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Exactissimamente

«Aqui creio ser devido também um momento de reconhecimento a António Costa. À falta de entretém, e com enorme vergonha alheia da minha parte, resolveu que o melhor para passar o tempo era participar ativamente no branqueamento do discurso e do enlamear constante da CMTV e passear-se numa furgoneta de banalidades que, não podendo horrorizar ou decapitar, não sendo dantesca nem infernal, é só assim, se calhar, o que sempre foi. Estamos bem, estamos.»


Perguntar não ofende?

Língua na coroa

É possível, e creio altamente provável, que eu tenha sido o único bípede implume nesta galáxia, e galáxias vizinhas, a lembrar-se de que no passado dia 24 de Agosto se celebraram 112 anos do falecimento de Bulhão Pato. Este autor está profundamente enterrado no esquecimento colectivo e no desinteresse académico, se pusermos a travessa das amêijoas de lado. E por fatais razões, pois a poesia do Raimundo já era intragável no século XIX, e a prosa do António não se recomenda estilisticamente, sequer narrativamente.

Porém, contudo, todavia, há caudalosas preciosidades no que nos deixou. Estou a ler as Memórias. O início do Volume I, em que descreve os seus primeiros anos de vida em Bilbau, onde nasceu, gera uma experiência de leitura marcante por ser retrato vivo, em ferida, de uma época e suas gentes há muito invisíveis para a contemporaneidade. Seguem-se inúmeros fragmentos de 65 anos de vida, convolutos na sua exposição, frequentemente dispersos e erráticos, e sem qualquer programa ideológico na estrutura da obra. Vistos como o registo de memórias afectivas, lhanas e saudosas, são maravilhas antropológicas universais — assim como cápsulas do tempo para os amantes da portugalidade, e ainda mais para os apaixonados por Lisboa.

No Volume III, página 235, tropecei no capítulo “A minha oração da corôa”. Ficou como um dos meus favoritos nos 3 volumes. O título é uma alusão irónica a Demóstenes e antecipa um exercício pitoresco e picaresco. Nele revive tempos de alegria e prazer com um grupo de amigos da juventude, anima a sua veia de gastrónomo, e descreve o confronto verbal com uma peixeira no mercado do Cais do Sodré, onde tinha ido comprar ostras para uma jantarada (isto é, almoçarada; se adaptarmos ao nosso horário). Sobre essa disputatio, em que choveu vernáculo e tabuísmos de parte a parte, o nosso valente herói apenas quis grafar um dos seus ditos: “Sempre és peixeira que, em vez de peitos, tens dois pés de meia com um pataco no fundo!“. Isto levou a moça a mostrar as “túrgidas e petulantes” mamas, ao Bulhão e a todos os que assistiam ao duelo, com eloquência exibicionista. Ele e ela continuaram a disparar mas não sabemos o quê, infelizmente. O relato termina com o festejo do seu histórico “triunfo capitolino” no meio dos amigos que ansiavam pelas ostras.

Ora, é do domínio público que o Al Gore inventou a Internet com o singular propósito de nos oferecer ainda mais meios para dizer disparates e perder tempo. Assumindo essa grandiosa missão, pedi a uma das fabulosas inteligências artificiais agora ao dispor — Claude, no caso (que muito recomendo) — para recriar o episódio do épico despique entre o Bulhão e a peixeira a partir do que o texto estabelece como ocorrência. Eis o que saiu da sua (nossa) imaginação:

Revolution through evolution

The power of play: Strengthening senior wellbeing through generational bonds
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What Time You Exercise Doesn’t Affect Muscle Force or Reduce Blood Sugar
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Placebos reduce stress, anxiety, depression – even when people know they are placebo
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Diet is main risk factor for colon cancer in younger adults, new study suggests
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AI and Plato clash
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Humpbacks are among animals who manufacture and wield tools
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Study explains why laws are written in an incomprehensible style
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Dominguice

Que significa o conceito de “animal racional”? Não pode ser apenas, nem essencialmente, isso de se conseguir dar razões para isto ou aquilo. E não pode porque essas razões, especialmente quando vêm dos outros, nos parecem amiúde irracionais. O uso da linguagem verbal pelos humanos, confirma-se quotidianamente, não garante a presença da racionalidade no discurso. Pode-se dizer muita merda absurda sem erros gramaticais nem pontapés na sintaxe. Ao limite, um limite que subsome a matemática, o que constitui a racionalidade é a lógica. E a lógica é… pois é. A lógica é o que a lógica é. Dito de outra forma: A = A, eis o fundamento primeiro de tudo o que venha a ser considerado lógico. Portanto, racional.

A ser assim, a lógica é a cisão do mesmo no diferente, a fusão do diferente no mesmo. A lógica, no seu mais íntimo movimento, é paradoxal. Como o ser, tal qual.

Não são deslizes ou ambiguidades, é a direita decadente

Paulo Portas não vê nada “eticamente reprovável” em Bolsonaro

Cavaco Silva diz que governo PSD com apoio do Chega nos Açores é melhor do que Governo PS

Pedro Passos Coelho defende que Chega “não é um partido antidemocrático”

Do céu vem a sanidade e a esperança

Rússia anuncia novos voos espaciais partilhados com os EUA, SpaceX de Elon Musk também fará parte. A Rússia anunciou novos voos espaciais partilhados com os Estados Unidos para 2025, ano em que um astronauta norte-americano seguirá para a Estação Espacial Internacional (EEI) numa nave Soyuz e um cosmonauta russo numa cápsula Crew Dragon. Mesmo com a guerra na Ucrânia, os dois países mantêm a cooperação institucional.

Era só o que faltava

Alguém, um americano com presença mediática cujo nome não fixei, fez esta antevisão há meses e meses: nem Biden nem Trump seriam realmente os candidatos presidenciais em 2024.

Está a meio caminho de ter razão. E, pelo estado assarapantado e trôpego em que Kamala deixou o ogre, parece cada vez mais provável cumprir-se a sua profecia.

Revolution through evolution

From Politicians to Pop Stars to Professionals, Gender Stereotypes Shape How We View Power and Status
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Venting your frustrations can make friends like you better – if you do it right
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Parents who use humor have better relationships with their children, study finds
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Forest restoration can boost people, nature and climate simultaneously
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AI poses no existential threat to humanity, new study finds
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The atmosphere in the room can affect strategic decision-making, study finds
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When decision makers quickly come to a conclusion, the decision is more influenced by their initial
bias

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Dominguice

A ideia de que impedindo a leitura livre dos jornais e revistas, entretanto transformados em conteúdos digitais, se iria salvar a imprensa como negócio é quimérica. A frustração da curiosidade não leva ninguém a comprar esses produtos, primeiro, nem leva ninguém a anunciar nesses meios, depois. É uma decisão irracional equivalente à do afogado que agride o salvador na confusão e desespero em que se encontra. Pura e simplesmente, o próprio conceito de jornal e revista deixaram de ter eficácia comunicacional num ecossistema saturado de informação e ofertas lúdicas gratuitas. Isto é óbvio, por que raio insistem em fingir que ainda estamos em 1994?

Para dar dinheiro a um jornal como se dá à Netflix, a um ginásio e num restaurante é preciso que o produto seja apetecível em 2024 e seguintes. O jornalismo português não o é, o comentariado idem. Não são as notícias enquanto notícias que interessam ao ponto de querer pagar, é o que cada um pode fazer com elas. Tem de se inventar um novo serviço onde o jornalismo seja personalizável, pá.

Exactissimamente

«É evidente que há um problema com a Justiça em Portugal. A resposta à questão sobre como pode ser resolvido o problema deve ser dada na Assembleia da República, pois é aí que estão presentes os partidos políticos e representados os cidadãos. Deve ser a Assembleia da República a tomar as medidas necessárias para termos um país mais próspero com uma Justiça que dê a resposta necessária e adequada. Para isso, é necessário que exista um diálogo constante entre todos os intervenientes. Sem prejuízo da iniciativa e da centralidade da reforma da Justiça deverem pertencer à Assembleia da República, dever-se-á contar, igualmente, com a participação do Presidente da República e, bem assim, do Governo.»


António Monteiro

Há anos que sonho com isto

Giant balloons floating above Colorado’s wildfires could help to predict future blazes

Já existe a tecnologia para detectar a partir dos ares qualquer fogo florestal assim que ele comece, e depois calcular com precisão o seu desenvolvimento dadas as condições meteorológicas e a geografia da ocorrência. Basta meter os balões e, acrescento, zepelins a trabalhar e dar-se-á uma redução drástica nos prejuízos e ameaças dessa calamidade que vem aumentando com o aquecimento global.

Surpresas no leste

Não foi uma surpresa que Putin quisesse invadir a Ucrânia em 2022 porque já o tinha feito em 2014. Surpresa foi não ter sequer conseguido ameaçar entrar em Kiev tendo umas forças armadas 100 ou 1000 vezes mais poderosas do que as ucranianas. A esse fiasco inicial, seguiu-se uma guerra de atrito, de destruição e matança insana, onde nem com o apoio financeiro da China e da Índia, e com o material militar fornecido pelo Irão e Coreia do Norte, as forças russas conseguem ganhos estratégicos contra um país drasticamente limitado nos seus recursos demográficos face ao invasor.

A segunda grande surpresa desta guerra vem da incursão ucraniana na região de Kursk. É surpreendente porque as notícias dos últimos meses dão conta do crescente desgaste das linhas da frente da Ucrânia, com pequenos avanços russos. Mas é ainda mais surpreendente porque ninguém entendeu a lógica da coisa. Que raio vão fazer os ucranianos nesse território onde só parece existir um aparente alvo civil com eventual valor para ser destruído? É simples de perceber ser cada vez mais difícil manter linhas de abastecimento à medida que o tempo passa e as forças avançam não se sabe com que finalidade. Donde, para quê isto, senhores? A incompreensão foi o sentimento prevalecente nas reacções mediáticas nos primeiros dias.

Acontece que já passaram 9 dias. E isso configura a terceira grande surpresa, pois não se vê a Rússia anular a presença ucraniana no seu território, sequer a impedir o seu avanço. Pelo contrário, estão a deslocar civis noutras áreas, assim provando que não têm resposta militar adequada à situação.

Obviamente, é provável que Zelensky não esteja com grande fé de ver os seus soldados ocupar a Красная площадь com armamento “ocidental”. E alguma coisa está a ser planeada pelos generais russos que resolverá a crise de modo decisivo. Obviamente.

Dito isto, não poderia existir surpresa maior nesta guerra do que ver Putin a assinar um acordo de paz. Fosse quando fosse.

Vamos lá a saber

O facto de o Twitter/X se ter transformado numa plataforma de apoio a Trump causa algum dilema moral a quem o usa regularmente e, súbito, tem de reconhecer estar a contribuir para o poder da influência política de Musk mesmo que esteja a manifestar a sua preferência por Kamala Harris?

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