Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Perseguidos e ultrajados

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Se um marciano aterrasse neste belo planeta e tivesse o azar de ouvir Paulo Portas, José Manuel Fernandes e respectivos primos a falarem da”ditadura do politicamente correcto”, ficaria imediatamente convencido de estar perante gente corajosa que afirma as suas ideias subversivas, apesar de perseguidos pela polícia, escorraçados do ensino, despedidos dos seus empregos e excluídos da televisão. Tudo isto por afirmarem, correndo risco de vida, a superioridade do Ocidente, dos ricos e do engenheiro Belmiro.
Deus abençoe estes combatentes de rua e os guarde à sua ilharga e lhes dê para ler a colecção completa da “Revista Xis”.

Boa sorte, senhor Kúman

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No excelente site do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, acaba de ser corrigida uma informação (que me era atribuída) sobre a pronúncia do sobrenome KOEMAN do treinador que esta noite… bom, não se trata de futebol, sim de fonética.

A grafia OE designa, em holandês, o som U. Por exemplo, «vaca», que em holandês se escreve KOE, diz-se «cu». Tal e qual como o pescoço francês e o nosso traseiro. E a palavra KOEMAN quer dizer qualquer coisa como «vaqueiro». E lê-se «Kúman», com o «n» articulado.

Portanto, senhores radialistas: deixem-se de «Kóman», de «Kôuman», de «Küman», de «Köman» e outras tentativas de evitar incómodas sugestões, e chamem esta noite o homem pelo seu simpático nome, «Kúman».

E boa sorte, benfiquistas.

Ódios de estimação

A Iberia tem os melhores especialistas de marketing do planeta. O slogan da companhia é: “a pontualidade é o nosso objectivo”. Uma forma elegante de desarmar os clientes furiosos, pelo riso desbragado. Dir-me-ão vocês: – não me diga que nunca houve nenhum voo da Iberia que tenha chegado a tempo? Houve claro, mas até um relógio parado dá, duas vezes por dia, a hora certa. Durante toda a minha vida, os grandes atrasos têm um nome: Iberia.
Eu quando tomo um avião da garbosa companhia castelhana acrescento mais três horas para ligações, para não me espalhar. Infelizmente, cada vez que compro um bilhete dessa companhia, dou um passo para o abismo: perdi o avião para Tutxla Gutierres, quase faltando a um encontro com a guerrilha zapatista, em 1996; foi difícil conseguir sair de uma Colômbia sufocante, numa guerra sem fim, entre guerrilha e paramilitares, em 2002.
Actualmente, os atrasos são menos emocionantes, apenas falto a reuniões, mas quando me falam que eu exagero e que há pessoas que não se queixam, nem sequer das sandochas duvidosas a cinco euros, eu lembro-lhes: também se diz que um grupo numeroso de macacos munidos de máquinas de escrever, com um tempo infinito, é capaz de escrever as obras completas de Shakespeare. Quando me interrogam o que é que isso tem a ver com o esforço da Iberia, eu respondo: dois macacos, cinco minutos…

Consultório sentimental

O JPT não acredita que a mobilidade social tenha acabado com a luta de classes. Insisto com ele. Abril criou mobilidade social. Fenómeno novo no país mas rapidamente apreendido. O povo, em vez de lutar pela igualdade, passou a lutar para deixar de ser povo. Passou a querer ser classe média. E depois de classe média passou a querer ser classe alta. Foi vê-los, infectados pelo vírus do consumismo, a comprarem casas, carros e a tirarem cursos superiores.

E agora, depois deste enorme triunfo, depois de lhes darem a possibilidade de viver e tratar mal quem fica por baixo, atrevem-se a falar de igualdade? Nem pensar! Já não há povo nem classes baixas. Há cidadãos com mais dificuldades que outros. Mas ninguém quer ser povo outra vez. Luta de classes? Claro que sim. Para mantê-las. RMD

E quando subia no elevador lembrei-me desta historieta

Em casa deles havia um gato.
Gato emproado que gostava tanto de se exibir que mais parecia gente grande que felino desmiolado. Nunca me esforcei por esconder a antipatia pelo bicho. Por todos os bichos do género. Era sabido que só não lhe pisava a cauda por excesso de testemunhas. Certo dia, comigo sozinho na sala, acontece a tragédia.

Um pássaro exibia-se na janela aberta. Para a frente e para trás. Para trás e para a frente. Para a frente e para trás. Atormentava o gato. E o gato deixava-se atormentar, fazendo sombra no parapeito aos movimentos do passoroco. Se te apanho, conseguia eu ouvir. Ai se te apanho. E o pássaro, para a frente e para trás. Para trás e para a frente. Para a frente e para trás. E o gato, para a frente e para trás. Para trás e para a frente. Para a frente e para trás. Atazanado para além da lucidez, não resiste e lança-se apontando as mortais garras. E o pássaro, bem planeado, em pleno ar zinga (!) dá-lhe prodigiosa revienga.

Juro-vos que vi a expressão do gato fintado. Tinha ar de Paulo Ferreira depois de ver o Cristiano passar. Nem teve tempo de lamber o orgulho ferido. Ficou o Ferreira sem contrato e o gato sem planar. Lá se foi o bicho, tipo desenho animado, com um miaaaaaaaau decrescente de proa apontada ao passeio…dezasseis andares mais baixo. As sete vidas gastaram-se todas daquela vez.

Eles perderam o gato e eu perdi-os a eles. Está bom de ver que eles não compraram a tese do pássaro rabujador e ainda hoje me tomam de gaticida. RMD

Deixem-me rir

Ao Diário de Notícias, Paulo Portas afirmou que o seu novo espaço de comentário político (“O Estado da Arte”, estreia hoje, às 23h00, na SIC Notícias) pretende contrariar a «overdose de esquerda e de esquerdismo» instalada em Portugal. Uma overdose que chega a ser ostensiva no caso das televisões, acrescento eu. Veja-se o que acontece nesses espaços similares de análise “a solo” que a RTP concede, todas as semanas, ao esquerdista Marcelo Rebelo de Sousa e ao esquerdista António Vitorino.

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