O melhor cómico da actualidade chama-se Pacheco Pereira. Num dos palcos onde actua, acaba de produzir um número de gargalhar a bom gargalhar. Começou por reconhecer que aquilo que ali produz, dizer coisas sobre a política nacional, não passa de uma actividade que vive de si própria, da performance. Porém, não retirou daí qualquer consequência ética, cívica, sociológica ou até cultural. Porquê? Porque adora ser muito bem pago, e ter protagonismo mediático, pela logomaquia há décadas despejada no espaço público. São as delícias do moralismo profissionalizado, o qual acaba sempre na suprema auto-indulgência. O apreciador do talento humorístico do eterno Pacheco solta aqui a primeira gargalhada. Depois reconheceu que esta crise com Alexandra Reis, que levou à demissão de Pedro Nuno Santos, não tinha especial gravidade, quase nenhuma importância. Na prática, ofereceu-se para director de comunicação do Governo, detalhando o que ele teria feito e mandado fazer para abafar a polémica logo ao início. As gargalhadas rebentam ainda mais sonoras. No fim, ao simular o elogio fúnebre de Joseph Ratzinger, saiu-se com esta maviosa pilhéria:
"«Eu conheço os textos dele. Ele tem uma tese interessantíssima sobre Santo Agostinho.»
Infelizmente, não teve tempo para sequer deixar meia pista a respeito da substância desse alto interesse apregoado. Ora, não se duvida que o dono da magnífica biblioteca da Marmeleira conheça nalguma extensão a obra teológica e filosófica de Bento XVI, sendo capaz de expor com erudição e eloquência as inevitavelmente superficiais razões pelas quais o considera uma sapientíssima figura do catolicismo contemporâneo. O que já não se concebe é a situação em que o Pacheco educador da classe política conseguisse justificar o supino interesse da tese de Ratzinger sobre Santo Agostinho — pois para isso o nosso craque teria de ser o que não é: um especialista em Santo Agostinho. Santo Agostinho, senhores ouvintes, quem é que queima as pestanas a ler teses sobre Santo Agostinho para saber o que é interessante ou imitação na oceânica literatura ao dispor?
Assim, o que fica é tão-só a sua pulsão para épater les burgessos, indo sacar aos fundilhos da memória um texto que calhou ler já nem ele se lembra quando e que, nesta ocasião, lhe garantiu o sentimento de superioridade intelectual sobre a cáfila de brutos que nem sequer imaginavam que o falecido papa escreveu cenas tão impecáveis acerca do impecável Agostinho ladrão de pêras e completamente doente no que à sexualidade humana diz respeito. Santa gargalhada.
a cada dia o valupi nos deixa mais pistas sobre o que o move: “São as delícias do moralismo profissionalizado, o qual acaba sempre na suprema auto-indulgência.”
não diria melhor. parabéns, valupi. se mais alguém reparar nesse teu jeito para descreveres os teus anseios e desejos mais intimos ainda podes conseguir um lugar de palco como o pacheco pereira.
enquanto formos só nós, vais continuar a escrever estados de alma hipócritas no cu da internet.
mas não desesperes, o que conta da vida são as intenções e enquanto escreves aqui pelo menos não estás a lutar na ucrânia.
o caso alexandra reis não tem imprtância nenhuma porque o que conta mesmo mesmo é se há 1600 anos o agostinho era doente relativamente à sexualidade humana. gargalhada!
é que por aqui ainda ninguém escreveu sobre a alexandra reis, mas sobre roubar peras já cá canta!
por acaso a tese do ratazana sobre o “povo de Deus” de são agostinho é tão nojenta quanto ele.
e são agostinho , depois do papo cheio , virou santo…não há pior moralista que um ex devasso.
muito provavelmente a condescendência para com violadores de meninos do ratazana deriva da história do seu mentor espiritual , o santo devasso. que nojo.
“Depois reconheceu que esta crise com Alexandra Reis, que levou à demissão de Pedro Nuno Santos, não tinha especial gravidade, quase nenhuma importância.”
mas é que nenhuma, nenhuma. principalmente política!
https://www.dn.pt/politica/pedro-nuno-santos-sai-do-secretariado-nacional-do-ps-15597116.html
Provinciano e pedante é este post, desculpa la. E’ preciso ser “especialista” de Platão, ou de Espinoza, para achar interessante um livro escrito sobre eles ? Que eu saiba, Santo Agostinho não lhes fica muito abaixo em termos de importância e de influência. Desconfio (não fui verificar) que os programas do ensino secundario incluem pelo menos umas noções sobre as suas ideias, senão sobre as confissões ou sobre a cidade de deus. Mesmo sem ser “especialista”, é perfeitamente possivel ter-se uma ideia relativamente clara da importância que S. Agostinho teve na historia do cristianismo, para não dizer na historia das ideias…
Ha muitas razões para embirrar com o Pacheco Pereira. Esta, parece-me parva, e “burgessa”, como dizes…
Boas
Sobre o comentário político abstenho-me de comentar pois não o achei nada de mais.
sobre essa parte estás a especular se ele conhece ou não o referido texto. Mesmo que ele só o conheça por ter lido uma ou outra página (“como quem diz”) é o que todos nós fazemos muitas vezes. Ninguém tem na sua posse tudo do que se lembra ter lido. Às vezes nesse tipo de textos um capítulo vai mais do que muitos outros.
!ai! que riso e o vídeo nem sequer me aparece, também não preciso de o ver, preciso é de reler este textinho tão bom. fiquei, e vou ficar, a pensar nas pêras e na doença porque não sendo nem especialista no Agostinho nem bruta sei que ele não pensava no amor e no sexo apenas para procriar. só se mudou de ideias e, por isso, apanhou a doença que é uma peste e em tantos casos lhe chamam família. terei de pesquisar ou ver se alguém quer contar.
Luto nacional pelo Francisco, quando a hora dele chegar, compreendo e aceito. Luto nacional pelo pastor alemão protector de pedófilos é um insulto post mortem da ratazaninga aos pedofilados.
Gostei de ver o Pedro Nuno Santos a reduzir à sua dimensão de anão o beijoqueiro parvalhão, quando este tentou nele aquela cena cretinóide do aperto do mão em que desequilibra o outro. O idiota bem tentou, torceu-se todo, puxou e repuxou, lançou mão do aikidô, mas de nada lhe serviu, o PNS não se mexeu. O embaraço amarelo do supremo beijoqueiro fez-me ganhar o dia. Também gostei do contraste entre o calor dos abraços do PNS aos novos ministros e a frieza que dedicou ao Costa, igualzinha à que ofereceu ao supremo parvalhão.