Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Todos à manif em frente à ONU!

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O bravo camarada Gibel cita um pouco abaixo Donald Gregg, antigo quadro da CIA e ex-embaixador dos EUA na Coreia do Sul, que nos explica sucintamente o que significa “diplomacia” para a actual administração americana: falar com amigos e prometer conversas a quem se venha a portar bem.
Ignorância evidente do homenzinho. Os bloggers lusoliberais é que sabem: a culpa do teste nuclear norte-coreano cabe toda à ONU e à esquerdalhada que nem vem para a rua protestar contra um teste que talvez tenha sido positivo.
Imagino aquelas meninges febris a fumegar enquanto procuram as culpas da pérfida França neste imbróglio. Mas não deve tardar até lermos nos sítios do costume um post a apontar as responsabilidades morais de Louçã ou de Fernando Rosas na coisa.

Algum Físico Nuclear na plateia?

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Segundo Jeffrey Lewis, no blogue Arms Control Wonk, o teste nuclear Norte-Coreano não terá sido coisa impressionante. Nos comentários, há quem discorde e até aponte notícias que referem a eventualidade de um segundo teste em breve.
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Update

No New York Times: Blast may be only a partial success, experts say.

Michele Alliot-Marie (Ministra da Defesa da França): “it was an explosion with a force of about half a kiloton, which is not an extremely powerful explosion, or it shows that there could have been a failure.”

E o que vem a ser a diplomacia?

Why won’t the Bush administration talk bilaterally and substantively with NK, as the Brits (and eventually the US) did with Libya? Because the Bush administration sees diplomacy as something to be engaged in with another country as a reward for that country’s good behavior. They seem not to see diplomacy as a tool to be used with antagonistic countries or parties, that might bring about an improvement in the behaviour of such entities, and a resolution to the issues that trouble us. Thus we do not talk to Iran, Syria, Hizballah or North Korea. We only talk to our friends — a huge mistake.

Donald Gregg (National Security Advisor na Presidência de Reagan)

Desta não estava à espera (2)

Já é oficial. O Gara anunciou a lista de personalidades internacionais que apoiam o processo de pacificação do país Basco e oferecem os seus préstimos para ajudar “em tudo o que seja humanamente possível”. Francesco Cossiga, Mário Soares, Gerry Adams, Kgalema Motlante, C. Cardenas e Pérez Esquivel.
Por algumas horas andou por aqui um pequeno exclusivo noticioso. Pode ser que nos dêem um “Prémio Gazeta” lá mais para o Natal.

O envelope ainda mexe

À viva força, lá continuam a tentar ressuscitar o nado-morto que é o “Caso Envelope 9”. Passado tanto tempo, ainda há quem esteja “sem saber o remetente deste envelope” (!) e estridentemente exija mais uma daquelas úteis e sempre produtivas comissões parlamentares.
Nunca entendi o mistério do famoso sobrescrito: um qualquer técnico menor da PT pega num ficheiro com as chamadas de um grupo de telefones atribuídos a servidores do Estado. Por preguiça ou inocência, limita-se a “filtrar” os números relevantes, sem cuidar de apagar os outros, e envia o documento para o tribunal. Alguém vê ali uma boa ocasião para lançar mais uma nuvem de pó sobre o processo Casa Pia e encomenda aos “jornalistas” do costume o servicinho. Depois, bastou a inépcia da PJ e o inacreditável Souto Moura para compor o ramalhete. Nascia mais um “caso” à medida deste país: sem substância, sem interesse, sem solução à vista. Mas sempre bom pretexto para mais uns gritos esganiçados.

Ai, Catalunha

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Graças a um sempre atento Portal Galego da Língua, soube-se que a escritora e jornalista catalã Isabel-Clara Simó escreveu a crónica que aqui se reproduz em «traduçom galega». O original catalão é do diário Avui.

Admiro os portugueses. Admiro-os porque, perante a poderosa maquinaria do exército castelhano, tenhem sabido safar-se; porque soubérom ganhar a independência; porque encontrárom aliados eficazes e constantes. Mas também os admiro porque tenhem demonstrado que tenhem imaginaçom. Há pouco mais de umha década, diversos movimentos culturais soubérom convencer a classe política que a cultura é umha arma formidável de propaganda e que é necessária como embaixadora de um país. Entom, o governo português destinou umha boa quantia de dinheiro – e nom se trata de um país rico! – para promover a sua literatura. O resultado é que nós, vocês e eu, lemos autores portugueses que dantes desconhecíamos, e que ainda por cima tenhem um Nobel.

Agora, som uns quantos empresários, políticos, economistas e pessoas preocupadas polo devir português que estám a montar umha agrupaçom de cerca de 600 pessoas com o nome Compromisso Portugal para tirarem, dizem, Portugal da sua mediocridade. Entom a minha admiraçom torna-se inveja. Porque será que os catalans nom podem fazer qualquer cousa do género? Como conseguem entom os portugueses, sem a tutela de nenhum partido político? O motivo é apenas Portugal. E ninguém os acusará nunca de fechados nem de pouco cosmopolitas porque, como tenhem Estado, é-lhes permitido serem patriotas.

Nom consigo imaginar isto nos Países Cataláns, apesar dos esforços neste sentido de Eliseu Climent e de outros beneméritos patriotas. A mania do espanholismo do ‘conmigo o contra mí’ penetrou em nós demasiado fundo. Ora bem: toda a gente tem sempre Catalunha na boca. Mas ninguém vai nunca mais longe. Nem que fossem uns metros. Ai!

Terror no Shopping

Estive hoje num dos aprazíveis templos de consumo do eng.º Belmiro. Por outras palavras, fui fazer compras ao Continente. A surpresa deu-se em casa, logo ao descarregar a tralha: no meio de alhos, douradas e enchidos variados, reluziam três T-shirts cor-de-rosa. Que não tínhamos, se bem me lembrava, colocado ali.
Ficámos largos minutos a mirar as clandestinas peças de roupa, como se nos tivesse surgido uma Virgem Maria na tosta mista matinal. Aquela aparição berrante seria um sinal do destino ou tão somente uma distracção de um outro consumidor matinal?
De súbito, hipótese mais sinistra subiu-me ao encéfalo: tratar-se-á de uma nova e insidiosa forma de terrorismo? Não contentes em infundir medo no nosso colectivo coração, os inimigos jurados do modo de vida português podem estar a querer modificá-lo do interior. E que melhor veículo para o totalitarismo behaviorista do que as nossas compras?
A quem obedecerá o insidioso sabotador, não sei. Só sei que amanhã as minhas Budweiser Budvar podem ser substituídas por botelhas do horrendo vinho kosher de Belmonte. Os meus bifes de mertolenga podem ver-se trocados por hambúrgueres. O belo chouriço de porco, substituído à má fila por posters de Maomé.
Hoje T-shirts cor-de-rosa, burqas cinzentas não tarda nada. Quando desse por mim, estaria convertido numa outra pessoa. Certamente mais ajuizada e com melhores hábitos de higiene. Mas mais aquiescente aos ditames dos nossos pérfidos e dissimulados inimigos.
Vigie bem o seu carrinho das compras, desconfiado leitor: pode ver-se em breve a empurrar uma arma de destruição massiva. Impérios já ruíram por muito menos.

Quando o Direito se adapta às circunstâncias

What is the world to make of the fact that the United States relies on artifice and technicality to avoid the plain meaning and import of the Geneva Conventions, and therefore appears willing to countenance situations like this one?

Prosecutor: Did you know that what you were doing to the detainee would cause him severe physical pain?
Defendant: Yes sir.

Prosecutor: Did you know it would permanently disfigure him?
Defendant: Yes.

Prosecutor: Did you know it would prevent him from being able to walk?
Defendant: Yes.

Prosecutor: And were you doing it for the purpose of obtaining information or a confession?
Defendant: Yes.

Prosecutor: Isn’t that torture?

Defendant: No sir. Read the statute. I knew those harms would occur, but I did not specifically intend any of them. Causing those harms was not my conscious objective.

Prof. John Mikhail, no Georgetown Law Faculty Blog

Lendo a Liberalosfera nacional

Alguns tópicos de moda:

– Salazar, esse exótico discípulo do capitalismo, das sociedades urbanas e da rule of law;
– A Monarquia do Sr. D. Carlos e o parto terrorista da República;
– A vida antes da vida do feto;
– A escravatura do ponto de vista econométrico.

No princípio, aconteceu o liberalismo. Na verdade, foi inventado. Individualista. Progressista. Internacionalista, nacionalista quando convinha. Chegou cá atrasado e o engenho luso foi às compras, adaptou-o, fê-lo nosso à nossa maneira. Castiço. Composto. Liberal, mas… conservador. Eis o Liberal Português. É como aquele velho anúncio da rádio que falava dos dois pólos, o pólo norte e o pólo sul…depois havia o polilon. Por cá, do liberalismo sobra-nos o polilon. Com algum terylene.

Para ler e encaixilhar

Grande texto, o do Rui Tavares, hoje no Público, «Não façam só alguma coisa, fiquem parados», sobre reformas na Educação. Para abrir o apetite, duas passagens. Esta

«O consenso é o de que o estado da educação em Portugal é catastrófico. Se Vasco Graça Moura diz mata, Vasco Pulido Valente diz esfola, Maria Filomena Mónica desmancha, Miguel Sousa Tavares incinera, António Barreto espalha as cinzas e recomeça o ciclo: os professores são ignorantes, os alunos são violentos, os ministros são dominados pelos sindicatos e os sindicatos sentem prazer em que na escola não se aprenda nada. Esta imagem absurda é de tal forma dominante que a ministra da Educação não hesita em tirar dela proveito para diminuir publicamente os professores. Só há um problema: não é verdade.»

E esta:

«As reformas verdadeiras fazem-se com as pessoas reais. É fácil imaginar reformas com as pessoas que ainda não existem e achincalhar as que existem. Mais difícil é reconhecer que, se queremos restaurar a autoridade do professor na sala de aula, alguma coisa teremos de fazer para restaurar o seu prestígio na sociedade. Se queremos que os professores ganhem autonomia e se adaptem aos alunos que têm pela frente, em algum momento teremos de lhes dar confiança. E, acima de tudo, teremos de perceber que é com estes professores que qualquer reforma se fará, e que entre estes (ou quaisquer outros professores, da Tanzânia à Tasmânia) os excelentes serão sempre uma minoria. Uma reforma é um exercício de realismo.»

10 de Junho

Ontem foi 5 de Outubro. A República e tal, mais Cavaco Silva a falar para uma praça quase deserta. Mas eu já só penso no 10 de Junho. Afinal de contas, fui pai duas vezes em menos de 20 meses (o Pedro nasceu faz amanhã 15 dias) e tendo em conta o que vai para aí de pânico com a baixa natalidade, mais os riscos de não termos quem nos pague as reformas daqui a uns anos, razão pela qual o Estado apela ao nosso instinto procriador enquanto um dos desígnios mais patrióticos que pode haver, tendo em conta tudo isto que não é pouco, enfim, sobretudo se lhe juntarmos os sacrifícios inerentes (das noites mal dormidas aos DVDs de que se abdica para comprar fraldas e Halibut), tendo em conta tudo isto, repito, e para não vos maçar mais, acho que já vou merecendo, sei lá, uma comenda ou outra medalhita qualquer.

O regresso do regedor

Jorge Coelho descobriu-se aterrorizado pelos projectos do seu partido para a área da Saúde. A ilustre eminência parda declarou mesmo “a maior das desconfianças dos tecnocratas a tratar de coisas que competem aos políticos”.
E tem toda a razão. Se começam a ouvir os técnicos acerca de questões tão claramente “políticas” como o número de maternidades necessárias a Portugal, onde é que isto vai parar? Não tarda nada, já um bom soba não pode distribuir mercês a bons amigos e clientelas úteis.
Evitar esse pesadelo é um imperativo de cidadania. Devolvam aos nossos excelentes políticos a inteireza das suas competências. Deixem-nos construir um hospital em cada paróquia, uma maternidade em cada freguesia. Mandem a co-incineração para o estrangeiro, plantem um apeadeiro do TGV de cem em cem metros, tragam aeroportos em barda. O país cor-de-rosa agradece.

Senhor Homero: dirija-se à Avenida de Berna, se faz favor

Ontem foi um dia histórico. Diria mesmo: um dia épico. Em pleno Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, Anne Sofie von Otter teve o descaramento de cantar, imaginem só, canções dos ABBA. Esses mesmo. Os ABBA. Os foleiríssimos reis da pop escandinava dos anos 70.
Consta que alguns dos frequentadores habituais da sala, em compreensível estado de choque, olharam para a mezzosoprano sueca como se ela fosse o imenso cavalo de madeira que um dia se aproximou, sorrateiro, das muralhas de Tróia.

Era uma vez no país dos checks and balances

Uma história “exemplar”

Howards was walking his 7-year-old son to a piano practice, when he saw Cheney surrounded by a group of people in an outdoor mall area, shaking hands and posing for pictures with several people. Howards and his son walked to about two-to-three feet from where Cheney was standing, and said to the vice president, “I think your policies in Iraq are reprehensible,” or words to that effect, then walked on. Ten minutes later, according to Howards’ lawsuit, he and his son were walking back through the same area, when they were approached by Secret Service agent Virgil D. “Gus” Reichle Jr., who asked Howards if he had “assaulted” the vice president. Howards denied doing so, but was nonetheless placed in handcuffs and taken to the Eagle County Jail.

The lawsuit filed today alleges that Howards was arrested in retaliation for having exercised his First Amendment right of free speech, and that his arrest violated his Fourth Amendment protection against unlawful seizure.

O Novo Paradigma

Na New Yorker, Jane Mayer ensaia um relato perturbador acerca das mentes legais que, sob a liderança de David S. Addington, suportam Dick Cheney, uma equipa que parece revelar uma notória incapacidade para governar em democracia sob o incómodo dos tais “checks and balances”:

“Known as the New Paradigm, this strategy rests on a reading of the Constitution that few legal scholars share—namely, that the President, as Commander-in-Chief, has the authority to disregard virtually all previously known legal boundaries, if national security demands it. Under this framework, statutes prohibiting torture, secret detention, and warrantless surveillance have been set aside. A former high-ranking Administration lawyer who worked extensively on national-security issues said that the Administration’s legal positions were, to a remarkable degree, “all Addington.” Another lawyer, Richard L. Shiffrin, who until 2003 was the Pentagon’s deputy general counsel for intelligence, said that Addington was “an unopposable force.”

Como se escreve um livro (quase) sem querer?

1. Entre amigos, inventamos um pequeno livro monotemático de BD;
2. escolhemos desenhadores a convidar, começando pelos consagrados óbvios e só acabando com alguns nomes nunca publicados;
3. primeira mina detonada com um pontapé sem tino: ofereço-me para inventariar alguns episódios e situações que possam dar motes úteis aos artistas;
4. erro letal: anuo ao primeiro convite para escrever um argumento completo;
5. meto a cabeça no cepo para escrever mais umas quantas historietas;
6. a páginas tantas, já vejo a coisa como minha e ofereço-me para terminar a empreitada;
7. seguem-se semanas de alterações, de cortes para adaptar o verbo excessivo à parcimónia dos desenhos, de revisões e emendas de última hora;
8. seis meses volvidos, a cria está entregue aos bons ofícios da gráfica e eu posso voltar a fazer de conta que tenho vida própria. Começando pelo descurado Aspirina B.

Altos, bonitos e espertos

Saberão as pessoas inteligentes que são inteligentes? É uma questão que me tortura. A razão é simples. A dar-se o caso de as pessoas inteligentes não saberem que o são, todo aquele entendimento acaba por ser um desperdício. E o mundo, esse, prova-se mais mal feito do que já supúnhamos.

Há um outro assunto, parecido, que também não me larga. Saberão as pessoas bonitas que são bonitas? É isso. Pergunto-me sempre se elas, mal rompe o dia, olham o espelho, e suspiram: oh que beleza! Questiono-me sobre se, quando na rua os outros, enlevados, as fixam, elas sabem ao certo do que se trata.

E há uma terceira ocorrência: a de perguntar-me se as pessoas altas sabem que são altas. Pode parecer, este último, um exagero de perplexidade. Mas é para mim uma obsessão quotidiana.

De acordo. Quanto a alturas, podemos presumir nos interessados uma certa noção. As portas, as camas, mesmo os tectos, andam concebidos para servir uma média humana, e não custa supor que alguns mortais reparem nisso, e nem sempre com tranquilidade. Em tais momentos, saberão que são altos. Ou aquilo a que chamamos assim, nós, os médios de corpo. Mas que se passa com os bonitos, quando sozinhos? E com os inteligentes, uma vida inteira?

Diz-se, e a gente lê-o, que a percepção da própria beleza pode, exactamente em indivíduos mais favorecidos, sofrer um desarranjo. Em gente assim, conta-se-nos, surgem problemas de auto-estima, reportando-se mesmo casos graves. E imaginamos, decerto com razão, que, em algumas pessoas muito bonitas, tais problemas sejam gravíssimos. Meu Deus, dirão, porque me fizeste tão bonita? Virgem Santa, suplicarão, faz-me acordar amanhã um poucochinho mais feio, sim? São, todavia, orações com pouca fé no resultado. Nós próprios, pouca esperança poríamos num pedido para, um destes dias, aparecermos por aí mais perfeitos de cara.

E há a questão, tremenda, dos inteligentes. A gente diria que, para eles, seria uma bênção se nada de especial em si descortinassem. Se, em plena inocência, andassem só belamente orientados neste confuso mundo. Sim, esse ignorar da própria inteligência poderia ser-lhes, afinal, uma suprema forma de auto-preservação. Porque, nisto não tenhamos ilusões, se houver problemas próprios deste género de pessoas, esses problemas terão de ser atrozes. E inomináveis. Literalmente inomináveis, já que nós, os mais limitados, nunca para eles arranjaríamos palavras. Mas inomináveis, também, porque, no momento em que o sobredotado pudesse ir dar-lhes um nome, nesse exacto instante perderia a razão. E não nos disseram sempre que a loucura é uma protecção, uma misericórdia, da mente contra si mesma?

Eu não queria – juro que não queria – tirar moral nenhuma desta história. Mas, aí está, pôr travão num raciocínio é coisa que a mediania do meu discernimento não permite. E aqui fico eu, com a moral da história diante de mim, iniludível. Esta: a de termos de ser gratos aos Céus por nos terem feito um bocadinho menos inteligentes do que acharíamos óbvio, um bocadinho menos altos do que julgaríamos prático, um bocadinho menos bonitos do que pensaríamos justo.

É isso. Foi uma indizível sorte termos nascido tal e qual sucedeu: um tudo-nada feiotes, um nadinha para o atarracado e, suma felicidade, um niquinhas lentos de percepção.

O facto é que, com isso, nunca saberemos ao certo o que se passa na mente dos belos, dos altos, dos perspicazes. Nunca saberemos, sequer, se alguma coisa lá se passa. Mas, se problemas lá houver, só hão-de encontrar a nossa mais sincera, mais natural, incompreensão. E assim se terá feito – não é? – alguma justiça.

Antes que os amigos das FARC me visitem

Aqui fica a atrasada boa-nova: como já por cá tinha sido anunciado, o Caderno de Verão fechou e do seu feio casulo saiu o borboleteante 5 Dias. Um blogue em que cada dia da semana é entregue a um escriba, que trata de convidar amigos, conhecidos e credores para animar os dias à malta. Não posso dizer muito mais pois a coisa é incompatível com o meu browser arcaico, não me permitindo grandes leituras. Mas, a ajuizar pelo naipe de artistas residentes — Nuno Ramos de Almeida, Rui Tavares, Ivan Nunes e António Figueira — aquilo promete. Ah; e a Joana Amaral Dias também por lá escreve.

Este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório