes… – para análise. Trata-se de um editorial, primeira e significativa nota. Significa, portanto, que representa institucionalmente o corpo redactorial do jornal, a sua visão directiva ou posicionamento como agente político que emite opinião. No caso, a opinião pode sintetizar-se assim: Sócrates pretende prejudicar Costa e o PS. Em subtexto, a seguinte mensagem: Sócrates devia estar calado; isto é, não devia emitir opiniões políticas, não devia exercer os seus direitos políticos. A ligação entre uma coisa e outra, ou a razão pela qual o Saraiva se assume como defensor do PS, não fica exposta nem é fácil de descobrir. Se é que existe.

Pelo meio do texto, enchendo o chouriço, tropeçamos numa tese de arrebimbomalho. Afiança o Saraiva que Sócrates faz o que quer de Cavaco. E explica: ao ter falado neste domingo do chumbo do PEC IV, Sócrates acordou Cavaco da letargia, ou ter-lhe-á dado um sopro de alma, que resulta em mais problemas para Costa. Tivesse Sócrates ficado calado e o Sr. Aníbal nem percebia o que se estava a passar com essa malandragem do BE e do PCP que não é de fiar. O zelo e minúcia do Saraiva com este argumento foi tal que até deu ideia de querer à força que a sua carta fosse entregue em Belém. Para que depois ninguém dissesse que ele não tentou avisar a gente séria do palácio.

Esta estupidez tem método, no entanto. O Saraiva viu uma oportunidade e aproveitou-a. Só que tudo se resume a dizer que não gosta de Sócrates, que não suporta aquele gajo que insiste em aparecer por aí, e cada vez mais, e cada vez mais acompanhado. É muito aborrecimento junto. Ao menos, o Costa podia mandá-lo fechar a matraca, pensou o Saraiva. E toca de teclar. Ainda por cima, pagam-lhe por isto, assim se provando que há quem tenha mesmo encontrado o céu na terra.

A enorme maioria da opinião política publicada pelos editorialistas e comentaristas limita-se a este número. Dizer-se que não se grama fulano, sicrano e beltrano. E depois ficar agarrado a essa paixão enquanto houver força nos dedos.

Casos de estudo.

5 thoughts on “Saraivadas”

  1. não tarda o presidôncio vai fazer um comunicado ao país para agradecer o presépio da rosa caralho que o costa lhe entregou ontem para a colecção da maria.

  2. Val, não te esqueças que o DN ainda é na avenida da Liberdade.
    Quando ele esteve a perorar sobre Sócrates com o David Dinis ali para os lados de Queluz, na TVI 24, garanto-te que ostentava uma das melhores peles de cordeiro para se proteger da chuva e dos resfriados (citando-me, de cor).
    Ora, a verdade é que o dia de hoje acordou solarengo em LX e está, neste exacto momento, uma temperatura agradável para andar ao ar livre o que ajuda a passar as dores de cabeça e a esquecer as depressões. Tinha o editorial na gaveta ou ecreveu-o ao fim da tarde, é certo, mas podes imaginar que, debaixo daquelas grossas lentes, o Nuno Saraiva hoje anda de corpinho bem-feito, sem o incómodo da pele do ruminante e a cantarolar a Jenny que é o vídeo da Adele no momento.
    A luta continua, nada de novo.

  3. pois claro que o ponto em que tocaste é o ponto mais forte e, por isso, o mais frágil: pagam-lhes para serem mulheres de soalheiro. maravilha de profissão: limpar as entranhas próprias em assalariado. é uma questão cultural já – a preferência destas em detrimento do escol.

    (puta que pariu a sociedade viciada)

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