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Sexo oral

«O líder do Kremlin deixou ainda palavras elogiosas para Donald Trump, mostrando-se impressionado com "o seu comportamento no momento do atentado contra a sua vida", ocorrido num evento da campanha republicana em julho em Butler, no estado da Pensilvânia.

Para Putin, "não se trata apenas da mão levantada [logo após os disparos que lhe deixaram ferimentos ligeiros numa orelha] e do apelo à luta pelos seus ideais, não se trata apenas disso, embora a força de uma pessoa se manifeste em condições extraordinárias", mas Trump, considerou, "mostrou-se muito correto, com coragem, como um homem".»


Fonte

Parabéns, Trump

Fui-me deitar após ver John King mostrar a um atarantado Jake Tapper que aquele ser dado como politicamente morto em 6 de Janeiro de 2021, inclusive por pessoas do Partido Republicano, registava ganhos eleitorais de 3% face à sua votação em 2020 em muitas zonas dos EUA. Estava, portanto, não só em vias de ganhar como de ter um resultado acima de todas as previsões mais optimistas.

Em setenta e tal milhões de americanos não há setenta e tal milhões de fascistas. Mesmo a percentagem que corresponderá ao retrato folclórico dos criminosos que invadiram o Capitólio será ínfima. A quase totalidade desta gente que deu a vitória a Trump representa o “average Joe” que não faz mal a ninguém e quer é levar uma vida decente e pacífica. Pessoas com todo o direito a preferirem ir para a direita em vez de para a esquerda calhando chegarem a uma encruzilhada.

Acontece que o seu voto premiou quem, de facto, despreza a democracia, o Estado de direito e o elementar humanismo. A primeira vez que constatei ser Trump um fenómeno desconhecido da ciência política ocorreu em 2015, quando atacou o senador John McCain precisamente no valor em que ele era mais prestigiado, e mais prestigiante, no universo do Partido Republicano: ser um herói da guerra no Vietname, tendo ficado com graves sequelas para a sua saúde por causa dos ferimentos ao ejectar-se de um avião e das torturas a que foi sujeito durante 5 anos. Ora, não só parecia estulto atacar McCain fosse pelo que fosse como tal ataque vir de um tipo que nem sequer fez o serviço militar, e sobre quem recaía a fortíssima suspeita de ter sido protegido pelo poder da sua família para precisamente escapar à guerra do Vietname, levava a concluir com 750% de certeza estarmos perante um suicídio político. Qualquer Republicano sentiria asco ao ouvir “Eu gosto das pessoas que não foram capturadas” saído da boca de um cobarde, né? Pois nada disso aconteceu, passou-se tudo exactamente ao contrário.

Nesta campanha, e depois do que provocou em 6 de Janeiro de 2021, Trump verbalizou existir um “inimigo interno” mais perigoso do que os inimigos externos, o qual poderia ser alvo das forças policiais e militares. Como não o identificou, a sugestão foi a de que os seus adversários políticos são esse inimigo interno. Sobre Liz Cheney, ex-congressista Republicana e filha de Dick Cheney, lançou a imagem de ela vir a ficar na mira de armas. Sobre o sistema de Justiça, disse que pretende substituir funcionários federais que não aceitem perseguir judicialmente quem ele considere um inimigo político, tendo prometido processar Joe Biden, Kamala Harris, Nancy Pelosi e Adam Schiff. Não apetece ter qualquer tipo de respeito por quem ameaça a liberdade, e a vida, mas a democracia impõe aos seus defensores a humildade de serem apenas parte da comunidade e a coragem da integridade. Daí, ser necessário congratular Trump pela sua vitória, como Kamala Harris fez — e Trump não fez com Biden.

O poder da democracia não é o do dinheiro, das armas ou do sangue. A democracia existe como contrapoder dessas forças que podem ser esmagadoras, exploradoras e ostracizantes de indivíduos e grupos. O poder da democracia radica exclusivamente na Lei. Uma lei fundamental, portanto nascida da vontade soberana de uma dada comunidade. Se essa comunidade, em eleições livres isentas de fraude, decide dar o poder a quem ameaça a própria democracia, ainda assim há motivos para festejar. Não o perigo, até o nojo, que o resultado eleitoral provoca mas o processo. O orgulho de continuarmos a ser frágeis, subindo às muralhas da cidade com a gana da liberdade.

Revolução Francesa ao contrário

Que significará, historicamente, uma vitória de Trump em 2024? Ouso concebê-la como uma Revolução Francesa ao contrário. Quereria dizer que numa das maiores e mais importantes democracias mundiais os eleitores tinham preferido entregar o poder máximo a um tirano. Tirano especialmente básico, um ogre de narcisismo obsessivo. Tal traria como consequência que a fórmula seria repetida, provavelmente aumentada nas suas consequências violentas, letais, por futuros candidatos do Partido Republicano. Porque Trump é o responsável político e moral pela violência — com feridos e mortos — que acompanha as suas campanhas presidenciais e o seu mandato como presidente dos EUA. Ele instigou e legitimou o maior ataque à democracia norte-americana depois da Guerra Civil. Ele apela, ostensivamente, à vingança política recorrendo a instrumentos do Estado, e à mera pulsão individual dos fanáticos, para fazer mal a adversários, jornalistas e agentes da justiça por palavras e actos.

Mas há mais. Esta campanha, em 2024, apresenta um Trump fisicamente enfraquecido e mentalmente disfuncional, fenómeno já identificável em 2020 mas ainda longe da situação actual. O comportamento insano, porque ao arrepio dos propósitos estratégicos eleitorais, sugere que procura boicotar a sua campanha. Mostra que não quer voltar para a Casa Branca. O que faz sentido se pensarmos que se pode sentir sem pachorra, sem ânimo, quiçá sem saúde, para mais 4 anos de obrigações protocolares exaustivas e constante esforço cognitivo. Em vez disso, poder ficar em Mar-a-Lago a queixar-se de ter sido outra vez roubado, e dedilhar a lira em pantufas enquanto vê Washington a arder pelas mãos da sua turbamulta de criminosos, será um programa muito mais do agrado da natureza psicopata que lhe moldou o destino. Uma figura nestas condições degradantes e torpes ser reeleita presidente dos EUA destrói milénios de ciência política. Seria uma espantosa, incrível, maravilhosa epifania da essência absurda da realidade.

Vários sinais apontam para a vitória de Harris. Só que o mesmo se dizia de Hillary Clinton, até com muito mais confiança nas sondagens, e foi o que foi. A guilhotina, pois, está apontada ao pescoço da democracia.

Revolution through evolution

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Everything you always wanted to know about large language models for science (but were afraid to ask)
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It’s not to be. Universe too short for Shakespeare typing monkeys

Dominguice

Quando Erik ten Hag foi contratado pelo Manchester United, em 2022, tomou a decisão de afrontar o Cristiano desde o início. Havia racionalidade nessa opção, pois era uma forma de se ver livre de um jogador em notória e irrecuperável perda de capacidades físicas, o qual se impunha no balneário e na indústria do futebol como uma marca maior até do que a do clube, este um dos mais populares mundialmente. Aparecendo como aquele que não tinha qualquer receio de humilhar e vergar a vedeta poderosíssima, parecia que só havia vantagens para a sua carreira de treinador na actualidade e no futuro. De facto, Cristiano não aguentou a pressão e fugiu para os milhões das arábias. Porém, na época anterior, apesar de estar rodeado de coxos, fez algumas coisas absolutamente maravilhosas, tendo acabado como o jogador preferido dos adeptos.

O fulano foi agora despedido e para o seu lugar vai Rúben Amorim. Obviamente, ninguém, nem Deus, poderá saber o que teria acontecido se a sua opção tivesse sido a de construir uma equipa para servir as capacidades de Cristiano. Ou, pelo menos, que o usasse o melhor possível, espremendo o fruto até à última gota. Assim, o que fica é tão-só um trajecto completamente inglório. A oportunidade foi desperdiçada por causa da sua gula. É mais um holandês voador.

Lapidar

Obrigado, Bulhão!

«Um dia, n'um jantar lauto [em navio da marinha inglesa atracado em Lisboa] quando já se haviam tocado bem os copos, levantou-se o Sá de taça em punho. Não sabia uma palavra de inglez, mas tinha decorado uma phrase do exordio de um brinde, e disse-a em purissimo londrino. O resto portuguez classico, porém com tal arte imitava a pronuncia ingleza que os officiais, attentissimos, punham a mão na orelha, como tubo acustico, dando-se a perros por não entenderem uma palavra. Logo que souberam do logro, ficaram encantados e agarraram-se n'elle com estrepitosa alegria, que, em rompendo, nos inglezes, é de atordoar.

Sá Bexiga cortejou a filha de um homem abastado, não sei se titular. O pae não queria o casamento e ficou de mal com a filha e com o genro. Uns seis mezes depois, Sá defronta com o sogro ao virar a esquina de uma rua da baixa. Pára diante d'elle e diz-lhe:
— Que V. Ex.ª ficasse de mal com sua filha, porque fez um pessimo casamento, percebe-se e é justo; mas comigo, que o fiz optimo, é que não ha razão nenhuma. O sogro, a rir e a chorar, deitou-se-lhe nos braços e ficaram excellentes amigos.
»

Memorias_Bulhão Pato_Vol. 3_pág. 375

Revolution through evolution

How You Interact with Your Kid Could Shape How They Play with Their Peers
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The transformative power of movies
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Dominguice

Ventura, publicamente, já ameaçou prender quem defenda o 25 de Abril e uma parte indiscriminada de pessoas ligadas a Governos socialistas e ao PS. Ele põe como condição para esse aumento da população prisional estar a ocupar o cargo de primeiro-ministro. Trata-se, portanto, de uma promessa eleitoral. Não oficial, pois não consta dos programas que vão a votos, mas oficiosa, dado servir para captar os tais votos. Embora não explique como iria fazer a coisa, se por decreto-lei ou a berrar de uma janela em S. Bento, parece convicto de ser não só viável como até fácil: «se com Passos Coelho houve um primeiro-ministro socialista preso, talvez com André Ventura houvesse vários dirigentes de esquerda presos em Portugal pela simples razão que roubaram este país, e roubaram-no até ao tutano!»

Por que motivo estas declarações não causaram o mínimo escândalo, muito menos uma petição pública? Acaso não são, igualmente, instigações à prática de crimes? Sim, são demasiado estouvadas e não tão abjectas e desumanas como as que fez sobre Odair Moniz. Isso é parte da explicação. Mas a outra é esta: desde 2004, existe em Portugal uma prática continuada de apelos ao ódio e ao crime contra o PS e governantes socialistas. Prática generalizada na direita partidária, no editorialismo “de referência” e no comentariado (algum deste, supostamente socialista). Não, pá, o Ventura não é um caso de abiogénese.

Ventura pede mais mortos

Ontem, Ventura festejou a morte de um cidadão pela polícia. Fez a apologia da execução a tiro de pessoas que tenham comportamentos suspeitos ou reacções agressivas. Sem ser preciso saber mais nada a respeito delas do que os agentes policiais considerem suficiente, no momento, para disparar a matar — mesmo que a sua integridade física não esteja em perigo. Devem matar desde que os alvos em causa tenham aparência de “bandidos”, especialmente se forem escurinhos, é a tese do pulha.

Ele disse isto. Várias vezes. Embora não seja a primeira vez que lança apelos à violência contra adversários políticos e certos segmentos da população, a opção de ser explícito ao defender o crime de assassinato por polícias coloca uma questão interessante ao regime, ao sistema partidário e à comunidade.

Que é esta: do actual Presidente da República, passando por todos os governantes e líderes partidários, e acabando nos editores e jornalistas da imprensa dita “de referência”, haverá alguém que não aceite ser cúmplice, com o seu silêncio, deste sórdido ex-candidato autárquico do PSD? Ou estaremos, definitivamente, no reino da cobardia?