Relvas há muitos, seus palermas

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Eles aparecem na televisão. A televisão espalha as suas palavras para 30 ou 40 mil pessoas directamente. 30 ou 40 mil espectadores reunidos à hora certa para ouvirem as opiniões certinhas de um ex-primeiro-ministro, um ex-secretário de Estado da Cultura, um ex-presidente do Partido Social Democrata, um ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, um ex-presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, um ex-presidente do Sporting Clube de Portugal, um ex-deputado na Assembleia da República, um actual Provedor da Santa Casa Misericórdia Lisboa, um ex-presidente da Câmara Municipal de Amarante, um ex-deputado no Parlamento Europeu, um ex-candidato à Câmara Municipal do Porto, um ex-líder parlamentar, um ex-candidato a secretário-geral e um actual deputado na Assembleia da República pelo Partido Socialista, um ex-candidato à Presidência da República, um fundador do Bloco de Esquerda, um ex-deputado na Assembleia da República e um historiador especialista no Estado Novo amassados em três representantes da elite política e intelectual portuguesa.

Os três vocalizaram considerandos a respeito de um certo governante. Esse governante, antes de o ser, igualmente vocalizou considerandos a respeito de um outro governante. Assim:

“Eu quero chegar a casa, depois de ganhar as eleições, todos os dias e quero que a minha filha tenha orgulho daquilo que está a ser feito”, disse o porta-voz do PSD, acrescentando: “Eu no lugar do engenheiro Sócrates tinha vergonha, eu se fosse parente do engenheiro Sócrates escondia que era parente dele”.

Sócrates não respondeu a quem se imaginou pai envergonhado dos seus filhos, familiar dos seus envergonhados familiares. Ninguém no partido de Sócrates utilizou estas palavras fosse em que circunstância fosse para denegrir ou agastar, sequer incomodar, o actual governante. O actual governante, por sua vez, nunca delas pediu desculpa em público. É possível, é provável, é quase certo que delas se mantém orgulhoso. E ninguém de ninguém na sociedade portuguesa protestou por tamanha violência verbal ser incompatível com a função de representação partidária àquele nível, muito menos com a representação do Estado. Daqui se conclui que os temas da vergonha e da família são legítimos tópicos políticos na III República, quiçá os mais valiosos para partidos que se esforçam por transmitirem a brilhante ideia de que os seus adversários são moralmente indignos. Indignos tanto para governarem como para terem parentes, esclareceu aquele de quem agora se fala.

Esse mesmo viria meses mais tarde a mostrar-se numa outra luz. Era afinal o rei das equivalências académicas, o príncipe das mentiras ao Parlamento, o duque das ligações a espiões, o marquês da venda de Portugal, o conde da chantagem sobre jornais e jornalistas, o barão dos negociozinhos tecnofórmicos para o seu amiguinho. Se não era, parecia. E continuava com a confiança do primeiro-ministro, a confiança do parceiro da coligação governativa, a confiança do líder da oposição, a confiança do Presidente da República. A circum-navegação da pulhice estava completada: aqueles que tinham reduzido a luta política à mais vil calúnia eram afinal aqueles que conseguiam praticar as maiores devassas impunemente. Ou assim parece.

Fernando Rosas, Santana Lopes, Francisco Assis e Constança Cunha e Sá assinam um momento televisivo onde se diz que “no anterior Governo havia vários Relvas”. Só que nenhum deles nomeia o que diz, explica o que disse ou se insurge contra o que fica dito à sua frente. Acabamos a ter de reconhecer que há Relvas em todo o lado, mas talvez ainda haja mais na televisão.

14 thoughts on “Relvas há muitos, seus palermas”

  1. Essa mesma referência do “no anterior Governo havia vários Relvas” também foi feita no Eixo do Mal. O Luís Pedro Nunes chegou a nomear o Mário Lino como exemplo dum Relvas d’outrora. Claro sem nenhuma justificação. Achou. Cheirou-lhe que sim. Que em Relvas e em Lino e outros tantos estaria uma matéria física comum. Algo de imaterial, assim etéreo, rarefeito, intangível que lhe permitia dizer que sim, que Relvas era mau, mas tinha havido outros da sua espécie no governo anterior. Quais? É pouco claro. Porquê? Ah, porque sim, porque tem que ser, porque é óbvio, porque Sócrates era mau né? Se ter ‘um Relvas’ no seu espaço vital é uma coisa negativa, Sócrates, esse mestre das coisas negativas, deve ter tido inúmeros Relvas. Vários. De todas as cores & feitios. Deus sabe. Há quem saiba. Isto de ter alegações verídicas, argumentos válidos, provas coerentes – enfim, pensamentos com sentido está acima das nossas possibilidades de qualquer modo. Ou pelo menos desta gente. Sem dúvida peritos na simplicidade da procura do conhecimento permanente.

  2. eu desejo que no novo ano o meu aspirina seja mais abundante em cineterapias, coisas que acontecem, psicopatias e também alegrias – tesouros – já que o que mais há é relvices e palermas. :-)

  3. Parece-me uma explicação plausível para o ódio ou ressabiamento “fora de tempo” a tudo o que diga respeito a Sócrates e à sua governação: o reconhecimento tácito do melhor governo que Portugal teve desde o 25 de Abril 74.
    Nem a esquerda radical nem a direita, mesquinhas, invejosas, rasteiras, perdoam a um punhado de governantes corajosos a ousadia de ter concebido e posto em prática um projecto para o País. Isto era algo impensável nos meios da politiquice caseira; uma afronta, mesmo, ao tradicional “deixa andar, devagarinho, que assim está bem”.
    Assim se compreende o silêncio de um PS que elegeu, por aclamação, o substituto de Sócrates; o incontido gozo de Cavaco; perdão e benção de uma verdadeira proprocissão de políticos e comentadores, para os desmandos, mentiras, trafulhices e crimes de lesa-pátria dos vários Relvas deste governo.
    Esta gentalha, que não merece outro nome, olha-se ao espelho, não suporta o seu próprio retrato e tenta, desesperada e despudoradamente, justificar-se, alegando que “se agora há um “Relvas”, no governo que nós descartamos havia muitos e bem piores “Relvas”.
    E nem precisam de provar, com factos, aquilo que afirmam, porque o testemunho do seu ódio é a “prova rainha”, deles e para eles, que sâo a “elite” de tudo o que é elite neste país.

  4. se a táctica da insídia, da não concretização do que se afirma, deu resultado ao longo de quase 10 anos porque haveriam, os camelos, de mudar?

  5. Bom dia Val,
    Como bem diz o David Crisóstomo, também no Eixo do Mal veio ao de cima esta teoria.
    Não deixa de ser curioso descobrirem-se agora tantos Relvas que terão existido no passado.
    Também curioso é o discurso dominante de fazedores de opinião e afins tentar fazer-nos crer que são todos iguais (pelo menos o PS, PSd e CDS…o BE e o PCP são uns virgens) assim coincidindo com o discurso de Cavacos, Passos e quejandos, não reparando que contribuem para a desvalorização da política e da cidadania.
    Ou se calhar reparam, afinal fazem parte da classe dominate e dos que falam de barriga cheia.
    Fazedores de opinião que por sua vez, são na maioria, políticos quase todos no activo.
    É o que temos, infelizmente.
    Um abraço e desejos de um bom 2013

  6. Diz G. Steiner que
    “A ignorância e a condescendência podem paralizar tão eficazmente como a proibição.”

    Um Abraço para o Aspirina, e avancemos para 2013!

  7. No PS, o personagem que melhor representa o papel de Relvas, vazio de ideias, política de carreira e amiguismo, agenda de contactos e comissões na delapidação de património público, é Armando Vara.

  8. oh de luxo! bota aí o património público que o vara delapidou enquanto governante ou mesmo gestor público para o pessoal curtir as vigarices do bando do socras. caixas de robalos e fatos de treino só são aceites em quantidades que dêem para encher contentor.

  9. Quanto ao assunto do post recomendo a leitura de um livrinho muito interessante de Marc Ferro “Le ressentiment dans l’histoire. Comprendre notre temps”, Paris, Odile Jacob, 2007. O ex-primeiro ministro é capaz de não ter tempo…é um melómano; o eminente deputado do PS está posto em socego dos seus anos colhendo doce fruto; o bloquista está investigando a História do Tempo Presente; o Luís Pedro Nunes sabe ler?

  10. É a vida! Eles estão uns para os outros, os comentadeiros das televisões !
    Não se pode ignorar como nasceu o PPD mais tarde PSD, maioritáriamente formado
    por liberais do salazarismo agrupou todos os orfãos do regime caído em Abril 1974,
    lá se instalaram os caciques, os “self made man” também conhecidos patos-bravos,
    um dos primeiros “directores” do “Povo Livre” o agora famoso Duarte Lima pelas pio-
    res razões, da escola deste partido temos o p. ministro, estudante aplicado, o Relvas
    o turbolicenciado, está tudo legal, mestre na mentirola e grande facilitador, segundo
    dizem as crónicas! De um modo geral, os “donos” do partido (PSD) não têem verda-
    deira experiência de vida, nem formação académica e humanista para as funções em
    que foram alçados! Por tudo isto, estamos na eminência de mais dia menos dia e,
    Portugal já foi, privatizado para quem apresentar uns milhões!
    O resto não passa de música para distrair o bom Povo português, porque como se vê
    pela forma como foi promulogado o O.E. 2013, eles estão todos em sintonia para nos
    recolocar na mais baixa qualidade de vida possível e, pior, pelos vistos, estão todos
    “presos” com esqueletos, só assim se compreende a continuação do Relvas como
    ministro da Repúlica Portuguesa!!!

  11. curioso que já se esqueceram que balsemão foi 1º ministro com cavaco como ministro das finanças que deixaram o país tão bem que mário soares e o falecido prof mota pinto tiveram de pedir ajuda ao fmi e recuperar este pobre país e hoje vêem mandar bitaites convencidos que morreramtodos os que se lembram disso.

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