Revolution through evolution

Distinct sex differences persist in countries with higher standards of living
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Love scrambles the brain and scientists can now tell us why
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Doctor says gratitude can benefit your health in a number of ways
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Watching others visibly dislike vegetables might make onlookers dislike them, too
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More siblings mean poorer mental health for teens
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Scientists identify how dietary restriction slows brain aging and increases lifespan
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Even the oldest eukaryote fossils show dazzling diversity and complexity
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Dominguice

Depois de terem passado quase 20 anos entretidos, e felizes da vida, a caçar socráticos, os geniais direitolas estão agora apavorados a verem os chungas em modo “triunfo do grotesco” e os socialistas com dinâmica de vitória. Fruto podre do laranjal, a nova AD é a imagem ofuscante da indigência política. E o Presidente da República, num ciclo inenarrável e vexante que começou na tomada de posse de Costa para o que viria a ser uma maioria boicotada por Belém e dissolvida à golpada, foi parar à boca de um José Paulo Fafe que numa sala da Assembleia da República o tratou como farrapo encardido. O legado de Marcelo é este, e é ainda pior. Não se lhe conhece uma única posição acerca dos crimes na Justiça, conhece-se a sua conivência com eles.

Ventura, Montenegro e Marcelo. Estão cada vez mais parecidos, chafurdam na decadência.

Qualquer um pode dar uma notícia, e dá

Os tempos da espera ansiosa pelo vespertino (o meu caso), e depois da sua leitura voraz, num percurso de secções idiossincrático, há muito que acabaram. O alívio por encontrar o ardina, o prazer de comprar o jornal no quiosque, o ritual de ir à papelaria buscar o diário religiosamente guardado, não voltam. A digitalização matou o papel sarapintado de notícias e informações quotidianas. Os que cresceram nesse mundo foram desistindo e vão desaparecendo. Os que nasceram a partir dos anos 90, já não apanharam esse mundo.

Significa que o jornalismo perdeu a sua função social, cultural e política? Não. Até se pode elaborar o argumento simétrico: numa crescente e imparável fragmentação mediática, onde a informação é ubíqua e há oferta de conteúdos gratuitos, o papel do jornalismo torna-se ainda mais importante do que no passado. Porque aparece como oásis de epistemologia e práxis da racionalidade democrática. Só que para isso é preciso que os propalados jornalistas sejam veramente feitores de jornalismo.

O valor do jornal em papel estava menos na sua componente informativa enquanto versão autêntica dos factos e mais na fiação de um espaço para a comunhão comunitária. Os suportes digitais que se pretendem réplicas do papel são incapazes de criar efeito semelhante porque o ecossistema actual atomizou os receptores. No meu telemóvel tenho toda a Internet, não só não preciso como não tenho mais disponibilidade para agregados informativos cuja actualidade se esgota ainda antes de estarem prontos para publicação. Mas o espaço para a comunhão comunitária continua a ser de necessidade fundamental.

Para o jornalismo fazer dinheiro tem de abandonar o mercado das notícias. Renascer no mercado das muralhas da cidade.

Se o Presidente do Supremo, perante um golpe, avisa os políticos…isto quer dizer o quê?

Tendo ainda tempo para estudar uma saída airosa por intervenção de alguém com tino (não se sabe quem), o Ministério Público jamais irá reconhecer que errou (abusou) na operação Influencer. Basta ver a linguagem de resistência com que admite hoje que uma das suspeitas sobre João Galamba não tinha fundamento, porque a portaria em causa tinha outro objecto. Não viram, pá.

 

[…]uma portaria que afinal nada tinha a ver com o projeto de uso dos terrenos dos gasodutos da REN para a passagem de cabos de fibra que iria favorecer a Start Campus”. (Expresso)

 

[…] foi “suscitada dúvida sobre se a redação da Portaria nº 248/2022 teve por base atuação” dos donos da Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, “pelo que admite o MP que esses factos, por ora, não sejam considerados fortemente indiciados.”

 

Podemos rir? “Foi suscitada dúvida”; “por ora, não sejam considerados fortemente indiciados” – que linguagem é esta? E que descaramento. Por ora? Fortemente indiciados?

Activam a ventoinha, sujam as pessoas e depois é que surgem as dúvidas. Se foi preciso o João Galamba responder-lhes à distância para esclarecer este assunto, porque não o ouviram antes e em directo? Será isto competência?

 

Pois bem, sendo esta a linda cara com que a Justiça se apresenta, o Presidente do Supremo acha, e disse-o ontem, que o risco da falta de independência do sistema judicial e dos tribunais é que é o grande problema.

 

Num discurso proferido na cerimónia da tomada de posse da juíza conselheira Graça Amaral como vice-presidente do STJ, Henrique Araújo apontou “sinais evidentes de desgaste e deterioração” das democracias, considerando, por isso, que o sistema judicial deve ser eficiente e imune a “tentativas de ilegítima intrusão ou condicionamento por parte do poder político“.

“Alimento a esperança de que Portugal não caia no erro de empreender reformas judiciais irrefletidas que ponham em causa o princípio da separação dos poderes e da independência do poder judicial”, reforçou o presidente do STJ.” (DN)

Ainda pensei que se estivesse a referir à possibilidade de o sistema judicial estar infiltrado por elementos da direita e da extrema-direita com o objectivo de perverter o sistema político, mas não. O último parágrafo quer mesmo dizer que tudo está muito bem como está e que os políticos não devem atrever-se a mexer em nada.

Mas o problema é mesmo o de existir uma independência tão grande e tamanha dos magistrados que se traduz numa total discricionariedade e impunidade e, em relação aos políticos, no abuso, no desrespeito pelos mais elementares direitos e na interferência na governação. Só que isto não mereceu da parte do digno juiz uma linha que fosse. E isso, sim, é assustador. A Justiça erra e abusa flagrantemente do poder que tem, mas a preocupação é manter a soberba e punir quem se atreva a discordar. Vai ter que haver aqui uma volta.

Mário Soares na gaveta

Comovente o entusiasmo de Vieira da Silva apelando ao partido para honrar o que de mais importante Mário Soares deu a Portugal: a defesa intransigente da liberdade — ou seja, do Estado de direito democrático e respectiva Constituição.

Acontece que Vieira da Silva, como Ferro Rodrigues e António Vitorino que também foram vocais no congresso do PS a respeito de questões judiciais, fala em nome pessoal. A denúncia de termos um Ministério Público politizado, ou mesmo como ameaça à legalidade, esboroa-se e desaparece de imediato na voracidade da agenda mediática. Aos procuradores criminosos basta esperar sentados, com a certeza absoluta de estarem numa posição blindada e inexpugnável. Ninguém os vai investigar, jamais um político ou partido com ambições de vitória eleitoral iniciará um movimento de exposição e responsabilização dos seus abusos. Dos seus objectivos, indeléveis e públicos crimes.

Comovente mas grito rouco na tempestade da actualidade. Vieira da Silva também deixa saudades, foi um magnífico governante, é um exemplar cidadão. Só que o seu partido já não é o de Mário Soares desde (pelo menos) 22 de Novembro de 2014.

Ser assim e querer que a direita seja respeitada (nomeadamente pelos eleitores)

Uma tal Maria João Marques, feminista de direita que escreve no Público, mas que revela ignorar muita coisa, acusa hoje António Costa de insultar o centro-direita (a direita moderada, segundo ela) ao chamar-lhe “diabo”.

O diabo é a direita”, mas o único sucesso de Costa veio de governar à direita


[…]O centro moderado distingue-se. Reconhece dignidade humana a toda a gente, sem as desclassificar pelas ideias políticas, ou por serem sindicalistas, ou empresários, ou intelectuais, ou trabalhadores braçais. Ou não. Porque assisti – estupefacta – ao discurso de António Costa no congresso do PS e este disse, literalmente: “O diabo é a direita.” O primeiro-ministro diz de mais de metade das pessoas que votam em Portugal, segundo as sondagens, e que ele governa, que são “o diabo
”.[…]

OMG. Mais uma que gostaria que os leitores fossem parvos. Mas, se não forem, passa vergonhas. Como, estou certa, será o caso hoje. Ela sabe, todos sabemos, de onde vem a expressão “vir lá o diabo”. Passos Coelho utilizou-a no Parlamento ao criticar as medidas do Governo de António Costa, como o aumento do salário mínimo, ou a reposição dos salários e das pensões, entre outras, que supostamente levariam o país ao caos. Esta expressão está agora categoricamente esvaziada do seu sentido profético catastrofista, o que permite virá-la contra a própria direita e com alguma graça. Daí “o diabo estar na direita”, já que pela mão da esquerda não veio. Pelo contrário, o diabo existiu, porque os tempos foram propositadamente duros, mas eclipsou-se. Não é insulto nenhum e, se fosse, o primeiro a recorrer ao diabo teria começado o insulto.

Acresce que a idealização que a colunista faz da actual direita, como muito educada e respeitadora dos moderados da esquerda não tem qualquer correspondência com a realidade. “Andar aos gambozinos”, “bebedeira”, “bandalheira”, ou ainda “culpados pela crise nos Açores” são expressões recentemente utilizadas pelo PSD para insultar, aí sim, o PS. O PS e os portugueses um pouco mais exigentes. Isto por não saberem o que de substancial poderiam dizer. Maria João está, portanto, a ser ou burra ou desonesta ao descontextualizar uma expressão e ao ignorar o que os seus andam, eles sim, a fazer.

[…]Diabolizar opositores políticos ou reputá-los de perigos para a democracia não são argumentos que se aceitem no debate público dirigidos a partidos como o PSD, o CDS ou a IL. Degradam o debate político. Trazem o esgoto da polarização das redes sociais para os palcos mais institucionais. É próprio de políticos como Trump, Lula, Bolsonaro, Morales ou Milei.”

 

Pois muito bem. Não fazem esses partidos outra coisa. Não só insultam, como demonstrado, como também pretendem esconder que não hesitarão em convidar o Ventura para formar governo se necessário for, embora todos saibamos que tal irá ou iria acontecer. Passos Coelho (mais uma vez), que parece ser o grande ídolo da Maria João e o protótipo do político bem educado (!! as graves e descaradas mentiras da sua campanha eleitoral de 2011 inserir-se-ão no conceito de “boa educação”?) afirmou não há muito tempo que o Chega era um partido normal e democrático. Afinal quem reabilita e traz o “esgoto” e o “trumpismo” para a campanha parece ser o PSD, não é?

Mas continua esta falsa indignada:

Um primeiro-ministro que há meses queria indignação geral por se ver retratado numa caricatura de uma manifestação de professores, agora chama “diabo” ao outro lado. Uma caricatura que o desumaniza não é permitida, mas um primeiro-ministro a desumanizar opositores, com ar sério, já está tudo bem. Aplausos ouviram-se. Costa quer limitar a liberdade de expressão alheia, mas manter para si direito ao discurso de ódio.[…]”

Desumanizar opositores”? “Discurso de ódio”? Por causa de uma expressão utilizada pelos Passos? Esta mulher passou-se? Quanto à caricatura, não seria mais do que justa uma indignação geral por se verem professores – educadores -, que deviam ter comportamentos exemplares, a descerem tão baixo ao ponto de desenharem aqueles ofensivos, violentos, exagerados, quase-racistas, e deslocados cartazes?

A desonestidade da articulista estende-se depois a outro tema:

[…]“(Não menciono o alegado sucesso da “devolução de rendimentos”. Afinal, diminuir os impostos diretos para mais que compensar com o aumento dos impostos indiretos e terminar com a maior carga fiscal de sempre são papas e bolos para enganar os tolos.)

 

Além de não ser esse “engano por papas e bolos” que os indicadores nos dizem (basta ver os gráficos comparativos com a Europa), a Maria João está fartinha de saber que a carga fiscal não é composta apenas por impostos e que a portuguesa não é das mais altas, pelo contrário. Os chavões que aqui debita sobre a carga fiscal são mentiras.  E, se não sabe que são mentiras, é desqualificada para escrever em público.

Definição de carga fiscal (segundo o glossário do CFP):

“Em termos de finanças públicas, a carga fiscal ou pressão fiscal de um país corresponde à relação percentual entre o total dos impostos e contribuições efetivas para a Segurança Social e o Produto Interno Bruto (PIB). Nos países membros da União Europeia, pode ainda considerar-se no cálculo deste indicador os impostos cobrados por Instituições da União Europeia.”

Está claro?

 “Note que as taxas dos impostos não aumentaram, desceram, mas o total de impostos cobrados aumentou porque a economia cresceu! Portanto, a MJM deturpou deliberadamente o significado das palavras, o que é uma forma ardilosa de mentir!” – esta resposta foi-lhe dada por um leitor nos comentários ao artigo. Espero que leia e medite sobre a possibilidade de a direita ser respeitada quando escreve  tolices como estas e quando recorre a uma linguagem brejeira e a mentiras.

O que não existe não pode acabar

«Como se, e esse é outro ponto, em tudo o que nos diz respeito, incluindo a propriedade e a gestão dos meios de comunicação, dos títulos em que trabalhamos, fosse melhor não mexer, não perguntar, não escrutinar.

Nunca percebi isso. Por que motivo os jornalistas dizem “não somos notícia”. Somos tão notícia como todos os outros, caso haja notícia no que somos ou no que estamos a passar. Nunca entendi por que é que os jornalistas acham que não devem escrever, reportar, sobre jornalismo e jornalistas. E nunca percebi por que motivo os jornais, como as rádios e as TV, quando têm problemas, sejam eles quais forem — deontológicos, laborais, económicos, o que seja, se inibem, evitam, fogem de falar deles.»

Crónica de uma jornalista sem salário

Este texto da Fernanda Câncio, na oportunidade relativo à situação salarial nos títulos da Global Media, é uma rara (única até agora?) reflexão sobre a endémica cobardia dos profissionais que constituem a dita “imprensa” em Portugal. Nas palavras acima citadas, vindas de uma praticante de verdadeiro jornalismo, fica o retrato de uma classe dúplice, conivente com abusos e deturpações dos seus patrões para não perder o emprego ou a carreira ambicionada. Daí não levantarem cabelo, não largarem um pio, não agitarem as águas paradas se na berlinda estiverem os chefes, os administradores, os sócios que pagam as contas e os salários.

O mal não se fica por aí, acrescento eu. Ao estarem dessa forma a violar a missão que supostamente fizeram sua ao obterem a carteira de jornalistas – a qual vem com direitos e deveres que o cidadão comum não tem – estes profissionais passam igualmente a ser coniventes com culturas editoriais de agendamento e engajamento políticos. Dou só um exemplo que ilustra na perfeição este modus operandi: Filipe Santos Costa. Enquanto esteve no Expresso, foi um leal servidor da propaganda pró-PSD e anti-PS disfarçada de jornalismo político. Assim que saiu e mudou de horizontes profissionais, por razões que ignoro mas que associo à hipótese de sentir que não era dos favoritos para também ir ocupar a cadeira de director do pasquim, passou a criticar abertamente a casa do antigo patrão. Igualmente o seu sectarismo contra o PS reduziu-se para um nível próximo do zero. Deixo de fora os casos dos pseudo-jornalistas, também directores, que passam a ter interesses accionistas, ou que se sentam na mesa da administração, e que transformam os órgãos de comunicação social em ostensivos projectos políticos ao serviço do patronato em causa.

Assim, não reconheço que exista imprensa em Portugal. Temos exemplos individuais de pessoas que realmente produzem jornalismo, não temos um único órgão onde o jornalismo como ideal seja a cultura editorial. Nem sequer na RTP, sem que isso escandalize alguém. Não admira, portanto, que o debate político em Portugal seja paupérrimo. Os profissionais que o cobrem e muitas vezes dirigem, que opinam sobre ele maníaca e febrilmente, são os primeiros a abjurar a deontologia jornalística.

Aliança Decadente

O apagamento estalinista do nome de Freitas do Amaral na propaganda da AD do Montenegro, Melo e Pereira, não é uma ofensa ao censurado e ostracizado mesmo depois de morto. O próprio estaria aliviado por não ficar em tão decadente companhia, e teria compaixão para a miséria moral assim assumida pelos infelizes trastes. A ofensa é só para a nobre memória do PSD de Sá Carneiro e de um CDS que teve a coragem de se constituir numa conjuntura particularmente hostil para o seu posicionamento político, onde foi conotado com o regime salazarista pelo sectarismo de um PCP então à beira de impor uma nova ditadura.

O tempo veio a mostrar que as figuras odiadas na retórica da esquerda nos idos de 70 e princípios de 80 — Freitas do Amaral, Basílio Horta, Adriano Moreira, Lucas Pires, Narana Coissoró, outros — eram cidadãos verdadeiramente democratas e patriotas. Freitas do Amaral teve uma carreira política que honrou o melhor que se pode conceber na dimensão política: foi livre em tudo o que fez. Livre quando emulou Marcelo Caetano na academia nos anos 60, livre quando aceitou ser o primeiro líder do CDS em 74, livre quando triunfou com a AD em 1979 e 1980, livre quando dignificou a vitória de Mário Soares em 1986, livre quando abandonou o CDS em 1992, livre quando conquistou o lugar de Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas em 1995, livre quando foi ministro num Governo socialista em 2005, livre ao deixar vasta e relevante obra jurídica.

Naturalmente, logicamente, obviamente, uma figura que viveu a liberdade com esta magnanimidade tem de ser alvo de vinganças de calhordas imprestáveis. Não lhe perdoam a sua exemplar decência e infinita superioridade civilizacional.

O Nuno Melo foi chamado para a “cacetada” e a “peixeirada” e o Gonçalo da Câmara Pereira – fadista e agricultor – para a defesa dos “valores tradicionais”?

Está para se saber o que ganhará o PSD com o convite feito ao líder do CDS, um partido à beira da extinção – e ao do PPM, um partido que se considerava, além de anacrónico, já extinto, para integrarem uma nova Aliança Democrática com vista às eleições legislativas de Março. Esta Aliança Democrática – perdão, a pretensa memória de uma Aliança Democrática passada – é suposto dar um ar mais sério e a gravidade que não tem ao sorriso “cartoon” do Montenegro, que, a par do timbre vocal, afasta milhares de eleitores. Ora bem, esta, e não a outra Aliança, um ar mais sério não virá dar com certeza, mas o discurso de peixeira do Melo, uma forma de barulho, assaz incomodativo, diga-se, poderá contribuir para atenuar o efeito Mona Lisa do tal sorriso. Embora, enquanto alternativa e disfarce, para mim, em nada melhor. Em vez de valor, acrescenta odor. A esgoto. Ou melhor, a peixe podre.

Mas o homem fez bem ou fez mal? É evidente que, num primeiro momento, o recrutamento destes dois partidos moribundos e ausentes do Parlamento dá azo a que se goze com a necessidade do PSD de desenterrar esqueletos para obter mais meia dúzia de votos. No fundo, o convite só corrobora a sua fraqueza. Por outro lado, para o CDS e o PPM é uma oportunidade única e inesperada de voltarem à ribalta.

Quer isto dizer que a decisão foi boa para o CDS e o PPM e má para o PSD?

Para os dois primeiros foi mais do que boa: saiu-lhes a sorte grande. Não tinham representação parlamentar e passam a ter, sem nada terem feito, nos anos de ausência, para o merecer. Para o PSD, depende do que o staff de Montenegro pretende. Para tirar votos ao Ventura, o Nuno Melo tem um estilo de vendedor de cobertores muito parecido e a vacuidade é semelhante. Para combater a esquerda “woke”, o Câmara Pereira quase não precisará de falar. Basta cantar o fado e ir às touradas. Para espalhar mentiras, o PSD tem prática e especialistas que cheguem. Portanto, eu diria que, se o objectivo é tirar votos ao Chega através de uma assunção do seu estilo e dos seus alegados valores, pode ser que consigam. Mas reparem que estamos sempre a falar de uma estratégia de roubo ou não de votos dentro da direita. E de abaixamento do nível da campanha.

Para quem jamais votaria numa direita de Montenegro, Melo, Ventura e Rocha – um bando de demagogos e de mediocridades políticas – esta decisão é irrelevante ou, pior para os seus mentores, pode acabar por qualificar ainda mais o PS e o Pedro Nuno Santos por simples comparação.

Revolution through evolution

Sniffing women’s tears reduces aggressive behavior in men
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The (wrong) reason we keep secrets
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Hearing aids may help people live longer
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Better mental, physical health in older people tied to living near nature
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Ants recognize infected wounds and treat them with antibiotics
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Humans can tell if chickens are excited or displeased, just by the sound of their clucks
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Could we have psi abilities if our brains didn’t inhibit them?
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Dominguice

António Costa e Pedro Nuno Santos fizeram dois excelentes discursos no congresso do PS. Excelência não só como peças oratórias autónomas mas também na comparação com a concorrência. Costa sai e deixa saudades, o sr. Santos aparece e parece ir ganhar. O PS mostra-se cheio de força e, cada vez mais, o singular esteio do regime democrático nascido de Abril. Pois estas duas tão prendadas criaturas, nesta altura do campeonato, conseguiram a vexante façanha de não terem feito uma singular referência à Justiça. Há mil razões para isso, todas lógicas, todas válidas. E PNS poderá, no discurso de encerramento, tocar na matéria, ignoro. Seja como for, não o fez ao elencar os sucessos da governação socialista, o que significa o que significa.

Certos procuradores do Ministério Público, e certos juízes, não desfrutam de poderes exclusivos e supremos para se substituírem ao Parlamento, ao Governo e à Constituição. Os crimes que cometem, com a cumplicidade da indústria da calúnia, o proveito de certos políticos e o beneplácito da sociedade, são crimes. Crimes cometidos por agentes da Justiça a operar com os instrumentos e protecções ao dispor dos agentes da Justiça. O PS não se pode vangloriar de ser o partido da liberdade, herdeiro da coragem de Mário Soares, se continuar com medo desses criminosos.

Ao Ministério Público: há limites para a não admissão de um erro grave. A Procuradora-Geral continua alheada

Para além da ignorância que demonstra sobre o exercício da actividade política, a qual inclui a atracção de investimento para o país, nomeadamente investimento estrategicamente importante que requeira eventualmente a eliminação de obstáculos burocráticos, ignorância essa que está na base deste escândalo judiciário (pior ainda se for pura má-fé/perseguição política), e sem prova alguma da existência de corrupção no caso Influencer, o Ministério Público repete, no seu recurso da decisão arrasadora do juiz, a tese do grave “conluio” entre membros do Governo e a empresa Start Campus, agora porém mudando a agulha de Diogo Lacerda Machado e Vítor Escária como principais alvos, para João Galamba, classificando-o de autor e mentor de todo o esquema, nas suas palavras “de todos os factos em apreço”. Mas, pelo caminho, pratica o absurdo ao deixar cair o pedido de prisão preventiva, nem sequer o pedindo para o grande criminoso Galamba, ao mesmo tempo que entende que os arguidos Lacerda e Escária podem continuar a actividade criminosa e por isso não devem poder comunicar entre si (mas que actividade criminosa? Intermediar um negócio com o Governo?). O João Galamba, que nem ouvido foi, é, pois, agora o grande satã e isto porque não pagou do seu bolso dois jantares. Claramente os senhores procuradores perderam de vez a noção do que lhes compete e o sentido do ridículo.

Diz o Público que: “No recurso às medidas de coacção, o MP diz que Galamba foi autor e mentor dos factos.
Neste recurso, o MP acaba por deixar cair os pedidos de prisão preventiva, apesar de considerarem que os “elementos probatórios existentes” o podiam permitir. Porém, os procuradores reconhecem que “exoneração de funções de Vítor Escária”, o “pedido de demissão do primeiro-ministro” e a “dissolução da Assembleia da República e a marcação de eleições a 10 de Março de 2024” são “circunstâncias com manifesto relevo para a tomada de decisão”.

https://www.publico.pt/2024/01/04/sociedade/noticia/recurso-medidas-coaccao-mp-galamba-autor-mentor-factos-2075683

Demasiado cristalino. Os procuradores golpistas, que não têm pejo em dizê-lo, entendem que, agora que Costa já caiu, os seus colaboradores mais próximos, Lacerda Machado e Escária, já não têm tanta importância, por isso aceitam que não fiquem detidos, mas atenção que a actividade criminosa poderá continuar…; e o Galamba, alegadamente próximo de Pedro Nuno Santos, sobe ao patamar de “autor e mentor” de factos gravíssimos, mas também sem pedido de prisão preventiva, suponho que por já se ter demitido, um objectivo pelos vistos traçado e alcançado pelo MP. Então para que servirá esta centragem no João Galamba? Continuando a descarada intervenção da Justiça na Política, só pode ser para ver se o Pedro Nuno também cai ou pelo menos chega coxo ao lugar onde pretende subir. Não têm vergonha nenhuma.

E a empresa? A empresa só pode ser para liquidar ou decapitar. Se não, vejamos:

A Afonso Salema e Rui Oliveira Neves o MP pede como medidas de coacção a proibição de contactos com outros arguidos, bem como com membros do Governo — actuais ou futuros — e ainda dirigentes das demais entidades referidas no despacho de apresentação, concretamente a Câmara Municipal de Sines, a AICEP, a AICEP Global parques, a ApA, o ICNF, a DGEG e a REN.

Francamente. Só espero que este recurso seja rapidamente indeferido.

E o autarca de Sines? Ah, para esse continuam a pedir “a suspensão do exercício de qualquer cargo político, nomeadamente do cargo de Presidente da Câmara Municipal, a obrigação de não contactar com todos os demais arguidos, bem como os funcionários da autarquia referidos no despacho de apresentação. Além disso, o MP pretende que o autarca fique proibido de frequentar diversos edifícios da Câmara Municipal”.

Isto porque, recordemos, pediu dinheiro para duas associações locais como contrapartida da aceleração do processo.

Estamos a ver o Ministério Público a preferir enterrar-se a admitir os seus erros. Mas há vítimas no meio disto tudo e a estabilidade de um país em risco. O MP quer saber disso? Nada. Tudo, mesmo dar circo, é preferível à autocrítica.

Resoluções

Não as minhas, as do Pedro Marques Lopes. Aposto os 10 euros que tenho no bolso em como ele daria um excelente presidente do PSD. Aposta sem risco algum, basta comparar com a galeria de horrores após Rui Machete. E cravo mais 10 euros à minha vizinha do 4º andar para apostar 20 euros em como PML daria um excelente, magnífico e imprescindível director de um grupo de comunicação que praticasse um jornalismo de serviço público.

Intuo que nem sob ameaça de arma aceitaria concorrer à liderança do PSD, o seu rico tempo livre sendo muito mais valioso do que a tirania partidária. E acho altamente provável que não conseguisse ser eleito mesmo que tentasse, pois não corresponde à tipologia demagógica e cínica que o aparelho e os barões preferem. Mas para se lançar como empresário na comunicação social tem, aparentemente, tudo a favor. É um celebrado e veterano comentador político, conhece por dentro a indústria comunicacional e suas gentes. Acima e antes de tudo, tem sido irrepreensível na defesa do Estado de direito democrático, sem medo das corporações da Justiça, da matilha dos pseudo-jornalistas e da turbamulta dos broncos e pulhas. Não é pouco, é raríssimo — aliás, caso único no seu nível de exposição mediática como mero cidadão.

Ver os títulos JN, DN e TSF na iminência de acabarem será para PML, por todas as razões sociais, políticas, culturais e pessoais, uma dor lancinante. Há profissionais admiráveis nesses órgãos, há autênticos e apaixonados jornalistas. Têm estado sujeitos a direcções politicamente agendadas e, mesmo assim, mantiveram a capacidade de afirmar a sua vocação para representarem uma imprensa militantemente independente, veramente liberal. Se reunidos sob a direcção de quem os conhece, compreende e ama como são, que serviços poderiam oferecer à comunidade? Quaisquer que fossem, seriam trabalhos de comunicação preciosos.

Há mercado para noticiários e espaços de comentário político com tolerância zero para o sensacionalismo, a difamação, o alarmismo, a suspeição, o assassinato de carácter, o linchamento, o apelo ao ódio, a calúnia, o narcisismo dos verdugos vedetas. Há mercado para noticiários e espaços de comentário político onde se prefira a responsabilidade, a decência, a inteligência, a curiosidade, a generosidade, o cuidado, os direitos humanos, os direitos de personalidade, o respeito pela Constituição, a aplicação intransigente do código deontológico do jornalista, a humildade, a coragem, a liberdade. Há mercado mas falta um modelo de negócio. O Pedro poderia gastar algumas horas a pensar num. Se essa fosse uma das suas resoluções para anos novos na imprensa portuguesa.

Pois claro

O discurso Mensagem de Ano Novo 2024 do Presidente da República concorre para ser um dos piores actos presidenciais de que tenho memória; a par do arrazoado de Cavaco, em 2009, quando finalmente teve de falar institucionalmente a respeito da Inventona de Belém, e colado ao número decadente e sórdido deste mesmo Marcelo quando reagiu à defesa da Constituição levada a cabo por Costa ao não ceder à chantagem para demitir Galamba.

O que choca nesta peça de 2024 é a degradação do módico respeito pela lógica argumentativa. Ao se promover a profeta — “Há um ano, eu disse-Vos que 2023 poderia ser decisivo no Mundo, na Europa e em Portugal. E foi.” — nem ele, nem ninguém com ele, teve noção do absurdo em que se enfiava. É que nada foi decisivo no Mundo, na Europa e em Portugal, excepção para a sua própria conduta de permanente boicote à estabilidade política e, por fim, à continuidade de uma maioria parlamentar absoluta que acabou por sua decisiva responsabilidade.

De imediato mergulhando de cabeça num espampanante non sequitur, repetiu 14 vezes a expressão “ficou claro” a carimbar vácuas banalidades. Aparentemente, iria ficar claro que o homem tinha acertado no ano anterior a respeito de quão decisivo tinha sido 2023. Uma forma sonsa, infantilóide, de lavar as mãos pelo seu papel na golpada do parágrafo. Porém, no texto, não se encontra uma única situação que remeta para um desfecho decisivo acerca seja do que for. Notável o desconchavo expositivo a que chegou. É por isso, e aqui com supina lógica, que acaba a proclamar que 2024 será “afinal, ainda mais decisivo do que o ano de 2023“. Pudera, pois se é o mesmo profeta a garanti-lo, como não? E quanto a 2025 e seguintes, preparem-se. Vamos ter de conquistar Marrocos para encontrar espaço onde arrumar anos sucessivamente mais decisivos do que os anteriores.

Eis um Presidente da República que, a semanas de completar oito anos da sua primeira vitória eleitoral, revela conviver tranquilo com “injustiças” e “corrupção“. Quais? De quem? Nicles batatóides, é mais uma vez o registo Octávio Machado para gaúdio do Ventura. Um Presidente da República que chuta para os “próximos 50 anos” uma lunática exigência que o próprio nem sequer conseguiria começar a explicar em que consiste se questionado para tal. Um Presidente da República que enche a boca e a pose com as rosas de “o Povo é quem mais ordena“, logo depois de ter atraiçoado a vontade soberana que elegeu uma maioria absoluta ainda nem dois anos estão passados.

Ficou claro, verdade. Ficou claro que o seu segundo mandato começou desastrado e prossegue em tragédia, manifestando potencial para ainda vir a provocar uma catástrofe no regime.