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Candidato surpresa nas eleições americanas!

A menos de 1 mês das eleições, apareceu um candidato que ameaça alterar todas as regras da democracia tal como a conhecemos até hoje.

O seu projecto é de aplicação imediata, alcançando maior racionalidade energética, diminuição das emissões de CO2, extraordinária recuperação de horas de trabalho e correspondente aumento da produtividade. Para além destes benefícios, fica ainda garantida a paz entre as forças sociais e políticas através da radical uniformização da vida intelectual.

Ver reportagem do NEWS CHANNEL 3.

Educação sexual para bloggers

Um dos aspectos mais notáveis, e decisivos, do cristianismo é o de não ter educação sexual. De facto, os diferentes credos cristãos não têm nada a dizer sobre a sexualidade, apenas sobre o casamento. No catolicismo, a mais segregadora das variantes cristãs quanto ao matrimónio, há dois tipos de casamento: o terreno e o celestial. Os leigos casam entre si, os ordenados casam com o Senhor. No que diz respeito à sexualidade enquanto dimensão antropológica ou espiritual, o cristianismo nada pode dizer porque tem ignorado voluntariamente essa região ontológica; nisso, e infelizmente, não recolhendo a herança do judaísmo. Esta situação é desgraçada, que não haja a menor dúvida, e explica vários fenómenos que compõem o actual momento civilizacional. Um deles é relativo ao império da pornografia, o qual não é só produto de consumo, mas alcançou o feito de ser modo de relacionamento. Com o acesso imediato à pornografia, tanto na TV como na Internet, e ainda antes nas revistas femininas comuns, a pornografia massificou-se. Daqui nascem novos mercados e novas tipologias de relacionamento, onde o sexo se frui como lúdico e destituído de vínculo sentimental. Ou seja, o que os homens (e algumas mulheres) das elites sempre fizerem ao longo da História, ter sexo à disposição sem restrições, é agora uma possibilidade crescente para a enorme maioria dos adultos ocidentais, homens e mulheres, caso o procurem. Se quiserem protestar com alguém da Igreja por causa deste paradoxo, onde a falta de educação sexual gera uma legião de consumidores de sexo, e onde o culto da abstinência acaba como fonte de luxúria, é favor enviar a correspondência para o Santo Agostinho.

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A velhice do líder partidário eterno

Tendo assistido ao debate quinzenal no Parlamento pela televisão, ocorrido hoje, veio um assomo de lirismo: como seria a política e a vida social em Portugal se os trabalhadores tivessem autorização dos patrões para assistir aos debates quinzenais? Para os deputados, membros do Governo, funcionários da Assembleia, jornalistas destacados e ocasional público, este debate não deve ter sido diferente de tantos outros. Não há nenhum facto digno de registo a noticiar, nem sequer alguma frase memorável, mesmo que de memória efémera. Num certo sentido, nada aconteceu. Mas no seu outro lado, aquele que justifica a existência da figura do debate regular, é um dos instrumentos mais importantes da democracia e do Estado de direito. Os partidos têm tempo de preparar as intervenções e podem confrontar directamente os responsáveis governativos. Havendo ideias ou denúncias, o Governo fica sujeito ao desafio de lhes responder na hora, ou correr o risco de passar a imagem de fraqueza ou culpa. Claro que as propostas e as queixas dos partidos podem ser expressas a qualquer altura, não havendo nenhum impedimento para as fazer chegar à comunicação social e à população. Isso ajuda a iluminar a dimensão principal do debate quinzenal, e a qual se liga directamente com a matriz da democracia tal como ela foi primeiramente idealizada: num debate, dá-se prova de carácter. Este aspecto tem a sua raiz na ancestralidade de qualquer grupo humano, onde existe a necessidade de estabelecer hierarquias, sob pena de se desagregar o grupo em causa. Debater é, pois, combater e conquistar o poder – e a arma democrática por excelência é o carácter, a virtude. Na sua perfeição, a democracia é uma aristocracia perene, imune às disfunções oligárquicas e às perversões tirânicas, através da permanente e ordenada renovação.

O espectáculo de ver deputados aos berros, rubros de hostilidade, a sobreporem-se ao discurso do Primeiro-Ministro, pode deixar indiferente qualquer outro. Ou o espectáculo de ver os deputados a falar e a rir enquanto um outro deputado discursa, pode ser a normalidade. E o espectáculo de ver deputados a abandonar o hemiciclo só porque o seu partido já tinha acabado a intervenção, enquanto o debate continuava, pode apenas suscitar bocejos a muitos. O mesmo pode ser dito quanto à lamúria tecnocrática de Paulo Rangel, à retórica serôdia de Paulo Portas, à postura folclórica de Jerónimo de Sousa, à excitação soviética do tipo dos Verdes e à chatice ortodoxa de Alberto Martins – tudo mais do mesmo, a falência da inteligência continuadamente repetida como maldição. Mas, para mim, o choque veio de Francisco Louçã. Num debate cujo tema era relativo à crise económica internacional, Louçã tinha uma pergunta que insinuava a certeza da existência de recibos verdes numa empresa que representava a Segurança Social num dado serviço. A situação suposta era muito fixe, pois sumamente irónica. Contudo, Sócrates tinha a resposta pronta, a qual assarapantou o interrogador e deixou a sua bancada num estado de meter dó. Fatal, porém, foi o modo como Louçã lidou com a situação, não querendo admitir a bacorada com que esgotara a intervenção do seu partido no debate sobre a crise internacional. E veio justificar a questão com deturpações de menino apanhado numa traquinice a não querer assumir responsabilidades. Estes momentos, ó Louçã, são maus para a fotografia.

Passámos parte dos anos 80, e os 90 todinhos, a ter esperança neste rapaz. Entretanto, as primaveras chegam às 52 em Novembro, breve será pré-sexagenário e é crível que não esteja a ir para novo. O mito ainda é o do Louçã verboso, padreco e disposto a fazer a revolução nos 15 minutos seguintes. Só que a realidade, ao longo do tempo, mostra um político estagnado, invariavelmente azedo e odioso, o qual não se imagina a ser substituído por um qualquer lugar-tenente. O Rosas é um espinho cravado na sã convivência com os adversários, o Fazenda não consegue cobrir a nudez de ideias e a Drago queima-se na sua própria chama. Se albergam lá mais alguém de valor dialógico, pelo menos aproveitem os debates quinzenais para irem rodando até acertarem num novo talento. Isto de nem o Bloco ter material político para perturbar o nosso Primeiro, é o espectáculo mais desolador de uma tarde passada a olhar para a casa da democracia.

Lá como cá, game over

Este segundo debate virou o feitiço contra o feiticeiro: McCain julgava ter vantagens na interacção com a assistência, a qual interrogava e cercava os candidatos, mas acabou a exibir a sua banalidade intelectual, mediocridade política, descontrolo emocional e caducidade indisfarçável. Está acabado, todos o sabem neste momento, e já se encomendaram as faixas de campeão. O Mundo vai ter Obama durante os próximos 8 anos, e a América irá unir-se à Europa para a mudança do paradigma económico e da cooperação internacional. Porque se a crise financeira é gigante e assustadora, a certeza da crise ambiental, e a possibilidade da ocorrência de terrorismo nuclear, vão ser os maiores desafios que alguma vez a Humanidade enfrentou. A questão não é a de se ir mudar, porque a mudar já estamos. A questão é a da direcção e velocidade da mudança.

Talvez a escolha de McCain como candidato Republicano tenha resultado da antecipação de candidatos Democratas desruptores, tendo-se apostado num semi-independente com medalhas de guerra para apelar ao choradinho. Mas o facto é que ele não está qualificado para ser presidente, ponto. Mesmo esquecendo a irresponsabilidade, eventual loucura, da escolha de Palin, McCain está fora do prazo e não é estadista. Game over.

Aprende-se mais sobre política assistindo a um debate presidencial americano do que a acompanhar a política nacional durante um ano. A culpa não é de Sócrates, que assumiu os debates parlamentares quinzenais como um guerreiro, e é altamente competente nas entrevistas. E a culpa não é do Governo, que tem sido o mais profissional de sempre na gestão da sua imagem, comunicação e poder negocial. E a culpa também não é do PS, um partido cuja essência é fragmentária, que tem estado surpreendente e notavelmente coeso; Alegre confirmando a regra. A culpa é da oposição, onde não se vê uma única – uma única! – figura que desperte a mínima esperança ou interesse. Da esquerda à direita, não há ninguém que represente uma alternativa, sequer um complemento, ao poder actual. Até McCain, se viesse para cá descansar e curtir a reforma, faria melhor.

O arrastão da inteligência


Quero agradecer ao Al Gore por ter inventado a Internet, engenhoca sem a qual nunca teria recebido esta prova de afecto.

Daniel Oliveira é o melhor discípulo de Pacheco Pereira. Ambos mergulharam nas mesmas águas ideológicas na loucura da juventude, tendo provado o embriagante fruto do radicalismo. Tal como nas experiências com LSD, para o resto da vida passam a estar sujeitos a alucinações. E tal como com o Pacheco, temos visto o Daniel a caminhar para um centro difuso, aceitando compromissos vários em nome da sua carreira de publicista. E justifica-se, porque é uma vida muito boa essa dos que recebem dinheiro para botar opinião. São como os músicos, a quem se paga para fazerem o que lhes dá prazer e envaidece. Se eu pudesse, faria o mesmo, olá.

Mas o que eu nunca faria, e peço que não me deixem fazer, era perder uma oportunidade de ser inteligente. Porque quando se começa no desleixo, folgando a rigorosa disciplina, acaba-se rapidamente na imbecilidade. Ora, temos de ajudar o Daniel a não cair nessa armadilha, pois é duvidoso que alguém queira saber no que pensa um imbecil. É adentro deste projecto destinado ao fracasso que te convido a ler uma grotesca imbecilidade. Se acreditares no que leste, vais acreditar que o Papa está a influenciar positivamente o aumento dos casos de SIDA, de aborto e de miséria demográfica. Claro que aqui te poderás perguntar como é que se cola o aumento do número de abortos com o aumento demográfico, mas deixa lá isso. Por agora, o que importa é reconheceres que ao acreditar no autor isso produz um efeito em ti: dás-te conta que te tornaste num imbecil. E eu pergunto: gostas? Claro que não podes gostar, pois isso obrigaria a que fosses ainda mais imbecil do que já és após a leitura do texto, e tal não é quimicamente possível. Portanto, não gostas de ser imbecil; e esse é o lado bom da ideia que defende uma relação entre Papa, SIDA, aborto e aumento demográfico. Pronto. Descansa um bocadinho, bebe água e volta para o parágrafo seguinte.

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Enconados Futebol Clube

O futebol existe desde o início da civilização e tem uma missão: levar-nos a aceitar o resultado, seja ele qual for. A meta é a consciencialização de que todo e qualquer resultado é o melhor possível, tão válido como outro qualquer. E é só para terminarem que os jogos começam, os fins justificam as partidas na grande teodiceia do pontapé na bola. Dizer que há resultados justos e injustos apenas assinala a necessidade de continuar a ir ao futebol. Pois a justiça nasce da vontade e da lógica, enquanto o resultado é uma flor da sorte. No caso da vitória do Porto neste domingo, o elemento aleatório a ditar o resultado chama-se Paulo Bento.

No dia 5 de Outubro de 2008 deu-se uma mudança de regime na equipa de futebol do Sporting: a monarquia do disparate deu lugar à república das evidências. É evidente que ter Rochemback como médio-ala atacante é das decisões mais estúpidas em toda a História das decisões. Pôr um homem que não devia correr por ordem do médico naquele sítio é desumano. É evidente que Rochemback não pode ter outra posição que não seja a de médio defensivo. A equipa tem de se organizar a partir desta posição central ao baixo, irradiando dos seus pezinhos a distribuição de jogo. Caso ele não possa jogar, por lesão ou cartão, na linha sucessória estão o Moutinho e o Veloso. Mas mantendo a função: pegar na bola e fazer meio golo. É evidente que o Derlei e o Postiga são dois avançados em pré-reforma, sem pernas nem cabeça. Nestas condições, e pensando no que aconteceu na final da Taça, talvez a ave rara Tiuí acertasse mais dos que estes dragõezinhos de papel. É evidente que o Pereirinha não deve ser usado como defesa, onde não rende mesmo que cumpra, mas sim como extremo, pois ele é novo é agora, não daqui a 10 anos. O Pereirinha precisa de jogar e de ter a confiança do técnico para inventar, para ser criativo e tecnicista. É evidente que o Djaló não está a ser aproveitado, pois ele é meio aparvalhado mas compensa com a corrida. Precisa de ficar à mama e conseguir correr até ao fim da linha, altura em que tomará uma de duas opções: centrar ou embicar em direcção ao guarda-redes. Isto é simples de explicar e mais ainda de executar. É evidente que o Miguel Veloso está a revelar-se um bluff, sinal de que não treina bem. Que ele viva um momento de grande produtividade e destruição inglória de espermatozóides, isso não lhe dá imunidade futebolística. Neste momento, é um jogador que quando se supera apenas consegue ser banal. É evidente que o Vuckcevic é mais sportinguista do que o Paulo Bento, e escusa-se de dizer alguma coisa outra sobre o assunto. É evidente que o Sporting é uma equipa onde não há imaginação, onde não se vê dinâmica de grupo, onde quase ninguém remata à baliza, onde se falham demasiados passes, onde se fazem faltas desnecessárias, onde se protesta com os árbitros por imbecilidade, onde se entra em picardias por falta do mais básico profissionalismo, onde não se pensa. Esta república das evidências tem um prognóstico muito reservado, a monarquia do disparate pode voltar a reinar já no próximo jogo.

Que não espante, então, a tristeza que vai no coração dos adeptos. No estádio, o público esteve alheado, tolhido, magoado. Não gostamos de treinadores e jogadores que se queixam da nossa paixão pelo clube, como se lhes tivéssemos ficado a dever dinheiro das partilhas ou não pudessem tomar banho com água quente no final do jogo. Se é para choramingarem por causa da acústica do estádio, tirai os leões do peito e ide procurar trabalho noutra freguesia. Que inaudito paneleirismo é este, mandar vir com o povo que assiste ao espectáculo e quer ver soldadesca a marchar bravamente em direcção à baliza contrária? Se nem sequer entendem que só existem por nossa causa, façam as malas e abandonem a selva, até os abutres merecem ser poupados às vossas carcomidas carcaças. A gentinha das queixinhas e dos achaques que vá jogar com os amigos para uma praia na Caparica. E podem criar lá a agremiação desportiva onde se sentirão em casa: Enconados Futebol Clube.

Pacheco Pereira e o lubrificante

Na continuação das bengaladas do nosso amigo Rui Vasco Neto, também quero molhar a sopa. Lobo Xavier, António Costa e Pacheco Pereira exibiram, no último Quadratura do Círculo, três posições prototípicas em relação à blogosfera: a utilitária, a ignorante e a ressabiada. Lobo Xavier disse o óbvio: os blogues são bons porque são úteis, seja para a busca de informação ou diversão. Compete a cada um descobrir quais interessam e porquê. António Costa mostrou ser um bimbo: emitiu juízos de valor cuja origem é apenas emocional, provando que não sabia do que estava a falar. E Pacheco Pereira repetiu a cassete: que era uma chatice a blogosfera não se restringir ao seu blogue e a mais um ou dois que ele aprovasse. Estas posições espelham o actual entendimento da classe política sobre a blogosfera, talvez nestas exactas correspondências distributivas.

Esta conversa de café não mereceria especial atenção, em condições normais. Mas as condições foram anormais, pois se discutiu o escândalo das casas da Câmara de Lisboa imediatamente antes do paleio sobre os blogues. Ora, não se pode falar do caso das casas sem iluminar a dimensão corruptora que envolve a prática política em todos os níveis do seu exercício. Trata-se de um fenómeno geral, extenso no tempo e no espaço, e é um tabu para todos os envolvidos – grupo onde se incluem os agentes, os cúmplices e os coniventes por conhecimento. A anormalidade está nisto de se quebrar o silêncio e ter os responsáveis a discursar sobre a matéria. Vejamos o que disse Pacheco Pereira:

A nossa política está quase no grau zero.
Toda a gente sabe que as casas na CML são distribuídas, em 40%, para pagar favores políticos, de relações de amizade e proximidade.
A mecânica dos pequenos favores, da cunha, é o lubrificante das estruturas intermédias dos partidos, com peso importante no poder autárquico.
Todas as Câmaras que tenham património para distribuir terão problemas semelhantes.
Todos os presidentes da CML, de António Costa até ao Abecassis, sabiam que este processo ocorria.
A nossa Administração Pública está cheia de favores, prebendas, de que ninguém fala.
O problema de fundo é a cultura da cunha e do favor que invade partidos e Administração Pública.
É uma situação estrutural da Câmara que não pode ser atribuída a nenhum partido em particular.
Eu estive 5 anos no Parlamento Europeu. Seis meses antes de me vir embora é que eu vim a saber duas mil ou três mil maneiras de ganhar mais dinheiro no PE, todas legais, todas mantidas em segredo, transmitidas uns pequenos truques aqui, uns pequenos truques acolá. O que acontece com estes casos é que os que estão dentro – é por isso que o problema também das estruturas partidárias é importante – os que estão no sítio, e os que conhecem os mecanismos, chamam os outros. E portanto há aqui um insight, há aqui um conhecimento interior, que circula por estas instituições, que – exactamente porque não há concursos públicos, a coisa nunca vem a público ou quando vem a público já está dirigida a alguém – que permite esta cultura de favores e de cunhas. [neste ponto, Carlos Andrade interrompe para dizer Temos de avançar…]

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X-Files_Herman José

Que o Herman perdeu por completo a graça, é notícia mais antiga do que o início das obras para a Expo 98. Mas ninguém (que eu saiba ou lembre) se preocupou em explicar o fenómeno ou em antever se tal perda é irreversível. Dada a importância do Herman na cultura nacional pós-25 de Abril, importa reflectir no que aconteceu e acontece a este marmanjão do entretenimento à portuguesa. Mas deixo o aviso: se durante a leitura te aperceberes de qualquer coisa assim a modos que estranha ali para os lados do Kosovo, pára imediatamente, mantém a calma e respira fundo (ou vice-versa), pega num pijama e duas latas de atum, dirige-te em passo de corrida para a sede do PSD mais próxima e aguarda instruções. Nada temas, a ajuda não demorará a chegar. Já foi tudo tratado com o Sr. Presidente da República.

Se 1975 anunciava a chegada de um cómico de talento superior, com o Sr. Feliz e Sr. Contente, 1980 consagra-o como uma novidade artística – após os sucessos musicais Saca o Saca-Rolhas e A Canção do Beijinho – n’O Passeio dos Alegres com o Tony Silva. Foi a primeira personagem humorística criada para o meio televisivo nacional e despertou universal paixão, pois reunia toda a sociedade numa só figura de síntese: o Portugal antigo a dar passagem ao Portugal moderno. Nunca tínhamos rido tanto e tão fundo, nesse processo que misturava, e conciliava, identificação e estranheza. Veio O Tal Canal, e com ele atingiu-se o apogeu dessa crítica social e antropológica começada no Tony Silva. Assistíamos à fulgurante definição de um novo paradigma humorístico, e televisivo, onde Portugal se unia à volta de um discurso vanguardista e de uma figura iconoclasta. Herman transformara-se na 1ª super-mega-hiper-estrela desta aldeola virada ao Atlântico, nem os futebolistas de então tinham sequer um centésimo da sua fama. Não conheci a popularidade do Raul Solnado nos anos 60, mas aposto que não é comparável ao que aconteceu com o Herman.

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Entrámos na fase pós-Palin, thank god

Tendo sido a primeira vez que vi Joe Badin em acção, não tenho qualquer dúvida de esta ter sido a melhor prestação da sua vida. Ou a melhor de que tenho memória, prontos. Ao seu lado apareceu uma marioneta, boneca de trapos muito mal cosidos, oca e repetitiva. Uma vítima da irresponsabilidade de McCain e de quem o influencia. Palin conseguiu fugir às perguntas e reduzir as suas respostas ao tema energia do Alasca, feito que chegou para os Republicanos terem respirado de alívio: tinham passado ao lado de uma possível catástrofe. Esta candidata já se enterrou para lá da salvação, deixou de contar para a campanha. Se voltar às grotescas exibições de incompetência, já ninguém se irá surpreender ou chocar, apenas continuaremos todos a rir. E se conseguir parecer uma candidata normal, repetindo os clichés que lhe mandarem repetir, ninguém mais lhe estará a prestar atenção. A ameaça de uma onda irracional à volta de Palin esgotou-se quando os novos óculos da candidata se constituíram como a sua grande mensagem nesse dia.

No final, foi uma lição civilizadora ver o genuíno afecto com que as famílias se trataram no palco. Continuação da estima que esteve sempre presente ao longo do debate e que assinala uma educação democrática superior. Joe Biden, uma velha raposa, é também um estadista de fazer inveja – e a ternura com que tratou a senhora foi uma jogada executada na perfeição. E assim se vai conseguir arrumar Palin no lugar a que pertence: o da irrelevância tacanha.

O PS não vai em paneleirices

Como estas declarações de Paulo Rangel demonstram, o PSD quer estar de bem com Deus e com os diabinhos. Por um lado, não pode afrontar os rústicos, parolos, ignorantes, fundamentalistas, lunáticos e xexés de quem espera continuar a receber votos. Por outro lado, não pode ser coerente com a sua cobardia; tendo encontrado no cinismo a fuga ao imbróglio: o partido pensa uma coisa, os representantes do partido pensam o que eles quiserem. Isto, numa sociedade onde imperasse a lógica, faria com que se fechasse a cadeado a sede do PSD e se colocasse um cartaz a dizer Este partido acabou porque deixou de fazer sentido.

Oposta, e benéfica, é a posição do PS. Ter cedido ao prazo da oposição à esquerda, seria um erro político. Porque o PS deve continuar a marcar a agenda, se quer continuar a concretizar o programa nas suas condições. Como se viu no referendo para o aborto, não falta disponibilidade para assumir decisões polémicas que em muito transcendem a política partidária ou ideológica. É o caso com o casamento dos homossexuais, apenas uma causa bandeira, não um problema social urgente. E para os que vêm com o argumento de que todos os direitos fundamentais são urgentes, posição que é teórica e abstractamente inatacável, há a lembrar que eles não se coíbem do supérfluo para atender ao essencial. Ou seja, até para os arautos da justiça plena e imediata, há direitos fundamentais de primeira e de segunda necessidade. Assim, para a estratégia do PS, é melhor deixar para a próxima legislatura – portanto, para o próximo ano – o tratamento da questão.

Isto é um exemplo, mais um, de um partido com cultura política. Infelizmente para a democracia, só mais um partido dá mostras de ter cultura política, e infelizmente é o PCP. O BE é um partido oportunista, mas sem estratégia. E o PSD e o CDS são dois desastres. Isto está muito curto. É altura de aparecer uma nova geração de políticos que saiba fazer política, não que apenas ambicione repetir os que se servem da política – a ubíqua arte de roubar o Estado, currículo secreto que se aprende desde tenra idade nas juventudes partidárias dos partidos que têm partilhado o poder e suas benesses. Não nos esqueçamos que os partidos recebem dinheiro dos nossos impostos, a sua actividade é suposto ser algo mais do que andar a brincar aos clubes privados onde são todos amigalhaços e camaradas.

O adepto não é bento

Após o jogo com o Basileia, onde ao intervalo o Sporting foi assobiado pelos adeptos, Paulo Bento disse o seguinte:

Não me parece normal. Uma equipa com um troféu conquistado, que está em primeiro lugar no campeonato e que à segunda jornada da Liga dos Campeões não está a jogar mal… não me parece normal aquilo que aconteceu. Valeu-nos, hoje, o carácter e a personalidade dos jogadores para dar a volta a esta situação. Ao contrário de outras situações, em que foi o público que nos levou, hoje penso que foi ao contrário: foram os jogadores que levaram o público.

Paulo Bento tem qualidades de chefia que lhe garantem uma carreira tranquila, e já provou ser um bom táctico. Falta-lhe, agora, levantar os olhos do umbigo. Primeiro, o seu salário é pago pelos adeptos. Segundo, o seu emprego é mantido pelos adeptos. Terceiro, a equipa foi comprada pelos adeptos. Quarto, o estádio existe para os adeptos. Estes pressupostos são indiscutíveis, levando a três corolários:

– Paulo Bento está tonto.
– Paulo Bento está parvo.
– Paulo Bento está tonto e parvo.

Já chega de falar do carácter e da personalidade dos jogadores porque os adeptos não pagam aos jogadores para terem personalidade e carácter. A personalidade falha golos feitos e o carácter é frangueiro. O que verdadeiramente não é normal, e faz do Paulo Bento um anormal, é vir dizer que o público leva (??) os jogadores. Nunca assim foi e nunca assim será, senão ganhavam invariavelmente os da casa. É o emblema e a equipa que puxam pelo público, aqui como na China, hoje como há 100 anos ou daqui a 1000. E é a equipa que leva o público para o estádio, para a rádio, para a televisão, para os jornais, para as lojas e para a rua. Estas declarações de Paulo Bento revelam que ele está a confundir o futebol profissional com os Jogos Sem Fronteiras ou com algum torneio de malha no concelho de Abrantes. Isso faz prever o pior para a sua relação com o Vukcevic, apenas o melhor jogador em Portugal, pois indiciam completa falta de lucidez. Ó Paulo, olha para aqui: o adepto não quer psicologia, quer raça.

Quando um adepto assobia a sua equipa, está a emitir um sinal que o cérebro do jogador assimila como estimulante do instinto de sobrevivência. Isso leva a que o jogador fique concentrado e desenvolva um sentimento de culpa pró-activo que melhora o seu posicionamento defensivo e aumenta a sua capacidade aeróbica em 33% (acabo de inventar; pelo que, mesmo que não esteja certo, tem a vantagem de ser uma informação recente). Vir fazer queixinhas dos assobios devia ser algo proibido pelos estatutos do Sporting. Os únicos assobios ridículos para um adepto que se preze são aqueles contra as equipas contrárias – porque conferem importância ao adversário, denunciam receio. Devia ser questão de honra leonina aplaudir a equipa visitante à chegada e à partida, independentemente do resultado e das voltas da sorte.

Se não queres ouvir assobios, Paulo, trata então de reinventar os treinos. Nem reunindo todo o poder dos deuses se conseguiria que algum adepto assobiasse a sua equipa quando ela está a jogar bem. E para jogar bem, Bento, basta correr na direcção da baliza adversária com a bola nos pés. É tudo tão simples no futebol, ai.

Bela-Bosta

O que escreve Baptista-Bastos no DN não me esclarece quanto à legitimidade, ou lisura, da sua situação de arrendatário municipal, mas confirma que o homem é um buraco negro narcísico, onde a realidade se afunda infinitamente na sua fome de protagonismo.

Olha lá, ó Armando, para chover no interior de uma casa basta ter a janela aberta, e sobre os perigos vários é ter mais atenção às quinas dos móveis e aos patins no corredor. Se achas que esta conversa a teu respeito é uma conversa que te falta ao respeito, tenho de perguntar: em que gaveta meteste o 25 de Abril?

A culpa é da testosterona

É a mais convincente explicação para a crise financeira americana: testosterona. Óbvio. Os homens erram sempre que pensam só com os túbaros, é fatal. Desta vez conseguiram dar cabo da economia mundial, naquela que ficará como a real fuck of the century. Mas onde está o problema, está a solução. No artigo aventa-se a possibilidade de as mulheres fazerem investimentos mais cuidadosos, ou de menor risco. Uma Wall Street maioritariamente feminina não teria chegado a este buraco, é a tese. Ora cá está outra vantagem do estrogénio, surpresa. O mesmo se diz, já agora, de qualquer papel de liderança: onde há mulheres a mandar, há melhor ambiente de trabalho e, consequentemente, mais produtividade.

Tudo isto é probabilístico, entenda-se. E requer níveis de educação, espírito competitivo e mobilidade social à americana. A Manuela Ferreira Leite não me deixaria mentir.

A casa da democracia

Quanto ao que se tem passado com as casas da Câmara de Lisboa, e que Ana Sara Brito exemplarmente subsume, o que mais incomoda são as reacções dos que se dizem chocados ou surpreendidos. Não consigo imaginar que tipo de vida será a sua, como conseguiram tirar a carta de condução ou meramente levar um garfo à boca. Se nos pretendem convencer da sua ignorância e probidade em matéria de corrupção política, para mais autárquica, deveriam ser imediatamente riscados do mapa da honestidade.

O caso das casas é perfeito, pois nem o PCP escapa. A Câmara de Lisboa, por maioria de razão, é o microcosmo da política nacional. E o que se vê são comportamentos universais: quem tem poder, usa-o para seu benefício, para benefício dos familiares e amigos e para a manutenção desse mesmo poder. Dada a complexidade legal e regulamentar da prática governativa, administrativa e gestora, há sempre – mas sempre, sempre, sempre – espaço para cirandar por entre as gotas da chuva. Foi o que Ana Sara Brito resolveu fazer, clamando inocência pelo lado da legalidade alcançada. E ignorando com cegueira desoladora a dimensão ética (pelo menos) da sua situação. Ora, não há qualquer diferença entre a sua praxis e a dos partidos que têm sido coniventes uns com os outros no assalto ao tesouro público. É nisto que temos a sorte de poder sentar o PCP no banco de réus, para que não fique um só tijolo de pé neste edifício da traição a Portugal. O PCP, mesmo que nenhum dos seus representantes na Câmara tenha sido agente de injustiça, tinha a obrigação de denunciar o caso. Não só nunca o fez, como não o faz em tantas outras situações. E quando o PCP não o faz, não se deve esperar que o PS, PSD e CDS o venham a fazer; escuso de explicar para não ofender a tua inteligência. E aqui é meu o espanto: com tanta oportunidade para revelar os esquemas e meandros da corrupção em Portugal, porque não nasce um partido com essa missão ou estratégia? É espanto de muito curta duração, sim.

Desde os anos 90 que não voto em nenhum partido que tenha tido presença parlamentar. Não quero ser cúmplice de ogres e imbecis. Semana sim, semana não, Vasco Pulido Valente (honra lhe seja) diz-nos o mesmo: são todos iguais, e todos irrecuperáveis. Que fazer? Fazer política, ora. A casa da democracia, que é a da justiça e da liberdade, constrói-se com esse romantismo grego que começa em Homero – onde o herói pode até ficar assustado, mas jamais virará as costas ao inimigo. E quando entra no combate, que se faz com espada ou palavra, vai alegre à conquista da honra.

O inimigo de que falo sou eu. E tu.

O homem da meia-maratona


Imagem relativa à edição de 2007

Sócrates voltou a suar a camisola ao lado do povo na Meia-Maratona de Lisboa. Das muitas razões para se invejar o nosso primeiro-ministro, tenho cá uma fezada que a sua saúde e vigor físico, exibidos nas corridas, é das que mais secretamente deixa os pançudos desvairados. E depois eles atiram-se às canelas da RTP, esse antro emissor de hipnose colectiva, e ao aventureiro Magalhães, o qual, calhando ter sido iniciativa do PSD, mereceria dos mesmos pançudos as mais encomiásticas declarações. É esta a miséria de oposição que temos, sem dúvida para mal dos nossos incontáveis pecados.

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Cineterapia


Tian Bian Yi Duo Yun_Tsai Ming-Liang

Se não sabes porque escorre a lágrima, olha para estas imagens. Fica por lá um bocado, analisa as pistas e desenvolve uma primeira explicação, depois volta – enquanto eu fico aqui abrindo a melancia. Para tal, começo pelo pêssego. Há muito que o pêssego é o meu fruto preferido. É o mais sensual e saboroso, desde a pele de veludo ao perfume simultaneamente suave e complexo, passando pela fibra tenra, polposa, suculenta. A sua degustação provoca embriaguez sinestésica, ouvindo-se imagens, apalpando-se sons, contemplando-se odores – ou assim li algures. Esta descrição desafia a erosão do tempo e as actuais definições do que se considera ser a saúde mental. Porém, que fazer com a melancia? Cedo neste planeta me dispus a coleccionar recordações de homéricas talhadas, repetidamente associadas a momentos de alegria familiar. Não tinha como o negar: a melancia era um fruto que, embora não ameaçasse o pêssego na corrida ao grande prémio, concorria para os prémios especiais do júri e do público. Porém, havia um desprezo declarado pela melancia junto da opinião corrente, tanto a falada como a escrita, dizendo-se que o seu valor nutritivo seria reduzido, quase nulo, dado ser pouco mais do que água. Para mim, especialista em generalidades nutritivas, algo não batia certo. Juntando a fome à vontade de saber, fui investigar. A primeira descoberta foi a do licopeno. Ora, já tinha sido apresentado ao licopeno por causa dos tomates, pelo que conhecia a importância dessa novíssima vedeta da literatura mágico-nutricional. Pois bem, a investigação revelava que a melancia tinha ainda mais e melhor licopeno do que os tomates, era uma coisa do caralho. E continuava a ser do caralho por uma eréctil descoberta: a melancia tinha poderes análogos aos do Viagra. De repente, aquela bola de água traidora, sportinguista por fora e benfiquista por dentro, mais famosa pelo milagre fatal da transformação do vinho em cortiça do que por qualquer promessa curativa, surgia associada à protecção contra o cancro, contra problemas cardiovasculares, contra o envelhecimento dos tecidos e ainda contra a impotência – ou seja, a favor da potência. Estava encontrado o fruto que dava a provar a metafísica aristotélica: a mais saudável passagem da potência ao acto disponível fora das farmácias. E resulta, afianço. Estas descobertas aconteciam no Verão de 2007, a poucas semanas da estreia em Portugal do pevidesco filme de Ming-Liang.

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Jornalismo esquizóide

Não tenho memória de ter lido algo que se pareça com isto. Vem assinado por Ricardo Lourenço, jornalista do Expresso. É revelador do desnorte completo por que passa a nossa imprensa, outrora com alguma vergonha na carteira. Vejamos:

O senador John McCain tinha uma bigorna presa a cada perna. De um lado a maior crise financeira desde o crash de 1929 (ambos candidatos concordam com a classificação). Do outro, oito anos de política externa republicana (tema do debate), coroados com duas guerras – Afeganistão e Iraque – sem um fim à vista. As expectativas quanto à sua prestação eram, portanto, muito baixas.

É assim que começa a peça, invertendo na perfeição a realidade. Todos sabiam que as temáticas da Defesa e Relações Internacionais eram aquelas onde McCain poderia ter melhor prestação. É ele que não se cansa de falar em heroísmo, experiência e maturidade, puxando o lustro ao currículo e valorizando a vetusta idade. As temáticas da economia eram aquelas onde McCain não teria qualquer possibilidade de escapar ao ataque mais feroz e consequente de Obama. Assim, ter a oportunidade de marcar pontos passando ao lado do descalabro financeiro, e isto quando a sua vice voltou ao estado de besta após uns dias a iludir os otários que a acharam bestial, eis algo que não se podia falhar. Pois o responsável editorial do Expresso para os assuntos internacionais não sabia disto.

O resto do texto segue pelo mesmo delirante caminho, chegando ao ponto de usar expressões subjectivistas palermas. Há aqui um aspecto enigmático, tamanha é a distorção. Veja-se este passo:

No fim do debate, alguns comentadores norte-americanos parodiavam com o facto do senador afro-americano ter perdido, a partir de certa altura, a compostura, passando a tratar o adversário, simplesmente, como… John.

O jornalista nem se deu ao trabalho de identificar o canal onde estavam os citados comentadores, mas é muito provável que estivesse a referir-se à CNN. De facto, uma comentadora, pró-McCain, fez esse reparo, o qual deu origem a risos vários. Só que os risos não eram para Obama, antes para a hipótese da comentadora. Na verdade, o que Obama conseguiu com esse simples truque foi demonstrar que não se atemorizava com o rival, antes o tratava com proximidade e afecto. E mais: foi Obama quem correspondeu ao pedido do moderador para que os candidatos falassem directamente um com o outro, enquanto McCain nunca conseguiu falar directamente para Obama e foi de uma rudeza e embaraço surpreendentes.

Mas há aqui um grande enigma. Este Ricardo Lourenço, se teve tempo para deturpar o que os olhinhos lhe serviam no cérebro na fase dos comentários, também teve oportunidade de ver os resultados das sondagens aparecidos poucos minutos depois do debate terminar; onde todas elas – todas! – davam a vitória a Obama em qualquer dos segmentos etários (incluindo os velhinhos). Como é que, então, se consegue escrever tamanha aberração no Expresso neste nível de responsabilidade jornalística?

Não temos imprensa de referência, isso é indubitável. Resta saber se temos jornalistas verdadeiros que cheguem para criar um projecto novo, ou renovar uma marca antiga. Faz tanta falta uma imprensa inteligente e corajosa como um sistema partidário livre e activo. E sempre fará.

Vi um preto a bater num velhinho branquinho

Terminou o 1º debate entre Obama e McCain e fica a pergunta: quem é que aceita trocar a sua inteligência pelo apoio ao candidato Republicano? McCain foi primário, tacanho, egotista, provinciano, soberbo, paternalista, manipulador e caduco – e isto nas temáticas onde se diz ser mais forte, defesa e relações internacionais. Entende-se agora muito melhor a inacreditável escolha de Palin. Esta gente é a continuação de Bush, preparada para cometer os mesmos erros com a mesma irresponsabilidade.

Haveria um exercício a fazer, para memória futura, que seria o de recolher as opiniões dos que apoiam a candidatura Republicana, fosse lá pelo que fosse que eles invocassem na justificação. Pelo menos, essa lista serviria para ficarmos a conhecer aqueles que não se devem convidar para sócios num negócio ou, no caso de nos perdermos no meio do centro comercial Colombo, não deixar que eles escolhessem o caminho até ao carro sem primeiro estarem munidos de GPS, mapa, bússola, esfera armilar e uma senhora simpática por perto disposta a servir de guia.

Blogpower

Exemplos do reconhecimento e crescente institucionalização da blogosfera como legítimo canal de exercício político, com acrescidas vantagens face aos espaços da comunicação social profissional quanto à publicação, extensão, organização e expressão dos conteúdos:

Abrupto – Pacheco Pereira continua a sua patética cruzada contra a propaganda do Governo – sem definir os critérios de aferição, sem ter currículo na matéria, sem convencer nem interessar – e atinge níveis inacreditáveis de fragilidade argumentativa. Azeredo Lopes responde-lhe com amor, num misto de raspanete para com as grosseiras faltas de honestidade intelectual e de ternura e santa paciência para com a genica do puto. Claro que o nosso Pacheco está-se já a marimbar para as figuras que faz, a sua viatura há muito que perdeu os travões. Só lhe resta aproveitar o tempo para fingir ser um louco ao volante, antes do choque com a realidade.

Blasfémias – Estrela Serrano escreveu a Gabriel Silva como se ele fosse uma entidade jornalística, ou política, de referência. O seu texto tem o mérito de ter sido escarrapachado à pressa e de forma emocionada. Isso resulta em passagens hilariantes, que se agradecem. Mas o que mais importa realçar é a ingenuidade de uma figura como a Estrela Serrano, notoriamente a cometer erros de principiante na relação com as putas velhas dos blogues. Isso, para mim, é um excelente sinal: assinala a disponibilidade para o diálogo e para a democracia. Foste o céu na terra, Estrela.

Câmara Corporativa – Eduardo Cintra Torres é um caso clínico, na melhor das hipóteses. O que se pode ler na sua correspondência com Miguel Abrantes assusta, tal a distância com a sensatez. Não se imaginaria tanta arrogância bronca a alguém com o seu trajecto mediático. Veja-se um exemplo:

O artigo de António Ribeiro Ferreira no Correio da Manhã referia factos que não foram desmentidos. Este governo tem repetidamente desmentido factos em artigos na imprensa, sejam eles de informação ou de opinião. Mas neste caso não houve qualquer desmentido, pelo que tomo os factos referidos como verdadeiros.

Deve ser isto, suspeito, a tão falada lógica da batata: se ninguém desmentiu, é verdadeiro. E depois é só cortar às rodelas ou em palitos.

A crise só te faz é bem

Em relação ao entendimento das problemáticas económicas, há três grupos possíveis, e não mais do que três. O primeiro é o dos que não pescam nada do assunto. Aqui se encontram os analfabetos, analfabrutos, iletrados, ignorantes, preguiçosos, confusos, disfuncionais, neuróticos, empregados públicos, velhinhos marotos, aparvalhados, bêbados, clientes da Caixa Geral de Depósitos por opção e sócios do Benfica com as quotas em dia. O segundo é o dos que entendem alguma coisa do assunto. Aqui se encontram licenciados, jornalistas, políticos, trafulhas, ciganos, traficantes, mafiosos, indivíduos com um tio no Corpo Diplomático, vendedores de relógios chineses, empresários que fogem aos impostos, patos-bravos, participantes regulares no Fórum da TSF, taxistas e médicos. O terceiro é o dos que sabem tanto que sabem nada saber. Aqui se encontram eruditos, académicos, anacoretas e alguns pastores do triângulo Covilhã, Nelas e Celorico da Beira.

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