Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Revolution through evolution

Political Apathy Spreads from Parents to Adolescent Children
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Volunteering in late life may protect the brain against cognitive decline and dementia
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Clinical trial shows that a toothpaste containing synthetic tooth minerals can prevent cavities as effectively as fluoride
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Interracial relationships don’t always make people less racist
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Positive contact with diverse groups can reduce belief in conspiracy theories about them
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New findings show private equity investments in healthcare may not lower costs or improve quality of care
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Scent dogs can detect COVID-19 more rapidly and accurately than current tests
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Dominguice

Em Maio, tropecei na informação de estar Inês Pedrosa a reler “O Primo Basílio”, e eu também estava. Há dias, tropecei na informação de estar Francisco Seixas da Costa a ler “Histórias à Margem de um Século de História”, de Francisco Keil do Amaral, obra que li há poucos meses. Se a primeira coincidência não é digna de nota, por ser o Eça, já a segunda é altamente improvável. O livro foi comprado pelo meu pai em 1970 e andou durante décadas de um lado para o outro, em duas casas, sem nunca eu lhe ter pegado. Nos acasos das arrumações, foi parar à fileira da frente de uma prateleira ao nível dos olhos, parte de uma estante cheia de livros. Por ali ficou calado anos, e anos, e anos. Até que há uns meses chamou por mim, disse que estava na altura de revelar os seus segredos. E de segredos se trata, de família. Abrangendo o período entre 1820 e 1920, retratado a partir do espólio familiar do autor. É uma dulcíssima viagem a esse Portugal, com um narrador de prosa elegante e carinhosa. E foi uma oferenda de amor para a sua mãe — continuando a ser para todos os felizardos que o lerem.

É uma grande sorte conviver com livros que chamam por nós.

Pacheco, inimigo da cidade

«O mesmo tipo de justicialismo é uma das motivações para os chamados megaprocessos, que acabam por ser benéficos para aqueles sobre os quais há sérias provas de que cometeram crimes, mas que acabam por beneficiar ou de prescrições ou de processos infinitos, cheios de imbróglios jurídicos que os podem fazer cair em tribunal. O que a “justiça” apanhada nestas atitudes acaba por fazer é facilitar as fugas ao segredo de justiça como forma de punir, na opinião pública, aqueles que não consegue levar a tribunal.»

Pacheco Pereira

O Pacheco representa publicamente o papel de pensador da política, exibindo perícia em todas as áreas necessárias à superior honestidade intelectual que reclama: desde a ciência da História à ciência da Política, passando pela ciência dos blogues socráticos. A sua atitude é garbosamente a de um sábio independente que desdenhou a política activa por falta de pachorra para os seus constrangimentos morais e intenso cheiro a povo. Prefere o remanso bibliotecário da Marmeleira e o ambiente asséptico, mas feérico, dos estúdios de televisão. Faz desse senado individual o palco donde despeja semanalmente sentenças inapeláveis sobre os costumes da classe política. Na vetusta tradição dos grandes hipócritas, por causa dos tantos méritos que realmente ostenta, são estes predicados mesmos que fazem do Pacheco o maior dos caluniadores na indústria da calúnia onde enche os bolsos.

Atentemos na citação escolhida. Corresponde a um parágrafo, e um parágrafo é suposto corresponder a uma ideia com pés e cabeça. A ideia em causa é a do justicialismo, desenvolvido e ilustrado nos parágrafos anteriores e agora aplicado cripticamente, em subtexto, a Sócrates. Daí a introdução de uma invenção jurídica, a figura das “sérias provas”; conceito que terá talvez como contraponto no código penal pachequiano o de “risonhas ou atrevidas provas”. Aqui, serve para anunciar que mesmo que os tais megaprocessos (leia-se, a Operação Marquês) não gerem uma condenação, tal não chegará para anular o julgamento já transitado em julgado por quem possui “sérias provas” de crimes assim e assado. Mas esta miserável perseguição não é o mais grave, nem o mais triste, no famigerado parágrafo. É que na sua conclusão lemos que as “fugas ao segredo de justiça” são, afinal, um serviço que os magistrados prestam à sociedade pois, pelo menos, sempre conseguem punir de alguma forma os tais criminosos com suspeitas por provar que não conseguiram engaiolar no tribunal. É esta a ideia principal do trecho, uma ideia que será de imediata concordância por milhões de portugueses que consomem notícias e espaços mediáticos de opinião onde ela é uma bandeira dos linchamentos e ostracismos.

A pulsão de querer matar o adversário político é um reflexo da biologia na luta pelos recursos, a luta cega e desesperada pela sobrevivência. Sendo quase sempre demasiado arriscada para ser tentada, tem um substituto igualmente letal na pulsão de criminalizar o adversário, assassinar-lhe o carácter e tirar-lhe a liberdade. Isto é, destruir completamente o seu poder político. A diabolização da vítima, a sua desumanização, é um processo psicológico necessário para se cometerem as maiores violências. E não há violência maior, a seguir à morte e à tortura, do que condenar e prender sem um processo justo. Pacheco Pereira, por maldosa banalidade, alimenta a doblez que está na essência do tal justicialismo que vergasta para melhor o usar em seu proveito. É um inimigo da cidade.

Lapidar

Marcelo, o árbitro-ponta-de-lança

Árbitro e ponta-de-lança, no mesmo jogo? Sim, é possível. Veja-se um exemplo ex cathedra:

«O chefe de Estado, que tinha sido questionado sobre a possibilidade de a procuradora-geral da República, Lucília Gago, vir a ser chamada ao parlamento sobre as buscas à sede nacional do PSD e à residência do anterior presidente do PSD Rui Rio, não quis comentar diretamente este caso nem as declarações feitas a esse propósito pelo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva. Sem analisar a atuação dos diferentes órgãos neste caso, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "o que está em causa é que a Constituição funcione bem, que o Estado de direito seja respeitado e que haja confiança nas instituições por parte dos cidadãos".

"E os cidadãos tanto podem perder a confiança se se convencerem que há instituições que vão longe de mais na sua forma de atuação, como que há instituições que aparecem como querendo fugir a um controlo, a um escrutínio, ou a verem-se envolvidas em querelas acerca dos limites das suas competências. Tudo isso exige uma coisa fundamental que se chama aplicação da Constituição com bom senso", defendeu. Segundo o Presidente da República, a posição que lhe compete é "a de árbitro e, portanto, não só não causando problemas na separação de poderes, como estando acima dos outros órgãos de soberania, ou que não são de soberania, porque lhe cabe muitas vezes em última análise ser o fusível de segurança em relação a todos".»

PR pede bom senso e que poderes político e judicial não deem sensação de guerra

O actual Presidente da República é uma nulidade no que respeita à problemática da Justiça. Não se lhe conhece qualquer opinião a respeito, no que contrasta com o seu passado de comentador e, especial e fundamentalmente, com o seu currículo como jurisconsulto e lente de Direito. Aparentemente, os ares de Belém não são inspiradores para reflexões acerca de matérias tão esconsas e escabrosas, daí as declarações acima.

Declarações onde não se encontra um vestígio de preocupação, de mero incómodo, com essa modalidade na desportiva da prática de abusos e de crimes sistemáticos por magistrados e agentes da Judiciária. Daí ser um discurso completamente abstracto e centrado em si, despejando platitudes com uma única finalidade: contribuir para que os crimes continuem sem interrupções nem limites.

A interpretação autêntica das suas palavras foi dada pelo órgão oficial do marcelismo, aqui: Marcelo avisou PSD que discutir casos judiciais favorece o Governo. A notícia é de um desplante afrontoso, explicitando o óbvio, isso de os crimes na Justiça favorecerem os interesses da direita portuguesa. Dominando a comunicação social e os sectores criminosos da Justiça e das polícias, a direita anda há praticamente 20 anos a tentar derrotar o PS através de ameaças, perseguições, devassas e golpadas com recurso aos totalitários meios postos ao serviço de magistrados e agentes das autoridades. Ainda ninguém o fez, que saiba, mas o tratamento estatístico dos crimes de violação do segredo de justiça que deram origem a ataques contra o PS desde o caso Freeport, a que acresce a tipologia das informações dadas aos jornalistas, estabelece um padrão que até uma pedra da calçada consegue entender e ficar a cismar.

Marcelo é o tal árbitro que se concentra em interromper o jogo de uma das equipas, marcando-lhe faltas e exibindo frenético e incontinente os cartões amarelo e vermelho. Ao mesmo tempo, faz claque pela outra equipa, puxa por ela, não quer que cometa o que surge destacado no pasquim do Balsemão, o “erro táctico brutal” de interferir com os crimes da Justiça portuguesa. E, calhando estar perto da baliza do adversário e a bola ir parar-lhe aos pés, este árbitro transforma-se instantaneamente em ponta-de-lança e tenta marcar golo. Não apenas pela gana de vencer a equipa adversária, uns nojentos, mas também pelo gozo de poder correr para os braços da multidão, sentir na pele a adoração popular pelo goleador-matador.

É um vício. O vício do jogo viciado.

Rio e os trocadalhos

"Se os políticos não tiverem coragem de dizer basta, um dia alguém vai dizer chega"

Rui Rio

Este trocadilho teve grande sucesso. Porque é básico. Porque parece querer dizer alguma coisa. E porque essa eventual coisa dita parece adequada a uma qualquer outra coisa que parece ser relevante ou evidente. Mas não, pá.

Ficamos tão-só completamente reféns da imagem catastrofista do Chega triunfal, a marchar na cidade por cima dos cadáveres dos tais políticos que não conseguiram dizer “basta” perante o formidável exército invasor. Nesta lógica, a frase de efeito é uma involuntária peça de propaganda a favor de Ventura. Puxa os holofotes para um cenário em que se dá não só como possível, não só como provável, mas assumidamente como inevitável que os protofascistas cheganos irão um dia conquistar o Parlamento e ocupar S. Bento.

O trocadilho que Rio deveria ter usado, de acordo com as cagadas que andou a fazer montado no PSD, era este: “Bastou oferecer os Açores ao Ventura para o vermos chegar à Madeira”.

Revolution through evolution

Belief in animal​​s’ capacity for emotion linked to better health and welfare
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Board games are boosting math ability in young children
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Pre-operative exercise substantially helps with recovery
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The great weight debate: Researchers find all forms of weightlifting build strength and muscle, details matter less
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Criticism with care is more persuasive
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Game-playing automaton acts like an ‘irrational’ human
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“Bidenomics versus Trump Adopted Trickle Down Theory” explains Dr. Larry Hill, Lewis University Professor of Economics
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Dominguice

Portanto, ignoras que ignoras que ignoras. Eu idem. É a mais densa e consequente forma de ignorância. Uma ausência presentemente ausente. Que podemos fazer? Duas cabeças pensam melhor do que uma, sim, mas só quando as duas tolas em causa pensam. Se juntarmos a nossa a uma que não pensa, provavelmente ficaremos a pensar pior. E se a nossa não pensar, de nada adianta ir ter com aquela a raciocinar na perfeição pois não entenderemos patavina. Pelo que se deve começar por conseguir pensar se a gana for a de pensar melhor. Nisso está o critério primeiro e último para sabermos que estamos a pensar: independentemente do conteúdo do nosso pensamento, achar que o podemos vir a pensar melhor.

Ignorarmos o que ignoramos ignorar não é uma negatividade. É a tangência imarcescível e gravítica de todos os pensamentos.

Rui Rio, um merdas igual a nós

Rui Rio, nesta entrevista, aparece cheio de cagança a dizer umas verdades a respeito das disfunções no Ministério Público. Se não o conhecêssemos, merecia rasgado aplauso. Como sabemos o que ele fez e não fez em Verões, Primaveras, Invernos e Outonos passados, o que fica é mais um número irrelevante de mais um hipócrita.

Na sua campanha para presidente do PSD, Rio prometeu afrontar os decadentes do seu partido que andavam desde 2004 a colocar as fichas todas na judicialização da política e na politização da Justiça, lançando campanhas negras imparáveis e golpadas onde se reunia a santa aliança de magistrados, jornalistas e Cavaco. Causou tremor (mas não temor) a sua promessa de ir combater os “julgamentos nas tabacarias e nos ecrãs de televisão”. Se bem o prometeu, de imediato o esqueceu. Poucos meses após inscrever o seu nome como 18º presidente do PSD, ali no auge da sórdida pressão da pior direita para manter Joana Marques Vidal como procuradora-geral da República, Rio não se insurgiu, sequer se demarcou. Foi ambivalente, dúbio e positivamente a favor da anomalia sugerida de dar mais 6 anos à heroína da Operação Marquês. Depois aceitou ter o tóxico e insuportável Paulo Rangel a encabeçar a lista do PSD às europeias de 2019. O resultado foi uma campanha emporcalhada do primeiro ao último dia, um espectáculo doentio de chicana e baixa política. Seguiu-se a inacreditável exploração do caso Tancos, onde o despacho da acusação foi publicado precisamente no início da campanha eleitoral para as legislativas de 2019. Rio deu-se ao opróbrio de tratar Azeredo Lopes como culpado e António Costa como cúmplice, tudo na véspera de se ir a votos. Por fim, achou que o País estava a precisar de um Ventura conquistador e de um Chega em acelerado crescimento, daí ter oferecido os Açores aos protofascistas para que a sua normalização se consumasse antes de outros voos ao colo do laranjal.

Rui Rio, pois, é um patego e um pândego. Mas isso não é o pior, o pior é a cobardia. É que na farronca agitada para consumo mediático não está o mínimo respeito pelo Estado de direito democrático, pela comunidade e pelos princípios deontológicos, sem os quais a selva invadirá a cidade. Tal fica patente ao tratar com pestilente negligência um caso onde foi vítima, em que verbalizou ter plena consciência de haver crime no Ministério Público — nomeadamente por se ter avisado a TVI do espectáculo em preparação, a qual chegou à porta do prédio de Rio ainda antes das autoridades, tal o estado de anomia e bacanal vigente entre agentes da Justiça e jornalistas amigos. Ora, não é por este ser o enésimo crime similar que deixa de ser um dos piores crimes concebíveis: o crime cometido por aqueles a quem pagamos e damos poderes exclusivos — e potencialmente totalitários — para exercerem vários tipos de violência em nome da Lei e da Constituição. Os magistrados cometem este tipo de crimes por saberem que o enquadramento penal não permite que haja escutas a respeito, resultando numa perfeita blindagem. Os colegas no Ministério Público escolhidos para a fantochada dos inquéritos internos sobre as violações do segredo de justiça limitam-se a pôr na papelada a arquivar que não foi possível descobrir os responsáveis, não existindo qualquer outra entidade que investigue esses delitos. Mas pensemos: para além dessa impunidade ser um gravíssimo ataque à República, que outros tipos de crimes esconsos não fará quem se sabe protegido para cometer estes tão expostos à sociedade e às instituições da soberania?

Ao não fazer deste exemplo o seu cavalo de batalha, lançando o escândalo que ainda ninguém teve peito para lançar, Rui Rio mostra a sua fraqueza, a sua mediocridade; isto é, a sua banalidade. Tão igual a nós, partidos e cidadãos, tão cobardes como ele.

O Pacheco e o seu Zezito

Pacheco Pereira in Mas de onde vem esta gente?

A cassete do Pacheco sobre Sócrates — para além da calúnia sistemática vinda de uma figura grada do Cavaquistão que nunca piou sobre esse tempo — oferece duas taras com interesse para psicólogos, antropólogos e autores de comédia: uma é dizer que o apanhou a mentir sobre não sei quê, a outra é agitar o papão dos “blogues”. Ambas competem ferozmente pelo título de mais ridícula, acabando fatalmente a tara dos blogues por vencer graças à natureza folclórica e psicadélica que exibe.

Mas o Pacheco tem comentadores generosos, que perdem o seu rico tempo para lhe mostrar que vai nu. Eis um bom exemplo:

Monstruosidades



Marques Mendes, conselheiro de Estado por escolha de Marcelo (portanto, representando politicamente o Presidente da República), usufruindo de antena aberta como comentador numa TV nacional, não perde uma oportunidade para caluniar Sócrates e o PS. Neste exemplo, recorre à desumanização ostensiva, tratando Sócrates como “monstro”. É um apelo ao ódio, ao linchamento moral e ao assassinato, figurado e real.

Os editorialistas pegaram na frase, destacaram-na, amplificaram-na. Fizeram o resto do trabalho sujo. Sócrates continua a ser um alvo valiosíssimo para a indústria da calúnia e a direita decadente. Para lá dos danos que se imaginam a obter contra Costa, existe uma obsessiva paixão socrática cujo único alimento é a inveja, o medo e o puro ódio.

Mas em que se baseia Marques Mendes para tratar Sócrates como um “monstro”? Sendo um retinto e profissional caluniador, nada demonstra nem justifica. Limita-se à proclamação do ultraje, chafurda no rancor. Ora, talvez faça sentido sacar da máquina de calcular para umas continhas, de forma a podermos avaliar melhor o afã com que se agarra a Sócrates. Por exemplo, imaginemos que a tese maximalista do Ministério Público a respeito dos 23 milhões de euros na posse de Carlos Santos Silva é verdadeira, correspondendo esse valor ao total arrecadado por Sócrates num qualquer acto, ou actos, de corrupção ainda por identificar. Tal vai então comparar com os 9,7 mil milhões de euros que o DCIAP indica como sendo o valor desviado no esquema de Oliveira e Costa, e amigos, através do BPN e Banco Insular. Ou seja, mesmo que a hipótese do Ministério Público fosse provada (o que já sabemos que não o foi nem irá ser), o suposto dinheiro obtido ilegalmente por Sócrates corresponderia a 0.237113% do valor efectivamente sacado pelos craques do laranjal.

Mas há mais, e melhor. O esquema montado por Oliveira e Costa envolve o Cavaquistão até ao topo. Cavaco Silva e família lucraram com os crimes. Dias Loureiro, figura grada do PSD de Cavaco e da Sociedade Lusa de Negócios, era também conselheiro de Estado por escolha directa de Cavaco Silva. Tanto Cavaco como Dias Loureiro não são alvo de suspeitas, nem foram vítimas de crimes de violação do segredo de justiça, nem de perseguição pela comunicação social, sequer de referência na luta partidária. Idem para Marques Mendes. Porém, contudo, todavia, o cheiro a cumplicidade moral e protecção política é nauseabundo.

Quando Marques Mendes acusa António Costa e Augusto Santos Silva de nada “terem visto” a respeito de Sócrates, dessa forma atingindo-os na calúnia mais pusilânime, omite que nada viram porque, 9 anos depois da detenção no aeroporto preparada para ser uma execução pública instantânea, todas as suspeitas permanecem sem prova. Não foram só eles que não viram, toda a gente continua sem ver onde ocorreu a tal “corrupção”. Já a respeito do papel de Cavaco Silva, Dias Loureiro e Marques Mendes no lançamento e amparo de Oliveira e Costa, mais umas dezenas de figuras gradas do laranjal, como o maior criminoso da história de Portugal em volume de dinheiro desviado, sobre isso está tudo à vista.

E é uma coisa, não encontro melhor parelha de advérbio com adjectivo, monstruosamente monstruosa.

“O anti-racismo nunca matou ninguém”

José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna, telefonou ao presidente do Conselho de Administração da RTP para “manifestar desagrado” relativamente a uma peça de animação anti-racista difundida no canal público. Com isso conseguiu errar 7 vezes de uma assentada só:

1ª Nunca se protesta contra mensagens anti-racistas, nunca.

2ª Não se deve sugerir, seja-se ministro ou mero cidadão, que a liberdade de expressão se deve inibir de criticar, satirizar, analisar e reflectir sobre as instituições, qualquer instituição — ou qualquer pessoa, obra, documento, símbolo desde que públicos.

3ª Ao atacar o mensageiro, na figura da entidade que publicou o conteúdo, o ministro exibe intento censório.

4ª Ao ligar para a RTP, o ministro está a juntar-se ao Chega e ao PSD, validando a estratégia da extrema-direita e a manipulação das forças policiais para se transformarem em instrumento de violência e ameaças extremistas, racistas, xenófobas.

5ª Ao ligar para a RTP, o ministro perdeu a soberana (literalmente) oportunidade de voltar a deixar o PSD colado ao Chega nesse abraço decadente e trágico.

6ª Ao ligar para a RTP, em vez de apenas ter feito um comunicado de solidariedade e elogio ao corpo policial e de saudação à luta anti-racista, o ministro arrastou o Governo para uma manifestação de fraqueza face às forças antidemocráticas e anticonstitucionais.

7ª Nunca se protesta contra mensagens anti-racistas, nunca.

A cultura do Montenegro

Perante uma crítica de Pedro Adão e Silva cuja intenção é a de melhorar a cultura da nossa democracia no seu palco mais soberano, a Assembleia da República, o presidente do PSD e líder da oposição limita-se ao assassinato de carácter, ao sectarismo e à chicana.

Esse modo de reagir, na sua posição, fica como exuberante manifestação da sua cultura política.

Porque tudo na acção humana é cultura. Porque o Montenegro sempre fez parte de uma cultura civicamente decadente. Daí não conseguir fugir dela, sequer escondê-la.

Revolution through evolution

Helping adolescents to feel competent and purposeful – not just happy – may improve grades
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Older adults who remain more active have a better quality of life, study finds
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Not eating enough of these six healthy foods is associated with higher cardiovascular disease and deaths globally
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Cognitive flexibility moderates teacher stress
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Can Dungeons and Dragons help players build social skills?
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AI tests into top 1% for original creative thinking
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Creative people enjoy idle time more than others
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Dominguice

A crise climática escapa às previsões dos modelos computacionais e tem dinâmicas caóticas que aumentam o risco de afectarem catastroficamente a produção alimentar, a saúde pública e a segurança das populações. Isto num calendário muito mais rápido, e mais imprevisível, do que o dos cálculos usados para tentar obter acordos internacionais relativos à redução do dióxido de carbono na atmosfera. Por sua vez, os acordos não são suficientes, não são eficazes e nem sequer são respeitados. O resultado parece fatal: a humanidade será atingida por problemas de sobrevivência a uma escala global, e com cenários regionais de vasta disrupção do modelo político e dos serviços públicos.

Sendo optimista, é esta mesma ameaça que nos fará querermos passar para um estádio da economia sob o primado da ecologia. A ecologia como cidade. Uma única Terra para todas as terras.

Freud explica

Passos Coelho + Cavaco Silva

Setembro de 2018. No espaço de dias, um ex-primeiro-ministro e um ex-Presidente da República lançaram publicamente a suspeita de que os então, e actuais, Presidente da República e primeiro-ministro eram parceiros numa das mais graves conspirações contra a República que é possível conceber: afastar Joana Marques Vidal da função de procuradora-geral da República precisamente por causa da sua integridade, independência e coragem no combate ao crime, especialmente à corrupção, e decisivamente à corrupção na própria Justiça a mando de políticos — esta a mirabolante tese caluniosa.

Demente? Sim, óbvio, mas aconteceu. É ler. O panegírico, sob a pena de Passos Coelho, é explícito no seu subtexto a respeito da Operação Marquês, louvando o sucesso da caçada e o tratamento dado ao animal. De caminho, esta dupla de calhordas atentou contra a honorabilidade e reputação de Lucília Gago, a magistrada nomeada para substituir a Vidal do festim de crimes de violação do segredo de justiça.

Vem esta recordação a propósito de Marco Capitão Ferreira ter sido constituído arguido, e de se ter demitido do cargo de secretário de Estado da Defesa. Ocasião para perguntar perante a lista de governantes, autarcas, deputados, políticos e empresários alvo de investigações judiciais desde que a Santa Joana bazou: voltou a impunidade ao serviço do Rato?

Aparentemente, com uma maioria absoluta do PS, devíamos estar agora perante um festival de criminalidade à solta dos governantes e demais bandidos socialistas, os quais tinham afastado a única pessoa capaz de os apanhar, assim reza o argumento de Cavaco e Passos; este o D. Sebastião da direita decadente, a qual sonha voltar a mandar nisto fazendo do Ventura o ministro dos polícias e da cor da pele. Em vez desse festival de corrupção, vemos um Ministério Público sem qualquer obstáculo à sua acção a entrar nos gabinetes ministeriais e onde quiser (até em clubes de futebol, pasme-se). E também nos chegam notícias dos pés de barro da lenda justiceira incensada pela direita do vale tudo, descobrindo-se a fraquíssíma qualidade da investigação e elaboração das acusações nalguns processos que encheram de holofotes e medalhas mediáticas os procuradores vedetas do “fim da impunidade”.

Enfim, o Freud explica com um único conceito: projecção. Aquela dupla sabe bem o que começou ou deixou fazer nos idos de 2012 e seguintes.

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