Perguntas simples

Não será possível nomear Artur Baptista da Silva como consultor do Programa para o Desenvolvimento Humano das Pessoas Unidas sobre os impactos do cavaquismo em Portugal? Ou como Alto Comissário para os refugiados do passosgasparismo? E que tal, pura e simplesmente, alguém lhe perguntar o que acha do caso BPN, das origens e exploração do processo Freeport, das escutas à moda de Aveiro ou da “Inventona de Belém”?

Os portugueses têm direito à boa informação, pouco importa o canal utilizado.

Revolution through evolution

Women Earn More If They Work in Different Occupations Than Men, Large International Study Finds
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Experiencing Discrimination Increases Risk-Taking, Anger, and Vigilance
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For Power and Status, Dominance and Skill Trump Likability
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Delusions of Gender: Men’s Insecurities May Lead to Sexist Views of Women
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‘Taking Christ Out of Christmas’ Is Nothing New, Historian Says
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Greed, Not Generosity, More Likely to Be ‘Paid Forward’
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Resolve to Give Your Presence Away This New Year’s

Mensagens de Natal – esta ainda não chegou aos destinatários e já tem dois anos

Um dos efeitos da crise global, que acabou por condicionar todo este ano de 2010, foi a séria crise de confiança que se abateu nos mercados financeiros sobre as dívidas soberanas dos países do Euro. Esta situação, sem precedentes na União Europeia, levou à subida injustificada dos juros, e afectou todas as economias europeias. Basta, aliás, ver o que passa lá fora para se compreender a dimensão europeia desta crise que a todos afecta embora a alguns países de forma mais intensa.

A verdade é que todos os governos europeus tiveram este ano de fazer ajustamentos nas suas estratégias e tiveram de adoptar medidas difíceis e exigentes, de modo a antecipar a redução dos seus défices como forma de contribuir para a recuperação da confiança nos mercados financeiros.

O Governo português tomou as medidas necessárias para enfrentar esta situação. Com confiança, com sentido de responsabilidade e com determinação. Definiu metas ambiciosas para 2010 e 2011 que vamos cumprir. O que está em causa é da maior importância. O que está em causa é o financiamento da nossa economia, a protecção do emprego, a credibilidade do Estado português e o próprio modelo social em que queremos viver.

Sócrates, Natal de 2010

Balanço carregado num país soalheiro

Portugal é uma terra de singularidades, umas boas, outras más, para não falar, por enquanto, das péssimas. Temos o clima mais ameno da Europa, o que nos traz muitos fugitivos do Norte. Não vou falar da nossa comida, mas tinha que falar do sol no fim de um domingo faiscante como este foi. Criamos e exportamos excelentes futebolistas e treinadores (é fatal), mas nos nossos balneários a língua oficial é o espanhol. Não sabemos que somos o terceiro produtor europeu de grão-de-bico (agora apanhei-vos). Produzimos bons vinhos e exportamos excelentes trabalhadores, automóveis alemães, sapatos, rolhas e concentrado de tomate. Temos um serviço nacional de saúde que se compara aos melhores, embora às vezes possa não parecer, quando se tem de esperar meses por uma consulta ou um tratamento. A nossa esperança de vida à nascença é superior à dos norte-americanos, embora possamos esperar dela, da vida, bastante menos. Não andamos armados até aos dentes e a nossa taxa de homicídios intencionais é persistentemente um quinto da dos norte-americanos. Quando queremos arrasar mesmo, dizemos (e é verdade) que estamos melhor posicionados em taxa de mortalidade infantil do que o Reino Unido, Canadá, Estados Unidos e todos os países produtores de petróleo, excepto a Noruega. Já me esquecia, nesta clássico rol do orgulho nacional, dos 900 km de costa, que fazem a inveja da Suíça, Mongólia, Nepal e Andorra. E da vasta Zona Económica Exclusiva, que é a terceira da Europa e a 11.ª do mundo, olaré, embora só sirva para passear os dois submarinos do Portas e cinco fragatas, quando há dinheiro para combustível e reparações. E dos 3.000 km de auto-estradas (eram 25 km em 1974), que nos colocam à frente de muitos países europeus em kms/habitante, mas que agora não sabemos como vamos pagar nem se temos dinheiro para andar nelas.

Parecia que éramos um país do quilé, mas somo-lo cada vez menos. Todos sabemos porquê, mas vou repetir só para chatear. Desleixámos a agricultura e a indústria transformadora, que nunca tinham sido grande coisa. Demos cabo do resto da pesca, destruímos a recém-criada reparação naval, a incipiente siderurgia, a nova indústria química, etc. Se calhar já tinham sido más escolhas, como outras que vieram depois. Persistimos nas indústrias baseadas em baixos salários e qualificação zero até sermos inundados de produtos do terceiro mundo. Como país, andámos trinta e tal anos a gastar muito acima do que produzíamos, aplicámos fatalmente mal os fundos europeus, nunca poupámos o necessário e temos sistematicamente recorrido todos (empresas, bancos, famílias e Estado) ao financiamento estrangeiro. Enquanto muitos países subdesenvolvidos saíram da miséria e voaram para a prosperidade, nós marcámos passo e agora estamos a empobrecer.

Na política, então, o panorama é dos mais sombrios. Depois de termos suportado durante meio século uma ditadura de caserna, esquadra e sacristia, fizemos uma grandiosa revolução das antigas e enveredámos gloriosamente por uma sociedade sem classes, para arribar hoje em dia a um país sem crédito. A única coisa que em Portugal deixou absolutamente de ter classe foi o governo. Estamos actualmente sujeitos a levar com governantes rascas e trampolineiros, que por essa Europa fora, exceptuando a Itália, só dariam para carteiristas ou industriais do alterne. Aqui especializaram-se em leiloar serviços públicos.
Continuar a lerBalanço carregado num país soalheiro

Agarrem o conferencista e, já agora, os jornalistas

Parece que Artur Baptista da Silva, um senhor que há poucos dias deu uma conferência como coordenador de um tal Observatório Económico das Nações Unidas para os países do sul da Europa, que não existe, e depois disso, várias entrevistas, a última das quais ao Expresso, é uma fraude. É certo que, no vídeo da conferência, nunca se via a assistência, mas no último Expresso da Meia-Noite, o conferencista lá estava debatendo perfeitamente à vontade com os restantes convidados… “Mas donde é que este saiu”, foi a pergunta que primeiro me ocorreu. É que nunca ouvíramos nenhuma personalidade da ONU pronunciar-se sobre a crise portuguesa ou mesmo europeia. Muito menos através do dito observatório. De estranhar que a mesma dúvida não tenha ocorrido a nenhum jornalista antes de lhe darem palco. Só depois. Será que esta pessoa se chama sequer Artur Baptista, senhores jornalistas?

Quem é, afinal?
1. Um incógnito vaidoso, com umas ideias, que queria palco e protagonismo e começou pelo Congresso das Alternativas.
2. Alguém contratado pela direita para desacreditar quem defende pontos de vista semelhantes aos que expôs.
3. Um professor autêntico, doutorado e tudo o que diz ser e sobre o qual a direita tenta agora lançar descrédito.
4. Um louco que conhece bem o jornalismo português?

Nada disto obsta a que tenha dito algumas coisas com sentido.

Henrique Monteiro, um iluminado que devia mandar nesta merda toda

Quando, há quatro anos duvidei da nacionalização, quase todos (incluindo bons amigos e especialistas em Economia) me alertaram para o facto de haver um risco sistémico grande em deixar o BPN falir. Sempre contra-argumentei, que não se pode distribuir os danos de alguns por todos – o que se está agora a fazer.

Já nem digo que gostava de ver todas as responsabilidades apuradas. Dos nomes citados, de outros que por aí andam, daqueles que nacionalizaram o banco e dos que permitiram que ele fosse governado criminosamente.

Henrique Monteiro

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Como se pode ler pelo seu teclado, este bacano nunca teria nacionalizado o BPN em 2008 calhando ser o ministro das finanças ou o primeiro-ministro à época, nem mesmo que à sua volta os especialistas em economia o alertassem para um sem-número de consequências imprevisíveis naquele contexto que só comparava com o crash de 1929. Por outro lado, tivesse ele sido nomeado procurador-geral da República, há muito que já tinha metido a malandragem no chilindró, não esquecendo esses bandidos que nacionalizaram o banco, mais aqueles no Banco de Portugal que fecharam os olhos, apesar do que o ex-director do Expresso pensava e publicou ao tempo – isto é, ao longo dos anos, mais que muitos, em que teve um jornal à disposição para educar o povo e moralizar a Grei. Tudo somado, faz sentido entregar-lhe o país que ele resolve logo as cenas.

Entretanto, uma das dissonâncias cognitivas literalmente mais espectaculares que anda a ser promovida pelos ranhosos e pelos imbecis diz respeito a este caso: parece que os odiados, boicotados, achincalhados, perseguidos, devassados e derrubados socráticos e demais socialistas malvados foram cúmplices da colossal roubalheira e a eles se deve que a direita do Cavaquistão se tenha safado com os milhões. A troco de quê? Talvez da tal vida luxuosa que o rei da quadrilha tem em Paris, onde se farta de gastar dinheiro em jantares, casacos de marca e telefonemas para deputados socialistas. Pelo menos, é o que o Correio da Manhã garante estar a acontecer, e jamais me passaria pela tonta cabecinha que um dos futuros donos da RTP mentisse aos portugueses em matérias tão importantes. Seja como for, esperarei deitado pela opinião do Henrique Monteiro antes de ter a veleidade de me pavonear com certezas a respeito deste ou de qualquer outro assunto.

Na veia

Um debate “sério e informado”? – Hugo Mendes

“sacré mitrailleur à bavette”* – Shyznogud

Cinicamente provocatório – Ana Matos Pires

Pedro Marques, deputado do PS e ex-Secretário de Estado da Segurança Social, desmonta a demagogia e a má-fé de Passos Coelho em torno das pensões

quer um governo decente? diga-me como – f.

Helena Garrido e a Constituição – João Galamba

Um desabafo: quando é que demais é demais? – Irene Pimentel

“Privatização da ANA vai fazer de Portugal uma excepção na Europa” – João Pinto e Castro

Eleitos para destruir – Domingos Farinho

Boas festas, para quem gosta do Natal

Litania para o Natal de 1967


Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos pedir contas do nosso tempo

David Mourão-Ferreira

Take five

1. Ouvi há pouco o primeiro ministro ufanar-se, no debate quinzenal, do bom clima de diálogo com os sindicatos, na educação.

2. E tenho de lhe dar razão. A educação de adultos foi destruída, os professores despedidos, as turmas aumentadas, as direções das escolas torpedeadas e os pais expulsos dos conselhos pedagógicos, e o mais que se ouviu às federações sindicais de docentes foi o manso balir dos cordeirinhos.

3. E sei porque sucedeu assim: porque Crato deu a Nogueira o adiamento sine die da avaliação dos professores dos quadros e Nogueira retribuiu a Crato com a paz dos cemitérios.

4. E também sei porque é que a FENPROF e a FNE fizeram isto: porque se estão a marimbar nos jovens professores precários e nos jovens diplomados que querem entrar na sua profissão.

5. Ok, é Natal, temos de ser uns para outros, eu quero compreender a nomenclatura sindical docente, lá terá as suas razões. Só tenho um pequeno favor a pedir-lhe – que tire do nome das suas organizações a palavra educação. Já que não a defendem, ao menos que não a prostituam.

Augusto Santos Silva

Ridi, Pagliaccio

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De que ri Passos Coelho? É um riso juvenil, narcisista e brincalhão. Neste caso, brinca com o orador, o qual por pouco não se desmancha a rir em parelha. Que será que os faz gozarem como compinchas de farra metidos num teatro que têm de prolongar até se voltarem a encontrar na privacidade da copofonia e das festanças? É o assunto. O tal assunto.

Seguro, pela primeira vez no que à minha memória diz respeito, falou do passado que não passou. Isto é, recordou um episódio em que o PSD votou a favor de mais despesa pública contra o Governo e o PS de então. E o valor dessa proposta atingiria três mil milhões de euros a ter sido aprovada. Não sei o que o terá levado, 15 meses depois de estar diariamente a ser bombardeado com acusações canalhas contra os seus camaradas que exerceram cargos governativos – e nunca tendo gastado uma caloria na sua defesa – a sacar de uma entre dezenas ou centenas de situações factuais e à prova de estúpidos para dizer o óbvio: que o actual PSD faz política com a coerência, a moral e a desbunda com que na Feira da Malveira se fazem vigarices desde o século XVIII. Mas sabemos, porque o Tó Zé assim se prestou a ser documentado, que a ocasião foi para ele um exercício de farsa levado a cabo na Assembleia da República e partilhado a mielas com um certo primeiro-ministro que prometeu ao tomar posse não utilizar o passado como desculpa e que não tem desde há um ano, afinal, outro discurso que não o da culpa e da irresponsabilidade. Repare-se na advertência risonha e infantilóide com que Seguro termina o número circense, na prática validando a lógica e o conteúdo dos achincalhos da direita contra os socialistas ao equivalê-los à situação que desenterrou a contragosto. Constate-se como também para este opaco e tortuoso homem a política ao mais alto nível pode ser reduzida ao triunfo impune da sonsice.

Continuar a lerRidi, Pagliaccio

Já é oficial: os portugueses têm aquilo que merecem

Na apresentação de cumprimentos de Boas Festas do Governo ao Presidente da República, no Palácio de Belém, Pedro Passos Coelho quis “agradecer ao senhor Presidente da República toda a cooperação institucional que tem proporcionado” ao Governo para que as suas tarefas “possam ser desenvolvidas num espírito patriótico de entregar ao país aquilo que os portugueses merecem“.

Passos agradece a Cavaco Silva “toda a cooperação institucional”

Romaria à vertigem

vertigo

Dividir o mundo entre homens e mulheres, velhos e novos, hetero e homossexuais, pretos e brancos, é das piores manifestações da natureza humana, ou falta dela, que me é possível imaginar.

Já dividir o mundo entre aqueles que reconhecem esta cena e os que nunca a viram com vida, entre aqueles que correm o estouvado risco de a eleger como a melhor do filme e aqueles que optam pela sensata e quase obrigatória prudência de nem sequer escolherem uma cena favorita entre tantas e todas, entre aqueles que entram em êxtase nesta cena por causa de uma puta de uma certa onda e aqueles a quem a onda passa por cima ou bate ao lado, eis uma das melhores manifestações da natureza cinéfila, ou sublimação dela, que me é possível imaginar.

Foi isto que se passou hoje de manhã. Tal como os meus colegas, argumentei, estupefata por ter de argumentar estando em causa um direito potestativo. Nunca aconteceu na história da AR. Eis a democracia parlamentar desfeita.

Os deputados socialistas abandonaram hoje uma reunião da Comissão de Assuntos Constitucionais em protesto por a maioria PSD/CDS travar a concretização de um agendamento potestativo para forçar a audição do ministro Miguel Relvas sobre privatização da RTP.

Em declarações à agência Lusa e ao jornal “Público”, o deputado do PS e ex-ministro Jorge Lacão considerou estar em causa “o regular funcionamento” do Parlamento e admitiu o recurso urgente para a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves.

(Acabou por acontecer no Plenário, às 15h)

Segundo a versão do PS, na reunião de hoje da Comissão de Assuntos Constitucionais, a maioria PSD/CDS entendeu sujeitar a votação o requerimento potestativo (de caráter obrigatório – temos direito a 3 por ano) para que o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, fosse ouvido sobre o alcance constitucional das opções do Governo em matéria de privatização da RTP.

De acordo com a mesma versão, a maioria PSD/CDS entendeu que o requerimento do PS carecia de fundamento em sede de Comissão de Assuntos Constitucionais, contrapondo que deveria ser apreciado em sede de Comissão de Ética, Cidadania e Comunicação.

Antes de PSD e CDS colocarem a votação e chumbar o requerimento do PS (notem, colocar a votação a admissão de um requerimento de aceitação obrigatória), os deputados socialistas ausentaram-se da reunião em sinal de protesto, alegando que o exercício dos direitos potestativos dos grupos parlamentares não podem ser travados.

“Há uma ilação política que se tem de retirar deste caso: PSD e CDS fazem tudo o que estiver ao seu alcance para inviabilizar a presença do ministro Miguel Relvas no Parlamento e para impedir um cabal esclarecimento sobre a privatização da RTP”, declarou Jorge Lacão.

Segundo Jorge Lacão, a maioria PSD/CDS, “ao impedir o exercício de um direito potestativo por parte do PS, para que fossem avaliados todos os aspetos de constitucionalidade relativos à pretensão de privatização do serviço público de rádio e de televisão, limitou uma liberdade regimental que não pode ser posta em causa a título nenhum e, por outro lado, diminuiu drasticamente as próprias condições de trabalho na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias”.

“Esta comissão, no âmbito das suas competências transversais, deve poder aferir as matérias fundamentais de constitucionalidade. Nesse sentido, o PS considera que foi cometido pela maioria PSD/CDS um ato que afeta muito seriamente a regularidade de funcionamento do Parlamento”, sustentou o ex-ministro socialista dos Assuntos Parlamentares.

Jorge Lacão advertiu que o PS “não se demitirá até ao fim de exigir uma clarificação e até às últimas consequências possíveis”.

“Na minha opinião, a questão deve ser levada à presidente da Assembleia da República [Assunção Esteves]. Tratando-se do âmago dos direitos, liberdades e garantias e sua consagração no domínio da comunicação social e serviço público de rádio e televisão – de resto ligado a vários outros direitos, liberdades e garantias – (tal como constitucionalmente está previsto), há aqui uma drástica limitação de pronuncia por parte da Comissão de Assuntos Constitucionais, sem prejuízo disso ser feito em cooperação com a comissão que regularmente acompanha as questões da comunicação socia”, sustentou o deputado do PS.

Nunca assisti a nada deste calibre. Nunca vi juristas lerem de forma literal, alienadas do espírito dos preceitos competenciais deliberados, pretensas “normas” excludentes da intervenção da 1ª comissão. Está em causa, não a política em matéria de TVP, mas uma questão a montante, a do enquadramento constitucional da solução que o Governo tem de explicar. Essa solução não tem implicações apenas com o artigo 38º da CRP, o tal que refere o serviço público, mas com outros direitos de outros títulos da CRP, como o direito ao livre desenvolvimento da personalidade ou a liberdade de expressão.

Nunca aconteceu um direito potestativo ser recusado.

Por isso, quando o presidente da Comissão (Deputado Fernando Negrão do PSD) aceitou votar o requerimento da direita para votar a não aceitação de um requerimento de aceitação obrigatória, saí com os meus colegas. Não assisto nem tomo parte em atos anti-democráticos.

Ditatoriais, mesmo.

 

A história a quem a trabalha

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Se tiverem tempo e disposição – e doses cavalares de auto-controlo, a bem do vosso ecrã – ouçam o discurso acima. Não precisa de ser todo, os primeiros 20 minutos bastam. Ao contrário do que possa parecer, este é um bom discurso de Passos Coelho. Um muito bom discurso. Não por ter mais ou menos disparates, falsidades e distorções, atenção, mas porque representa toda a narrativa da direita sobre a crise  no seu estado quase puro. Aliás, não me recordo de outro discurso, mesmo no resto da direita, onde essa narrativa estivesse explicada tão exaustivamente e em tanto detalhe. Tudo o que ainda hoje justifica o assalto da direita ao poder lançando o país para o resgate, tudo o que justifica a atitude subserviente à Europa disfarçada de patriotismo de pin na lapela, tudo o que justifica as medidas perfeitamente disparatadas para a economia ditadas por um fanático da idade da pedra em termos económicos, tudo isso está lá. A culpabilização exclusiva do país está lá. O moralismo de pacotilha, está lá. O “não há alternativas” apoteótico está lá.
Agora repare-se numa coisa: Passos Coelho não tem absolutamente problemas nenhuns em falar do passado. Aliás, este passado que é construído neste discurso é o seu melhor amigo, porque lhe permite justificar, culpabilizando os outros, todo o presente. A direita, neste momento, é dona e senhora do passado. A história deste governo e das suas politicas é uma narrativa, coerente e convincente, de toda uma série de eventos que culminam na sua governação e nas medidas que “tem de tomar”. Quem controla o passado consegue definir o presente e apontar o futuro.
Pelo contrário, quem se recusa a falar do passado com a desculpa envergonhada de “olhar para o futuro” aceita que os adversários o definam nos seus próprios termos, e para sua vantagem.
Seria bom que os responsáveis do PS ouvissem com atenção este discurso. Está lá tudo o que precisam de combater, e não fazem. E dos fracos, não reza a história.