A SIC Radical atendeu às preces de todos os fiéis da SIC Comédia actualmente espoliados pela TV Cabo: foi reposto o consumo diário desse anti-depressivo chamado Conan O’Brien. Agora, resta-nos continuar a rezar para que a farmacopeia se complete com o Jay Leno, o que faria da SIC Radical o canal mais desopilante do universo mediático: Conan, Jay e Jon Stewart, uma diabólica trindade da comédia e da cultura americana, à americana.
Entretanto, alguém tem de ter uma conversa com o Rui Unas. Vem de um fracasso rotundo, O Novo Programa do Unas, e meteu-se numa rotunda destinada ao fracasso, O Show do Unas. A unir os dois programas, o mesmo equívoco: o Unas. Neste novo projecto há uma tentativa de renovar a stand-up através de acrescentos e manipulações. O resultado é um híbrido que depende do texto, pois os limites histriónicos do Rui são já usados no limite da capacidade; e, naturalmente, não chegam. Então, acontece a infelicidade: o texto é fraco, e muito fraco. Em harmonia com essa lacuna, assistimos à maior e mais usual pecha nas tentativas de comédia: a condescendência, a displicência. Os autores e actores, quando nesse registo, apresentam-se ofuscados por si próprios, ignorando a técnica e o conteúdo, permitindo-se a constante auto-referência. É o que se vê em todos os episódios, o ponto donde se parte, o objectivo redundante a que se chega. Para salvar uma ideia que pode ainda funcionar, é preciso encontrar um ponto de vista, um território, uma mensagem que estabeleça ligações com o público. Enquanto o Rui nada tiver para dizer, o Unas não justifica um show.
Em contraste absoluto, podemos finalmente desfrutar do único programa verdadeiramente radical da SIC Radical: Vai Tudo Abaixo. Nuno Duarte/Jel revela-se exímio na performance de rua, na temática caricatural, na panóplia de figuras, nos detalhes da caracterização, no timing da comédia, na equipa de secundários protagonistas e na eficácia da realização. É tudo do bom e do melhor, como ainda não se tinha visto em Portugal, de facto. Só para dar um exemplo, é provável que a personagem Ruce faça mais pela prevenção do consumo de drogas do que todas as campanhas oficiais juntas até agora. E fica também o marco histórico de, pela primeira vez, se fazer humor com o folclore esquerdista. Estamos a ficar crescidinhos.
Novo blog aguarda a v/ visita:
http://sim-referendo.blogspot.com/
ESTÁ BOM, SIM SENHOR
Do que o País precisa mesmo é de SIC Radical de manhã à noite. Esquecer-se-ia dos problemas graves que enfrenta consumindo esse novo “ópio do povo”.
Ai se Marx voltasse para ler esses meninos!…
“Pela primeira vez se fazer humor com o folclore esquerdista” – Já no tempo do Herman Enciclopédia havia sketches de “músicos revolucionários” a repetirem para trás e para a frente ladainhas. A ideia de gozar com esse estereotipo, mas também com as cassetes, os camaradas, o “25 de Abril sempre”, foi realisada no máximo em 1996, pela mão da Produções Fictícias.
Não acredito!
Isto foi escrito pelo Valupi?! Este texto enxuto e, o que é mais importante, despretencioso e certo?
I-na-cre-di-tá-vel!
Pode ser – apenas pode ser, que uma mudança tão grande de paradigma não se pode fazer duma hora para a outra – que haja esperança para o homem, afinal de contas…
Alex
Larga a droga, que há pouca.
João
Verdade. Mas, para mim, não aconteceu humor nessa altura (ou em outras). Aproveitaram a referência pelo lado sociológico, mas falharam o resultado conceptual. Limitaram-se à palhaçada, e usaram essa tipagem tão indistintamente como outra qualquer. Aqui, com o Jel , o autor, o actor e a anedota transmitem uma crítica relevante. Pela primeira vez.
Jorge
Também para ti me parece haver esperança.
O primarismo e a estupidez de vai tudo abaixo é “do bom e do melhor”? então está bem…
UM DESORIENTADO/strongUM DESORIENTADO/strong< Fragilidade intelectual e falta de estofo psicológico é o que revela a reacção de Valupi que para além de destrambelhada e eivada de disparates resolve tratar toda a gente por tu; gente que, com outra formação, não lhe dá o mesmo tratamento. Quanto à confusão ideológica que vai por aquela cabeça, já disso todos vamos tomando conhecimento através dos disparates que tem escrito. Deus há-de fazer alguma coisa por ele.
Ui
Está bem? Não. Está muito bem.
Alex
Deus te oiça. (ou leia)
o jay leno dá na sic mulher
tambem é giro usar este argumento “permitindo-se a constante auto-referência” para criticar o unas, mas ao mesmo tempo adorar o o’brien que sofre do mesmo mal..
zé
Pois dá. E já aconteceu darem ao mesmo tempo (coisa que, se ambos no mesmo canal como até ao fim da SIC Comédia, talvez não acontecesse…)
Quanto ao argumento, engano teu. Se no Conan a auto-referência faz parte da sua “persona” comediante, e está ao serviço da empatia do público, assim criando humor, já no Unas a auto-referência é narcísica e o resultado de nada mais ter para dizer ou fazer acontecer.
Para além disso, no Conan não se pretende centrar na figura do apresentador/comediante a totalidade do espectáculo. O programa vive dos entrevistados e, principalmente, da equipa de escritores que cria material para a equipa de actores, onde se inclui o Conan. Assim, a tese é a inicial: o Unas está mal servido de textos; o que, aliás, não surpreende.
O Leno está na Sic Mulher, parece-me, e acho que ao pé da Oprah e do Dr. Phil é o lugar mais indicado para ele. Não pretendias com honestidade colocá-lo lado a lado com os grandes Jon Stewart e Conan O’Brien. Quanto ao Unas não apanhei ainda muitos, mas alguns dos textos pareceram-me bons. E nos mais fracos achei que a performance dele redimia os episódios. É uma coisa sem pretensões que (dentro do que vi) me parece funcionar muito razoavelmente. Suponho que quem não goste do Unas deve achar o programa insuportável, mas compará-lo ao Conan vem tão a propósito como comparar o Dragonball com o Telejornal.
Paulo Jorge
O Unas foi comparado com o Jel. E foi falado por partilhar o canal com o Conan. Mas também se poderia comparar o Dragonball com o Telejornal com eventuais descobertas inusitadas.
Nos episódios do Unas há momentos bons, concordo, onde o texto ou a performance, ou ambos, são fonte de inteligência, graça e até poesia. Só que são momentos avulsos.
Finalmente, compreendo o teu nivelamento pela Oprah e Dr. Phil para o Jay, onde os três seriam mais do mesmo, e o mesmo a ser a generalidade mais inane. Mas parece-me que a tua relacionação mostra que não compreendes o peculiar modo de ser crítico e subversivo sem o parecer, que é uma arte cultivada na perfeição pelo Jay.
Jay leno depende apenas e só dos textos. daí ser um humorista vulgar. o conan não, aquilo nao sao textos nem sao nada…ele passa o programa todo a improvisar.
Pessoalmente achava o “Novo programa do Unas” hilariante. já este não me faz rir. Sao coisas.