Não lhes interessa que a chantagem a sério seja do Chega sobre o PSD.
A coligação de direita dos Açores, que obteve maior número de deputados, mas não maioria absoluta – 26 contra 23 do PS e 5 do Chega, mais 3 do PAN, BE e IL –prepara-se para, aliás já começou a, chantagear o PS dando a entender que ou este aprova o programa deles ou governam com o apoio do Chega. E, neste caso, a culpa da aliança com os fascistas será do PS. Humoristas não faltam por aquelas bandas. E não tenho dúvidas que também haverá humor desse tipo entre os comentadeiros nacionais por estes dias.
Primeiro problema: não está garantido que o Chega lhes aprove o programa e o orçamento, ou mesmo que lhes aprove qualquer futura medida, sem lugares no governo regional. Portanto, este dispor do Chega sem cedências, após uma eventual rejeição do PS, é uma ilusão.
Segundo problema: se o PS também não lhes aprovar o programa e o orçamento, não poderão governar, nem que os três restantes partidos mais pequenos votem favoravelmente.
Mas por que razão o PS não aprova o orçamento da AD Açores?
Até pode aprovar para evitar já uma crise. No entanto, 1. é sabido que o contrário não aconteceu quando Vasco Cordeiro ganhou as últimas eleições, 2. é prejudicial à democracia um acordo de governo entre os dois maiores partidos (as franjas radicais engordam) e 3. a estabilidade não estará de qualquer maneira assegurada daí para a frente. Ou seja, mais tarde ou mais cedo, sem o apoio do Chega, a AD Açores dificilmente poderá governar.
Negociar ora com uns ora com outros, podendo ser uma alternativa, não é seguro que funcione. Mais uma vez, o Chega quer lugares.
Perante isto, Boleeiro negoceia com o Chega ou não governa. Não há culpa nenhuma, responsabilidade nenhuma do PS, tanto mais que não causou qualquer urticária a Boleeiro o entendimento com os fachos no mandato anterior.