Arquivo mensal: Dezembro 2012
O ano em que o mundo acabou
Sou um sortudo porque tenho o privilégio de escrever ao lado dos aspirinas, da guida, da Isabel Moreira, do Júlio, da Penélope e do Vega9000. Sendo o caso da Isabel especial, por estar na política activa e pertencer a um órgão de soberania, é justo reconhecer que a Penélope sobressaiu em 2012 pela qualidade, quantidade e pregnância dos textos que generosamente partilhou connosco.
Este foi o ano em que acabaram as ilusões acerca dos actuais PSD e CDS para os que ainda tinham ilusões. Foi o ano em que acabou o sentido mesmo da existência de um Presidente da República. O ano em que acabou a paciência para aturar o disfuncionalismo e cumplicidades do PS com os fulanos que nos querem manter na rudeza duma austera, apagada e vil tristeza. Este foi o ano em que até o Sporting acabou, e não estou a falar da equipa de futebol e seus cómicos espectáculos.
A Internet permite tomar conhecimento com dezenas, centenas e milhares de pessoas sem sair da mesma cadeira, assim haja tempo e gosto. O que a Internet nos mostra dos indivíduos que constituem os tecidos sociológicos e intelectuais da direita e da esquerda portuguesas oscila entre o soporífero e o assustador. Mas há excepções. Há muitas excepções admiráveis, gratificantes, que são fontes de confiança e esperança. E há muitas mais destas excepções do que há pachorra para perder calorias com quem não seja excepcionalmente relevante para o que nos interessa.
O que nos interessa é recriar o mundo a partir dos escombros do que ruiu e com aqueles que aparecem. É sempre assim.
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Podes vir, 2013.
Orçamento promulgado a um domingo
Um gozo
Relvas diverte-se em grande. Tem direito? Tem, se pode, não roubou nada a ninguém ou não trafica (influências, capitais ou outras coisas). Não se compreende é o que está a fazer no governo. Criatura tão bem orientada nos negócios levaria vida mais bem desenxovalhada – no sentido de liberta de enxovalhos – sem a exposição mediática que o exercício político implica. Aqui é um idiota, incapaz de articular um raciocínio. Lá fora é um rei. Há claramente um lugar em que parece deslocado. O posto de poder deve dar-lhe mesmo enormes vantagens. Um “doer”, diz o amigalhaço Pedro, enquanto adia a ida para Copacabana.
Relvas há muitos, seus palermas
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Eles aparecem na televisão. A televisão espalha as suas palavras para 30 ou 40 mil pessoas directamente. 30 ou 40 mil espectadores reunidos à hora certa para ouvirem as opiniões certinhas de um ex-primeiro-ministro, um ex-secretário de Estado da Cultura, um ex-presidente do Partido Social Democrata, um ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, um ex-presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, um ex-presidente do Sporting Clube de Portugal, um ex-deputado na Assembleia da República, um actual Provedor da Santa Casa Misericórdia Lisboa, um ex-presidente da Câmara Municipal de Amarante, um ex-deputado no Parlamento Europeu, um ex-candidato à Câmara Municipal do Porto, um ex-líder parlamentar, um ex-candidato a secretário-geral e um actual deputado na Assembleia da República pelo Partido Socialista, um ex-candidato à Presidência da República, um fundador do Bloco de Esquerda, um ex-deputado na Assembleia da República e um historiador especialista no Estado Novo amassados em três representantes da elite política e intelectual portuguesa.
Os três vocalizaram considerandos a respeito de um certo governante. Esse governante, antes de o ser, igualmente vocalizou considerandos a respeito de um outro governante. Assim:
“Eu quero chegar a casa, depois de ganhar as eleições, todos os dias e quero que a minha filha tenha orgulho daquilo que está a ser feito”, disse o porta-voz do PSD, acrescentando: “Eu no lugar do engenheiro Sócrates tinha vergonha, eu se fosse parente do engenheiro Sócrates escondia que era parente dele”.
Sócrates não respondeu a quem se imaginou pai envergonhado dos seus filhos, familiar dos seus envergonhados familiares. Ninguém no partido de Sócrates utilizou estas palavras fosse em que circunstância fosse para denegrir ou agastar, sequer incomodar, o actual governante. O actual governante, por sua vez, nunca delas pediu desculpa em público. É possível, é provável, é quase certo que delas se mantém orgulhoso. E ninguém de ninguém na sociedade portuguesa protestou por tamanha violência verbal ser incompatível com a função de representação partidária àquele nível, muito menos com a representação do Estado. Daqui se conclui que os temas da vergonha e da família são legítimos tópicos políticos na III República, quiçá os mais valiosos para partidos que se esforçam por transmitirem a brilhante ideia de que os seus adversários são moralmente indignos. Indignos tanto para governarem como para terem parentes, esclareceu aquele de quem agora se fala.
Esse mesmo viria meses mais tarde a mostrar-se numa outra luz. Era afinal o rei das equivalências académicas, o príncipe das mentiras ao Parlamento, o duque das ligações a espiões, o marquês da venda de Portugal, o conde da chantagem sobre jornais e jornalistas, o barão dos negociozinhos tecnofórmicos para o seu amiguinho. Se não era, parecia. E continuava com a confiança do primeiro-ministro, a confiança do parceiro da coligação governativa, a confiança do líder da oposição, a confiança do Presidente da República. A circum-navegação da pulhice estava completada: aqueles que tinham reduzido a luta política à mais vil calúnia eram afinal aqueles que conseguiam praticar as maiores devassas impunemente. Ou assim parece.
Fernando Rosas, Santana Lopes, Francisco Assis e Constança Cunha e Sá assinam um momento televisivo onde se diz que “no anterior Governo havia vários Relvas”. Só que nenhum deles nomeia o que diz, explica o que disse ou se insurge contra o que fica dito à sua frente. Acabamos a ter de reconhecer que há Relvas em todo o lado, mas talvez ainda haja mais na televisão.
Nesse caso, podes começar já
O nascimento do menino
A eles, e a todos vós, no fim deste ano tão difícil em que tanto já nos foi pedido, peço apenas que procurem a força para, quando olharem os vossos filhos e netos, o façam não com pesar mas com o orgulho de quem sabe que os sacrifícios que fazemos hoje, as difíceis decisões que estamos a tomar, fazemo-lo para que os nossos filhos tenham no futuro um Natal melhor.
Pedro, um amigalhaço que nos ensina a amar os nossos filhos e netos
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Existe um país da União Europeia onde o chefe de Governo deu por si a sentir que os seus amigos estariam a olhar com pesar para os filhos e netos. Não sabemos se chegou a essa conclusão sozinho ou se alguém o ajudou bichanando-lhe ao ouvido que tal se poderia mesmo estar a passar. Aliás, não sabemos quase nada, como convém quando se trata de chefes de Governo de abraço forte e oferecido. O certo é que lhe daria muito trabalho estar a visitar, a telefonar ou a escrever a cada um dos seus amigos, pelo que recorreu à inventiva de Zuckerberg e despachou o assunto em poucos minutos.
Qual será o antónimo de pesar, interrogou-se momentos antes de começar a escrever. De imediato lhe surgiram candidatos: agrado, comprazimento, deleitação, enlevo, gozo, jucundidade, ledice, mais este, aquele e o outro. O seu cérebro estava em ebulição lexical, disparando alternativas com a velocidade e a violência de uma Gatling M134. Mas não. Era curto. O chefe de Governo teria de refundar todo o esquema antonímico em ordem a alcançar a perfeição a que estava habituado… Orgulho. Eis. Esta sim, a palavra que convinha, o antónimo que faltava. Orgulho. Porquê? Porque não há palavra mais orgulhosa. Atente-se: orgulho. Hã? Pois.
O resto era mais claro. Estávamos no Natal. Há muitas coisas que podem acontecer no Natal, mas que não têm a mesma importância. Por exemplo, há quem se constipe, há quem descasque romãs, há quem se agarre ao Artur Baptista da Silva para não se afundar na miséria própria, há quem publique portarias no Diário da República já de acordo com o calendário maia; e tudo isto não tem a mesma importância, importa e há que repetir. O que mais importa no Natal é o próprio Natal, óbvio. E não poderá ser o Natal sempre melhor ou, quer-se dizer, sempre um bocadinho melhor? Já não dizemos no presente, que o presente é cá uma prenda que vai lá vai, mas se for no futuro, melhor no futuro, qual é o problema? Qual é o mal, afinal? Estamos a falar de um Natal melhor, não de um Sistema Nacional de Saúde melhor, uma Escola melhor, uma economia melhor. Não, nada dessas confusões inúteis. Natal. Um Natal melhor. Com rabanadas melhores, azevias melhores, sonhos melhores. Especialmente sonhos melhores, não tão ensopados, mais leves. Melhores. Ora, estando a malta de acordo neste ponto, não valerá a pena fazer sacrifícios e tomar decisões difíceis tendo em conta que o Natal vai ser melhor para os nossos queridos filhos? Foda-se, é simples. E mais, cuidadinho: com isto do Natal melhor para os nossos queridos filhos e queridos netos não se brinca, foda-se. Por muitas razões, mas, principalmente, por estarmos no Natal. No Natal, foda-se. Os nossos filhos, foda-se. E os queridos netos, caralho.
O chefe de Governo contemplou o texto uma última vez antes de libertá-lo no éter digital. Estava lindo. E verdadeiro. Era até possível que estivesse mais verdadeiro do que lindo, embora não fosse nada fácil ter certezas a respeito. Ele era um cidadão entre iguais, entre amigos. Também a ele tanto tinha sido pedido nesse ano tão difícil, tanto. Ai, tanto. Felizmente, nunca lhe faltou a força para lutar por um Natal melhor. E isso acabava por explicar, luminosamente, a sua elevação a chefe do Governo. Não havia muitos mais como ele nesse país. Um país de preguiçosos, comilões e Carnaval. Um país, enfim, a descobrir o que é ser governado por um menino.
Chorar
Coisas com que vamos encher 2013
Os psicopatas
Os psicopatas são pessoas (se é que podemos chamar-lhes assim) que, à partida, são inofensivas e vistas como indivíduos “normais” por quem as conhece superficialmente. São pessoas que, à primeira vista, causam boa impressão, revelando-se, no entanto, desonestas e anormalmente egocêntricas. Com uma sensação de omnipotência, os indivíduos com traços psicopáticos consideram que tudo lhes é permitido, agindo somente por benefício próprio sem olhar aos meios para alcançar os seus fins. O psicopata não sente culpa. Apesar de muitas vezes ter a plena consciência da perversidade dos seus crimes ou das suas intenções criminais, um psicopata raramente aprende com os seus erros, não conseguindo refrear os seus impulsos, carecendo por isso de superego.
Com uma auto-estima muito elevada, considera-se um ser superior regido pelas suas próprias regras. Como tal, torna-se incapaz de compreender que haja pessoas com opiniões diferentes das suas, praticando actos criminosos sem sentir qualquer tipo de culpa. Demonstrando uma frieza fora do normal, “o psicopata está livre das alucinações e dos delírios que constituem os sintomas mais espectaculares da esquizofrenia”. “A sua aparente normalidade, a sua ‘máscara de sanidade’, torna-o mais difícil de ser reconhecido e, logicamente, mais perigoso.” Exprimindo-se com elegância, as suas histórias, apesar de falsas, conseguem cativar e convencer, deixando-o numa boa situação perante as pessoas. Isto porque o discurso de um psicopata é geralmente servido de uma linguagem florida e figurativa, desempenhando esta um papel importante no seu comportamento enganoso e manipulador. Altamente seguro de tudo o que diz, o seu principal objectivo passa a ser manipular e controlar os outros. “Mentir, enganar e manipular são assim talentos naturais de um psicopata.”
“Ao contrário dos casos de pessoas com transtornos psicóticos, em que é frequente a perda de contacto com a realidade, os psicopatas são quase sempre muito racionais. Eles sabem muito bem que as suas acções, imprudentes ou ilegais, são condenáveis pela sociedade, desconsiderando, porém, tal facto com uma indiferença assustadora.
“Um dos traços dos psicopatas é adoptarem geralmente comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, excepto pelo facto de se divertirem com o sofrimento alheio. Além disso, desculpam-se dos seus descuidos culpando outras pessoas.
“A característica do psicopata é não demonstrar remorso algum, nem vergonha, quando elabora uma situação que ao resto dos mortais causaria espanto. Quando é demonstrado o seu embuste, não se embaraça; simplesmente muda a sua história ou distorce os factos para que se encaixem de novo.”
Mas Sócrates é que era o mentiroso, berravam em coro os ranhosos e os imbecis
Quando este Governo tomou posse, Portugal tinha acabado de assinar um programa de ajuda financeira com instituições internacionais, um programa cujo valor global equivalia a quase metade de toda a riqueza que produzimos num ano. Este programa implicava a realização de avaliações regulares e impunha uma longa lista de medidas desenhadas para recuperar as nossas finanças públicas e a competitividade da nossa economia.
Julgo que nesse momento todos terão percebido que iríamos iniciar um período de grandes dificuldades.
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«Tivemos uma reunião altamente frutuosa com a troika, que percebeu a nossa atitude diferenciadora, de defesa do Estado social. O PEC 4 ataca pensões, não falava em reduzir o gordo estado paralelo…». O economista Eduardo Catroga afirmou hoje que o PSD terá autonomia, se for Governo, para substituir eventuais “medidas penalizadoras para os portugueses” do programa de ajuda externa a Portugal por outras que cumpram os mesmos objectivos.
PSD: medidas da troika «são melhores» do que PEC
O secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, afirmou hoje que “não haverá aumento de impostos” com os sociais-democratas no Governo e o programa eleitoral “demonstra-o” de “forma clara”.
“Não haverá aumento de impostos”, afirma Miguel Relvas
Nunca o PSD teria permitido que o número de desempregados chegasse a
700.000!!! Teria criado de imediato medidas de incentivo à criação de
emprego, tal como algumas que já propõe neste documento. Não estaria
sempre a queixar-se de uma crise internacional onde todos os outros já estão
a crescer.
PROPÓSITOS E LINHAS ORIENTADORAS DO PROGRAMA ELEITORAL DO PSD
E amanhã?
Está aqui a votação de hoje, a do pagamento de metade dos subsídios ao setor privado em duodécimos.
Fui uma das Deputadas e Deputados (4) do PS que votaram contra.
Não vale a pena desenvolver. O que aqui está é o abrir da porta para a eliminação dos subsídios, os quais, sendo remunerações, são direitos fundamentais.
O resto é conversa.
Agora com a banda sonora respectiva
O primeiro-ministro comparou, esta sexta-feira, durante uma visita à Associação dos Deficientes das Forças Armadas, a situação do país a uma guerra.
Pedro Passos Coelho classificou esta guerra como «intensa que às vezes nos parece (porque é) tão injusta, como a Guerra do Ultramar, que produziu este resultado».
«É uma guerra diferente em que precisamos de encontrar em cada cidadão um soldado que esteja disposto a lutar pelo futuro do país», acrescentou o chefe do Governo
Uma maioria, um Governo, um Presidente – três decadências
O Natal de 2013
O de 2012 “ainda não foi o Natal que merecíamos”, escreveu Passos Coelho no facebook. Pensou melhor e apagou o “ainda”. Ia acrescentar: “Esperem pelo de 2013 e vão ver”, mas desistiu.
Para o próximo Natal, o governo está a estudar a substituição do peru por uma codorniz de aviário, mas ainda é segredo.
Nicolau Santos e o aldrabão que se segue
Creio ser consensual que uma das mais nefastas heranças culturais do catolicismo nos países do Sul da Europa é o horror ao fracasso; julgado publicamente como uma predestinação fatal, marca do pecado. O resultado vê-se na aversão à experiência e ao risco como forma radical de evitar o erro. Tal reforça o imobilismo social, o conservadorismo bolorento, a inércia intelectual, a moralização de fachada, a perversão organizada. É o que explica a decadência da nossa nobreza e da nossa oligarquia desde Alcácer-Quibir, para fazer caminho com a tese do Agostinho da Silva. A consequência foi essa de um país que passou ao lado da revolução industrial, que perdeu as colónias sem nunca as ter desenvolvido e que aceitou mansamente um regime ditatorial e provinciano durante 48 anos do século XX. É também o que explica a iliteracia económica e ética da sociedade como um todo, causando e agravando a nossa secular dificuldade para criar riqueza e valores.
O “sonho americano” poderá não passar de uma conveniente mitologia para uma nação acabada de formar e carente de recursos humanos, todavia contém um ideal de realização onde o erro é bem-vindo, aproveitado e até requerido. Na América, quem erra está a tentar atingir algum objectivo, primeiro e fundamental mérito. Quem erra está a aprender com o erro, noção optimista que os erros seguintes tornarão cada vez mais clara até se tornar evidente ao se alcançar o sucesso. É uma axiologia adequada a modelos capitalistas onde a oferta de trabalho e as oportunidades de negócio abundam, onde a comunidade recompensa os persistentemente competitivos. Para dar um singelo exemplo desta dinâmica na área mediática, recorde-se o recente e espectacular fracasso de Conan O’Brien no The Tonight Show, um dos mais antigos e carismáticos programas televisivos norte-americanos. Tendo assinado o contrato para ser o próximo apresentador 5 anos antes da data prevista, e esperando-se que por lá ficasse durante 15 ou 20 anos, saiu de rastos pela porta baixa ao fim de 6 meses e foi substituído pelo mesmo Jay Leno que tinha substituído. Inimaginável. Só que também 6 meses depois já estava recomposto, activo e com a sua marca pessoal ainda mais valorizada. O espírito americano no seu melhor.
Nicolau Santos foi quem se enterrou mais com o maluquinho da ONU, arrastando outros consigo e maltratando as empresas onde exerce. Os ranhosos agora não lhe largam as canelas, tendo entrado em êxtase com a oportunidade de saírem à rua e ladrarem a quem passa. Pelo que importa pensar no que o homem do lacinho poderá e deverá fazer nesta ingrata situação. Quanto ao que poderá fazer, não faço eu a mínima ideia. Já quanto ao que deveria fazer, não tenho eu a mínima dúvida. Seria criar uma rubrica intitulada “O aldrabão que se segue“. Cada texto, ou programa, começaria por uma fórmula que vou concretizar num exemplo retirado da actualidade:
O aldrabão que se segue chegou a primeiro-ministro mancomunado com variadíssimos aldrabões que lhe deram empregos e dinheiro a ganhar e só depois de aldrabar um país inteiro numa campanha eleitoral onde prometeu aldrabices atrás de aldrabices. Lembremos como foi.
Nicolau, já fizeste o tirocínio para seres o maior especialista vivo em burlões, impostores, vigaristas, intrujões e escroques. Não pares agora, a tua missão ainda mal começou.
os ministros amuados
Todas os parágrafos que lemos na imprensa acerca do documento encomendado pelo Governo e intitulado “conceito estratégico de segurança e de defesa nacional” são fruto de ministros amuados.
Eu gostava que alguém fizesse algum debate sobre 108 páginas produzidas a nosso respeito.
Não é possível.
E por quê?
Porque em face da análise aprofundada da matéria, há ministros que dão com a chatice de perderem a tutela disto ou daquilo.
A confusão e o barulho na comunicação social à volta deste documento tem paternidade evidente ou, como estamos em Portugal, capelinhas: ministros como o da Justiça e da Defesa viram a proposta tirar-lhes competências e passar as mesmas para o PM; e tocou-se nas policias.
Nada contra não gostarem do estudo que encomendaram, mas seria bom deixar de lado a atitude do “ai, isto é meu” e falarem à séria daquele estudo.
Mais uma história da carochinha
Nogueira Leite, o administrador da CGD que tinha prometido, sob palavra de honra, “pirar-se” se em 2013 o obrigassem a trabalhar mais de sete meses só para pagar os impostos, cumpriu há dias a sua promessa, alegando todavia como motivo, na sua carta de demissão, que “o essencial que tinha para fazer” na CGD já estava feito. Nenhum esclarecimento surgiu entretanto sobre o que terá sido o “essencial” da sua curta missão de um ano e tal. Alguns jornais não acreditaram e lembraram uma história anterior, de que se depreendia a insatisfação de Nogueira Leite pelo modo como o governo (Vítor Gaspar) tomava, à sua inteira revelia, decisões de alienação de participações e outros activos do banco do Estado. De facto, não era para isso mesmo que Nogueira Leite estava na CGD, abdicando da sua propalada “condição de homem livre” e dos impostos (presumivelmente mais doces) do sector privado? Não era para manobrar os cordelinhos das vendas de participações nos sectores da saúde, seguros, etc. e, a prazo, a anunciada privatização da própria CGD?
Hoje o Público e outros jornais vêm contar uma história diferente. Que Nogueira Leite, afinal, terá saído da CGD por discordar da “vista grossa” que a administração do grupo Caixa fizera a fortes indícios de corrupção e outros ilícitos envolvendo quadros superiores e um vice-presidente da casa. O assunto, dizem os jornais, arrastava-se há 15 anos (!) e fora alvo de um inquérito interno da CGD, que foi inconclusivo em matéria de ilícitos. De tudo resultou apenas a suspensão sem vencimento do funcionário Francisco Murtinheira, que em 2006 denunciara publicamente as supostas ilicitudes numa carta aberta ao ministro Teixeira dos Santos (o então ministro das Finanças passara o dossier ao presidente da Caixa que, por sua vez, mandou instaurar o tal inquérito interno).
A acreditarmos na história da carochinha hoje posta a circular pelo Público e pelo DN, Nogueira Leite não se terá demitido da CGD nem 1) por ter que pagar impostos que atentavam contra a sua “condição de homem livre”, nem 2) por ter completado já a sua messiânica missão de contornos misteriosos, nem 3) por ter sido ignorado pelo accionista único do grupo financeiro estatal na tomada de decisões estratégicas, nem 4) por a venda dos activos da CGD e da própria CGD ter deixado de lhe interessar por razões que só ele poderia explicar, nem 5) por outro motivo verosímil que escape às nossas chãs conjecturas. Nada disso! O homem que entrou na CGD em 2011 e agora se demitiu fê-lo porque, homem probo e de uma honestidade intransigente, não podia mais tolerar que, com a sua complacência, se continuasse a fazer vista grossa sobre irregularidades com 15 anos, que não foram confirmadas por um inquérito interno e com as quais, aliás, o pelouro de Nogueira Leite não tinha rigorosamente nada que ver. Está na cara, não tá?
Para a História da moral
Já o disse, e torno hoje a dizê-lo: para mim não existe forma mais elevada de coragem do que aquela que tem sido diariamente demonstrada pelos Portugueses. Não existe forma mais elevada de coragem do que enfrentar diariamente novas dificuldades, sem nunca desesperar. Sem fingir que estas dificuldades não existem. Sem as empurrar para outros. Sem renunciar às nossas responsabilidades, que subitamente se tornaram mais pesadas.
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Tanto Louçã como Jerónimo saudaram efusivos o derrube do Governo socialista e a ida para eleições em Junho de 2011. De Louçã nada sabemos quanto ao que se passava naquela cabeça, mas fosse o que fosse era do mesmo calibre dos disparates e cumplicidades com a direita com que preencheu o tempo a seguir às eleições de 2009. E de Jerónimo adivinhamos que recuperar a dianteira parlamentar em relação ao BE já era vitória importante o suficiente para festejar com litradas de vodka ou carrascão. Estes senhores, e quem não os impediu de tomar as decisões que tomaram em Março de 2011, foram aliados decisivos deste outro senhor que nos insulta, ofende e achincalha sempre que abre a boca em público. A aliança não se resume ao chumbo do PEC IV e subsequente indomável agravamento da crise e falência governativa para lidar com ela já transformada em caos político. Há algo ainda mais insidioso e vexante.
Tal como o Miguel igualmente desenvolve, toda a estratégia política e de comunicação do PSD e CDS coligados passa por mentiras, omissões e contradições a mata-cavalos, por vezes no espaço de dias ou horas. No caso mais escandaloso pelas suas terríveis e desgraçadas consequências, a entrega de Portugal aos credores e seu programa errado de resolução dos nossos problemas económicos, vimos isto:
– Passos a dizer que o seu desejo era o de mudar a Constituição de modo a desmantelar o Estado social e o reduzir à expressão mínima para gasto demagógico.
– Passos a alinhar a táctica com Belém de modo a fazer coincidir o derrube do Governo socialista com a garantia de voltar a ter Cavaco a mexer os cordelinhos e a não deixar qualquer espaço de manobra para uma solução que evitasse a vinda da troika.
– Passos a dizer que as soluções do PEC IV não serviam os interesses do País, e que a solução era a oposta: fim da austeridade sobre as pessoas, toda a austeridade sobre “gorduras” do Estado.
– Passos a dizer que o Memorando, o qual era no essencial uma versão muito aproximada do PEC IV, correspondia ao programa eleitoral do PSD, à missão da direita portuguesa e à realização da sua vocação pessoal para virar este país do avesso.
– Passos a dizer que por culpa do Sócrates tínhamos caído no Memorando, o qual, no entanto, era simultaneamente o que de melhor poderia estar a acontecer a Portugal, tanto que até ele e o PSD tinham proposto medidas iguais por serem as únicas que poderiam salvar o País.
[- PCP e BE incapazes de assumirem as suas responsabilidades e, portanto, incapazes de exporem a indigência e a infâmia lógica do discurso do actual poder.]
Moral da história: segundo Passos, Sócrates era culpado de ter proposto um inaceitável PEC IV com medidas que o próprio Passos viria a reclamar ter apresentado aos portugueses, mas contra as quais de facto tinha feito campanha eleitoral, as mesmas afinal que estruturaram um acordo de financiamento a troco da soberania que o mesmo Passos anunciou ter todo o gosto em cumprir e até ultrapassar de tão bom que era, custasse o que nos custasse.
Para a História da moral: quão mais cobarde for o hipócrita, quão mais o hipócrita cantará às suas vítimas a formosura da coragem.
Telefonia Sem Fitas
É o que oferece a SKY.FM, uns 50 canais de música temática para acompanhar o labor computacional ou encher as casas, os restaurantes, os bares, as praias e até os elevadores de um imparável fluxo musical à escolha do freguês.
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