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O beijo do espanhol
Imaginemos que era uma mulher, presidente de uma federação de futebol masculino (improvável, mas possível hoje em dia, quando já vemos mulheres a arbitrarem jogos masculinos), quem “se descontrolava” no auge de uma enorme alegria e dava um beijo na boca, fugaz embora como aquele foi, a um jogador vitorioso apesar do penálti falhado.
“Ai, não dava. Impossível uma mulher fazer isso”, ouço já uns a dizerem. Convicções fortes à parte, digo-vos, como mulher, que podia acontecer. Quem se queixaria? O próprio não, de certeza. Ofendido não ficaria. Revoltado muito menos. O mais provável seria pôr-se com ideias sobre a senhora (dependendo da idade da dita e da heterossexualidade do dito). Protestaria talvez, talvez, a namorada/mulher do jogador, essa também com as conjecturas e a indignação muito facilitadas por aquele gesto. Mas será que haveria um clamor generalizado, como o que se ouve agora pela voz da mais insignificante das equipas até à do presidente do governo espanhol? Não haveria. A menos que este episódio com o senhor Rubiales já tivesse acontecido, claro, porque a coerência é uma coisa bonita e obrigatória, se se quer ser feminista e justa.
Dir-me-ão: “Mas a dominância tem sido historicamente a do macho”. É por isso que toda a reivindicação e acusação da mulher é justa e atendível. É verdade a primeira parte e não sempre, inapelavelmente, a segunda. Aquele beijo foi assédio sexual? Claramente não. Foi abuso? Não necessariamente.
Dito isto, que fique claro: não considero aceitável que, no desporto ou em qualquer outra situação de convivência hierárquica, um superior ou uma superiora, ou um colega, já agora, se aproveitem da sua posição para abusarem, mesmo que levemente ou sob falsos pretextos, do corpo de pessoas com quem convivem profissionalmente, quer em troca de promoção (ou de paz no dia a dia para a pessoa abusada, vá) quer em troca de coisa nenhuma, como parece ser este o caso e muitos outros, só porque sim. Não é aceitável. Também não sou radical ou tontinha ao ponto de achar que uma mulher não tem meios para se defender de “avanços” não desejados (sem violência). Tem. Tal como um homem. Mas também não sou radical ou hipócrita ao ponto de achar que nenhum “avanço” é desejado. Muitos são e seria pena se não acontecessem. Repito que não estou a falar de actos violentos, como é óbvio. Mas terá sido aquele um acto violento, o do Rubiales? Irreflectido, sim. Violento, não.
O que se passou então? A própria atleta, que desvalorizou o sucedido num primeiro momento, optou por se juntar ao clamor geral, dada a reacção desafiadora de Rubiales e dadas as implicações que uma desvalorização daquele gesto tem no contexto de uma série de casos conhecidos de abusos no desporto. A tolerância passou a ser zero. Compreende-se. O próprio Rubiales devia ter compreendido e, no mínimo, pedir desculpa. Coisa que não fez, o que agravou a situação.
Enfim, se nada na vida e na conduta daquele senhor configura falta de respeito pelas mulheres atletas, não me parece que o homem mereça ser crucificado por aquele excesso, como pretendem muitas feministas. Mas o próprio podia tê-lo evitado se reconhecesse esse excesso, preferindo optar pela fuga em frente (uma vez mais, irreflectida), inventando consentimentos onde não os houve nem podia ter havido por falta de tempo ou condições. Fez mal. Possivelmente teria que abandonar o cargo fosse qual fosse a sua reacção às críticas. E isto, sim, é passível de discussão. Porque uma mulher ser sempre vítima (incluindo em situações calmas) é também um excesso e demasiado desprestigiante para a própria.
Exemplares católicos: Marcelo e Maria João Marques
A propósito da corrente campanha de propaganda de uma religião, a que chamam festa da juventude católica, há questões que são velhas e relhas mas que voltam sempre com a maré: o que distingue um católico de um não católico, ou de um ateu ou de um agnóstico? O católico é mais boa pessoa? Rege-se por padrões éticos e morais mais elevados? O não católico não se interessa pelos outros? Não tem padrões morais de conduta?
As respostas são óbvias e por demais comprovadas: nem os católicos são melhores do que o resto da humanidade (para já, quando são “maus”, basta-lhes confessarem-se para ficarem com a folha limpa), e só chineses e indianos são mais de dois mil milhões, nem os não católicos são todos más pessoas. Ou seja, ser ou não ser boa pessoa, interessar-se pela humanidade, pelo bem-estar dos animais em geral, pela justiça social, pelos direitos laborais, pelo estado do planeta, pela paz, etc., em nada depende de professar ou não a religião católica.
Marcelo, o Presidente, diz-se e mostra-se católico, achou genial a ideia de poder receber o chefe da Igreja Católica na sua casa (literalmente), achou-se com poder para pôr o país a pagar o seu prazer pessoal e aqui estamos: com uma conta calada para pagar, uma substituição de turistas normais, que alugam quartos de hotel ou alojamentos locais, por hordas de miúdos a dormirem em escolas ou casas particulares e um retorno económico quase irrelevante, a par de uma fuga generalizada de lisboetas (fui um deles) e um massacre de uma semana de directos televisivos que já ninguém aguenta.
Depois, ficará tudo na mesma (salva-se o Parque Tejo e, mesmo esse, para já, só tem o chão). Marcelo, o católico, não se irá confessar àquela colina das confissões, uma espécie de “muro da culpa”, tenebroso e de péssimo mau gosto num ambiente que se diz de festa, não só porque não é jovem, mas também porque os “pecados” para católicos como ele são à escolha do freguês. As ameaças e agora as vingançazinhas constantes para com o Primeiro-ministro, como a mais recente, que consistiu em dar gás a reivindicações que sabe serem impossíveis de satisfazer, levando a agitação desnecessária e prejudicial, fazem parte, claro está, da bondade própria de um católico fervoroso. As intrigas também. Não é?
Em suma, muito entusiasmo, muito fervor, muita fé em criaturas mitológicas, como a “Maria cheia de graça e de bondade” cuja imagem fazem deslizar pelas águas do Tejo, ou num “Cristo redentor” que nenhum “contemporâneo” jamais viu nem de quem ouviu falar, e nós a olharmos envergonhados e a dar um desconto. Sim, ó Maria João Marques, damos um desconto. Enorme.
Tudo mentira à partida. Para quê o relatório e para quê a CPI?
Tendo o PS conquistado uma maioria absoluta, automaticamente se formou o coro da oposição conluiada, que entoa vigorosos cânticos de indignação partilhada a cada medida tomada pelo Governo, a cada resposta a reivindicações, muitas vezes provocatórias, de sinal partidário e intenções disfarçadas, a cada conclusão de comissão de inquérito (CPI), aberta por tudo e por nada. O coro conta com os poderosos megafones da comunicação social e comentadores amigos.
Saiu o relatório preliminar da CPI à TAP. À TAP, repito. À alegada interferência política na administração da TAP, a propósito da indemnização paga a Alexandra Reis pela sua saída. “Relatório fofinho”, ouvi eu hoje na rádio Radar, que citava o Expresso. Estava dado o mote para a indignação do dia. O relatório era uma vigarice.
Segundo a oposição, o que se devia ter apurado na dita comissão? Ora, que foi o Governo, na figura de Pedro Nuno Santos, que deu ordem não só para o pagamento da indemnização considerada escandalosa, como até pelo despedimento da senhora (de quem durante meses a mesma oposição – amplificada por jornalistas e comentadores amigos – disse cobras e lagartos, troçando das suas competências, aparência e guarda-roupa). Como não se apurou nada disso e quer Alexandra Reis, quer Pedro Nuno, quer o seu secretário de Estado Hugo Mendes se mostraram à altura e responderam dignamente e com verdade às perguntas dos deputados, deixando-os vazios de acusações, mas cheios de tristes figuras, agora o relatório é uma lástima, foi ditado pelo Governo e não passa de uma ficção. Esta oposição está mesmo onde devia estar: na oposição. A continuar assim, é onde vai estar por muitos anos.
Que interessa todos termos ouvido a ex-CEO da TAP declarar que foi sua a decisão de despedir Alexandra Reis e que foi a equipa de advogados convocada de acordo com as regras que chegou àquele valor? Nada, não interessa nada. E que não agradou ao ministro a saída da engenheira? E que interessa que o secretário de Estado tenha dito que, ao ter conhecimento do elevado montante, comunicou ao ministro ter sido impossível baixá-lo (inicialmente seria muito mais elevado)? Nada, não interessa nada, até porque, para a oposição, tudo era já mentira antes de ter sido dito por qualquer dos inquiridos, excepto Frederico Pinheiro. O relatório, escrito por eles, dispensava a comissão de inquérito! A ex-CEO ter sido despedida passar de exigência das oposições a decisão reprovável do Governo também diz muito dos nós em que se metem as oposições e que ficam visíveis nas CPI. Um circo, foi a ideia que ficou.
Muito rasteira anda também a comunicação social pelo facto de o episódio do roubo numa situação inédita, e da recuperação posterior do computador de Frederico Pinheiro, assessor de Galamba, não ter sido mencionado no relatório. Esquecem, mas sem surpresa, porque é intencional, as razões por que não o foi: o caso, como todos sabem, está a ser objecto de investigação pela Procuradoria, além de que não tem nada que ver com o objecto do inquérito. Mas, meu deus, como tolerará a oposição que o ministro Galamba não tenha sido enxovalhado no relatório, como não o foi na CPI? Como tolerará o Bloco de Esquerda que o seu camarada Frederico não tenha sido descrito como um herói, na pior das hipóteses como uma vítima? Não tenha sequer sido mencionada a importância do seu acto?
Da próxima vez, os senhores deputados da oposição podem dispensar-se de ouvir seja quem for do Governo. Reúnem-se e elaboram o relatório das suas teorias e conclusões. E o Governo demite-se. Então não era?
O crítico de cinema do Público que vá dar uma curva
Ao contrário do senhor Luís Miguel Oliveira, eu adorei o último filme da série Indiana Jones. Tem acção, pancadaria, emoção, cor, movimento, variedade, substância, imaginação, história, humor, sentimento e um elenco maravilhoso. O espectador não se aborrece um segundo naquelas duas horas e meia de aventuras. O Harrison Ford está perfeito no papel despudoradamente assumido do velho e já cansado, algo amargurado e sofrido professor aventureiro, que ainda assim mantém a antiga chama. A Phoebe Waller-Bridge muito viva, arguta, excelente, cinco estrelas para ela. Perfeita naquele papel. O miúdo que a acompanha, uma bela surpresa. O Banderas muito bom, apesar do (infelizmente) reduzido papel. O Mads Mikkelsen não desilude no seu estereótipo. Depois, todos os “brinquedos”, a maquinaria: os automóveis, os aviões, os comboios, as motas, as lanças, os artefactos, tudo impecável e na medida certa para um filme deste género. É muita coisa? É. Mas, tratando-se do último filme da série (com o Harrison Ford como protagonista, pelo menos, porque conhecemos Hollywood), digamos que uma despedida apoteótica, expressionista, se justifica inteiramente. Um adeus à guisa de homenagem e muito merecido para o actor. Não esteve o Spielberg na realização, mas James Mangold provou ser um substituto mais do que à altura da responsabilidade.
Posto isto, então não é que aquela alminha do Público lhe atribuiu uma estrelinha apenas? O que quereria ou esperaria ele para um filme deste género, quatro décadas depois? Que não tivesse sido feito? Eu acho que a tarefa era arriscada à partida, claro, eu própria duvidei do interesse da minha deslocação, mas os argumentistas foram extremamente felizes nos equilíbrios e no cozinhado que obtiveram, bem como no tratamento do protagonista. O declínio dos heróis tende a descambar em tragédia e angústia. Mas não há tragédia aqui. Puro divertimento. E ainda bem.
Fatalismo: a Rússia tem que ser ditatorial, imperialista e religiosa e os ucranianos que se lixem
Afinal o que tem o Ocidente de bom? “Nada”, diriam os Monty Python, a não ser democracia, ciclos eleitorais pacíficos, liberdade de expressão e de associação, liberdade religiosa, incluindo liberdade de não professar qualquer religião, separação de Igreja e Estado, liberdade de mercado, acesso universal à educação, a serviços de saúde maioritariamente gratuitos, respeito pelos direitos das minorias, independência da Justiça, direitos laborais, liberdade de imprensa, etc. “Nada”, portanto. Resta-nos, pobres de nós, gozar a sorte do nada de bom que temos, mas que levou tempo, dor e muito trabalho a conseguir. Por muito sob stress que estas características da nossa sociedade possam estar permanentemente (candidatos a ditadores e arruaceiros haverá sempre), duvido que a esmagadora maioria das pessoas as queiram deitar pelo cano e prefiram a mordaça das autocracias.
Pois bem, o Miguel Sousa Tavares (in Estátua de Sal) que também as prefere, ultimamente anda desorientado com o sucedido para lá do Dniestre. Declarando ter sempre topado perfeitamente o Putin, acha por bem troçar do facto de muitos dirigentes ocidentais terem expressado no passado o desejo e a esperança de que a Rússia se “ocidentalizasse”, mais concretamente, penso eu, que deixasse a violência e as práticas imperialistas e permitisse o jogo democrático a nível interno. E depois terem-se sentido enganados. Haverá algo de errado nisto? A Rússia já não fez (e de certo modo ainda faz) parte do universo cultural europeu? Escritores, compositores, artistas, filósofos, cientistas dos últimos séculos eram tão europeus como quaisquer outros. As respectivas cortes interligavam-se. Alturas houve em que a violência reinava em todos os lados e as monarquias imperavam. É certo que, após a revolução russa, os caminhos divergiram (por cá, no sentido das democracias) e que o domínio soviético, que levou ainda mais longe os requintes de malvadez dos czares, a par de um soturno e radical nivelamento social, deixou marcas profundas naquela sociedade. E hábitos de alheamento político que perduram. Mas a Rússia não deixou de ser uma parte da Europa! Isso, sim, é uma fatalidade.
Diz ele:
«Putin sabe que a democracia e as liberdades, tal como as conhecemos no Ocidente, são coisas alheias aos russos: não lhes fazem falta. Não obstante o heroísmo de resistentes como Navalny, o poder autocrático de Putin não é uma forma de governo estranha aos russos. »
«…desde tempos imemoriais, há três coisas em que assenta o poder na Rússia: a noção de pátria, a religião e o autocrata. Durante a monarquia, a noção de pátria estava na “Mãe Rússia”, o território sagrado pelo qual cada russo daria a vida contra as ameaças dos inimigos; a religião era a Santa Igreja Ortodoxa; e o autocrata era o Czar, investido de poder divino. A partir de 1917, com a Revolução e a paz de Brest-Litovsk, Lenine cedeu território em troca de ganhar os soldados massacrados do Czar para a Revolução, substituiu a religião da Igreja pela do comunismo e a autocracia do Imperador pela do Partido.»
Isto é mau? Não muito, para o Miguel.
Mas, curiosamente, o termo “ocidentalizar”, significa para ele deixar o Ocidente controlar as grandes empresas russas. E por isso dá vivas a Putin por ter revertido essa afronta.
«A diferença entre os seus oligarcas e os do seu antecessor é que os seus passaram a ser controlados a partir do Kremlin e não do Texas. Depois, daí em diante, foi uma cascata: ele passou a “enganá-los” a todos. Ao contrário do esperado, não se deixou “ocidentalizar”.»
Não é bem isso, Miguel, mas enfim. As democracias liberais também estão abertas a capitais estrangeiros. Além disso, é mais justo fazer comércio em igualdade de circunstâncias (pensar nas nossas relações com a China, um problema).
«A barbárie dos russos e dos eslavos, em geral, é lendária. Todavia, a história das décadas da Guerra Fria está carregada de episódios semelhantes do nosso lado, uns conhecidos, outros não, e dificilmente se poderá sustentar que, em matéria de métodos de actuação, de invasões, de golpes de Estado, de massacres, de Guantánamos, nós fomos predominantemente os bons e eles os maus. A História é uma lavandaria onde todos entram sujos e só sai limpo o último a fechar a porta.»
«Claro que, para quem teve a sorte de nascer e ser educado com os valores daquilo a que chamamos “democracias liberais”, só por masoquismo experimental ou obstinação ideológica trocaríamos o nosso modo de vida pelo do país de Vladimir Putin. E, se pudéssemos, decretaríamos o mesmo, a liberdade, para todos os povos e nações do mundo. A liberdade e também a prosperidade. E também a paz — também a paz. »
Os nós dessa cabeça, ó Miguel.
Os últimos parágrafos, sobretudo, são os que revelam o maior transtorno. O Putin é sanguinário, é ex-KGB, é isto e aquilo, mas devemos querer é a paz e deixá-los lá como são. Os russos.
Miguel, não há pachorra para as pazadas de História que atiras para cima dos ocidentais só para escamotear e desculpar o simples facto de ter havido uma invasão violenta de um país soberano, aqui tão perto de nós e tão semelhante a nós, com aspirações a ser um de nós, sem incubadoras de terroristas que gritam “morte ao ocidente” enquanto brandem o Corão, apenas com intuitos imperialistas, e isto no século XXI.
Os ucranianos nesta história do Miguel são completamente irrelevantes. Se calhar, acha que são nazis e merecem perder a sua terra e morrer.
Pergunta retórica (ou não) sobre o golpe interrompido na Rússia
Estado da comunicação social: a pergunta que todos os democratas devem fazer
Com o controlo total dos órgãos de comunicação social que é notório e aterrador neste momento – rádios, televisões e jornais, até empesas de sondagens -, se a direita portuguesa chegar ao poder um dia, aliada aos boçais do Chega e da Iniciativa Liberal, que diferença haverá entre este país e a Hungria ou a Turquia (embora neste caso fosse preciso o Ventura ganhar eleições)?
Convém recordar a história que desvairava a direita na altura de que o Sócrates é que atentava contra o Estado de Direito porque não sei quê da Prisa e da TVI. Está claro agora?
Uma imensa Fox News
Sobre o caso do momento. O Frederico Pinheiro não podia levar o computador. Ponto. A partir daqui, o que interessa a hora das chamadas (feitas como se impunha que fossem), os membros do governo informados (como deviam ter sido), a entidade policial alertada (e foram alertadas várias) e outras questões ainda mais laterais totalmente irrelevantes para o caso, que mais ridículas se tornam na boca prolongada, e na desboca, dos deputados inquisidores?
A situação ocorrida no ministério foi insólita e inesperada, mas penso que muito clara para todos. O homem despedido quis levar o computador com ele (ainda não explicou porquê) e, encontrando resistência, forçou-o recorrendo à violência. As restantes assessoras e as funcionárias apenas podiam fazer uma de duas coisas: ficar a olhar para ele passivamente enquanto cometia o ilícito (tornando-se nesse caso cúmplices, pelo que também já estariam no olho da rua); ou impedi-lo de levar o computador: com as próprias mãos ou pedindo que as saídas do edifício fossem bloqueadas. Feito tudo isso, não é de esperar, obviamente, que o assessor corrido venha tecer elogios às ex-colegas ou ao ministro, muito pelo contrário, faz-se de vítima, e pouco mais haverá a dizer a não ser que se aguardem as conclusões do processo, sobretudo se houve interferências indevidas em documentos classificados, que tipo de informação não autorizada estava no computador e o tipo de sanção que será aplicada ao ex-assessor infractor. O ministro apenas o despediu, coisa que tinha todo o direito de fazer. Aliás, se me permitem um aparte, finda a geringonça, o que fazia ainda um militante bloquista no governo?
Por isso, a comunicação social já acabava com as suas inqualificáveis figuras, até porque já ninguém aguenta. Sobretudo ver jornalistas, praticamente todos (os mesmos que nos dão diariamente as notícias mais diversas), a tomarem os espectadores por acéfalos, a assumirem descaradamente o papel de opositores ao Governo, recorrendo, como disfarce e apoio, a todos os comentadores de direita ou de extrema-esquerda que puderem arrebanhar para a sua “causa”. A que propósito é que se põem a defender directa ou indirectamente através de insinuações várias o ex-assessor? Que tipo de imprensa e de comunicação social existe em Portugal? É tudo a Fox, a que na América está ao serviço do Trump, essa criatura deplorável? Uma, aliás várias “news network” em campanha permanente, escamoteando o óbvio ? A nossa comunicação social é, na Europa, uma vergonha. Jornalistas sem consciência profissional, uma ERC que não existe, ninguém que assegure um mínimo de pluralismo e isenção. Um circo, e de má qualidade.
A asfixia mediática a sério e o Presidente
Já aqui falei nisto, já outros falaram, mas, francamente, os canais televisivos andam a bater no fundo há tempo demais no que respeita aos comentadores de política nacional para que os cidadãos fiquem calados. Não pode valer tudo para ganhar audiência ou para os senhores jornalistas se sentirem poderosos. Os jornalistas não são políticos (a menos que queiram copiar a Fox News, o que seria francamente mau e, no final, dispendioso para os patrões, como se viu na América, onde as mentiras e o excesso de trumpismo saíram caro). Também o comentário político não devia ser um espectáculo, em que, quanto mais malévolo ou maluco o comentador, mais palmas recebe. Nem tão pouco devia ser uma campanha de recrutamento de tropas da direita, com recurso aos reservistas e tudo, para o objectivo comum de deitar abaixo o Governo eleito não há muito tempo com maioria absoluta, ou justamente por causa disso. Não pode. As direções de informação não podem servir para subverter a democracia. Descaradamente. Não aqui na Europa.
Mas vamos a um exemplo de extrema maluqueira que pude observar ainda ontem, na CNN. No meio minuto que por lá me detive, por volta das dez e tal da noite, vi a Joana Amaral Dias a afirmar, cheia de si como sempre, da sua maquilhagem e do pau de vassoura que parece ter engolido, que o acordo que pôs fim às greves na CP, negociado pelo ministro João Galamba, tinha constituído uma “afronta ao Presidente da República” (!!!). É demais, não? Ainda ouvi de fugida o Bugalho a questionar, para meu espanto, “Como assim, uma afronta?”. E mais não vi. Se calhar, acabaram a concordar. Mas para mim bastou. Doida varrida. É verdade que o próprio Presidente também não anda lá muito bem. E isso, sim, devia ser comentado. Perdeu a noção dos seus deveres e das suas competências. É até penoso ver os que tentam tirar proveito desse triste facto. O Paulo Magalhães ainda ontem se mostrava ansiosíssimo, porque achava que Marcelo tinha que fazer alguma coisa mal viesse de Espanha, mais uns dias de espera estavam a matá-lo…
Voltando à informação. Poder-se-ia invocar a preocupação dos OCS, perante uma crise institucional, com o pluralismo de opiniões, dando voz a diferentes tipos de pessoas, das mais ajuizadas às mais disparatadas, das mais marcelistas às mais constitucionalistas. Mas não é isso. Tirando uma ou duas excepções, o que vemos é um desfile de pessoas de direita, ou ex-PS, ou ex-governantes PS, azedos,, a fazerem críticas e ataques de sentido único e, como se já não bastassem as habituais picaretas falantes como o Marques Mendes, o Portas, a Ferreira Leite, etc., ainda vão desenterrar criaturas como o Relvas, o Luís Filipe Menezes, o Matos Correia e sabe-se lá quem mais para engrossar as hostes (poupei-me ao desfile completo, pelo que admito existirem outros desenterrados).
Também nesta matéria do assessor, juntam-se ao rol os bloquistas em peso a acusar o ministro Galamba e a pedir a sua demissão, não com qualquer argumento credível, mas porque sim. Embora todos saibamos que a verdadeira razão é o assessor despedido ser bloquista. E então temos um coro.
Claro que, se eu não quiser ver, não vejo. Parece que o público também não vê muito ou não é assim tão manipulável como muitos gostariam, a avaliar pelas sondagens. Mas esta bolha desestabiliza. A começar pelo Presidente da República que, com o seu historial de comentador, atribui uma importância desmesurada ao ruído desta espécie de galinheiro. E, como se está a ver, isso leva-o a atitudes preocupantes – ameaças de dissolução por tudo e por nada, propostas públicas de medidas governativas, matéria que não é da sua competência, birras por não governar nem escolher os governantes, crispação inevitável com o primeiro-ministro, enfim, um certo desnorte. Desnorte, porque não tem saída: abrir caminho a outra maioria absoluta do PS ou a um possível governo de coligação com o André Ventura, o “quarto pastorinho de Fátima”, que adora a saudação nazi, não lhe vai garantir um lugar feliz na História. De todo. Deve, por isso, esquecer os comentadores, esquecer que foi comentador, deixar de ver televisão para regularizar a respiração, e atinar.
Eis o que Marcelo devia fazer – garantir o bom funcionamento de uma instituição fundamental
Pôr ordem na capoeira da comunicação social com um apelo público à calma, ao profissionalismo e até ao silêncio, se não é, devia ser uma função do Presidente da República. O cacarejar constante de comentadores e jornalistas-comentadores em todos os canais informativos, 90% dos quais aldrabões, demagogos, putas ou ignorantes, ou tudo junto, está a fazer, isso sim, um mal terrível ao país. É uma bolha que funciona em total alheamento do que verdadeiramente importa, uma espécie de clube da algazarra, da alcoviteirice, em que impera a disputa pela interpretação mais brilhante (!), pela pedra filosofal do comentariado, que só serve para instalar um ambiente de caos totalmente artificial e que, de tão barulhenta e persistente, não permite a quem tem responsabilidades governativas governar, nomeadamente por falta de tempo, dada a exigência de respostas constantes a inanidades ou provocações e de esclarecimentos sobre dramas que não o são.
Que ingenuidade, dona Pautéria! – ouço já alguns dizer. Então não vê que é esse mesmo o objectivo de jornais e televisões, todos sem excepção pertencentes à direita, aos compinchas do Marcelo, que arrebanham para a tarefa os sempre aliados esquerdistas do Bloco nestas ocasiões? Criar ruído por tudo e por nada, criar confusão, para depois passarem à conversa de que estamos no pântano e de que o que o país precisa é de uma mudança de governo. Não vê que o Presidente é parte activa desse esquema, como se tem visto nos últimos tempos e se confirmou ainda ontem com a sua insistência em interferir em áreas para as quais não tem competência?
Vejo, vejo. Mas neste meu espaço de opinião ainda posso dizer o que um presidente da República sério devia fazer para garantir o bom funcionamento de uma instituição fundamental das democracias como é a comunicação social. Se Marcelo quer mesmo que o país funcione e que haja estabilidade, um apelo à ordem nessa instituição seria uma das poucas atitudes que lhe ficaria bem neste momento. O barulho pode sempre fazer-se na comissão de inquérito, ou seja, na Assembleia. Em sede própria. Jornalistas informam. Não são deputados. E os deputados, já agora, têm a Assembleia para se exprimirem.
Dito isto, em busca de isenção, o canal 24 Kitchen deve estar a registar picos de audiência. É tranquilo, um tacho ou outro a assentar no fogão, e aprende-se muito. Problema é que engorda.
Quem vai estar atento, quem é?
Rica teoria a do Marcelo
Receio que encontre num corredor uma janela mal colocada
Warning: you better sit down before watching this.
God’s honest truth on Russian TV!!!
????????????Leonid Gozman tells it like it is. Skabeeva and other propagandists are about to lose it. Watch their faces!#Russia #RussiaUkraineWar #RussiaIsATerroristState #RussiaIsCollapsing pic.twitter.com/gkqCTXHvaX
— Natalka (@NatalkaKyiv) May 1, 2023
Grande entrevista(do) ontem
https://www.rtp.pt/play/p11147/grande-entrevista
O comportamento de Marcelo descrito sem rodriguinhos
A navegar na maionese
A intuição política e a qualidade discursiva do Montenegro estão ao nível de uma doninha.
Passadas mais de 12 horas sobre as declarações de António Costa em resposta à crise governativa inventada pela tresloucada dupla oposição/comentadores, o que conclui Montenegro? Que o que António Costa quer com a manutenção de João Galamba no Governo é provocar eleições antecipadas.
O quê? Perguntarão os mais atentos. Exactamente. Um primeiro-ministro com maioria absoluta só pode, no entender dele, querer eleições … Como se for para perder será estúpido, deduz-se que será para ver se consegue a maioria absoluta. Ai, espera. Chama-se a isto argúcia! Inteligência.
Ao mesmo tempo, o que quer ele? Ele, Montenegro. Quer eleições? Não se sabe. Nem sim nem não. Diz que está pronto (para governar – céus, espero que nunca!), mas que não vai apresentar moção de censura. Também diz que não vai pedir eleições antecipadas. Mas suplica a Marcelo que fale, quer dizer, que o ajude de alguma maneira, “que faça diligências”, na formulação melhor que conseguiu. Anda claramente perdido. A navegar na maionese. Ele as arapongas que poluem os espaços informativos.
Para o anedotário nacional:
[…] De seguida, Montenegro acusou o primeiro-ministro de querer eleições antecipadas: “Ensaiou uma fuga para a frente a ver se provoca eleições antecipadas. Vê como saída para o caos em que mergulhou o executivo tentar provocar eleições antecipadas sem ter coragem de o dizer.”
Da História: quem também não respeitava o Parlamento
Lula não é ingénuo. Se calhar nem está confuso. Quer é negócios com a Rússia e com a China…
… enquanto acusa Trump e Bolsonaro e as extremas-direitas populistas de quererem impor regimes fascistas, sem liberdade de imprensa, sem sindicatos, sem democracia. Regimes precisamente iguais aos da mesma Rússia e China, que no fundo elogia (diz que todos os países têm os seus problemas, mas que o que é certo é que a China está a conseguir ser a maior potência comercial do mundo – comentários para quê?).
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A campanha tem o objectivo de angariar 400 mil voluntários, dizem os britânicos. O Ministério da Defesa considera, contudo, que será difícil para os russos conseguirem atingir esse objectivo. Estes anúncios podem ser vistos na televisão, nas redes sociais e em cartazes espalhados pelas ruas russas.
Esta mais recente campanha de recruta tem como objectivo atrasar ao máximo uma nova campanha de mobilizações forçadas, medida que iria levantar os níveis de descontentamento no país. “
(In Público de hoje)
Não acredito na ingenuidade de Lula da Silva. Ser ingénuo seria não perceber o interesse de Vladimir Putin em dominar a Ucrânia, razão pela qual a invadiu. Já na sua hipocrisia, sim, acredito. Reconhecendo que a Rússia invadiu um país soberano, e que essa decisão foi um erro, nas suas próprias palavras, nunca exige o que seria o mais óbvio: que se retirem. Tal como o PCP e os putinistas confortavelmente instalados no Ocidente, enche a boca com a palavra paz, como se não fosse precisamente isso que os ucranianos e os seus vizinhos mais querem.
E a que paz se estará a referir, quando se leem notícias como a lá de cima? Como aceitar as suas acusações de que a Europa e os Estados Unidos estão a incentivar a guerra ao apoiarem militarmente a Ucrânia na sua defesa, enquanto omite por completo a mobilização russa?
Lula quer negócios com todos. Por isso, acha que encontrou a palavra milagrosa para não se comprometer – a famosa “paz”. Claro que, com saída tão pouco original, mete os pés pelas mãos quando lhe pedem que esmiúce os passos para lá chegar (quando perguntam). Convencer o Putin? A sentar-se a uma mesa? Sem retirar as tropas do país que invadiu? Pelos vistos sim, abelha. Convencer o Zelensky? A quê? A aceitar conversar sobre a perda de território? A aceitar perguntar ao Putin “Ora então diga lá que partes do meu país mais lhe convêm?”.
Lula da Silva pensa que pode brincar com a nossa inteligência. Ainda se dissesse simplesmente: “Tenho negócios com a Rússia, com a China e quero tê-los também com os Estados Unidos e a Europa. Não me pronuncio sobre a guerra.” Ah, esperem. Isso seria não condenar uma violação do direito de soberania dos Estados. Isso seria pactuar com uma ilegalidade. Seria fechar os olhos às atrocidades em nome dos interesses comerciais. Seria permitir que lhe roubassem parte do Brasil! Melhor mesmo é então falar em querer a paz. Que diferença e que lufada de ar fresco, não é?
O Montenegro devia acalmar-se, até porque… enfim
Anda a oposição à direita do PS numa completa fona. De indignação em indignação, chegámos agora ao momento “E o escândalo da TAP?” (mas não o do Sr. Neeleman). A CPI não lhes está a correr bem. Que o Governo não lhes dá isto, alegam, que não lhes diz aquilo, que esconde da comissão de inquérito uma informação qualquer importantíssima e com que obscuros fins, meu deus. Esta paranoica oposição fantasia narrativas, inventa dramas sinistros, conclui desmioladamente, acha que o seu patear sem sentido manda a casa abaixo. Se o Governo titubeia, um pouco atónito com o galinheiro, ai que se contradiz, ai que não há coordenação, ai que anda à deriva. Se não fala, se não responde a uma súbita urgência tirada da cartola, ai que leva com um processo por desobediência e sonegação de informação. Deviam ir presos! Têm que ir presos.
Montenegro anda, digamos, demasiado excitado e divertido com o seu próprio espectáculo para que haja paciência para o aturar, quanto mais levá-lo a sério. O Chega disputa-lhe o “show” carregando nas mentiras e nas ameaças e a Iniciativa Liberal diverte-se a encontrar frases assassinas, ainda que sem objecto a que se apliquem. O BE aproveita o barulho, como sempre. Os jornais e as televisões alinham neste ambiente carnavalesco-apocalíptico. Foi só ver o anúncio do passado programa «É ou não é», na RTP 1, para perceber até que ponto toda esta malta anda exaltada, empanturrada das tiradas catastrofistas da direita e a ferver ainda antes do pleno Verão. Marcelo ajuda à festa. Ou porque invoca mais do que devia, ou a total despropósito, os seus poderes de dissolução do Parlamento, ou porque espicaça (orienta?) o Montenegro a falar mais para provar que tem a mínima credibilidade. O ambiente é deplorável, nele não faltando a múmia Cavaco Silva a bolçar o seu veneno.
Calma, meu senhores. Vai-se a ver e não se passa nada. Nada de mais, pelo menos após a queda em desgraça do ministro Pedro Nuno Santos, que se dedicou demasiado aos comboios e deixou a TAP um bocado em roda livre. Havia conflitos na administração dos quais se alheou ou sobre os quais despachou com demasiada superficialidade. Pagou um preço por isso, demitindo-se, como não podia deixar de ser, ele e o seu secretário de Estado, e arruinando talvez para todo o sempre as suas ambições políticas. Mas esse acontecimento importante já foi há algum tempo. Tirando isso, há simplesmente o relatório da IGF, a deliberação da DGTF e há a decisão de demitir a CEO da TAP. Uma coisa ligada às outras. Demissão, aliás, que toda a oposição já previa e a comunicação social sua amiga pedia, convém lembrar. Se o Governo consultou os juristas de serviço para esta decisão? Evidentemente que sim. A IGF, inclusivamente, deve dispor de juristas. Não há mentira nenhuma no que disse Mariana Vieira da Silva nem contradição com o que disse Medina. Se o Governo dispõe de um documento oficial com um parecer jurídico sobre o despedimento? Sim e não. Não tem que dispor. Por milagre, hoje, no Público, vem a deliberação da DGTF. Num artigo intitulado “As três violações e as cinco razões para despedir administradores da TAP” ficamos a saber a fundamentação para os despedimentos.
Chegará para calar as galinhas? Ou vão continuar a brincar e a jogar com a TAP?
Marcelo, o eterno comentador televisivo, esquecido das suas funções
Não é novidade a maneira de estar do PR, mas convém fazer umas perguntinhas:
A que propósito dá Marcelo uma entrevista a uma televisão para fazer a sua apreciação do governo em funções? Será essa a sua função institucional pública, apesar de serem os jornalistas a fazer as perguntas? Não tem oportunidade de dizer tudo o que pensa ao Governo nas reuniões semanais? E o exercício do seu cargo, que deveria ser o que importa em entrevistas anuais, não lhe merece qualquer autocrítica? Não deveria ser esse o objecto das perguntas dos jornalistas?
E a que propósito dá dicas para a governação do país em público (caso dos professores)? Terá sido eleito para isso? As consequências da aplicação dessas dicas acaso recairão sobre ele? Não há um governo eleito para governar? E não há já comentadores que cheguem e sobrem por esses jornais e televisões fora a mandarem bocas sobre toda e qualquer tossidela do António Costa? Porquê colocar-se em pé de igualdade com essa gente?
E as ameaças constantes de que pode dissolver o Parlamento em qualquer altura, se lhe apetecer? Sim, se lhe apetecer, pois apesar de esclarecer que o fará se vir isto e aquilo e sabe Zeus que mais, parece que adora brincar com esse poder que tem e de o exibir sempre que lhe apetece (para os jornais e seus títulos, claro). São totalmente deslocadas e inaceitáveis tais ameaças. Imagino a vontade que o Costa tem de lhe passar a batata quente da passagem à prática dessas ameaças. Seria giro. Além de que, o facto de, na opinião dele, a oposição não constituir ainda uma alternativa, jamais deveria ser invocado. Significa que, se houvesse uma alternativa que lhe agradasse mais, dissolveria o Parlamento. Mas o que é isto? O resultado de umas eleições legislativas é para ele um “nem penses que vais durar quatro anos, meu menino”?
E começar a entrevista a dizer que este governo entrou em funções já desgastado e que teve um primeiro ano perdido? Não é um soundbite de imediato aproveitado por toda a oposição e que nem sequer corresponde à verdade, como ele próprio depois admite ao reconhecer o eclodir de uma guerra que tudo absorveu da acção política (para além da questão dos prazos para a aprovação do orçamento)? Isto foi mesquinho.
E por que razão ele, que anda sempre a comentar tudo e tudo e tudo a todo o momento, esperou por esta entrevista para se pronunciar sobre a atitude inqualificável dos senhores bispos e cardeais perante as conclusões do relatório sobre abusos sexuais na ICAR? Ficou à espera das reacções dos outros protagonistas públicos (e da própria opinião pública) sobre este assunto para responder em sintonia e ficar assim bem visto? Que hipocrisia.
Alguém devia pôr este senhor no seu lugar. Anda a abusar da nossa paciência. Todos vimos os seus elogios ao palco do Papa, que nos custaria e ainda custa milhões.
