Para a História da moral

Já o disse, e torno hoje a dizê-lo: para mim não existe forma mais elevada de coragem do que aquela que tem sido diariamente demonstrada pelos Portugueses. Não existe forma mais elevada de coragem do que enfrentar diariamente novas dificuldades, sem nunca desesperar. Sem fingir que estas dificuldades não existem. Sem as empurrar para outros. Sem renunciar às nossas responsabilidades, que subitamente se tornaram mais pesadas.

Profeta do além-troika

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Tanto Louçã como Jerónimo saudaram efusivos o derrube do Governo socialista e a ida para eleições em Junho de 2011. De Louçã nada sabemos quanto ao que se passava naquela cabeça, mas fosse o que fosse era do mesmo calibre dos disparates e cumplicidades com a direita com que preencheu o tempo a seguir às eleições de 2009. E de Jerónimo adivinhamos que recuperar a dianteira parlamentar em relação ao BE já era vitória importante o suficiente para festejar com litradas de vodka ou carrascão. Estes senhores, e quem não os impediu de tomar as decisões que tomaram em Março de 2011, foram aliados decisivos deste outro senhor que nos insulta, ofende e achincalha sempre que abre a boca em público. A aliança não se resume ao chumbo do PEC IV e subsequente indomável agravamento da crise e falência governativa para lidar com ela já transformada em caos político. Há algo ainda mais insidioso e vexante.

Tal como o Miguel igualmente desenvolve, toda a estratégia política e de comunicação do PSD e CDS coligados passa por mentiras, omissões e contradições a mata-cavalos, por vezes no espaço de dias ou horas. No caso mais escandaloso pelas suas terríveis e desgraçadas consequências, a entrega de Portugal aos credores e seu programa errado de resolução dos nossos problemas económicos, vimos isto:

– Passos a dizer que o seu desejo era o de mudar a Constituição de modo a desmantelar o Estado social e o reduzir à expressão mínima para gasto demagógico.
– Passos a alinhar a táctica com Belém de modo a fazer coincidir o derrube do Governo socialista com a garantia de voltar a ter Cavaco a mexer os cordelinhos e a não deixar qualquer espaço de manobra para uma solução que evitasse a vinda da troika.
– Passos a dizer que as soluções do PEC IV não serviam os interesses do País, e que a solução era a oposta: fim da austeridade sobre as pessoas, toda a austeridade sobre “gorduras” do Estado.
– Passos a dizer que o Memorando, o qual era no essencial uma versão muito aproximada do PEC IV, correspondia ao programa eleitoral do PSD, à missão da direita portuguesa e à realização da sua vocação pessoal para virar este país do avesso.
– Passos a dizer que por culpa do Sócrates tínhamos caído no Memorando, o qual, no entanto, era simultaneamente o que de melhor poderia estar a acontecer a Portugal, tanto que até ele e o PSD tinham proposto medidas iguais por serem as únicas que poderiam salvar o País.
[- PCP e BE incapazes de assumirem as suas responsabilidades e, portanto, incapazes de exporem a indigência e a infâmia lógica do discurso do actual poder.]

Moral da história: segundo Passos, Sócrates era culpado de ter proposto um inaceitável PEC IV com medidas que o próprio Passos viria a reclamar ter apresentado aos portugueses, mas contra as quais de facto tinha feito campanha eleitoral, as mesmas afinal que estruturaram um acordo de financiamento a troco da soberania que o mesmo Passos anunciou ter todo o gosto em cumprir e até ultrapassar de tão bom que era, custasse o que nos custasse.

Para a História da moral: quão mais cobarde for o hipócrita, quão mais o hipócrita cantará às suas vítimas a formosura da coragem.

10 thoughts on “Para a História da moral”

  1. E para completar o seguro incompreensivelmente eleito pelos militantes socialistas e que a mim me irrita particularmente porque tem lá um voto meu

  2. Cada país tem os seus partidos políticos.

    Em Portugal, mais do que partidos políticos que deviam discutir e aplicar as melhores políticas, não procedem dessa maneira.

    Parecem tribos que praticam tribalismo puro, desprezando o interesse geral.

    E usam os banqueiros e os sindicalistas para uso próprio e até são chantegeados por estes.

    Reaccionário sempre”

  3. A suprema cara de pau: um gajo que assina posts escondendo a verdadeira identidade, para poder recorrentemente ofender adversários políticos do seu querido líder, a chamar cobarde a alguém.

  4. Incrível, só mesmo na Madeira.

    Os fiéis saem “confortados” com a Palavra e dir-se-á que levam a “receita” para casa. Estive tentado a descer as escadas de acesso à Igreja do Colégio, “espetar” vinte euros em exemplares do Diário de Notícias, colocar ali ao lado do JM e esperar pela reacção. Bem me apeteceu, mas não o fiz. Prefiro ajudar quem precisa e da forma que posso. Agora, que é um descaramento, lá isso é. Na Madeira, um pouco por todo o lado, esta cena multiplica-se, tal como em qualquer regime ditatorial, o “jornal oficial”, o jornal do regime é distribuído como forma de propaganda, com a anuência da Igreja. E a questão é esta: como pode um sacerdote, na Homilía, dissertar sobre uma série de aspectos de interesse colectivo, como pode apelar à solidariedade, quando, ali mesmo, na porta, os vendilhões servem-se do templo para vender a sua vergonhosa propaganda, paga pelos próprios fiéis através dos impostos?

    Vendilhões do Templo
    Eram 23:20 horas na noite de Natal. Entrei na Igreja do Colégio com a minha família. Logo ali, como primeira imagem, uma mesa com dezenas de jornais da edição de Natal do Jornal da Madeira. Fotografei. Logo atrás um prospecto com São João Evangelista na capa. Não como protector das letras escritas, obviamente.
    Senti uma enorme repulsa, por três motivos essenciais: primeiro, o continuado descaramento do Senhor Bispo em permitir que ali, na casa que não tem partido político (dizem), o Jornal seja entregue aos fiéis, gratuitamente, no quadro da propaganda oficial, isto é, no quadro da promoção partidária do PSD-Madeira; segundo, porque aquele jornal é pago através dos impostos dos madeirenses e porto-santenses (51 milhões de euros nos últimos vinte anos), numa época difícil e onde todos apelam à solidariedade e o Senhor Bispo, particularmente, à caridade; terceiro, porque fora do espaço da igreja, na rua, sobre o passeio, o habitual ardina do DN-Madeira, sofrendo a desleal concorrência, lutava por vender por setenta cêntimos um produto fruto de muito trabalho que não é subsidiodependente.
    Quando era muito jovem, à saída da Missa, vezes várias recebi um santinho; agora entregam o Jornal da Madeira. Os fiéis saem “confortados” com a Palavra e dir-se-á que levam a “receita” para casa. Estive tentado a descer as escadas de acesso à Igreja do Colégio, “espetar” vinte euros em exemplares do Diário de Notícias, colocar ali ao lado do JM e esperar pela reacção. Bem me apeteceu, mas não o fiz. Prefiro ajudar quem precisa e da forma que posso. Agora, que é um descaramento, lá isso é.
    Na Madeira, um pouco por todo o lado, esta cena multiplica-se, tal como em qualquer regime ditatorial, o “jornal oficial”, o jornal do regime, é distribuído como forma de propaganda, aqui com a anuência da Igreja. E a questão é esta: como pode um sacerdote, na Homilía, dissertar sobre uma série de aspectos de interesse colectivo, como pode apelar à solidariedade, quando, ali mesmo, na porta, à sua frente e nas costas dos fiéis, os vendilhões servem-se do templo para vender a sua vergonhosa propaganda, paga pelos próprios fiéis através dos seus impostos? Uma pessoa minimamente atenta será que é capaz de aceitar e de tolerar esta gritante incoerência? Ora, esta situação, tolerada pela hierarquia da Igreja, hierarquia que assobia para o lado, transporta o sinal de uma hierarquia claramente partidária, ao serviço de um poder que espezinha, que gera o desemprego e a pobreza, e perante ele mostra-se incapaz de impôr o que emerge da Palavra.
    Curioso é que o Estatuto Editorial do JM assume o seguinte: “O JORNAL DA MADEIRA é um Diário de perspectiva cristã aberta a um são pluralismo ideológico, na fidelidade ao Evangelho e no amor da Verdade, visando a formação humana plena, que desperte os Homens para as suas responsabilidades e para a sua participação na construção do mundo contemporâneo, pelo que não está enfeudado a qualquer partido político, antes desenvolvendo uma visão crítica das realidades”.
    Não suporto esta hipocrisia que testemunha uma Igreja de joelhos perante o poder político-partidário. Mas, enfim…
    Ilustração: Arquivo próprio.
    Publicada por João André Escórcio em Quarta-feira, Dezembro 26, 2012 0 comentários Hiperligações para esta mensagem
    Etiquetas: António Carrilho, Jornal da Madeira
    terça-feira, 25 de dezembro de 2012

  5. “Segundo, a de que todos beneficiarão das novas oportunidades que criaremos nos próximos anos.”
    Que novas oportunidades?????

    Que suprema cara de pau não tem este indivíduo, que ofende assim os portugueses, que, nomeadamente, no dia 15 de setembro se fartaram de lhe chamar gatuno, aldrabão, covarde…

  6. Uma maioria votante que elege um borlão destes como PM revela bem o grau de incultura e mesmo analfabetismo que ainda se mantém como marca dos portugueses. Não dá para esconder. Depois de vermos eleger e reeleger alguém como Cavaco para presidente da república, nada devia espantar-nos. Mas espanta. Nunca pensei que, de uma forma tão generalizada, ainda estagiássemos no terceiromundismo. Não há dúvida de que 48 anos de ditadura deixam marcas difíveis de ultrapassar.

  7. PRECISAMOS DE TODOS
    -> Não precisamos de lamentações sistemáticas… precisamos é de bons mecanismos de controlo… e precisamos que todos os contribuintes estejam atentos.
    .
    Explicando melhor:
    – Anda por aí muita CONVERSA DE CONTRIBUINTE PAROLO que ainda não aprendeu com séculos e séculos de história: o conceito de «político governante» pressupõe um sistema muito permeável a lobbys… e aquilo que importa mesmo… é um sistema menos permeável a lobbys…
    .
    -> Por um sistema menos permeável a lobbys… temos de pensar, não em «políticos governantes»… mas sim… em «políticos gestores públicos» que fazem uma gestão transparente para/perante cidadãos atentos… leia-se, temos de pensar em bons mecanismos de controlo… um exemplo: blog “fim-da-cidadania-infantil“.
    .
    Uma Obs:
    -> Montes de estudos sobre ‘maravilhosas’ privatizações de empresas estratégicas (ex: GALP… resultado: consumidor a ser roubado a torto e a direito)… montes de estudos sobre o BPN, SCUTs, OTAs, TGVs e afins… tudo com o mesmo objectivo: SACAR DINHEIRO AO CONTRIBUINTE!

  8. “P e BE incapazes de assumirem as suas responsabilidades e, portanto, incapazes de exporem a indigência e a infâmia lógica do discurso do actual poder.]”

    Valupi, acho que estás a transferir uma responsabilidade de josé sócrates e da actual maioria, pelo seu erro de calculo em ter confiado no psd e cds em que votassem.Se o psd tivesse tido um lider menos ambicioso e mais calmo que o actual, o pec Iv tinha sido perfeitamente aprovado.O pec continha medidas que a direita sempre defendeu, como cortes sociais e aumentos de impostos e privatizações.Medidas recessivas como as de actualmente.
    e além disso… não há registos de o ps ter contactado os partidos da esquerda em relação ao pec IV

  9. Se Sócrates é inimputável e, portanto, não tem responsabilidades pela governação que culminou na chamada da troika a Portugal não sei porque razão vocês agora querem que Passos seja responsável pela governação dele. Sócrates por Passos, Passos por Sócrates a conversa é a mesma – não têm responsabilidade pelos resultados dos seus governos.

  10. não existe forma mais elevada de cobardia , depois de ter de gramar com isto tudo durante yo yo anos , ainda pensar que vou ali e voto yo yo e pronto , alguém irá tratar de mim. ai , tratam , tratam , pois.
    boas festas , gaijo. e vê lá se deixas de dizer que a dieta yo yo é cool. não é , é doentia. para ficar em forma a receita é bastante mais complicada que tomar uns pózinhos de “democracia representativa ” yo yo.

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