Mais uma história da carochinha

Nogueira Leite, o administrador da CGD que tinha prometido, sob palavra de honra, “pirar-se” se em 2013 o obrigassem a trabalhar mais de sete meses só para pagar os impostos, cumpriu há dias a sua promessa, alegando todavia como motivo, na sua carta de demissão, que “o essencial que tinha para fazer” na CGD já estava feito. Nenhum esclarecimento surgiu entretanto sobre o que terá sido o “essencial” da sua curta missão de um ano e tal. Alguns jornais não acreditaram e lembraram uma história anterior, de que se depreendia a insatisfação de Nogueira Leite pelo modo como o governo (Vítor Gaspar) tomava, à sua inteira revelia, decisões de alienação de participações e outros activos do banco do Estado. De facto, não era para isso mesmo que Nogueira Leite estava na CGD, abdicando da sua propalada “condição de homem livre” e dos impostos (presumivelmente mais doces) do sector privado? Não era para manobrar os cordelinhos das vendas de participações nos sectores da saúde, seguros, etc. e, a prazo, a anunciada privatização da própria CGD?

Hoje o Público e outros jornais vêm contar uma história diferente. Que Nogueira Leite, afinal, terá saído da CGD por discordar da “vista grossa” que a administração do grupo Caixa fizera a fortes indícios de corrupção e outros ilícitos envolvendo quadros superiores e um vice-presidente da casa. O assunto, dizem os jornais, arrastava-se há 15 anos (!) e fora alvo de um inquérito interno da CGD, que foi inconclusivo em matéria de ilícitos. De tudo resultou apenas a suspensão sem vencimento do funcionário Francisco Murtinheira, que em 2006 denunciara publicamente as supostas ilicitudes numa carta aberta ao ministro Teixeira dos Santos (o então ministro das Finanças passara o dossier ao presidente da Caixa que, por sua vez, mandou instaurar o tal inquérito interno).

A acreditarmos na história da carochinha hoje posta a circular pelo Público e pelo DN, Nogueira Leite não se terá demitido da CGD nem 1) por ter que pagar impostos que atentavam contra a sua “condição de homem livre”, nem 2) por ter completado já a sua messiânica missão de contornos misteriosos, nem 3) por ter sido ignorado pelo accionista único do grupo financeiro estatal na tomada de decisões estratégicas, nem 4) por a venda dos activos da CGD e da própria CGD ter deixado de lhe interessar por razões que só ele poderia explicar, nem 5) por outro motivo verosímil que escape às nossas chãs conjecturas. Nada disso! O homem que entrou na CGD em 2011 e agora se demitiu fê-lo porque, homem probo e de uma honestidade intransigente, não podia mais tolerar que, com a sua complacência, se continuasse a fazer vista grossa sobre irregularidades com 15 anos, que não foram confirmadas por um inquérito interno e com as quais, aliás, o pelouro de Nogueira Leite não tinha rigorosamente nada que ver. Está na cara, não tá?

2 thoughts on “Mais uma história da carochinha”

  1. este tipo de notícia diz muito mais sobre o jornalista, que coitado, zela pela sua vida particular, não pelo profissão que exerce… mas, infelizmente, é a regra do jornalismo que hoje se faz, que parece que pregam o benefício das cantinas sociais mas não querem que a sua família compre as marmitas para lá se aviarem… de resto fazem bem…

  2. a descrita invenção foi plantada no dn e no publico pelo pessoal do relvas ou o pessoal do gaspar também já têm ligações ao antro de promiscuidade que são as redacções lisboetas?

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