«Um leitor defende que, sendo o PR eleito diretamente, ele deve poder interferir na composição pessoal do Governo. Mas não tem razão. O direito constitucional comparado mostra que a eleição presidencial direta é compatível com sistemas de governo presidencialistas (onde o PR governa), com sistemas híbridos (em que o Presidente compartilha da função governamental com o primeiro-ministro, responsável perante o parlamento) e com sistemas de índole essencialmente parlamentar, como o nosso (em que o PR não governa nem participa no governo, que é reserva do primeiro-ministro). Entre nós, o PR não é eleito para a função governamental, pois não é proposto por partidos nem na base de um programa de governo; aliás, quando um novo PR é eleito, ele "herda" o governo em funções, cujo mandato se mantém, que ele não pode demitir e em cuja composição não pôde obviamente interferir. A legitimidade política do Governo não deriva do Presidente, mas sim das eleições parlamentares, justamente disputadas entre partidos e na base de programas de governo.»
Mas qual é a razão para tão enviesado texto?
Ricardo Costa é um dos maiores especialistas mundiais em tudo o que diga respeito ao socratismo, provavelmente o maior tendo em conta a sua aquilina inteligência. Daí ter sentido a obrigação jornalística, e ética, de vir explicar o inexplicável, trazer a luz para dissipar as mais densas trevas que afligem o cidadão e o povo outra vez vítimas desse demónio ainda à solta: Sócrates foi à posse de Lula. Mas qual é a razão para tão estranho convite?
Quem perder os dois minutos necessários para ler a prosa vai chegar ao fim com a certeza de ter sido enganado. O título prometia dar resposta ao pungente enigma da presença do mais importante acusado pela Justiça portuguesa na posse de Lula e népias. Em vez disso, é servida uma das cassetes favoritas do mano Costa, a pugna para garantir que as audiências balsemadas jamais duvidarão da integridade, exemplaridade e perfeita justiça com que se montou, desenvolveu e concluiu a Operação Marquês. Eis o bastião donde dispara feliz da vida contra Sócrates:
«As semelhanças entre o processo Lava Jato e a Operação Marquês são inexistentes, exceto no facto de terem como arguidos um ex-Presidente e um ex-primeiro-ministro. No resto, são casos muito diferentes. Mesmo as enormes discussões jurídicas que originaram são muito diferentes. A acusação a Lula sempre foi muito frágil e acabou por ser anulada em instâncias superiores; a de Sócrates tem fragilidades no tema da corrupção mas é extremamente sólida, graças aos fluxos financeiros, no que diz respeito a branqueamento e potencial fraude fiscal.»
Ora, será escusado procurar na obra deste insigne jornalista, neste texto ou em qualquer outro, umas míseras linhas sobre a substância dessas “fragilidades” que admite existirem na acusação a Sócrates. Apenas deixa como pista serem relativas ao tema da corrupção. Tal, de imediato, nos leva a concluir que o mano Costa se está realmente a marimbar para as aludidas fragilidades pois os seus neurónios e coração estão focados naquilo que é a versão do Ministério Público. E que reza assim: “Mesmo que não tenhamos conseguido provar qualquer acto de corrupção, isso não impede que o alvo seja condenado por branqueamento, um crime que implica necessariamente a corrupção mas que aqui fica implícito para que se consiga levar até ao fim o auto-de-fé.”
Imaginemos que num universo paralelo existe um outro Ricardo Costa em tudo igualzinho a este, apenas diferindo na honestidade intelectual. Esse outro com ela, este sendo o que se sabe. Nesse universo o parágrafo citado ficaria assim:
«As semelhanças entre o processo Lava Jato e a Operação Marquês são poucas ou muitas, dependendo do critério valorativo aplicado na sua comparação. Começam em terem como arguidos um ex-Presidente e um ex-primeiro-ministro, e esses arguidos serem políticos de esquerda, e esses políticos serem líderes carismáticos com vitórias eleitorais históricas, e ambos terem sido investigados e presos com a febril excitação de uma direita radicalizada, e em terem sofrido as decisões de procuradores e juízes politicamente motivados para os limitar nos seus direitos de defesa e julgamento justo, e em nunca se terem provado as suspeitas e acusações que os levaram a passar meses na cadeia, e em terem sido ambos os casos explorados pela comunicação social de modo a que se efectivasse um julgamento popular em forma de linchamento. No resto, são casos obviamente diferentes no que respeita aos factos em causa e aos enquadramentos jurídicos respectivos. Mas até as enormes discussões jurídicas que originaram oferecem similitudes na forma como se tentou a condenação sem prova. A acusação a Lula sempre foi muito frágil e acabou por ser anulada em instâncias superiores; a de Sócrates tem fragilidades no tema da corrupção mas é extremamente sólida, graças aos fluxos financeiros, no que concerne ao assassinato de carácter do ex-primeiro-ministro e ao aproveitamento político contra o PS.»
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Dominguice
Que acontece a quem se interessa por História? Acontece ver muitas vezes o mesmo filme. Sendo verdade que a História não se repete, apesar do que disse o outro, as histórias repetem-se. Algumas sem tirar nem pôr no que ao sentido e significados diz respeito. Eis a história mais repetitiva de todas, desde que há registos escritos, medalha de ouro do vira o disco e toca o mesmo: “Esta merda é do pior, sou o único que a pode resolver.” A medalha de prata vai para: “Esta merda está muita mal, está quase a rebentar.” E também temos uma medalha de bronze: “Esta merda está péssima, dantes é que era bom.”
A História é o antibiótico a usar quando somos infectados pelas histórias de merda.
Obviamente, pá, atão não
«Sempre me impressionou o seu racionalismo crítico e sempre me fascinou como se pode chegar à fé através da razão.»
Henrique Monteiro é, a par do Pacheco Pereira, outro especialista em Bento XVI que ocultou essa gnose catolicíssima durante décadas. Durante décadas, período em que foi director do Expresso e nesse estatuto se recusou a denunciar a Inventona de Belém, deixou que se cultivasse a imagem pública de ser apenas um bronco ilustrado. Afinal, secretamente, nas catacumbas da sua atormentada existência avessa a telefonemas com primeiros-ministros, tremia ao contemplar o “racionalismo crítico” com a chancela de Ratzinger, vivia fascinado com o choque entre Atenas e Jerusalém. Pimba, embrulhem.
Este Universo prega-nos muitas partidas, poucas tão de rebimba o malho como esta.
À atenção da academia
O presidente do PSD esteve 45 minutos a falar na SIC e é impossível reproduzir uma singular ideia laranja para os cidadãos que valha a pena discutir — culpa repartida com o jornalista que gastou grande parte do tempo apenas com a intriga. Isto, claro, se excluirmos a sua promessa de alinhar com o Chega calhando ter ocasião para o enlace.
São inúmeras as formas de fazer um resumo dessa chachada entrevista a Luís Montenegro. Escolho uma citação para tal: "Eu acho que o dr. Pedro Passos Coelho tem uma qualificação, eu posso dizer, quase única no País que o habilita a ser quase tudo aquilo que se pode ser numa sociedade, seja no sector público ou no sector privado. Neste momento está na docência universitária. Não tenho dúvidas que ele será um professor exímio. Eu acho até que a academia portuguesa devia aproveitá-lo melhor."
Também acho que o Pedro tem uma qualificação única no País, sem dúvida, e que a academia portuguesa o devia aproveitar melhor. Realmente, os sábios nacionais podiam montar equipas multidisciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares para investigar com urgência o fenómeno do Entroncamento que consiste em ele ter sido o político que mais gravosa e debochadamente mentiu aos portugueses e ser hoje o D. Sebastião da direita decadente. Coisa tão abstrusa promete levar a descobertas científicas que espantarão o mundo e mais além.
Coisas do Carvalho
«Se é difícil prever o futuro, é possível constatar que a auto-suficiência ou a arrogância do primeiro-ministro nas últimas semanas, cristalizadas no “habituem-se” em pose de Luís XIV, estão em pousio.»
Manuel Carvalho usa um editorial para explorar e amplificar a armadilha de que Costa foi vítima quando deu a entrevista à Visão. O seu propósito é carimbar o primeiro-ministro como “arrogante”, agitando em prova aquilo que não passa de uma encenação totalmente da responsabilidade de um outro editor, no caso uma editora. Nem as palavras usadas na capa, nem a imagem de Costa captada pelo fotógrafo da revista, têm qualquer correspondência com o sentido do seu discurso e da sua prática política.
Se os editoriais ainda forem o que é suposto que sejam, gostava de saber daqueles que dão dinheiro para isto qual é o benefício que retiram de serem patrocinadores do sectarismo mediático e da fraude jornalística.
Minto, não gostava de saber. Não se deve perder o rico tempo com fanáticos.
Ventura já encontrou o ovo meio chocado
«O líder do Chega referiu, porém, sublinhando desconhecer “o grau de veracidade”, que "havia vários infiltrados nessas manifestações de pessoas ligadas ao PT e a movimentos de Lula da Silva, que teriam provocado essas invasões. Seja como for, tenham sido infiltrados do PT ou apoiantes de Bolsonaro, é mau para a democracia, para as instituições".»
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«"Sinto a vitória de Lula da Silva no Brasil como se José Sócrates vencesse as eleições em Portugal", comparou. "Imagino a revolta que muitos de nós - e o Chega, particularmente - sentiria."»
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Ventura disse à sua gente que aquilo em Brasília, afinal, nasceu de “pessoas ligadas ao PT e a movimentos de Lula da Silva, que teriam provocado essas invasões.” Tal como noutras ocasiões em que se apropria da semiótica e retórica dos ditadores do século XX, de Salazar a Hitler, a encenação é sempre feita de forma a poder alegar que não se trata do que realmente é. Daí a referência ao “grau de veracidade”, ali posto para passar a mensagem na TV e reforçá-la: “tenham sido infiltrados do PT ou apoiantes de Bolsonaro” fica decidido que para os “portugueses de bem” é evidente quem são os cafajestes.
Ventura, portanto, sabe que os acéfalos que o seguem não estão nada preocupados em passar por malucos. É a lição de Trump, quem mente num grau superlativo, delirante, durante o tempo suficiente para ser normalizado ganha o direito a estar acima da lei, da comunidade, da realidade:
"I could stand in the middle of Fifth Avenue and shoot somebody, and I wouldn't lose any voters, OK?" Trump remarked at a campaign stop at Dordt College in Sioux Center, Iowa. "It's, like, incredible."
Uma metáfora, claro, mas esta metáfora. Foi o que lhe ocorreu, o que lhe deu gozo imaginar. E gozo sentiram os acéfalos do lado lá, sabendo que ele estava a brincar com as coisas mais sérias. O brincalhão que ia levar o circo para a sede do poder político, o Joker.
O Chega, ensina Ventura, é um partido que não se atrapalha com o Estado de direito, os direitos constitucionais e a autoridade dos tribunais. Isso é tudo para esquecer quando o Chega já concluiu quem é que é inocente e culpado na sociedade. Por exemplo, para o Chega tanto Lula como Sócrates são culpados de alguma coisa muito grave, tão grave que justifica a mais feroz revolta calhando esses cidadãos voltarem a exercer cargos políticos. É absolutamente irrelevante para Ventura o que os tribunais já tenham estabelecido ou venham a estabelecer a respeito dos processos judiciais respectivos. E o Chega nem precisa de declarar porquê, explicar seja o que for. Basta que o proclame, que o repita.
O sistema político e a imprensa calam-se ou aplaudem face aos ataques a Sócrates, a perseguição, o permanente linchamento. Sócrates, de quem nem sequer os procuradores e os juízes que tomaram decisões a seu respeito conseguem nomear um singular acto de corrupção dado como provado. Ventura não inventou nada a esse respeito, apenas se aproveita do que se tem feito à pessoa desde 2004. O sistema político e a imprensa são cúmplices desse análogo ataque às instituições democráticas na forma de uma instigação ao ódio político e à anulação dos direitos cívicos e de personalidade de Sócrates e demais alvos que consigam apanhar no arrastão.
Juntinhos ao Ventura fascistóide e pulha, chocam o ovo.
Sim, literalmente deploráveis
A palavra “deplorável” vem do latim, construída a partir de um vocábulo alusivo a chorar por incómodo, mal-estar, sofrimento, dor. Donde, não remete para chorar de alegria, ternura, paixão, beleza, êxtase. Ao longo do tempo, estacionou no significado muito próximo de “lamentável”, e também no já mais afastado ou reduzido de “algo detestável”. É um termo que não transporta especial acrimónia, podendo até ser usado como eufemismo.
A 9 de Setembro de 2016, na campanha eleitoral das presidenciais norte-americanas, Hillary Clinton esteve em Nova Iorque num evento para recolha de fundos junto da comunidade LGBT. No improviso que se seguiu, usou a expressão “basket of deplorables” para descrever uma parte dos apoiantes de Trump que eram ostensivamente “racist, sexist, homophobic, xenophobic, Islamophobic – you name it” e disso faziam propaganda. Segundos depois, acrescentou que existia outra parte dos apoiantes de Trump constituída por pessoas com graves carências, até desesperadas, as quais se deixavam ir na promessa de ser Trump quem lhes ia resolver os problemas mesmo que não se identificassem com a sua retórica violenta. Para estes, declarou, era preciso ter empatia. A campanha de Trump explorou com sucesso a imagem dos “deplorables” e a comunicação social alinhou na distorção e caricatura do que fora dito, penalizando a candidata Democrata. Ficou como um dos pregos no caixão da esperança de ser Hillary Clinton a primeira mulher a chegar ao topo do poder político nos EUA.
Quatro anos e tal mais tarde, o inimaginável aconteceu: Trump atiçou uma multidão de milhares para o assalto ao Capitólio, onde precisamente nesse momento se certificavam os resultados eleitorais que deram a vitória a Biden. Não satisfeito, deixou que o assalto se iniciasse e continuasse durante horas, com os congressistas refugiados dentro do edifício, sem dar ordens para que as autoridades avançassem. Além dos mortos e feridos causados, as imagens da alarvidade e demência dos profanadores são históricas pelas piores razões: expõem a violência máxima da estupidez humana. Aquela gente deu-se por satisfeita por ter violado a democracia e a liberdade durante uma tarde, não tinham mais nenhum projecto ou objectivo a não ser destruir, roubar e talvez matar.
Neste domingo, em Brasília, copiou-se a desgraça ocorrida em Washington, repetindo-se a alarvidade e demência da turbamulta. Em ambos os casos, foi preciso organizar logisticamente as invasões, há responsáveis politicamente associados a Trump e Bolsonaro. Mas ainda mais importante do que essa responsabilidade directa é a responsabilidade moral dos que, por actos e omissões, envenenam o espaço público com constantes apelos aos piores instintos dos indivíduos e às mais perigosas reacções das populações.
Os deploráveis são deploráveis porque pensam e fazem o que se tem de considerar deplorável à luz dos Direitos Humanos, da decência, da história da civilização, da racionalidade, do módico senso comum. Alguns serão recuperáveis ao longo da vida, outros morrerão nesse inferno das teorias da conspiração, do medo e do ódio. O mais deplorável a seu respeito, contudo, é o facto de serem alienadas vítimas dos que usam miseráveis como carne para o seu canhão ditatorial. Vítimas de criminosos e cobardes.
Dá vontade de chorar.
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Dominguice
Num Estado de direito democrático, a oposição parlamentar e a imprensa desfrutam de variados direitos, liberdades e garantias estabelecidos constitucionalmente. Com eles podem fiscalizar e questionar os actos governativos e os governantes, assim como demais entidades públicas e privadas. Para além disso, o cidadão pode fazer uma denúncia no Ministério Público acerca de qualquer indício de ilícitos relativos ao Governo e/ou aos governantes. Em Portugal, não se conhece o mínimo entrave ou limitação à actividade da oposição parlamentar e da imprensa, nem ao acesso ao Ministério Público por parte dos cidadãos. Subterraneamente, usa-se a comunicação social para lançar suspeitas contra o Governo e/ou os governantes que podem dar origem a inquéritos judiciais ou ficarem a pairar como difamações e calúnias. Nos casos extremos, como no Face Oculta e na Operação Marquês (os exemplos mais importantes pela sua extensão e gravidade), agentes judiciais cometem crimes conluiados com responsáveis da imprensa para atacarem judicial e politicamente os alvos governativos e seus próximos. Estes crimes são aceites pela sociedade e pelo regime como uma prerrogativa da direita portuguesa.
Como ensina a Filosofia, a Física e a filha-da-putice, há sempre uma pulsão para o caos por melhor organizado que seja o sistema.
Sua Excelência manda e a matilha obedece
Muito provavelmente por pensarem que Sua Excelência ainda não estava satisfeito com a demissão de mais uma governante, em directo nas televisões, ontem, os jornalistas decidiram fazer marcação cerrada à ministra da Agricultura, ao ponto de não saírem da porta do seu ministério. Na sua ignorância, e porque não leem o que ensina a Ângela Silva, no Expresso, pensaram que Sua Excelência iria querer a cabeça de mais esta governante. Pensaram mal. Sua Excelência decidiu usar o travão. À noite, reuniu a matilha à sua volta e mandou desmobilizar. Hoje já ninguém quer saber do paradeiro da ministra. É que sua Excelência sabe que se esticar demasiado a corda, a mesma pode partir. Até a desmesurada paciência de António Costa deve ter um limite. Que aconteceria se o primeiro-ministro concluísse que não tem condições para continuar a exercer o cargo?
Ora, Sua Excelência ficaria com uma batata escaldante nas mãos. E sabe que podem continuar a despachar atestados de estupidez aos portugueses pela escolha que fizeram nas últimas eleições, porque basta ver, por exemplo, o debate da moção de censura para não se ter dúvidas acerca de quem ganharia as próximas, fosse quem fosse o líder do PS. E sabe também que contra isto a sua matilha nada pode fazer.
Entretanto, na realidade
A ministra falou ainda sobre a moção de Censura ao Governo, apresentada pela Iniciativa Liberal, esta quinta-feira, no Parlamento — e que contou apenas com o apoio do Chega. Para Mariana Vieira da Silva, foi a prova de que a oposição está dividida e sem ideias para o país.
"A moção de censura ao Governo, além de ter chumbado, nem sequer uniu a oposição — nem sequer uniu a oposição de direita", atirou.
"Aquilo que demonstrou é que nenhuma força política, mais ninguém, tem um caminho para o país enfrentar a crise que tem pela frente", concluiu.
Pelos critérios marcelistas, não se admite que seja PR
Perguntas simples
Daniel Oliveira, especialista em “Meu rico Pedro Nuno Santos”
Em 3 de Maio de 2018, à tardinha, Daniel Oliveira ainda não odiava António Costa. Precisamente ao contrário, estava-lhe muito grato, até embevecido ou reverente, porque tinha conseguido meter o primeiro-ministro na emissão inaugural do seu novo projecto comercial: Perguntar Não Ofende. A entrevista não acrescentou nada ao “jornalismo” convencional na categoria. O formato apenas pretende legitimar a farronca do autor em ordem a se poder esticar na publicitação das suas próprias ideias em vez de se concentrar na interrogação e explicitação das ideias dos convidados. Mas inclusive por aí estamos condenados à irrelevância.
Nisto chega 2019 e o PS ganha as eleições. Daniel Oliveira começa a odiar António Costa porque o socialista preferiu respeitar o seu programa eleitoral e não aceitou governar com as políticas do Bloco, apesar de continuar em minoria no Parlamento. Um ódio que crescia na relação direta em que Costa ignorava o boicote dos bloquistas e conseguia aprovar Orçamentos com o PCP. Na crise de 2021, que levaria a eleições em 2022, o prolixo comentador andava de cabeça perdida e tinha-se entregado de alma e influência mediática ao mais retinto assassinato de carácter do primeiro-ministro e secretário-geral do PS. Jurava que Costa ia fugir para Bruxelas onde ficaria como serviçal do imperialismo capitalista e a viver como um nababo. Um Durão Barroso, mas em pior, pois tinha atraiçoado tudo e todos, o povo e o sonho lindo da Geringonça, só para satisfazer a sua monstruosa e sórdida ambição de vaidade, riqueza e mordomias.
Eis o palco em que o maniqueísmo de chinela e alguidar se cristalizou como retórica oficial do Sr. Oliveira. Invariavelmente, qualquer peripécia com polémicas e saídas de membros do Governo passou a ser um delenda Carthago apontado a António Costa, pintado como reles manipulador dos cordeiros sacrificiais que se tinham juntado a ele, levados ao engano pela sua desvalida inocência. Uma dessas vítimas imberbes, garantiu e garante o visionário a soldo do Balsemão, é Pedro Nuno Santos. Este socialista aparece-lhe com a aura messiânica de ser o profeta da Geringonça, aquele que levará a esquerda pura e verdadeira para a terra prometida: poder servir-se de um Governo socialista para aplicar as suas opções ideológicas sem carecer de respaldo eleitoral.
Quod erat demonstrandum:
«Claro que Pedro Nuno Santos, longe do governo, perde boa parte do poder que tem no aparelho do PS. Mas António Costa preferia tê-lo lá. Frágil, com o dossier do aeroporto arrancado das suas mãos e a ser torrado no dificílimo (mas indispensável) objetivo de salvar a TAP. Assim, pairará, como Alexandra Leitão, mas com muitíssimo mais impacto político dentro e fora do PS. Se o governo correr bem, estará longe do poder e perderá esta oportunidade. Mas tem 45 anos, muito tempo para regressar. Se correr mal, e há tanto por onde correr mal, estará fora, pronto para assumir um caminho alternativo para os socialistas. Ninguém dirá que qualquer desavença política com Costa é fruto do ressentimento, porque toda a gente sabe o que politicamente os divide desde o dia em que a “geringonça” acabou. O que para um foi um expediente para segurar o poder, para outro foi um projeto político.»
Pacheco Pereira, especialista em “teses interessantíssimas sobre Santo Agostinho”
O melhor cómico da actualidade chama-se Pacheco Pereira. Num dos palcos onde actua, acaba de produzir um número de gargalhar a bom gargalhar. Começou por reconhecer que aquilo que ali produz, dizer coisas sobre a política nacional, não passa de uma actividade que vive de si própria, da performance. Porém, não retirou daí qualquer consequência ética, cívica, sociológica ou até cultural. Porquê? Porque adora ser muito bem pago, e ter protagonismo mediático, pela logomaquia há décadas despejada no espaço público. São as delícias do moralismo profissionalizado, o qual acaba sempre na suprema auto-indulgência. O apreciador do talento humorístico do eterno Pacheco solta aqui a primeira gargalhada. Depois reconheceu que esta crise com Alexandra Reis, que levou à demissão de Pedro Nuno Santos, não tinha especial gravidade, quase nenhuma importância. Na prática, ofereceu-se para director de comunicação do Governo, detalhando o que ele teria feito e mandado fazer para abafar a polémica logo ao início. As gargalhadas rebentam ainda mais sonoras. No fim, ao simular o elogio fúnebre de Joseph Ratzinger, saiu-se com esta maviosa pilhéria:
"«Eu conheço os textos dele. Ele tem uma tese interessantíssima sobre Santo Agostinho.»
Infelizmente, não teve tempo para sequer deixar meia pista a respeito da substância desse alto interesse apregoado. Ora, não se duvida que o dono da magnífica biblioteca da Marmeleira conheça nalguma extensão a obra teológica e filosófica de Bento XVI, sendo capaz de expor com erudição e eloquência as inevitavelmente superficiais razões pelas quais o considera uma sapientíssima figura do catolicismo contemporâneo. O que já não se concebe é a situação em que o Pacheco educador da classe política conseguisse justificar o supino interesse da tese de Ratzinger sobre Santo Agostinho — pois para isso o nosso craque teria de ser o que não é: um especialista em Santo Agostinho. Santo Agostinho, senhores ouvintes, quem é que queima as pestanas a ler teses sobre Santo Agostinho para saber o que é interessante ou imitação na oceânica literatura ao dispor?
Assim, o que fica é tão-só a sua pulsão para épater les burgessos, indo sacar aos fundilhos da memória um texto que calhou ler já nem ele se lembra quando e que, nesta ocasião, lhe garantiu o sentimento de superioridade intelectual sobre a cáfila de brutos que nem sequer imaginavam que o falecido papa escreveu cenas tão impecáveis acerca do impecável Agostinho ladrão de pêras e completamente doente no que à sexualidade humana diz respeito. Santa gargalhada.
Marcelo, especialista no “português comum”
«O Presidente da República disse hoje que "há quem pense" que seria "bonito" a secretária de Estado do Tesouro prescindir da indemnização da TAP, ainda que a lei permita receber os 500 mil euros e exercer funções governativas.
"É como pensam muitos portugueses, dizem: a senhora saiu daquele lugar, tinha direito por lei a ter aquilo, mas na medida em que está a exercer uma função pública há quem pense que era bonito prescindir disso, atendendo a que está noutra função."
O Presidente da República considerou que "ao português comum, que vive com determinado salário, nessa situação de dificuldades, esses valores fazem-lhe muita impressão".»
Seria interessante ouvir Marcelo a vocalizar os pensamentos do “português comum” a respeito da Igreja Católica, da cidadania, da democracia, da liberdade, da moral, da sexualidade, da igualdade de género, do racismo, da xenofobia, da classe política, da ciência, do regime, da Constituição e do actual Presidente da República.
Escusado esperar sentado.
