Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Passa por mim na Avenida dos Aliados

Estava-se mesmo a ver: Rui Rio vai entregar a gestão do Rivoli à produtora de Filipe La Féria. Venham de lá as “grandes produções” revisteiras, os musicais à la Broadway dos pobrezinhos, o fogo-de-artifício para contentar o povão e satisfazer a ideia de cultura do autarca que tem alergia a subsídios.
Ou seja: entrega-se assim, de mão-beijada, a um privado com uma noção de “espectáculo” estritamente comercial, um espaço que as verbas públicas da Câmara do Porto ajudaram a restaurar e conservar. Pode não haver aqui qualquer surpresa (este desenlace já se adivinhava mesmo antes do eufemístico “aturado processo de selecção”), mas importa sublinhar o modo como a diversidade cultural nas grandes cidades vai sendo cerceada, subrepticiamente ou às escâncaras, por políticos medíocres que nivelam a arte pela bitola da televisão e encaram os criadores alternativos ora como empecilhos ora como parasitas (ou como as duas coisas ao mesmo tempo).

Você é fantasma? Eu pago.

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Foi ao ler, na Origem das Espécies, o blogue (um dos) do caro Viegas, este texto da Lusa sobre «escritores-fantasma» que as ideias me vieram em catadupa. Costuma acontecer-me debaixo do chuveiro, com a dificuldade de apontá-las que se imagina, quanto mais de dar-lhes logo seguimento. Desta vez foi a seco.

Parece que há por aí vários e activos «ghost-writers». Nos estudos universitários, na ficção. Devo acrescentar que desconfio, de há muito, de certo e conhecido cronista, de muito imitável estilo. Cada semana, mais me convenço de que anda ali «negro» na costa.

Mas ao que íamos.

Eu tenho um romance, o meu terceiro, parado há vários anos. Há-de chamar-se Deus chega no próximo avião. Falei nele a amigos, e a revista da APE publicou dele, até, as primeiras páginas.

A paragem já deu pretexto a um conto (um gajo tem que continuar nas bocas do mundo), o conto «Um romance perdido», que saiu no Magazine Artes e que a Luísa Costa Gomes disponibilizou aqui. Digo tudo isto porque, se alguém tiver a boa ideia de ler o conto, saberá que o romance anda à volta dum, exacto, dum «escritor-fantasma».

Ora bem, e eu só posso chamar genial ao meu cruzamento, hoje, das duas ideias. É isto: como não consigo achar tempo para prosseguir e acabar o meu romance, já que mil outras coisas importantes me tomam o escasso tempo deste peregrinar pelo vale de lágrimas, eu peço, mas peço instantemente, a algum «fantasma» disponível que tome contacto comigo.

De prazos, de pormenores, de tarifas, essas coisas rasteiras, trataremos depois. Envie já currículo para o email do blogue. Currículo completo, entende-se, sendo indispensável a indicação de actividades anteriores no ramo. Ah, e use pseudónimo. Eu não quero saber quem você é. Escusado acrescentar que nunca nos falaremos, menos ainda veremos.

A literatura nacional lhe ficará grata. Eu não. Pago, calo e recolho os louros.

O Pai Natal existe e é um sociopata

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Pequenas lambretas que tomam o freio nos dentes. Dardos desmesurados que perfuram crânios. Luzes de discoteca incendiárias, mísseis sufocantes, bonecos canibais (a sério!), Barbies voadoras com instintos assassinos (confesso que dei uma destas à minha filha). E, com um brilho muito próprio, o “Laboratório de Energia Atómica”, lançado em 1951, que devia ter como objectivo preparar a miudagem americana para a III Guerra Mundial: incluía quatro amostras de Urânio 238, um contador Geiger e vários adereços indispensáveis ao cientista em início de carreira. Em caso de acidente, os infantes vitimados sempre poderiam ter uso como candeeiros.
Esta lista dos brinquedos mais marados da história merece consulta atenta. E vai dar-vos vontade de examinar com outros olhos as cartas com os pedidos ao Pai Natal dos vossos herdeiros.

O guarda costas, o homem da tábua no colchão, o adorador solícito, um caso de amizade muito especial e “Ah, não sei, não faço ideia”

O guarda costas, a tábua no colchão, um caso de amizade muito especial e o futuro a deus pertence

“Trabalhei muito com o doutor Sá Carneiro. (…) O doutor Sá Carneiro, lembro-me, na altura dispensou a segurança e zangou-se com a polícia. E eu andei a fazer de guarda-costas dele; ele não aguentava, por causa da coluna, levar pancadas nas costas quando estava no meio das pessoas e eu, como era mais alto, lá andava sempre com os braços à volta, e adorava fazer o que ele me pedisse. Lembro-me que à noite – nunca escrevi isto; um dia hei-de escrever, tenho já muita história para contar, com quase 34 anos -, à noite ia ver o colchão dele, se ele tinha a tábua para as costas, e ia pôr-lhe um bocadinho de whisky que ele gostava e nunca me caíram os parentes na lama, pelo contrário. “

“(…) o Marcelo, como sabe, é um caso de amizade muito especial. Com toda a gente, não é só comigo. Eu acho que ele sabe ser amigo das pessoas, mas não é um amigo de todos os dias”

“K – O que é que quer? Quer ser Primeiro Ministro? Acha que vai ser Primeiro Ministro?
PSL – Ah, não sei, não faço ideia.”

Pedro Santana Lopes, entrevista à K (n.º 1), Outubro de 1990

Inquérito Aspirina B

Se há uma coisa que adoro e que considero extremamente útil são as votações on-line. Para além de ser um mecanismo absolutamente infalível para nos sentirmos úteis (pessoalmente, não dispenso nunca exprimir as minhas opiniões no vil HTML pelo menos 5 vezes por dia), é também uma forma gira de passarmos o tempo, esse grande oleiro. Há dois anos atrás, raro era o blogue que não tivesse, pelo menos, uma votação onde pudéssemos transformar as nossas opiniões em gráficos numéricos (o registo verbal, como podem verificar neste post, deixa sempre muito a desejar). Hoje em dia, é dificílimo ter acesso a uma votação on-line e as que existem fazem perguntas verdadeiramente parvas sobre temas tão desinteressantes como a interrupção voluntária da gravidez, a globalização, o código de trabalho, a corrupção ou o desempenho do governo de José Sócrates. Claro que há excepções. A maior delas é o Público que pergunta diariamente o que realmente interessa. Hoje, por exemplo, temos:

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que é um dos temas que mais urge discutir se algum dia queremos perceber a sociedade portuguesa. Inspirado nesta sublime referência, pensei que o Aspirina B também poderia contribuir para o tão adiado renascimento das votações on-line na blogosfera portuguesa. Deixo assim a minha modesta contribuição, na esperança que mais pessoas sigam o meu exemplo. Não se esqueçam é de escolher bem as perguntas.


Coisas que não se desejam a ninguém (2)

Não querendo desfazer, menos ainda comparar…

Mas esta, li-a eu hoje de manhã, num intervalo da publicidade nos ecrãs dos eléctricos cá da aldeia. Contava-se que certo cidadão britânico vai exigir do patrão uma indemnização por certo acidente de trabalho (não especificava) que o tornara viciado em sexo, o que já conduzira ao desentendimento definitivo com a mulher.

Não sei porquê, essa notícia ficou-me. As outras, algumas catastróficas também, esqueci-as.

O discurso de aceitação mais tocante que já leram

Diz o Re21: “Esse tal luis rainha, difamou-me,caluniou-me e ofendeu-me publicamente a minha pessoa num post merdoso que colocou no pasquim onde o deixam editar posts, é um acto grave que esse luis rainha cometeu.E ainda por cima tem a lata de aqui me vir ofender pessoalmente mais uma vez, é gente que não presta.E como tem feito aqui várias vezes, não só me ofende a mim como ofende as pessoas que aqui comentam, sim, é um dos “vómitos” que só tentam denegrir e difamar a minha pessoa e tentar destruir o meu blog, são dezenas os comentários provocatórios à minha pessoa que esse “vómito” aqui tem escrito ao longo da existência desta versão do meu blog e da anterior versão. Update:Tania e restantes leitores este tal luis rainha escreveu um post precisamente igual a este num pasquim de edição electrónica já extinto onde difamava, caluniava e ofendia outras pessoas, post esse considerado de “merdoso” por muita gente e o que levou ao afastamento de muitos que visitavam esse extinto pasquim, só para dar a conhecer um pouco o ser que é luis rainha. Mas há mais, muito mais.”

Os grandes desvencedores de 2006!

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Antes de zarpar rumo a paisagens mais condizentes com a quadra, onde me esperam quilómetros de neve fresca e matilhas de capitosas instrutoras de esqui, tenho ainda uma missão a concluir: anunciar os resultados do blogoconcurso que aqui lancei há uns tempos. Adicionando as minhas escolhas pessoais a sugestões recebidas pelos mais variados meios, lá consegui chegar a uma lista definitiva de premiados. Isto para não ficar muito atrás destes senhores, que até tiveram a gentileza de nos colocar em 4.º lugar já não sei bem de quê.
Vamos lá então passar em revista as áreas de (in)excelência agora distinguidas:

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Pinochet e o milagre com pés de barro

Augusto Pinochet lá faleceu, depois de anos de cuecas com a morte, incluindo o miraculoso sprint da cadeira de rodas com que culminou a sua fuga à justiça inglesa. Por mim, só tenho pena que ele nunca tenha sido julgado, no Chile ou em terra alheia, pelos incontáveis crimes cometidos em seu nome e com seu conhecimento.
Calculo que a esta hora já tenham surgido alguns obituários menos sombrios, sempre salientando as maravilhas do dito “milagre económico chileno”, que terá ocorrido sob a batuta dos Chicago Boys de Friedman. Uma nova versão dos comboios a horas dos fascistas, portanto. O pior é que, como o mito da pontualidade italiana sob Mussolini, trata-se de uma historieta com pinta de fábula mal contada. Agora, urge expor o outro lado da questão, não vá o tal “milagre” solidificar poleiro na hagiografia emergente de S. Pinochet, revoltoso traiçoeiro e ditador sanguinário já antes recauchutado em avozinho inofensivo e pai da pátria chilena.
Há quase três anos, mantive uma discussão interessante com o hoje blasfemo JCD. O tema foi o tal “milagre económico”. Julgo que pouco tenho a acrescer aos meus argumentos de então, que partiram deste artigo de um colunista do Observer, Greg Palast. É o que se segue.

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Videoclips estrangeiros (selecção 2006)

Se a amostra a partir da qual escolhi os meus 10 telediscos nacionais favoritos de 2006 ainda podia ter (algumas) pretensões de ser (quase) completa, é óbvio que tal é impossível quando se trata de fazer uma selecção dos 10 melhores vídeos do ano a uma escala (como é que eu hei-de de dizer isto?) «planetária». Só para vos dar um exemplo, tenho acesso a uma prodigiosa base de dados audiovisual chamada fastrax que disponibiliza mais de uma dezena de vídeos novos por dia (já ultrapassou os 5000 vídeos só este ano) e que ainda assim está bem longe de cobrir a produção mundial de telediscos (de repente, fiquei com vertigens). A minha selecção parte essencialmente desse (apesar de tudo, considerável) «corpus», mais alguns vídeos que consegui ver em diversos blogues e sites dedicados ao tema. Desta forma, o que deixo aqui é novamente apenas um convite para ouvirem boa música de olhos abertos e para deixarem, na caixa de comentários, outras sugestões que, miseravelmente, apenas não couberam na minha selecção devido à minha ignorância ou ao facto de o nosso sistema númerico ser decimal.

João Pedro da Costa

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Videoclips nacionais (colheita 2006)

Apesar de algumas ilustres excepções como as dos realizadores Paulo Costa Pinto (Driving You Slow dos The Gift), António Ferreira (Sunset Boulevard dos Belle Chase Hotel), José Pinheiro (co-realizador do documentário Brava Dança sobre os Heróis do Mar) ou Rui de Brito (autor do magistral Feeling Alive de Gomo), não existe em Portugal uma tradição na criação de videoclips que estejam, pelo menos, ao nível da qualidade da nossa produção musical. As razões são diversas, mas prendem-se sobretudo com as características do nosso mercado musical (o investimento não tem retorno e, quando tem, raramente compensa) e audiovisual (que apenas recentemente começou a disponibilizar plataformas onde os telediscos nacionais pudessem ser, pelo menos em potência, difundidos de forma regular). Na sua esmagadora maioria, a produção de vídeos musicais no nosso país deve-se sobretudo à carolice de músicos e (algumas) produtoras, pois quando as editoras nacionais resolvem investir a sério na produção de um vídeo mainstream, esses projectos tem sido quase sempre concretizados com uma displicência de bradar aos céus.

João Pedro da Costa

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Uma breve (e modesta) história do videoclip

Complemento supérfluo e desnecessário, veículo de promoção ou ferramenta de marketing, invenção da MTV, presumível suspeito do assassínio de uma estrela radiofónica cujo cadáver jamais foi encontrado e, mais grave ainda, objecto artístico – de tudo um pouco já foi acusado o formato audiovisual com as costas mais largas desde a invenção da televisão e que, pouco a pouco (eufemismo), começa a invadir a Internet. No momento em que o YouTube é uma virtualidade incontornável e a camada de ozono voltou a ser o que não era: que tal uma breve (e modesta) história do videoclip?

João Pedro da Costa

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