Obrigado, Bulhão!

«Um dia, n'um jantar lauto [em navio da marinha inglesa atracado em Lisboa] quando já se haviam tocado bem os copos, levantou-se o Sá de taça em punho. Não sabia uma palavra de inglez, mas tinha decorado uma phrase do exordio de um brinde, e disse-a em purissimo londrino. O resto portuguez classico, porém com tal arte imitava a pronuncia ingleza que os officiais, attentissimos, punham a mão na orelha, como tubo acustico, dando-se a perros por não entenderem uma palavra. Logo que souberam do logro, ficaram encantados e agarraram-se n'elle com estrepitosa alegria, que, em rompendo, nos inglezes, é de atordoar.

Sá Bexiga cortejou a filha de um homem abastado, não sei se titular. O pae não queria o casamento e ficou de mal com a filha e com o genro. Uns seis mezes depois, Sá defronta com o sogro ao virar a esquina de uma rua da baixa. Pára diante d'elle e diz-lhe:
— Que V. Ex.ª ficasse de mal com sua filha, porque fez um pessimo casamento, percebe-se e é justo; mas comigo, que o fiz optimo, é que não ha razão nenhuma. O sogro, a rir e a chorar, deitou-se-lhe nos braços e ficaram excellentes amigos.
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Memorias_Bulhão Pato_Vol. 3_pág. 375

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