Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

«O Rei do Cubango»

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No mais recente número, o 14, de Ficções, revista de contos dirigida pela Luísa Costa Gomes, vem um conto, «O Rei do Cubango», do escritor galego Xosé Martínez Oca. É um texto fenomenal. De partir o coco. Escolham entre o elogio sublime e o térreo, mas servem um e outro.

Está escrito na ortografia ‘normativa’ do galego, e com o vocabulário corrente na Galiza. Mas com uma ajudinha (no final do conto há um glossário mínimo) lê-se muito bem e diverte-se uma pessoa com uma história verdadeiramente delirante.

Vai aqui um trechozinho. As coisas passam-se na esplanada do Café Vianna. Quem conhecer Braga sabe de que falo.

O local estaba repleto de xente baixo a protección dos toldos. Con aspecto de turistas uns, os menos. Outros deixando adiviñar na solemnidade da súa roupa o labrego [lavrador, camponês] acomodado que baixara da aldea ós seus asuntos e, despois de resoltos estes, cumpría co ritual da sobremesa, cheo da seriedade do petrucio [mandão] campesiño. Sen faltar tampouco os emigrantes en vacacións, coa súa inxenua necesidade de aparentar por riba dos costumes ancestrais de que foran arrincados, tantas veces en contra da propia vontade.

Dunhas noutras, entre a observación distraída dos clientes máis próximos, o ruído das súas conversas e a somnolencia da sobremesa, acabara por derivar nese estado de beatitude anfibia en que a pesar de ter os ollos abertos non se ve nada, non se oe [ouve] nada, non se pensa en nada. Somnolencia da que me quitou a irrupción no meu campo visual dun preto de proporcións descomunais, embutido nunha sahariana gris e uns pantalóns claros que parecían incapaces de coutar por moito tempo a avalancha de carne que teimaba por estoupar en cada costura do tecido.

– Desculpe o señor – dirixiuse a min con esa voz de cantante de blues, feita de lixa e melaza, que teñen os negros – pódome sentar un bocadiño?

Espetei os ollos nel cunha curiosidade indisimulada e inclinei a cabeza en sinal de asentimento.

Sobre Martínez Oca leia-se isto.

Um doce real para Eduardo Guerra Carneiro

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A vida é breve, o amor é incerto, a alegria é escassa. São os pequenos gestos quotidianos que nos salvam do desespero. Faz agora um ano que «partiu» o poeta Eduardo Guerra Carneiro. Tinha um lugar cativo na pastelaria «Doce Real» ali entre o fim do Príncipe Real e o princípio da Rua D. Pedro V. Tinha, tal como eu, uma paixão pelos pastéis de nata ali fabricados.

Escrevi o poema abaixo e a proprietária resolveu colocar uma moldura com as palavras do poema na parede por cima da mesa do poeta transmontano. Aqui fica para todos vós este poema de circunstância – como, afinal, são todos os poemas.

Louvor do pastel de nata «Doce Real»

Como no pódio em lugar cimeiro
Acima do queque e do croissant
O pastel de nata é o primeiro
Da mais bela fornada da manhã

O forno cozeu pão de madrugada
Não esgotou o calor e a doçura
O pão mata uma fome já esperada
A nata adoça o sal da amargura

Quem chega e se dirige ao balcão
Zangado com notícias e jornais
Recebe prazer da boca ao coração
E fica com vontade de pedir mais

No ritual da manhã de cada dia
Tem lugar ao balcão e à mesa
O pastel de nata dá a energia
Para combater a nossa tristeza

José do Carmo Francisco

Ele e o Lord

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A história começa assim:

tendo eu nascido numa pequena aldeia no centro de portugal, não imaginava que teria um dia a suprema honra de partilhar a minha namorada com um lorde inglês.

Não sei, leitora, leitor, se – tendo lido essa primeira frase – você é ainda capaz de parar. Prossiga, pois. O conto está em Nada Niente (também na lista aqui à direita), o blogue do contista (e muita coisa mais) João Camilo, que A Fenda edita.

INTRODUÇÃO AO MAL QUE DIVIDE AS ALDEIAS

Aqui há dias, deixei pendurada no meu post “Sim ou Não” uma pergunta à qual ninguém respondeu própriamente, como, de resto, tive o cuidado de prever. Houve reacções, sim, e resolvo destacar sem favoritismos a muito curiosa vinda dum fulano que insinuou, para quem o quiz ler, que já não deve haver Amor dentro de mim. Tocou-me fundo, do coração às gónadas, partes sensíveis e mal defendidas. Que o homem saiba que a sua opinião conta bastante, aqui e lá fora nas ruelas da Democracia ao Deus Dará, mas que difere, evidentemente, da que tenho e que passo a explicar defendendo-me com o argumento de que há Amor do grande e do pequeno dentro de toda a gente sem excepção no género humano desde Cromagnon, inclusive dentro do carrasco por vocação, moderno ou antigo. Um pouco de Amor aqui e ali, nada de farturas desperdiçadoras, dará sempre para encher vazios importantes, por vezes espaços usados por gotas de suor que emigram na única direcção permitida. Todavia, agravamentos em casos específicos que envolvem carrascos e outra gente má como eu podem surgir de vez em quando, sobretudo quando a estupidez que se mistura com o ar que respiramos aproveita as portas deixadas abertas pelas transpirações e nos invade os corpos como uma besta incontrolável, pondo fim a equilibrios que já são, por si sós e sem ajudas de mais nada ou de ninguém, nitidamente precários.

TT

What happened to… Rute Monteiro?

Leio com estupefacção as dúvidas do Zé Mário acerca do rapto da jornalista portuguesa Rute Monteiro no Líbano. Nelas insistia ele num «post» aqui abaixo.

Compreendo – e, até certo ponto, louvo – que o profissional no ZM se alvoroce com um ou outro pormenor menos rotundo num conjunto, ele mesmo, longe de nítido. Mas tenho de lembrar-lhe que essa sua – noutros assuntos, saudável – reticência apenas ajuda a criar pretextos para o silêncio dos nossos média acerca deste pequeno desastre português. Sem o querer, decididamente sem o procurar, o ZM veste a pele do provocador.

O facto é que, noutros países, a notícia já circulou, sem espalhafato, mas com naturalidade. No sábado passado, o vespertino holandês, Het Avond Nieuws («As Notícias da Noite»), publicado em Delft mas de expansão nacional, citava fontes árabes assim como o seu correspondente no Médio-Oriente, Oswald Poets.

A notícia confirmava o essencial do afirmado no blogue «Freelance» no dia anterior. E não é habitual jornais holandeses lerem, menos ainda reproduzirem, blogues portugueses… Em suma, tudo indica que o nosso compatriota blogueiro andou bem informado.

Aguardam-se desenvolvimentos. Uma onda de solidariedade nacional estaria – parece evidente – entre os mais desejáveis.

«Transumantes, nómadas»

Copia-se aqui a nossa resposta ao inquérito do Miniscente. Isto é, pode comentar-se também aqui.

O que lhe diz a palavra «blogosfera»?

Vejo a blogosfera como uma multidão informe, aloucada, saudavelmente contentinha de si, passeando descontraída pelos rebordos dum abismo que dá para o mundo físico. Ela é, assim, um universo paralelo, em que tudo é real, também. Reais são os seus prazeres, dores e desvarios, reais os seus sonhos, triunfos, frustrações. Só que a realidade é doutro tipo: impalpável, fugidia, insatisfeita. Os habitantes dela são, por sina assumida, transumantes, desenraizados, nómadas. Nesse sentido, esse habitáculo galáctico em que se entra teclando, e donde teclando se sai, pode revelar-se mais inóspito do que o suporíamos, e portanto, a prazo, rejeitável. Mas podem seguir-se-lhe universos menos habitáveis ainda. Só uma coisa parece certa: a intranquilidade veio para ficar.

Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu através dos blogues?

Foi o observar da descoberta, alheia e própria, da inaudita versatilidade deste brinquedo, o «blogue», que consegue produzir coisas tão humanas como a admiração e o enamoramento, mas também a irritação, a suspeita e o enxovalho. Tudo público, claro.

Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?

Criar-me mais um gastadoiro de tempo, onde ele já era tão escasso. Mas a queda compulsiva para intervir vinha já de longe. Ninguém foge ao fado.

Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?

É, decerto. E o controle social, em que a blogosfera é exemplar, evitará que o mundo exterior, repressivo, ponha tão cedo as botifarras aqui dentro.

«Estou sempre a bordo de uma deriva»

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Não sei se costumam ler o Luís Carmelo, bem conhecido do Miniscente (está na lista aqui à direita), mas actualmente também cronista no Expresso digital. Pois comecem por aqui. E fiquem atentos.

Bom. Agora, com o risco de se me achar oportunista, informo que, na série de entrevistas a blogueiros que desde há meses o Miniscente publica, aproxima-se a de um colaborador do Aspirina. Estamos mortinhos de curiosidade.

Fiama, essa ilustre desconhecida (1938-2007)

INFÂNCIA

Todas as árvores apaziguam
o espírito. Debaixo do pinheiro bravo
a sombra torna metafísica
a silhueta de tronco e copa.
Em volta da ameixoeira temporã
vespas ensinam aos meus ouvidos
louvores. As oliveiras não se movem
mas as formas da essência desenham-se
cada dia com o vento.

Na sombra os frémitos
acalentam o pensamento
até ao não pensar. Depois
até sentir a vacuidade
no halo de flores que o envolve.
Sob as oliveiras, por fim,
que não se movem contorcendo-se,
concebe o não conceber.

Três Rostos

Ainda a «Justiça de Torres Novas»

Na minha qualidade de juiz social do Tribunal de Menores de Lisboa, já com catorze anos de experiência, não posso calar a minha revolta pela decisão tomada no Tribunal de Torres Novas. O pai adoptivo de uma criança foi condenado por sequestro da mesma quando afinal tem tomado conta dela desde os três meses de idade, quando a mãe biológica lha entregou devido à sua incapacidade para cuidar da menina com um mínimo de condições de conforto. Desempregada e abandonada pelo pai biológico da criança, a mãe brasileira tomou a melhor decisão em favor da vida futura da criança. Entregou-a de boa-fé a quem a recebeu de boa-fé e lhe tem dado todo o carinho ao longo de cinco anos. O superior interesse da criança é que deve sempre pautar todas as decisões do Tribunal, seja ele de Torres Novas ou de outra qualquer comarca. Condenar por sequestro o pai adoptivo que sempre tratou bem a criança desde os três meses de idade não é – seguramente – defender o superior interesse da criança. Se fosse julgado nos juízos onde trabalho, este caso nunca teria este desfecho. Eu nunca assinaria por baixo uma sentença que considera sequestro a recusa de um casal entregar uma criança que tem tratado como filha ao longo de cinco anos a um pai biológico que só agora se interessou pela filha e que não esteve nunca presente nem quando soube da gravidez nem quando a criança nasceu. Como além de juiz social também sou jornalista, ouvi dizer que é uma pessoa da família do pai biológico que está a puxar os cordelinhos. E a pagar a uma equipa de advogados para ganhar a criança como se fosse um troféu de caça. Justiça de Torres Novas: um caso em que o Direito, uma vez mais, é o maior inimigo da Justiça.

Dissertação sobre um nome

O teu primeiro nome tem, dentro de si, a força da Terra e a graça de Deus. Ele é, sem dúvida, o nome feminino mais divulgado em todo o Ocidente. Tem a sua origem nas profundezas da língua hebraica, mas não se ficou pela Bíblia e pelos Quatro Evangelhos. Está presente na Eneida de Virgílio, no teatro de Luigi Pirandello, nos romances de Tolstoi, nos contos de Pushkin e nas óperas de Mozart. Está junto à Terra e o seu som pronunciado resolve as hesitações nas encruzilhadas sombrias dos caminhos quotidianos. Digo o teu nome e tenho, no momento de o dizer, uma direcção e um sentido. Porque sinto, dentro do seu som, a força da Terra e a graça de Deus.

O teu segundo nome tem, dentro de si, a força da Água e da Natureza. Vem de uma origem duvidosa, envolta na neblina da lenda. Terá sido a primeira mulher, a que saiu do mar e deixou os homens da praia, entre atónitos e cheios de júbilo, aquela a quem chamaram mar yam – gota do mar. Como se essa mulher quisesse mostrar que só há vida na água, porque vivemos com a água e morremos quando estamos dezassete dias longe da água. O mistério da vida e os milagres da existência têm uma raiz nessa mulher que saiu do mar e a quem os homens chamaram mar yam – gota do mar.

O teu nome, feito de dois nomes, é uma bandeira feliz, um estandarte de alegria, uma luz que não se apaga. O teu nome, feito de dois nomes, é o lugar ideal para ouvir o som da voz da terra e o murmúrio do mar, o apelo a ficar e o convite a todas as viagens.

O teu nome, feito de dois nomes, tem a dimensão sem medida dos sonhos e a música sem fim de todas as orquestras. O teu nome, feito de dois nomes, Ana Maria.

José do Carmo Francisco

Ou muito nos enganamos ou um babado avô se desfaz aqui em lirismo.
fv

Habemus Conan!

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A SIC Radical atendeu às preces de todos os fiéis da SIC Comédia actualmente espoliados pela TV Cabo: foi reposto o consumo diário desse anti-depressivo chamado Conan O’Brien. Agora, resta-nos continuar a rezar para que a farmacopeia se complete com o Jay Leno, o que faria da SIC Radical o canal mais desopilante do universo mediático: Conan, Jay e Jon Stewart, uma diabólica trindade da comédia e da cultura americana, à americana.

Entretanto, alguém tem de ter uma conversa com o Rui Unas. Vem de um fracasso rotundo, O Novo Programa do Unas, e meteu-se numa rotunda destinada ao fracasso, O Show do Unas. A unir os dois programas, o mesmo equívoco: o Unas. Neste novo projecto há uma tentativa de renovar a stand-up através de acrescentos e manipulações. O resultado é um híbrido que depende do texto, pois os limites histriónicos do Rui são já usados no limite da capacidade; e, naturalmente, não chegam. Então, acontece a infelicidade: o texto é fraco, e muito fraco. Em harmonia com essa lacuna, assistimos à maior e mais usual pecha nas tentativas de comédia: a condescendência, a displicência. Os autores e actores, quando nesse registo, apresentam-se ofuscados por si próprios, ignorando a técnica e o conteúdo, permitindo-se a constante auto-referência. É o que se vê em todos os episódios, o ponto donde se parte, o objectivo redundante a que se chega. Para salvar uma ideia que pode ainda funcionar, é preciso encontrar um ponto de vista, um território, uma mensagem que estabeleça ligações com o público. Enquanto o Rui nada tiver para dizer, o Unas não justifica um show.

Em contraste absoluto, podemos finalmente desfrutar do único programa verdadeiramente radical da SIC Radical: Vai Tudo Abaixo. Nuno Duarte/Jel revela-se exímio na performance de rua, na temática caricatural, na panóplia de figuras, nos detalhes da caracterização, no timing da comédia, na equipa de secundários protagonistas e na eficácia da realização. É tudo do bom e do melhor, como ainda não se tinha visto em Portugal, de facto. Só para dar um exemplo, é provável que a personagem Ruce faça mais pela prevenção do consumo de drogas do que todas as campanhas oficiais juntas até agora. E fica também o marco histórico de, pela primeira vez, se fazer humor com o folclore esquerdista. Estamos a ficar crescidinhos.

As guerras de Py

Em 2003, o «nosso» Py escreveu isto no Público. Depois, diz ele, calou-se. Uma pena, tem que assentir-se. Mais nos diz ele que, passado um ano, foi despedido. Uma pena maior ainda.

Desconhecemos a identidade de Py. Mas conhecemos o Público como um excelente jornal. Qualquer coisa aqui não bateu certo. Achamos nós.

A sombra do abismo

Se há coisa que me parece que normalmente as pessoas esquecem é que vivemos todos alimentados pela energia do sol – que faz o clima e a fotossíntese e a vida – e é gratuita. Este postulado deveria fazer-nos desconfiar da legitimidade ética das formas de apropriação da energia. Porque é de apropriação de energia que se trata na guerra do Iraque.

Na interpretação do professor Said Barbosa Dib a guerra é antes do mais uma guerra do dólar contra o euro, a partir do momento em que em Novembro de 2000 o ditador Saddam tomou a decisão de indexar as exportações petrolíferas do Iraque ao euro, abandonando o padrão-dólar e assim criando um facto e abrindo um precedente. Se a OPEP adoptasse essa política a desvalorização (já nítida) do dólar criaria um buraco enorme na economia dos EUA a que se seguiria um período de caos e depressão. Esse é o pânico da administração e da Reserva Federal e o sr. Bush faz o que pode para alimentar um sistema viciado em adrenalina e serotoninas: promete um grandioso espectáculo de guerra onde os EUA serão os maiores. E além disso promete substituir Saddam por outro que revogue aquela decisão, restituindo a soberania do dólar nas transações petrolíferas e na economia do mundo.

Triste civilização esta que afinal não ultrapassou a barbárie. A tecno-barbárie, variando entre o cirúrgico e a mãe de todas as bombas, aí está. Quantos milhares de civis serão vítimas da guerra?

Já faz mais de 20 anos que li a trilogia da Fundação de Isaac Asimov. Relata o livro que, no auge do esplendor do Império, o psico-historiador Hari Seldom descobre que se está à beira do abismo; com as suas projecções matemáticas calcula nuvens de probabilidades que indiciem as sequências prováveis de acontecimentos. E assim conclui que é necessário construir duas fundações secretas que reunam o conhecimento da humanidade, para que pelo menos uma sobreviva ao longo período de trevas que adviria da guerra.

Na decada de sessenta, o professor René Thom lança as bases para um novo paradigma que veio a chamar-se a Teoria das Catástrofes. Nessa teoria, as catástrofes acontecem de súbito, quando ocorre uma dobra no campo potencial. Só na estrita vizinhança do abismo é que se pode vê-lo, para quem esteja dentro do campo. Fora dele, sim, sempre se poderá ver à distância a sombra do abismo.

E é assim que não desculpo a Durão Barroso a miopia política. A partir do momento que é anfitrião dos senhores da guerra tornou-se seu cúmplice e comprometeu-nos a nós, os portugueses que estamos contra a guerra, com a própria guerra.

Fernanda e a árvore dos livros

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Numa segunda-feira à tarde, de modo totalmente inesperado e insólito, descubro os olhos luminosos de Fernanda entre uma árvore gigante do Jardim do Príncipe Real e um tabuleiro de madeira com dezenas e dezenas de livros. Entre a Natureza e a Cultura, entre o mundo vegetal e o mundo das palavras, entre a Terra e o Firmamento, este sorriso aberto de Fernanda é uma ponte a ligar duas realidades diferentes e opostas. Ela trouxe, da sua livraria simpática e acolhedora, uma amostra dos seus diferentes livros. Uns raros, outros antigos, outros apenas usados e em segunda mão. Atrás do olhar luminoso de Fernanda e do seu sorriso aberto, esta árvore surge como algo mais que uma árvore. A sua sombra dá, nesta segunda-feira à tarde no Jardim do Príncipe Real, a ilusão de que estamos numa casa. Mesmo sem paredes nem janelas, há uma casa nesta sombra projectada contra o sol inclemente de Junho. Fernanda sorri de novo neste breve e inesperado encontro. Compro-lhe então um livro, como não podia deixar de ser. Levo nele a memória deste lugar que já se chamou em tempos sítio da Patriarcal Queimada. Porque um incêndio criminoso fez arder uma Sé Patriarcal toda construída em madeira no tempo do rei D. João V. Levo nele a voz de Fernanda, um ponto de encontro entre o olhar e o sorriso, entre a serenidade e o alvoroço. Uma voz onde se misturam todo o frio das manhãs e todo o calor das tardes, a força das grandes pedras da serra e a carícia das ondas da praia mais ocidental. A mesma praia de onde partiram todas as caravelas e aonde regressaram, muitos séculos depois, os destroços de todos os sonhos. E tudo isso está guardado nas páginas dos livros que Fernanda arruma nos caixotes de papelão.

José do Carmo Francisco

Começou

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Em Dezembro:

Tehran also began a new “campaign” in June to produce uranium hexafluoride from lightly processed uranium ore. According to the report, Iran converted a portion of 160 metric tons of lightly processed uranium ore to uranium hexafluoride, yielding 55 metric tons as of Nov. 7. According to the report, Iran told the agency that it anticipates converting all of the ore by January 2007.

16 de Janeiro de 2007: O porta-aviões USS John C. Stennis partiu de Bremerton. Ruma ao Golfo Pérsico, onde se reunirá ao USS Dwight D. Eisenhower e a um batalhão “Patriot” de defesa anti-balística.

On Course for Iran

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